No Brasil, todos os dias morrem centenas de pessoas em decorrência de acidentes de trabalho ou doenças relacionadas a ele – cerca de 2,78 milhões de óbitos por ano, de acordo com o Ministério da Saúde. Além disso, há cerca de 374 milhões de acidentes não fatais a cada ano, resultando em mais de quatro dias de ausências ao trabalho.

A pasta lembra que a pandemia do SARS-CoV2 teve impactos profundos no ambiente de trabalho, atingindo vários aspectos, desde o risco de transmissão do vírus nos locais de trabalho até os riscos de segurança e saúde ocupacional que surgiram como resultado de medidas para controlar a disseminação do vírus.

Segundo o órgão, mesmo nas novas configurações, como o teletrabalho, há riscos potenciais para a Saúde e Segurança no Trabalho, incluindo os psicossociais e a violência. O custo humano e econômico de práticas inadequadas de segurança e saúde ocupacional é estimado em 3,94% do Produto Interno Bruto global, anualmente.

O câncer relacionado ao trabalho também ameaça os trabalhadores brasileiros. A maior parte dos casos de câncer diagnosticados em todo o mundo apresentam uma relação direta com fatores de riscos ambientais, incluindo o ambiente ocupacional.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (Iarc) avaliam que cerca de 80% do total de casos de câncer podem ser atribuídos ao ambiente. A mais recente estimativa mundial aponta que, em 2018, ocorreram 18 milhões de novos casos da doença.

Dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) apontam que, por ano, no mundo todo, acontecem 666 mil mortes de cânceres associados ao trabalho. Esse dado representa o dobro das mortes relacionadas aos acidentes laborais.

O diagnóstico e a mortalidade por câncer associado ao trabalho têm aumentado em razão do crescimento da expectativa de vida e da redução gradual de outras causas de morte, como as doenças transmissíveis e acidentes em geral. A OIT estima que de 5,3 a 8,4% de todos os casos de câncer ocorram por causa das exposições ocupacionais.

A aplicar esse cálculo, seriam pelo menos 35 mil casos de câncer relacionados ao trabalho diagnosticados em apenas um ano no Brasil, que deve fechar 2021 com 625 mil novos casos de câncer, segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca).

Câncer de pulmão, tumores de cavidade nasal, oro e nasofaringe, pele, bexiga, pâncreas, estômago, esôfago, cérebro, mama, sistema nervoso central, mesotelioma, linfoma não Hodgkin e leucemia são exemplos de cânceres decorrentes da exposição ocupacional. 

De todos eles, o de pulmão contribui com a maior incidência dos tumores relacionados ao trabalho. De 54 a 75% dos casos dessa neoplasia têm relação direta com o ambiente ocupacional. Somente a exposição ao amianto, por exemplo, contribui com 55 a 85% desses casos.

Os dados fazem parte do livro “Ambiente, Trabalho e Câncer: Aspectos Epidemiológicos, Toxicológicos e Regulatórios, que mapeou os principais tipos de cânceres relacionados à exposição ocupacional.  Lançada no Dia Mundial da Segurança e Saúde no Trabalho (28 de abril) e às vésperas do Dia do Trabalho (1/5), a publicação foi organizada pelas tecnologistas Márcia Sarpa e Ubirani Otero, da Área Técnica Ambiente, Trabalho e Câncer, da Coordenação de Prevenção e Vigilância do Inca.

Investimento em prevenção é o melhor caminho

Apesar da alta incidência de casos de câncer no Brasil e no mundo, o investimento em prevenção é o melhor caminho para a mudança de cenário, já que a maioria dos fatores de riscos ambientais que podem desencadear a doença são potencialmente preveníveis e modificáveis.

Os fatores de risco ambientais envolvem – além dos agentes químicos, físicos e biológicos – os hábitos de consumo e comportamento e o ambiente social (alimentação, uso de medicamentos, tabagismo, consumo de álcool, sedentarismo e obesidade). A epidemiologista Ubirani Otero, e chefe da Área Técnica Ambiente, Trabalho e Câncer do Inca, explica que as exposições aos agentes potencialmente cancerígenos no ambiente acontecem em várias situações durante toda a vida. 

É importante observar que os dados e estimativas dos casos diagnosticados atualmente, em geral, se referem a exposições que aconteceram décadas atrás. O período entre a exposição e o diagnóstico do câncer relacionado ao trabalho é realmente longo. Um alerta importante que nós especialistas fazemos é que não há níveis seguros de exposição a agentes cancerígenos”, afirma Ubirani.

Para prevenir o câncer relacionado ao trabalho e ao ambiente, é necessário observar três eixos fundamentais: a vigilância da doença, da exposição e dos trabalhadores ou população expostos. Para Ana Cristina Pinho, diretora-geral do Inca, a prevenção pode ser efetiva quando identificados e removidos os agentes químicos, físicos e biológicos que apresentam potencial cancerígeno no ambiente. Quando não for possível a eliminação total dessas substâncias, deve-se reduzir a exposição a níveis mínimos, com constante monitoramento ambiental e dos trabalhadores expostos. 

É fundamental saber onde estão, quais os grupos mais expostos e quais os tipos de câncer que podem estar associados a eles. Ter conhecimento de como identificar essas exposições e todas as doenças associadas é fundamental para diminuir os riscos, notificar os casos e estabelecer estratégias de vigilância efetivas”, explica Ana Cristina.

Outra ação do Inca para cooperar com a prevenção de cânceres relacionados ao trabalho, é o acordo realizado com o Ministério Público do Trabalho, no último dia 27 de abril. A parceria tem como objetivo o desenvolvimento de ações, estudos e projetos conjuntos em prol do meio ambiente e da saúde dos trabalhadores. 

O INCA e o MPT trabalham em parceria desde 2018, quando foi firmado formalmente o primeiro acordo. O foco principal, atualmente, é trabalhar abordando os impactos à saúde, em especial o câncer, em trabalhadores que são expostos aos agrotóxicos, ao amianto, ao benzeno e outros agentes considerados 

Publicação

O livro aborda 38 localizações primárias de câncer que podem ter relação com a exposição a agentes cancerígenos presentes nos ambientes onde se vive e trabalha. São 19 localizações a mais do que foi elencado no livro ‘Diretrizes para a vigilância do câncer relacionado ao trabalho’, também organizado pela Área Técnica Ambiente, Trabalho e Câncer e publicado em 2012”, informa Ubirani.

O livro conta com 19 capítulos, sendo um introdutório que apresenta os diversos agentes químicos, físicos e biológicos presentes nos ambientes onde se vive e trabalha, e 18 capítulos referentes a cada agente cancerígeno específico com questões epidemiológicas, toxicológicas e regulatórias associadas a eles. Para a descrição desses agentes foram consultadas as últimas monografias da Iarc e foram descritas 38 localizações de tumor relacionados a estes agentes.

O número de agentes cancerígenos reconhecidos e listados pela IARC tem aumentado ao longo dos anos, sendo alguns ainda pouco pesquisados no Brasil. Dessa forma, além dos antigos agentes já reconhecidos como cancerígenos – por exemplo o amianto, o benzeno, os agrotóxicos, os metais, a radiação, os fármacos antineoplásicos – também foram incluídos na publicação as novas tecnologias, como as nanopartículas e os transgênicos, cujos efeitos sobre a saúde não estão completamente estabelecidos e apenas serão vistos no longo prazo”, garante Márcia Sarpa.

Os capítulos do livro foram escritos e revisados por 23 pesquisadores do Instituto Nacional de Câncer, sendo a maioria da Área Técnica Ambiente, Trabalho e Câncer, e por mais 11 pesquisadores de universidades e outras instituições científicas, como a Fundação Jorge Duprat Figueiredo, de Segurança e Saúde no Trabalho/Fundacentro/ME e Fundação Oswaldo Cruz/MS.  O material está disponível no site do Inca – acesse pelo link.

Mortes de 78 mineiros nos EUA deram origem à data

O Dia Mundial da Segurança e Saúde no Trabalho (28 de abril) foi criado em 2003 pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), em memória dos 78 mineiros que morreram em uma explosão em uma mina no estado norte-americano de Virgínia, em 28 de abril de 1969. A data busca criar uma consciência mundial sobre as dimensões e as consequências dos acidentes, lesões e doenças relacionadas ao trabalho e colocar a saúde e a segurança de todos os trabalhadores na agenda internacional para estimular e apoiar ações práticas em todos os níveis.

No Brasil, o Dia Nacional em Memória das Vítimas de Acidentes e Doenças do Trabalho, celebrado em 29 de abril, foi instituído pela Lei 11.121/2005. O foco, em 2021, são as estratégias para fortalecer os sistemas nacionais de segurança e saúde ocupacional para construir resiliência a fim de enfrentar crises, agora e no futuro, com base em lições aprendidas e em experiências do mundo do trabalho. Para marcar as duas datas, o prédio da Câmara dos Deputados estará iluminado na cor verde, nestas quarta e quinta-feira (dias 28 e 29).

Fonte: Inca e OIT

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