Cleiton Mattos tem 27 anos e é cadeirante há 11, desde que sofreu um acidente de trabalho. Ele encontrou na equoterapia a possibilidade de interagir com outras pessoas, resgatar sua autoestima e ganhar mais qualidade de vida. Segundo especialistas, a atividade terapêutica assistida por cavalos é cientificamente comprovada por seus inúmeros benefícios a pessoas com deficiência.

“Aqui aprendi que a limitação está na nossa cabeça”, diz o jovem, em depoimento emocionado. Ele é praticante de equoterapia há dois anos na AEV – Associação de Equoterapia Vassoural – que fica em Pontal (cidade vizinha a Ribeirão Preto, no interior de São Paulo). A entidade beneficente já ajudou mais de 1000 famílias de pessoas com deficiência desde sua fundação, há 20 anos.

Quando sofremos um acidente, temos receio de atrapalhar as outras pessoas e até mesmo fazer amizades. Então, eu era muito tímido. Antes de frequentar a AEV eu pensava em me reabilitar e voltar a andar, tinha apenas esse foco. Contudo, a partir do momento que comecei a equoterapia, o desafio foi me superar a cada dia: hoje consigo fazer minhas atividades gerais sozinho, me relaciono com as pessoas do escritório”, afirma o jovem.

Segundo Bruna Rodrigues, assistente social da AEV, uma equipe multidisciplinar está à frente dos atendimentos dos praticantes de equoterapia. Juntos, os profissionais se empenham no atendimento às pessoas com deficiência decorrente de patologias diversas, como:

  • lesões neuromotoras de origem encefálica ou medular,
  • patologias ortopédicas congênitas ou adquiridas por acidentes diversos,
  • síndromes e distúrbios de comportamento e de aprendizagem e
  • disfunções sensório-motoras ou sem deficiência.

Ainda sou um pouco tímido, mas tive acesso a oportunidade de me socializar graças à equipe da AEV. Eu pensava que precisava andar para voltar a trabalhar, não olhava para os lados. Hoje aprendi que é possível procurar um trabalho, interagir com os colegas, ajudar nos projetos da AEV e reconheço que o preconceito estava mais em mim do que nas pessoas”, afirma Cleiton.

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Fazenda foi transformada em ‘um lugar para o bem’

As atividades de equoterapia da AEV ocorrem na Fazenda Vassoural, em um espaço de 1.400m² totalmente ao ar livre, ambiente seguro composto por pista, redondel, bancada, mesas, cadeiras, área para eventos e com acessibilidade para deficientes.

O local foi criado há 20 anos por Edilah e Beatriz Biagi, mãe e filha, amantes dos cavalos e dispostas em fazer da Fazenda Vassoural “um lugar para o bem”. Elas uniram forças e sonhos a profissionais das áreas da saúde e equitação para criar a AEV.

Tínhamos um objetivo ousado: utilizar a conexão única entre seres humanos e cavalos para promover o bem-estar e melhorar a qualidade de vida de pessoas com deficiência. Hoje, podemos dizer com orgulho que esse sonho se tornou uma realidade incrível.”, reflete Bia Biagi.

Acessibilidade é a maior dificuldade para cadeirante

Cleiton atribui grande parte dessa superação ao trabalho de incentivo da fisioterapeuta Elaine Cristina Soares Leite. E lamenta a falta de acessibilidade adequada em locais públicos, como restaurantes, onde não tem mesa adequada para o cadeirante bem como espaços para o trânsito da cadeira de rodas. 

Elaine, que é vice-presidente da entidade, confirma que a falta de acessibilidade adequada em locais públicos, como mesas adaptadas para cadeirantes bem como espaços para o trânsito da cadeira de rodas, é um dos principais desafios do atendimento aos deficientes que frequentam a entidade.

Outra dificuldade é o atendimento público adequado aos familiares das pessoas com deficiência que, muitas vezes, se desdobram para adaptar a dinâmica familiar de forma a proporcionar as melhores condições ao ente querido, impactando em desgastes emocionais, financeiros e afetivos nos vínculos familiares.

Mais uma questão desafiadora para as pessoas com deficiência atendidas na entidade é a inclusão profissional. Muitos não conseguem se alocar no mercado de trabalho, gerando custos extras aos familiares bem como baixa autoestima, dificuldade de socialização, entre outras perdas significativas”, explica a assistente social.

Direitos das pessoas com deficiência

Em 1992, a ONU instituiu o 3 de dezembro como Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, para conscientizar mundialmente sobre a necessidade da inclusão. No Brasil, pesquisa mais recente divulgada pelo IBGE em julho de 2023 constatou que, em 8,9% da população com idade superior a dois anos tem alguma deficiência.

A Lei 13.146/2015 define que “pessoas com deficiência são aquelas com impedimentos de médio ou longo prazo de naturezas física, mental, intelectual, sensorial e que podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em condições de igualdade com os demais”.

O Estatuto da Pessoa com Deficiência assegura benefícios que abrangem campos diversos aos deficientes e seus familiares, como:

  • assistência social,
  • mobilidade urbana (acessibilidade, reserva de vagas de estacionamento),
  • saúde (habilitação e reabilitação),
  • trabalho (reserva de vagas em concursos públicos e em empresas privadas),
  • Benefício de Prestação Continuada (BPC) – pagamento mensal de um salário mínimo à pessoa com deficiência física, mental, intelectual ou sensorial com impedimentos de longo prazo,
  • atividades culturais (meia-entrada), entre outros.

Com informações da AEV

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