O acesso à educação de pessoas com deficiência é um ponto de alerta no Brasil e chama atenção no Dia da Criança com Deficiência (9/12) e Dia Nacional da Inclusão Social (10/12). Segundo o IBGE, 93,9% das crianças sem deficiência de 6 a 14 anos estão matriculadas no Ensino Fundamental, mas apenas 89,3% das crianças com deficiência estão na mesma condição. Frequentam o Ensino Médio 54,4% das crianças com deficiência e 70,3% das pessoas sem deficiência.
A desigualdade cresce de acordo com o aumento da idade. Entre jovens de 18 e 24 anos, apenas 14,3% da parcela PcD cursa alguma graduação, enquanto a população sem deficiência representa 25,5% dos estudantes. De acordo com o Censo Escolar 2023, realizado pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), aproximadamente 1,6 milhão de alunos da Educação Especial estão matriculados em classes comuns, o que representa 91% do total de matrículas.
A educação inclusiva tem sido palco de discussões no sistema educacional brasileiro, especialmente com a crescente demanda por uma formação adequada de professores para atender às necessidades dos alunos com deficiência. O grande número de PCDs em classes comuns evidencia a relevância de se preparar as escolas para garantir que todos os estudantes, independentemente de suas particularidades, tenham acesso a uma educação de qualidade.
‘Escola não tinha material e expertise para lidar com a situação’, diz mãe
Para Kaísa Romagnoli, mãe do pequeno Lorenzo, de 7 anos (foto), a escola representa um desafio diário. “Meu filho é muito hiperativo e tem dificuldades de aprendizado. Ele está sendo acompanhado por uma equipe médica que investiga diagnósticos de autismo, hiperatividade e TOD (Transtorno Opositivo Desafiador). A escola recebeu um laudo solicitando ajustes no material pedagógico e na abordagem de ensino, mas, infelizmente, eles não tinham o material adequado nem a expertise necessária para lidar com a situação”, relata.
No Brasil, a promoção da educação inclusiva é apoiada por normas legais, sendo o Estatuto da Pessoa com Deficiência, instituído em 2015, um marco que assegura o direito das pessoas com deficiência de participarem de jogos, atividades recreativas, esportivas e de lazer no contexto escolar. Além disso, a legislação estipula que o governo deve aprimorar o sistema educacional inclusivo por meio da capacitação de professores preparados para oferecer atendimento educacional especializado.
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Como a psicopedagogia pode ajudar na inclusão escolar?
Dentro dessa realidade, a capacitação de professores e a adaptação de metodologias são fundamentais para atender às necessidades de alunos da Educação Especial. Para especialistas, a psicopedagogia desempenha um papel fundamental na educação de PCDs.
Trata-se de uma abordagem que conecta aspectos sociais, educacionais e legislativos em torno do tema. Ao promover a inclusão de maneira efetiva no cotidiano escolar, a psicopedagogia traz um impacto positivo na experiência de famílias que enfrentam desafios para garantir o aprendizado de seus filhos.
Hoje, mais do que nunca, os professores precisam estar preparados para lidar com a diversidade dentro das salas de aula. A psicopedagogia é uma das ferramentas para que o educador compreenda e intervenha de maneira mais eficaz, promovendo um ambiente de aprendizado que respeite as limitações e potencialidades de cada aluno, utilizando metodologias baseadas no desenvolvimento da empatia, adaptação do currículo e flexibilização das estratégias de ensino”, relatou Roberta Scalzaretto, especialista em formação de professores com foco na educação infantil e no ensino fundamental.
Uso de tecnologias assistivas é fundamental
Segundo Roberta, essas metodologias incluem, práticas como a adaptação de materiais pedagógicos, a utilização de tecnologias assistivas (TA) e a implementação de estratégias de ensino individualizadas.
Ela acrescenta que, para que essas abordagens sejam efetivas, é fundamental um diagnóstico inicial, que permita identificar as necessidades específicas de cada aluno, e um planejamento individualizado que oriente as ações pedagógicas de maneira personalizada.
A especialista destaca a importância de um trabalho colaborativo entre psicopedagogos, educadores e a família, com foco no acompanhamento contínuo do aluno. Neste contexto, a formação de professores é um processo contínuo, e a psicopedagogia é uma aliada fundamental nesse processo.
O trabalho de formação de educadores na área da educação inclusiva vai além da teoria. É preciso que o professor tenha uma compreensão profunda das características das deficiências e das necessidades dos alunos. No treinamento, buscamos apresentar práticas que possam ser aplicadas diretamente no dia a dia da sala de aula, como estratégias de ensino que consideram a pluralidade de aprendizagens e o ritmo (a necessidade) de cada aluno”, explica a especialista.
Como a psicopedagogia pode ser aplicada na sala de aula
Em sua abordagem, ela utiliza exemplos práticos para ilustrar como a psicopedagogia pode ser aplicada no contexto da sala de aula. “Em uma turma com alunos com dificuldades de leitura, o professor pode adaptar as atividades, utilizando recursos como audiobooks ou atividades que envolvam mais a expressão oral, garantindo que todos, independentemente de suas dificuldades, participem do processo de aprendizagem”, afirma.
Embora muito já tenha sido conquistado, a especialista alerta para a importância de se superar as barreiras. “Ainda há um longo caminho a percorrer no que diz respeito à sensibilização dos educadores e da comunidade escolar em geral para a inclusão. A formação de professores deve englobar, além de conteúdo, a construção de uma cultura de respeito e acolhimento, onde cada aluno seja visto e valorizado em sua individualidade”, conclui.
A formação contínua de educadores e o desenvolvimento de metodologias psicopedagógicas são, portanto, elementos essenciais para que a educação inclusiva se torne uma realidade. É fundamental que as escolas sejam ambientes cada vez mais preparados para receber a diversidade, com uma abordagem que envolva a todos — desde o currículo adaptado até o engajamento da comunidade escolar. Dessa forma, essas barreiras não devem ser vistas como obstáculos ao progresso, mas como aspectos fundamentais para um futuro que busca a igualdade no ensino e no aprendizado para todos.
Com informações da Assessoria de Imprensa