Há exatos 38 anos o mundo era surpreendido com uma cruel e silenciosa epidemia: a Síndrome da Imunodeficiência Humana Adquirida – Aids, na sigla em inglês. Cruel, não apenas por expor toda a debilidade física de seus portadores, mas ainda pior por trazer à flor da pele toda a sorte de julgamentos e preconceitos com a fragilidade e os diferentes comportamentos humanos.
A análise é da infectologista Vera Márcia de Souza Lima Rufeisen, coordenadora médica do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Vera Cruz, que comemora os muitos avanços obtidos contra a doença neste Dia Mundial de Luta contra a Aids (1º de dezembro). A data foi instituída dia 27 de outubro de 1988 pela Assembleia Geral da ONU e a Organização Mundial de Saúde para reforçar a importância da prevenção e o diagnóstico precoce.
Este longo caminho duramente percorrido nos trouxe felizmente muitos avanços. Hoje temos disponível terapêuticas altamente eficazes, que devolvem não apenas a expectativa de vida com muita qualidade, mas a dignidade humana, a possibilidade de voltar a planejar, ter sonhos, construir a própria história”, afirma.
Especialistas também lembram dos inúmeros desafios para enfrentar essa epidemia no Brasil, que teve alta de 21% de infecções por HIV em oito anos. Os dados são do Unaids, programa conjunto das Nações Unidas sobre HIV/aids, e foram divulgados no relatório anual. No continente, o desempenho do Brasil no combate ao HIV só não foi pior que os do Chile e Bolívia.
Apesar disso, o Ministério da Saúde garante que o Brasil conseguiu evitar 2,5 mil mortes por Aids entre os anos de 2014 e 2018. Nos últimos cinco anos, o número de mortes pela doença caiu 22,8%, de 12,5 mil em 2014 para 10,9 mil em 2018. Os dados são positivos, no entanto, a pasta acredita que 135 mil pessoas vivem com HIV no Brasil e não sabem.
Com base nessa estimativa, o ministério lançou nesta sexta-feira (29) a Campanha de Prevenção ao HIV/Aids. O foco é incentivar pessoas que não se preveniram em algum momento da vida a procurar uma unidade de saúde e realizar o teste rápido.
O principal alvo da campanha são os jovens. De acordo com o boletim epidemiológico 2019, a infecção por HIV/AIDS cresce mais entre eles. A maioria dos casos de infecção pelo HIV no país é registrada na faixa de 20 a 34 anos (52,7%), principalmente em relação aos homens. Leia o conteúdo na íntegra em saúde.gov.br
Especialista diz que Brasil ainda está longe da meta
Estamos longe deste objetivo. No Brasil, embora tenhamos as melhores medicações disponíveis de forma gratuita e universal, atingimos 59% desta meta. Nosso caminho ainda é longo, mas a esperança do objetivo final, nos faz mais fortes. Temos que nos mobilizar para que cada vez mais a prevenção ideal seja realizada, as informações corretas sejam levadas aos pacientes nos quatro cantos do país e para que cuidemos da saúde integral desta população”, destaca a especialista.
Não tem cura, mas tem tratamento
Dezembro Vermelho é o mês do HIV e é importante a conscientização sobre a doença, que é transmitida sexualmente ou por sangue contaminado. Embora ainda não tenha cura, é possível manter a qualidade de vida mesmo convivendo com o HIV.
Para isso é fundamental receber um diagnóstico precoce e fazer o tratamento de maneira correta e ininterrupta. Com o tratamento adequado, o vírus HIV fica indetectável, ou seja, não pode ser transmitido por relação sexual, e a pessoa não irá desenvolver Aids.
No âmbito do tratamento, o HIV já se igualou a doenças crônicas como o diabetes, hipertensão e colesterol, pois os medicamentos já são mais eficazes, com poucos efeitos colaterais e fáceis de administrar”, afirma João Prats, infectologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Vírus pode se tornar resistente sem tratamento regular
Os antirretrovirais impedem a multiplicação do vírus e fortalecem o sistema imunológico. “O objetivo do tratamento é fazer com que o paciente fique com uma quantidade indetectável de vírus no sangue, igual àquela apresentada por pessoas que não vivem com o HIV”, explica o médico da BP. Por outro lado, o infectologista reforça que a carga viral indetectável no sangue não significa cura ou mesmo que seja possível abandonar o tratamento.
“O vírus ficará adormecido e se o paciente parar de tomar os remédios o HIV volta a se proliferar, levando ao adoecimento, que é o que chamamos de Aids. O paciente que vive com HIV pode ter uma vida absolutamente normal. Ele poderá estudar, trabalhar, praticar esportes e fazer todas as outras coisas do cotidiano, desde que não abandone o tratamento”, conclui o médico.
Teste rápido acelera diagnóstico e início do tratamento
Especialistas indicam que o desempenho ruim do Brasil se deve, entre outros motivos, à demora em se adaptar à tecnologia dos testes rápidos. Através de uma gota de sangue, já é possível identificar se a pessoa possui ou não o vírus do HIV e em 15 minutos, ela receberá o resultado. O diagnóstico rápido pode ser fundamental para acelerar o tratamento, principalmente no casos de doenças como o HIV.
A Hi Technologies, por exemplo, oferece o Hilab, um laboratório portátil que usa inteligência artificial para acelerar os resultados dos exames. Disponível principalmente nas farmácias, os resultados dos exames ficam prontos em média em 15 minutos.
Tratamento de pacientes infectados por tuberculose e HIV
A partir de agora, as pessoas com HIV/aids poderão manter o tratamento com o antirretroviral dolutegravir se também contraírem a tuberculose. Antes, o uso desse fármaco era contraindicado durante o tratamento da tuberculose. Assim, era preciso adequar o esquema terapêutico para o HIV, ou seja, substituir por outro antirretroviral, para, então, iniciar o tratamento da coinfecção por HIV e tuberculose.
A iniciativa foi possível após estudos científicos indicarem a eficácia e segurança do uso do dolutegravir combinado aos medicamentos para tratar pessoas infectadas por tuberculose. O dolutegravir, considerado um dos mais modernos do mundo, é ofertado no Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2017 para pessoas vivendo com HIV. Leia o conteúdo na íntegra em saude.gov.br
Novo medicamento reduz tempo de tratamento pela metade
A partir do próximo ano, o Governo do Brasil deve passar a oferecer na rede SUS um novo medicamento para tratar a tuberculose latente, aquela em que há a presença da bactéria adormecida, mas sem doença, ou seja, não há os sintomas como tosse prolongada e febre. A estimativa é de que há 30 mil pessoas nestas condições no país e que, caso contraiam doenças como o HIV/aids, quando o sistema imunológico está mais fragilizado, podem vir a desenvolver a forma ativa da tuberculose. O tratamento levava de seis a nove meses, agora, deve durar três. Leia mais em saude.gov.br.
Com Assessorias