A pessoa tem contrações musculares, cai no chão, se debate por alguns segundos ou minutos, perde a consciência e produz salivação intensa. Quem já visualizou a cena muito provavelmente pode ter identificado como uma crise epiléptica. E então, o que fazer nestes casos?

A recomendação dos especialistas é que nos casos mais graves, o ideal é afastar a pessoa de objetos e móveis que possam machucá-la e deixá-la se debater livremente até que a crise passe. Também advertem que não se deve colocar a mão ou o dedo na boca do paciente e manter o corpo de lado para evitar que se sufoque com a própria saliva.

O 9 de setembro é lembrado como o Dia Nacional e Latino Americano da Epilepsia (Dia do Roxo), que destaca a importância de a população leiga conhecer as causas, sintomas e tratamentos deste distúrbio neurológico. A epilepsia atinge aproximadamente de 0,5% a 0,7%% da população em todo o mundo – mais de 50 milhões de pessoas, sendo 3 milhões no Brasil, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).

E o mais importante: esclarecer que a a pessoa com epilepsia deve seguir com suas atividades normalmente. “Geralmente, esses pacientes são rodeados de dúvidas, tabus e falta de informação adequada”, diz o neurocirurgião Luiz Daniel Cetl, especialista em epilepsias e membro do Departamento de Neurocirurgia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Ao contrário do que algumas pessoas podem supor, o portador da síndrome pode e deve trabalhar, se divertir, integrar-se socialmente e, sem preconceitos, medos ou estigmas, casar e ter filhos. Assim como viveram personalidades mundialmente conhecidas que também sofriam com crises epiléticas, como Vincent van Gogh, Fiódor Dostoiévski e Machado de Assis.

Segundo estimativas, 75% dos casos têm início ainda na infância. Pelo menos em metade dos casos as causas são desconhecidas. “A epilepsia não é transmitida pelo ar ou contato físico. Seu tratamento é imprescindível e deve ser feito adequadamente, para evitar que o paciente tenha sua vida fortemente afetada, por não ter controle das crises e, consequentemente, afastar-se socialmente”, explica o neurocirurgião.

Epilepsia x atividade física x esporte

Em tempos de Paralimpíadas, Cetl esclarece que, exceto nos casos mais críticos, não há contraindicação para pacientes com epilepsia praticarem esportes. “É importante ter o acompanhamento de um especialista antes de iniciar um programa de atividade física ou esportiva. Exemplos de atletas com epilepsia não faltam e, muitos deles, participam inclusive de campanhas mundiais de sensibilização e incentivo”, relata o médico, que ainda dá outras dicas:

– O paciente com epilepsia, seja ele “atleta” amador ou profissional e de alto rendimento, não tem maior ou menor desgaste físico durante atividade;

– Não há relação do estresse (adrenalina) da atividade física com crises epilépticas;

– Traumas, contusões na cabeça, etc. podem acontecer em qualquer modalidade olímpica. Nos esportes coletivos, como basquete, futebol, handebol, etc., a probabilidade é maior. Neste sentido, dependendo da intensidade e da lesão produzida com o choque, pode ser uma condição para surgimento de epilepsia. Mas cada caso deve ser avaliado por um especialista;

– No caso dos atletas profissionais, as medicações anticonvulsivantes ou anti epilépticas não interferem no rendimento físico. Apesar da preocupação com os exames antidoping, muitos desses medicamentos não aumentam o desempenho do atleta; ao contrário, provavelmente ocorra um baixo desempenho, dado o princípio ativo “desestimulante”

Tratamentos incluem cirurgia e até canabidiol

O principal objetivo do tratamento para a epilepsia é garantir a melhor qualidade de vida para o paciente. A epilepsia não tem cura, mas especialistas alegam que 70% dos casos podem ser “controlados” com medicamentos farmacológicos convencionais*.A epilepsia não tem cura, mas especialistas alegam que 70% dos casos podem ser “controlados” com medicamentos farmacológicos convencionais.

O tratamento ocorre por via medicamentosa, com uso das chamadas drogas antiepilépticas (DAE), eficazes em cerca de 70% dos casos, para controle das crises, e com baixos efeitos colaterais. Quando não há controle destes sintomas, outros tratamentos possíveis são a cirurgia e a estimulação do nervo vago, mas somente um profissional, analisando o caso, poderá indicar o tratamento apropriado para o paciente.

As cirurgias são divididas em ressectivas, quando é retirado o foco cerebral das descargas que ocasionam uma crise da epilepsia, e desconectivas, em que o foco não é localizado, mas sabe-se que é oriundo em apenas um lado do cérebro. Neste caso, a cirurgia consiste na separação dos hemisférios para que essas descargas não passem de um lado para o outro do hemisfério cerebral. Há também o tratamento da implantação de eletrodo no nervo vago, em que a emissão de estímulos ao cérebro permite o controle das crises, em definitivo ou para a sua diminuição.

Para outros pacientes que não respondem a tratamentos convencionais, pode ser indicado o tratamento com canabidiol (CBD). O produto, importado dos Estados Unidos, pode ser custeado pelo governo brasileiro, desde que haja prescrição médica e sejam atendidos os requisitos solicitados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Conheça os diferentes tipos de crises

Portadores e familiares devem entender quais os tipos e como a epilepsia se manifesta. “Existem crises diferentes e todas elas merecem atenção do paciente para melhor compreensão e até mesmo evolução de seu tratamento. Para os familiares, entender e saber identificar são formas de conduzir e ajudar da forma mais adequada possível”, explica.

Nas crises generalizadas, as descargas elétricas acometem todo o cérebro e provocam a perda de consciência do paciente. Os sintomas variam de abalos por todo o corpo e postura tônica, e até atonia, onde há um relaxamento global de todos os músculos. Existem ainda as crises parciais, quando apenas uma porção do cérebro é afetada. Nos casos mais complexos, acontece o comprometimento do nível de consciência do paciente.

Na crise de ausência, a parada comportamental e, mais raro, o estado de mal epiléptico, que tem, cada uma delas, suas características específicas. A crise de ausência é caracterizada pela curta duração que pode ser de décimos de segundo e pode se repetir mais de uma vez ao dia e mesmo pessoas próximas não conseguem identificá-la.

A parada comportamental é caracterizada como uma crise parcial complexa e muito mais frequente, em que o paciente fica parado, com o olho arregalado, como se estivesse fora de si e, o terceiro tipo é o estado de mal epiléptico, o mais grave de todos, pois há uma ativação contínua dos neurônios desfuncionantes, que emitem sinais atípicos ou irregulares, de maneira interrupta, podendo causar lesões cerebrais.

A videorreportagem ‘Epilepsia de A a Z’ traz um panorama sobre a doença que traz respostas para conscientizar e contribuir para a informação correta sobre epilepsia:

Gostou desse conteúdo? Compartilhe em suas redes!
Shares:

Related Posts

2 Comments
  • […] “Em geral a crise desaparece espontaneamente e a pessoa volta aos poucos ao normal. Mas quem está próximo, muitas vezes, não sabe como agir: há quem confunda com problemas psiquiátricos, pois não conhecem os fatores orgânicos que podem ter causado o episódio”, explica a neurologista Elza Márcia Yacubian,  chefe da Unidade de Pesquisa e Tratamento de Epilepsias da Escola Paulista de Medicina (EPM) e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Saiba como ajudar um paciente no momento da crise. […]

    Reply
  • […] Epilepsia: você precisa saber entender e ajudar […]

    Reply

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *