O Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima até 2025 a marca de 74 mil novos casos de câncer de mama no Brasil. Diante desta projeção, sete sociedades médicas se uniram, de forma inédita, no movimento “Juntos Somos Mais Fortes” e lançam uma campanha conjunta que traz uma mensagem de esperança, reforçando que o “câncer de mama tem cura” durante este Outubro Rosa 2024.
Na ação de caráter abrangente e inclusivo, as entidades vão expandir informações corretas e confiáveis em um site criado para combater fake news sobre a doença. Prevenção, ampliação do rastreamento e acessibilidade a diagnóstico e tratamento do câncer de mama também compõem a ampla pauta desse projeto.
O projeto Outubro Rosa 2024 reúne Sociedade Brasileira de Oncologia (SBOC), Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT), Sociedade Brasileira de Genética Médica (SBGM), Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR),
De acordo com o National Cancer Institute (NCI), uma em cada três publicações sobre câncer nas redes sociais contém informação incorreta. O alerta da principal agência norte-americana para pesquisa do câncer corrobora com o que tem sido observado pelas sociedades médicas que são diariamente contatadas pela imprensa para desmentir fake news ou explicar associações equivocadas a partir de postagens de grande repercussão nas redes sociais.
Turma da Mônica abraça a campanha
Para combater a desinformação, uma das principais ações do movimento “Juntos somos mais fortes” é a publicação de conteúdos atualizados e validados pela comunidade científica sobre o câncer de mama no site oficial da campanha.
De acordo com Tufi Hassan, presidente da SBM, a ação conjunta tem o propósito de direcionar esforços para ampliar a prevenção, o acesso a exames e atendimento e também combater fake news sobre o câncer de mama a partir do movimento Juntos Somos Mais Fortes, que terá um site para veiculação de informações validadas e seguras à população.
A desinformação é um dos maiores inimigos da saúde”, afirma o mastologista Tufi Hassan. “No site juntossomosmaisfortes.org.br, queremos conscientizar um grande número de pessoas sobre a importância da detecção precoce e do tratamento acerca do câncer de mama, oferecendo informações avalizadas por todas as instituições que participam do projeto” completa.
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Além da união das sete sociedades médicas, uma equipe especial foi designada para promover mensagens de conscientização sobre o câncer de mama: a Turma da Mônica. Por meio de desenhos animados produzidos pela Mauricio de Sousa Produções, as sociedades médicas irão abordar a importância da prevenção e do diagnóstico precoce contra o câncer de mama. A proposta é ampliar o alcance das informações, envolvendo, principalmente, o público jovem.
Exercícios físicos e alimentação
“O acesso à informação confiável é fundamental para a população, especialmente neste momento em que notícias falsas são propagadas com tanta velocidade”, reforça a presidente da SBOC, Anelisa Coutinho. “A SBOC tem o compromisso com uma abordagem respaldada por evidências científicas sólidas, assim como as outras sociedades que estão conosco neste movimento”, completa.
Entre todos os tipos de câncer, o de mama é o mais incidente entre as mulheres brasileiras. Nos avanços para controle e tratamento da doença, prevenção, detecção precoce, acesso a tratamentos e qualidade de vida constituem temas de alta relevância
Os esforços apoiados pelas associações envolvidas no projeto Outubro Rosa 2024 destacam a alimentação equilibrada como um cuidado fundamental para uma vida saudável. Também o exercício físico, diário e disciplinado, como mostram vários estudos científicos, é medida preventiva que contribui para reduzir a inflamação do organismo, mitigando a obesidade, as doenças cardiovasculares e também oncológicas.
Segundo especialistas, no prognóstico do câncer de mama, a atividade física deve ser considerada como tratamento. Pesquisa publicada no Journal of Clinical Oncology revela que em pacientes com câncer de mama triplo-negativo, agressivo e de rápida evolução, a taxa de sobrevivência livre de recorrência a distância (DRFS) foi de 86% para praticantes de exercícios semanais por menos 90 minutos e de 91,6% para as mulheres que se dedicaram a um período igual ou maior a 90 minutos por semana. Em pacientes HER2-positivas, a DRFS foi de 90% em menos de 90 minutos, e 96% em mais de 90 minutos semanais.
De forma generalizada, o tempo de atividade física definida para mulheres com câncer de mama equivale a cerca de 75 minutos por semana. A OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda entre 150 e 300 minutos de exercício moderado ou 75 a 150 minutos para atividade intensa por semana.
Acesso a exames
A mamografia é um dos principais métodos para rastreamento e diagnóstico precoce do câncer de mama. No Brasil, embora o número de mamógrafos seja suficiente para atender à população-alvo, as barreiras para acesso a diagnóstico resultam em uma cobertura inadequada. Com efeito, os casos de câncer de mama em estágio avançado são maiores na rede pública em comparação com a saúde suplementar, que inclui os planos de saúde.
Desde a biópsia até o primeiro tratamento, observam-se diferenças entre o SUS e a saúde suplementar. Em até 30 dias, os atendimentos representaram, de acordo com a Sociedade Brasileira de Mastologia, 21,1% no SUS e 45,4% no sistema privado. Entre 30 e 60 dias, o SUS registra 34%; a saúde suplementar, 40%. Acima de 60 dias, foram 44,9% no SUS e 14,6% no sistema privado. Neste sentido, a SBM considera fundamental a aplicação da Lei nº 12.732 de 2012, que determina o início do tratamento no prazo máximo de dois meses.
Segundo o Panorama do Câncer de Mama, realizado entre 2015 e 2022, na faixa etária de 30 a 49 anos somaram-se 117.984 novos casos da doença, ou 30,5% do total apurado, que inclui também mulheres de 50 a 59 anos e de 60 a 69 anos. Para a Sociedade Brasileira de Mastologia, o “rejuvenescimento” do câncer de mama já é realidade no Brasil.
Neste sentido, a SBM considera imperativo que o Ministério da Saúde reveja o início do rastreamento da doença e considere a idade mínima a partir de 40 anos, e não aos 50 anos. O Panorama do Câncer de Mama indica que mulheres de 40 a 49 anos tiveram diagnóstico tardio em 39,6% dos casos. A faixa etária considerada de risco (entre 50 e 69 anos) responde por 35,3%.
Tratamento
O posicionamento da SBM também é para que haja a equiparação da Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde) com a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) nos métodos diagnósticos e tratamento dos procedimentos aprovados pela Anvisa.
Alguns exames já estão incluídos apenas no rol da ANS: painel genético germinativo, pet-ct oncológico, ressonância magnética de mamas, marcação tumoral pré-quimioterapia, uso de medicina nuclear (radiofármacos) em cirurgia (roll e ls) e biópsia percutânea assistida a vácuo (mamotomia).
Embora estejam incorporados pela Conitec, alguns medicamentos ainda não estão disponíveis no SUS. São eles: trastuzumabe entansina e abemaciclibe/ribociclibe/
Testagem genética
Entre discussões relevantes que vêm envolvendo SBM, universidades e entidades com atuações importantes, e resultaram em documentos encaminhados ao Ministério da Saúde para implementação de procedimentos e serviços em todo o Brasil, está a estruturação de testagem genética para detecção de mutações patogênicas e provavelmente patogênicas para pacientes com câncer de mama e ovário e seus familiares no âmbito do SUS.
Entre os fatores aumentados de risco, especialistas destacam a mutação do gene BRCA. De acordo com a SMB, esta alteração genética representa até 80% de possibilidade de desenvolvimento de câncer de mama e de 40% para o de ovário.
O exame para Detecção de Mutação Genética dos Genes BRCA1 e BRCA2, custeado pelo SUS, é um meio eficiente para identificar a mutação e realizar medidas profiláticas que podem salvar milhares de mulheres. Embora exista legislação que permite a realização do teste em cinco Estados brasileiros, incluindo Rio de Janeiro, Minas Gerais, Distrito Federal e Amazonas, somente Goiás, de fato, implementou o exame.
Os benefícios da divulgação de informações corretas à população e da prevenção do câncer de mama podem impactar positivamente as famílias e a sociedade como um todo, com diminuição de custos de tratamento e mais qualidade de vida”, conclui o presidente da SBM, Tufi Hassan.
‘Juntos, nós podemos fazer a diferença’, diz oncologista
Para a presidente da SBOC, a união das especialidades e o trabalho em conjunto com ações efetivas serão fundamentais para mudar o atual cenário. “Embora seja difícil para o paciente receber o diagnóstico de um câncer, os avanços tecnológicos, a atenção multiprofissional e os tratamentos inovadores possibilitam a cura da doença em muitos casos”, afirma. “Juntos, nós podemos fazer a diferença”, completa.
Oncologista clínica e coordenadora do Comitê de Tumores Mamários da SBOC, Daniela Rosa reforça a importância dos médicos, pesquisadores e veículos de comunicação social contribuírem ainda mais com a divulgação científica responsável. “Sabemos que o modo no qual uma questão de saúde é enquadrada afeta a opinião pública, influencia o comportamento individual e desempenha um papel central no processo da formação das políticas de saúde”, avalia.
Outro desafio tão importante quanto a informação são os recursos aliados para a detecção precoce do câncer de mama, em especial a mamografia – exame que gera imagens de alta qualidade capazes de revelar a existência de sinais iniciais da doença. O exame, geralmente, é indicado para mulheres a partir dos 40 anos, independente da presença de sintomas.
Quando se detecta alterações pré-malignas ou tumores mamários muito pequenos, o que é possível a partir da mamografia, as chances de cura do câncer de mama são de aproximadamente 95%, se tratados precocemente”, conclui a especialista.
Para mais informações, acesse o site oficial da campanha: www.juntossomosmaisfortes.org.
Atualizada em 11/10/24