Com um aumento dos casos de dengue de quase 600% neste início de ano e a expectativa de enfrentar uma epidemia igual ou pior que a de 2008, a Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ) deu início, nesta terça-feira (30/01), a um amplo programa de capacitação para 2 mil médicos das redes pública e privadas que atuam em emergências e ainda não vivenciaram um cenário de epidemia em suas histórias profissionais.

A primeira aula, no auditório da SES-RJ, recebeu cerca de 80 profissionais que atuam em Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e emergências pediátricas. Eles receberam treinamento em diagnóstico e manejo clínico da doença, como. O curso faz parte das ações do Plano Estadual de Combate à Dengue, anunciado na última sexta-feira (26), junto com alerta sobre a alta incidência de casos no Estado do Rio. 

“De fato, vivemos um cenário bastante atípico para esse período se compararmos com 10 ou 15 anos atrás. Também é preocupante a circulação do vírus 3 em São Paulo e Minas Gerais”, disse o subsecretário de Vigilância em Saúde e Atenção Primária à Saúde, Mario Sérgio Ribeiro.  Segundo ele, a prevenção das formas mais graves da doença é eficaz para evitar óbitos.

Aula para médicos que atuam em UPAs e emergências pediátricas

Médica pediatra intensivista que atuou na epidemia de dengue em 2008 deu orientações a 80 médicos (Fotos: Divulgação SES-RJ)

Médica pediatra intensivista há 25 anos, Daniella Mancino da Luz Caixeta, que está à frente da UTI do Hospital Estadual Dr. Ricardo Cruz (HerCruz), em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, abriu o treinamento lembrando a sua vivência com a pandemia de 2008.

“A dengue é uma doença de saúde pública mundial, logo destaco a importância da notificação precoce.  É crucial iniciarmos uma resposta rápida, evitando que o paciente infantil evolua para formas mais graves e até ao óbito, já que a dengue 2 é mais preocupante em crianças”, alertou Daniella, que discorreu sobre as diversas fases da doença, trazendo muitos casos reais.

Já na aula do também pediatra intensivista Sérgio D´Abreu Gama foram abordados os critérios para a transferência da criança com dengue, com o objetivo de agilizar a disponibilidade de leitos para pacientes graves. Os médicos das UPAs e das emergências devem preencher os formulários para suspeita de dengue, que possuem critérios de prioridade para casos graves.

“Trabalhar em conjunto para melhorar o atendimento das nossas crianças nas unidades de emergência e de terapia intensiva do estado é fundamental. Precisamos estar preparados e capacitados para o nosso trabalho principal, que consiste em tentar evitar os óbitos. Esse modelo de treinamento em formato de aulas permite a troca de experiências entre os participantes”, observou.

Hidratação com água, suco de frutas e água de coco

A subsecretária de Atenção à Saúde, Fernanda Fialho, que também é pediatra e vivenciou a epidemia de 2008, destacou a importância da capacitação, especialmente para o manejo clínico em casos graves.

De acordo com a pediatra, um dos diferenciais do manejo clínico na fase inicial é conduzir a oferta hídrica adequada, priorizando, além da água, os líquidos com adição de glicose (água de coco, suco de frutas e etc), segundo a atualização da Organização Mundial de Saúde (OMS).

“A oportunidade de aprendizado é ímpar para os nossos médicos, que também serão multiplicadores do saber nas redes públicas e privadas. Nossa equipe estará em alerta e informada, principalmente com relação à antecipação da sazonalidade da dengue”, afirmou a secretária de Estado de Saúde, Claudia Mello, destacando ainda a necessidade do conhecimento do manejo clínico diferenciado nas ocorrências da doença em crianças.

Monitora RJ acompanha casos de dengue e traz orientações para hidratação

Outro destaque da aula nesta segunda-feira foi a necessidade de acompanhamento das atualizações dos números de casos por meio da plataforma Monitora RJ, que está disponível no site da SES-RJ. A página traz orientações específicas para hidratação de crianças e adultos, via oral ou venosa.

Médica da SES-RJ, Debora Fontenelle participa rotineiramente de encontros presenciais e remotos com profissionais dos municípios do estado do Rio e da rede estadual de saúde para atualização dos protocolos.

“É importante que médicos que não tenham atuado na assistência a pacientes com dengue nas epidemias anteriores fiquem atentos às quatro classificações de risco descritas no informe. Cada uma delas indica o manejo adequado, seja ambulatorial ou até mesmo de uma UTI, em casos graves”, explica.

De acordo com a especialista, as instruções são fundamentais já que muitos médicos, sobretudo os mais jovens, não tiveram experiência com a doença ou epidemias de dengue.

“Durante esses encontros notamos muitas dúvidas, como as diferenças de hidratação, especialmente em pediatria. O aleitamento materno, por exemplo, deve ser mantido e estimulado e há critérios específicos de ml/kg para crianças, idosos e pessoas com comorbidades, como cardiopatia e insuficiência renal”, pontua.

Fluxograma de manejo clínico: quando um caso é considerado suspeito?

A SES-RJ também disponibilizou, em suas plataformas digitais, um material informativo para médicos e profissionais de saúde com orientações sobre atendimento e tratamento de pacientes com dengue. O documento, chamado de fluxograma de manejo clínico, orienta que o início da hidratação deve ser imediato, logo após suspeita clínica, seguindo um protocolo pré-estabelecido.

O novo protocolo estabelece como premissa o início da hidratação antes mesmo da confirmação laboratorial. A partir da classificação de risco, o médico deverá indicar se a hidratação será feita por via oral ou venosa.

O fluxograma de manejo clínico da dengue destaca que um caso suspeito é considerado suspeito quando pacientes relatarem febre, usualmente entre dois e sete dias de duração, e duas ou mais manifestações, como náusea, vômitos, dores de cabeça, erupções cutâneas e ou manchas avermelhadas, dores musculares ou nas articulações ou ainda dores atrás dos olhos.

Em situações de vulnerabilidade social, a SES-RJ recomenda que as equipes de triagem avaliem junto ao paciente e/ou os acompanhantes a disponibilidade do acesso à unidade de saúde para possível retorno, caso surjam sinais de alarme da doença como: dor abdominal, desmaio, vômitos persistentes e sangramento.

Em todos os casos, o importante é adotar o protocolo estabelecido pelo Ministério da Saúde no fim de 2023. O material sugere também que os fatores sociais sejam determinantes para prioridade no atendimento ao paciente. O informativo está disponível para download em monitorar.saude.rj.gov.br e clicando em ‘Arboviroses’.

“Tanto o fluxograma quanto as orientações gerais sobre hidratação devem ser impressas e compartilhadas pelas unidades de saúde e nos consultórios médicos. O manejo clínico, ou seja, a forma como esse paciente será atendido pelo médico, é importantíssima para o sucesso do tratamento”, explica a secretária Claudia Mello.

Agenda Positiva

Inscrições para treinamentos de médicos contra dengue estão abertas 

Ao todo, serão realizados oito encontros, sendo seis para profissionais que trabalham nas emergências pediátricas de hospitais e UPAs, além de dois para aqueles que trabalham em UTIs pediátricas. A capacitação seguirá nesta quarta-feira (31/01) e nos dias 1, 6, 7 e 8 de fevereiro. Já para os de UTIs pediátricas acontecem nos dias 20 e 22 de fevereiro.

Ainda há vagas para os dias 1 e 6 de fevereiro para a capacitação de médicos que atuam em emergências pediátricas e UPAs. Também estão disponíveis vagas para os dias 20 e 22 de fevereiro destinadas aos médicos que atuam em UTIs pediátricas.

Para realizar as inscrições, os médicos que atuam pediatria em emergências e UPAs pediátricas devem preencher o formulário disponível neste link, com o nome completo, data e horário do curso escolhido, e-mail, número do celular, unidade de atuação e especialização.

Os profissionais de UTIs pediátricas devem preencher as mesmas informações, mas pelo link. Todas as capacitações são presenciais e acontecerão no auditório da SES-RJ, localizada na Rua Barão de Itapagipe 225, no Rio Comprido, na Zona Norte.

Agentes de saúde vão fiscalizar focos do mosquito em 7 bairros do Rio

Agentes de vigilância ambiental em saúde vistoriam residências em busca de focos do Aedes aegypti (Foto: Edu Kapps / SMS-Rio)

A Secretaria Municipal de Saúde do Rio (SMS) fará ações de prevenção às arboviroses (dengue, zika e chikungunya) e de controle vetorial pela cidade nesta quinta (1º/02) e sexta-feira (2/2), respectivamente. Nas atividades, serão contemplados sete bairros das zonas Norte e Oeste para a iniciativa, que será conduzida pelos agentes de vigilância ambiental em saúde e acontecerá das 8h às 12h.

As ações serão realizadas nos seguintes bairros: Benfica, Jacarepaguá, Engenho Novo, Turiaçu, Itanhangá, Bangu e Santa Cruz. A intensificação das ações de prevenção e controle vetorial são estratégicas e, por essa razão, acontecem ao longo do período de fortes chuvas, onde há maior concentração de calor e a circulação de mosquitos.

Este ano, até o dia 27 de janeiro, foram visitados 331.652 imóveis para prevenção e controle do Aedes aegypti e 98.688 recipientes que poderiam servir de criadouros do mosquito foram tratados ou eliminados. Em 2023, foram realizadas 11,2 milhões de vistorias em imóveis para controle e prevenção de possíveis focos do Aedes aegypti, com eliminação ou tratamento de mais de 2,1 milhões de recipientes.

A SMS também realiza ações educativas e de mobilização social para orientar a população sobre as medidas para a prevenção de arboviroses urbanas, visando despertar a responsabilidade sanitária individual e coletiva. Quando necessário, a população pode fazer pedidos de vistoria ou denunciar possíveis focos do mosquito pela Central de Atendimento da Prefeitura, no telefone 1746.

Com informações da SES-RJ e SMS-Rio (atualizado em 31/01/24)

 

Shares:

Related Posts

2 Comments

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *