As mulheres nascem com todos os óvulos que algum dia possam precisar, por isso a saúde desse gameta é a pedra angular da fertilidade e eles precisam ser nutridos para amadurecer, ovular, fertilizar e se desenvolver para virar um bebê. Por isso, restrições alimentares são colocadas, muitas vezes, como impeditivo para a gravidez. Nesse sentido, vem a dúvida: será que a dieta vegana interfere na fertilidade?

“Depende. De uma forma geral, temos que pensar em ofertar os nutrientes adequados para o organismo, sejam eles de origem animal ou vegetal. Quando a dieta é bem estruturada e fornece os macros e micronutrientes necessários, não há interferência alguma da alimentação para dificultar a concepção de um filho”, explica Fernando Prado, especialista em Reprodução Humana, membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e diretor clínico da Neo Vita.

“No entanto, se houver, por exemplo, baixa ingestão proteica ou de ômega-3, isso pode afetar a qualidade do óvulo”, acrescenta o médico. “As necessidades nutrológicas variam de acordo com a fase do período gestacional, que vai desde a pré-concepção, passando pela gestação em si e termina apenas ao final da lactação, que pode chegar a dois anos.

Na fase pré-concepção, o ácido fólico, o ferro, o cálcio, a vitaminas B12 e D, o iodo, o zinco e o PUFA (ômega 3) são necessários. Sempre que houver possibilidade de deficiência dos nutrientes necessários para que essa fase transcorra de maneira adequada, os suplementos devem ser prescritos pelo médico, tanto para as tentantes veganas quanto para as não veganas”, acrescenta a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).

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Pontos a serem considerados

Segundo o Dr. Fernando, dependendo do padrão alimentar, os veganos correm o risco de ficar com baixo teor de zinco, ferro e vitamina B12, por exemplo, substâncias que são encontradas na carne.

“A camada externa (a membrana celular) de um óvulo requer ácidos graxos essenciais, como o ômega 3, que vem de peixes oleosos. No entanto, sabemos que existem fontes vegetais desse nutriente nas sementes (de chia e linhaça) e oleaginosas (nozes). Os veganos devem se atentar a isso. Caso essa seja uma carência, o ômega-3 também pode ser suplementado com fontes veganas (algas)”, diz o Dr. Fernando.

O zinco e ferro também podem ser encontrados em alimentos vegetais.

“O zinco está no chocolate amargo, no amendoim, no grão de bico e nas castanhas. O ferro pode ser encontrado no agrião, espinafre, couve, mas também no amendoim, nas sementes de abóbora e girassol e no cacau. Quanto à Vitamina B12, as principais fontes são de origem animal; ela pode ser encontrada em algas, mas no geral a suplementação se faz necessária”, diz a médica.

“Zinco e ômega-3 também são importantes para o sistema reprodutivo masculino, já que aumentam a contagem e motilidade dos espermatozoides”, diz o Dr. Fernando.

Outra ‘crítica’ constante à dieta vegana é com relação às proteínas, que fornecem os blocos de construção para óvulos e hormônios saudáveis (o que também tem alta relação com a fertilidade). Elas são abundantes em alimentos de origem animal (frango, carne, peixe e laticínios), além de serem completas (possuem todos os aminoácidos essenciais).

“Mas as proteínas vegetais, como sementes, oleaginosas e leguminosas, incluindo feijões, ervilhas, lentilhas, grãos de bico, além de sementes, nozes e castanhas, que podem ser incluídas e combinadas em uma dieta equilibrada, variada e o mais natural possível. Para garantir todos os aminoácidos essenciais, a combinação de um cereal com um grão é a recomendada, por exemplo: feijão com arroz, ou ervilha com milho”, explica a Dra. Marcella.

Alerta para o consumo de ultraprocessados

Um alerta importante dos médicos é com relação ao consumo de ultraprocessados, principalmente daqueles ‘alimentos’ que ‘simulam’ as proteínas de origem animal, mas são feitos com combinação de plantas (até aí tudo bem) e uma quantidade gigantesca de aditivos químicos.

“Muitos desses produtos produzidos a partir de plantas, especialmente as carnes, são considerados alimentos ultraprocessados, isto é, são formulações industriais fabricadas a partir de substâncias extraídas ou derivadas de outros alimentos (no caso, as plantas) e sintetizadas em laboratório (com corantes, aromatizantes, conservantes e aditivos).

Esse processamento é o que torna tais alimentos mais agradáveis ao paladar e similares aos produtos que se propõem a substituir, mas também é o que faz com que não sejam tão saudáveis quanto os alimentos in natura, podendo, dependendo da composição, aumentar o risco de certos problemas de saúde, como obesidade, colesterol e doenças cardiovasculares”, alerta a Dra. Marcella Garcez. “Lembrando que problemas metabólicos podem dificultar a concepção”, acrescenta o Dr. Fernando.

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Pontos positivos

O médico explica que a dieta vegana, quando bem orientada, pode trazer muitos benefícios, principalmente se for pautada por ingredientes naturais e um menor consumo de ultraprocessados.

“Isso acontece porque os alimentos naturais como frutas, vegetais e legumes contêm uma infinidade de antioxidantes que combatem os radicais livres. Hoje estamos expostos a diversos fatores ambientais que sobrecarregam o organismo de radicais livres, causando o estresse oxidativo, que danifica as células reprodutivas”, diz o Dr. Fernando Prado.

“Uma dieta rica em antioxidantes neutraliza os radicais livres, então frutas e vegetais de cores vivas lhe darão bastante munição, mas também ingira alimentos contendo vitamina C, frutas cítricas e vegetais verde-escuros, e selênio, da castanha do Pará, sementes e cereais”, completa a médica nutróloga.

Na gestação

Segundo o Dr. Fernando, o mesmo vale para a fase gestacional: a dieta precisa ser bem estruturada e orientada para garantir os nutrientes necessários. “A gestante vegana pode ter carências específicas, que podem e devem ser suplementadas. Existem inúmeros suplementos específicos para as gestantes vegetarianas, que não conflitam com suas escolhas alimentares e garantem o aporte adequado dos nutrientes”, esclarece a Dra. Marcella. “Dessa forma, não há prejuízo ao desenvolvimento do bebê”, finaliza o Dr. Fernando Prado.

 

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