Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), a condição afeta cerca de 30% da população adulta no Brasil e é o principal fator de risco para infarto, acidente vascular cerebral (AVC) e insuficiência cardíaca. Diante desse cenário, novas abordagens vêm sendo estudadas para ajudar no controle da hipertensão. Um novo fator a ser considerado para controle da pressão arterial é a espiritualidade.

Publicado em 2024 na revista Global Heart, o estudo FEEL Trial (Spirituality-Based Intervention in Hypertension: EFfects on Blood PrEssure and EndotheliaL Function) demonstrou que práticas como gratidão, perdão, otimismo e propósito de vida podem ajudar a reduzir a pressão arterial e melhorar a saúde vascular em pessoas com hipertensão leve a moderada.

A melhora do controle da pressão arterial foi conseguida além do tratamento medicamentoso e da dieta. Estímulo para exercitar gratidão, disposição ao perdão, otimismo e propósito de vida influenciam a saúde cardiovascular”, explica o cardiologista Álvaro Avezum, head do Centro Internacional de Pesquisa do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e um dos autores do estudo.

O FEEL Trial acompanhou durante três meses 100 adultos com hipertensão leve a moderada, 51 no grupo de intervenção e 49 no grupo controle. Os participantes receberam, via WhatsApp, mensagens diárias com vídeos e reflexões voltadas à espiritualidade e baseados em quatro pilares: perdão, gratidão, otimismo e propósito de vida.

Ao final do período no grupo que recebeu a intervenção espiritual, houve redução média de 7,6 mmHg na pressão sistólica de consultório, representando uma queda de cerca de 6%, além de uma melhora de 7,5% na função endotelial, marcador importante da saúde vascular. Já no grupo controle, a pressão se manteve estável.

A espiritualidade, quando implementada com base em evidências científicas, pode auxiliar no enfrentamento das situações adversas do cotidiano e, consequentemente, atenuar estresse, ansiedade, qualidade do sono, dentre outros fatores e até na adesão ao tratamento. Esses efeitos podem ter impacto positivo sobre a pressão arterial”, afirma Dr. Avezum.

Cuidados tradicionais continuam indispensáveis

Embora novos caminhos, como a espiritualidade, ampliem as opções de tratamento, os cuidados tradicionais continuam indispensáveis. A hipertensão está associada a fatores como genética, envelhecimento, obesidade, sedentarismo, alimentação rica em sal e gordura, consumo excessivo de álcool, tabagismo, diabetes e estresse.

Aspectos ambientais e sociais, como o acesso a serviços de saúde e o estilo de vida urbano, também contribuem para o desenvolvimento da doença. Além disso, o não controle adequado da pressão é um dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares, que lideram as causas de morte evitáveis no Brasil e no mundo.

Medidas como atividade física regular, alimentação saudável, controle do peso, redução do consumo de álcool, parar de fumar e gerenciar o estresse continuam sendo pilares fundamentais. A espiritualidade surge como um complemento valioso, não substituindo as medidas de estilo de vida já confirmadas como eficazes”, enfatiza o Dr. Álvaro Avezum.

Diagnóstico precoce salva vidas

Conhecida como pressão alta, a hipertensão arterial ocorre quando a pressão nos vasos sanguíneos se mantém sistematicamente igual ou superior a 140 por 90 mmHg (milímetros de mercúrio). O primeiro número representa a pressão sistólica, medida durante a contração do coração, enquanto o segundo indica a pressão diastólica, registrada durante o relaxamento do músculo cardíaco.

Como a hipertensão é geralmente silenciosa, e, em casos mais extremos, pode causar dor de cabeça, tontura, visão embaçada e falta de ar, medir a pressão regularmente é essencial. Em muitos casos, apenas aferições em consultório não são suficientes. Métodos como MAPA (Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial) e MRPA (Monitorização Residencial da Pressão Arterial) aumentam a precisão do diagnóstico e ajudam a evitar complicações.

Diagnosticar e controlar a hipertensão salva vidas. Controle de 10 fatores de risco modificáveis (hipertensão arterial, obesidade abdominal, tabagismo, força muscular reduzida, diabetes, alimentação não saudável, baixa escolaridade, sedentarismo, colesterol e depressão), evitaria 70% dos casos de infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral e insuficiência cardíaca no Brasil todos os anos”, afirma o cardiologista.

Para o Dr. Álvaro Avezum, a conscientização é o primeiro passo para mudar esse cenário: “A hipertensão é prevenível e tratável. A divulgação de informações baseadas em evidências e implementação na prática de hábitos saudáveis, é fundamental para aumento da expectativa e da qualidade de vida da nossa população”.

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A importância da conexão corpo, mente e estilo de vida

A hipertensão arterial, conhecida popularmente como “pressão alta”, afeta milhões de brasileiros e é um dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares. Para prevenir essa condição, Juliana Romantini, treinadora corpo & mente, certificada em Medicina do Estilo de Vida pela Harvard University e criadora da metodologia Prática Integral, defende a importância de olhar para além das estatísticas e enxergar a pressão arterial como um sinal que reflete várias dimensões da vida.

“A pressão arterial é uma linguagem silenciosa do corpo, influenciada por fatores emocionais, mentais e comportamentais. Muitas vezes, é a forma como o corpo tenta lidar com pressões que não são apenas físicas”, explica Romantini. Para a especialista, a prevenção e o controle da hipertensão envolvem também autocuidado, equilíbrio e mudanças reais no estilo de vida.

“A hipertensão, muitas vezes, é o corpo tentando dizer, em silêncio: ‘Há pressão demais aqui dentro’. Pode ser a cobrança para dar conta de tudo, a necessidade de corresponder às expectativas ou o medo de parar. Por isso, o cuidado vai além da prescrição de uma dieta ou plano de exercícios. É sobre construir um caminho de autoconhecimento, escuta interna e autorregulação”, afirma.

De acordo com Romantini, práticas integrativas que combinam movimento, respiração, atenção plena e organização da rotina – como as propostas pela metodologia Prática Integral –, ajudam não só a controlar os níveis de pressão, mas também a prevenir seu agravamento. “O objetivo do nosso trabalho é desenvolver consciência corporal e mental para que a pessoa aprenda a escutar os sinais do corpo e possa atuar preventivamente, antes que o sintoma vire doença”, acrescenta.

Segundo ela, existem várias pesquisas que apontam que a adoção de técnicas como a respiração profunda, os exercícios aeróbicos moderados, o mindfulness e uma alimentação balanceada podem trazer uma série de benefícios para o corpo e a mente. Entre eles, a redução da frequência cardíaca em repouso, a queda nos níveis de cortisol e adrenalina – os hormônios ligados ao estresse –, a melhora na saúde vascular e na vasodilatação, além do equilíbrio do sistema nervoso autônomo, que regula o estado de alerta do organismo.

A especialista compartilha algumas práticas integrativas que podem ajudar no controle da hipertensão:

  • Pratique exercícios físicos combinando atividades cardiovasculares, fortalecimento muscular e mobilidade;
  • Invista em treinos de respiração consciente e mindfulness, que ajudam a acalmar o sistema nervoso;
  • Crie pausas conscientes ao longo do dia, com práticas breves de meditação ou mentalização;
  • Estruture sua rotina com hábitos sustentáveis, priorizando sono de qualidade, lazer e momentos para si.
Com Assessorias
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