Mulheres que temem o câncer ou estão em estágio inicial da doença podem optar pelo congelamento de óvulos para preservar sua fertilidade, especialmente se estiverem com até 35 anos. Esta é a conclusão a que chegamos após ouvir especialistas a respeito, neste Outubro Rosa. 

O custo do congelamento de óvulos não é revelado pelas clínicas de fertilização in vitro, e como não é oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS), pode se tornar inviável para muitas melhores que sonham em ser mães, mesmo depois do câncer. É que, além do custo para coletar os óvulos, as clínicas geralmente cobram taxas anuais caras para mantê-los em tanques de criopreservação.

Segundo a BBC, um único ciclo pode custar até US$ 17 mil nos EUA, o equivalente a um quinto da renda média anual das famílias americanas. No Brasil, o custo do procedimento gira em torno de R$ 18 mil e não é coberto pelo SUS.

Uma boa notícia para quem não pode pagar pelo tratamento é que o Hospital Pérola Byington, em São Paulo, oferece desde 2010 o congelamento de óvulos para mulheres em tratamento contra o câncer de forma gratuita. A única restrição, entretanto, é que as mulheres tenham até 35 anos e não estejam com câncer em estágio avançado. Ela não precisa necessariamente estar em tratamento oncológico na instituição. Para mais informações sobre o cadastramento, basta entrar em contato pelo telefone (11) 3104-2785.

Por que elas não podem ter filhos pelo método natural?

Mas por que elas não podem ter filhos depois de se recuperar do câncer? E por que o método do congelamento de óvulos é o mais indicado? Especialistas explicam que além da cirurgia para retirada da mama, chamada de mastectomia, a quimioterapia e a radioterapia, muitas vezes necessárias para complementar o tratamento da doença, podem causar insuficiência ovariana e desencadear uma menopausa precoce, afetando, consequentemente, a fertilidade dessas mulheres.

A especialista em reprodução Humana da clínica Fertipraxis, Maria do Carmo Borges, explica que as terapias para cura do câncer muitas vezes acabam afetando a reserva de óvulos, o que pode impossibilitar a gravidez da mulher de forma espontânea.

Mas não são todas as pacientes em tratamento de câncer que acabam perdendo sua fertilidade. Tudo isso depende do tipo e da intensidade do tratamento realizado, assegura o médico Matheus Roque, mestre em Reprodução Humana pela Universidade Autonoma de Barcelona e Doutor em Ginecologia e Obstetrícia pela UFMG.

Por via das dúvidas, a recomendação da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (SAMR) e da Sociedade Americana de Oncologia Clínica é que a melhor opção para quem quer ter filhos é mesmo o congelamento de óvulos, evitando assim, também, as complicações éticas que envolvem o congelamento de embriões no país.  “Com o advento do congelamento de óvulos (no caso de mulheres), espermatozoides (no caso de homens) ou o congelamento dos embriões é possível se submeter ao tratamento e, após as sessões de quimioterapia, tentar a gravidez”, ressalta.

O congelamento de óvulos é indicado para preservar a fertilidade de mulheres em idade reprodutiva (até 35 anos) e deve ser feito antes de a mulher se submeter à quimioterapia e, em algumas situações, à radioterapia”, ressalta Dr Roque.

Tratamento com embriões ou óvulos, qual é o melhor?

Para Marcelo Marinho, também especialista em Reprodução Humana da Fertipraxis, apesar de o congelamento de embriões ainda ser apontado como a melhor maneira de atingir o resultado esperado nos ciclos de reprodução assistida pelas sociedades médicas, os resultados de gravidez a partir de óvulos congelados já são equivalentes àqueles apresentados por embriões congelados.

A utilização de embriões descongelados em tentativas subsequentes ainda é o padrão-ouro para a preservação da fertilidade em casos de câncer, de acordo com algumas sociedades médicas. Entretanto, as novas técnicas de congelamento e descongelamento de óvulos já apresentam resultados similares de aproveitamento e sucesso, de modo que atualmente já se fala inclusive em definir o congelamento de óvulos como o tratamento padrão para a preservação de fertilidade em mulheres.”

Congelamento de óvulos evita questões éticas em relação a embriões

Já para Roberto de Azevedo Antunes, diretor médico da clínica, é preciso considerar que o congelamento de óvulos evita a ocorrência de questões éticas importantes que surgem a partir do congelamento dos embriões, como por exemplo, a discussão sobre o destino de embriões caso um casal se separe, ou o que fazer com os embriões excedentes quando o casal consegue ter seu filho, entre outros. Em última análise, segundo ele, o congelamento de óvulos permite que uma mulher com câncer mantenha sua autonomia reprodutiva.

O congelamento de óvulos segue como tratamento muito bem fundamentado e como recomendação por parte das sociedades europeia e americana para pacientes com baixa reserva que não tenham pretensão de engravidar no curto prazo, diagnóstico de câncer ou risco de perder os ovários. O congelamento social também tem uma indicação bem fundamentada principalmente em pacientes entre 30-35 anos sem perspectivas de ter filhos”, destaca o médico, que também é diretor da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia do Rio de Janeiro e da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida.    

Diferença entre congelamento de óvulos e embriões      

O embrião se forma quando o óvulo é fertilizado pelo espermatozoide. A técnica de congelamento consiste na utilização de substâncias químicas (crioprotetores) para proteger as células do frio e, assim, permitir que elas sejam conservadas congeladas. O embrião é formado por várias células, e caso algumas dessas células não sobreviva, ele consegue se corrigir e continuar seu desenvolvimento.

A principal diferença é em relação ao descarte. Enquanto os óvulos podem ser descartados livremente, o descarte de embriões envolve questões legais e éticas.  Para se ter embrião, é necessário ter óvulos e espermatozoides. Logo, os embriões são de responsabilidade do casal. E qualquer atitude quanto a eles tem de ser autorizada por ambos.  Já os óvulos são propriedade exclusiva da mulher e ela decide o que fazer com eles.

Outra questão importante é que a legislação brasileira impede o descarte de embriões com menos de 3 anos de congelamento, ou seja, o casal tem que arcar com os custos de manutenção do congelamento, ou então, optar pela doação dos embriões que está prevista em lei.   

Método é indicado para mulheres abaixo de 35 anos que desejam postergar a maternidade

O congelamento de óvulos também é indicado para mulheres que desejam postergar ou não tenha definido se deseja uma gestação no futuro.  A idade ideal para isso acontecer é abaixo dos 35 anos, apesar de não existir uma contraindicação sobre realizar esse procedimento em idades mais avançadas. Mesmo feito esse procedimento, há também a chance de a mulher ter uma gravidez de forma natural, mas se isso não ocorrer, esses óvulos podem ser utilizados para uma reprodução assistida.

Dr Matheus Roque explica que, com o passar dos anos, o relógio biológico feminino diminui a quantidade e a qualidade dos óvulos que a mulher possui, uma vez em que ela já nasce com todos os óvulos que terá durante toda a sua vida, até que chegue um certo limite e entre em menopausa.

Talvez ainda mais importante que a diminuição da reserva ovariana esteja o fato da piora da qualidade dos óvulos, que também ocorre com o passar dos anos. Esta piora leva a uma menor chance de gravidez, maiores riscos de abortamentos e síndromes com o avanço da idade. Estas alterações passam a ser mais significativas após os 36 anos de idade”, salienta.

O objetivo do congelamento de óvulos é mostrar claramente às mulheres que as chances de gravidez de maneira natural ou com tratamentos caem drasticamente com o avançar da idade. Assim como ocorre um aumento no risco de aborto e de doenças genéticas.

“Porém, existe uma tendência mundial em que as mulheres estão adiando o momento para iniciarem a tentativa de engravidar. Isso faz com que as chances de gravidez diminuam e que aumente o número de pacientes inférteis. E a única maneira de tentar evitar os danos que a idade causa sobre o potencial reprodutivo da mulher, é através da Preservação de Fertilidade – com o congelamento de óvulos ou embriões, o que dá total autonomia para a mulher decidir em qual idade quer ser mãe, assim como preservar a fertilidade de mulheres diagnosticadas com  câncer”, enfatiza o médico.

Com Assessorias

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