Além do plástico, o consumo desenfreado de peixe e frutos do mar também é uma ameaça à vida marinha. A Fiocruz divulgou um estudo revelando que os peixes consumidos em todos os estados da Amazônia apresentam contaminação por mercúrio muito acima do limite estabelecido pela OMS (maior ou igual a 0,5 microgramas por grama). Em Roraima, 40% dos peixes ultrapassavam o limite de mercúrio e no Acre, mais de 35% deles. Em alguns lugares, como o município de Rio Branco, capital do Acre, podia chegar a 31 vezes mais a dose de referência.

“Considerando os estratos populacionais mais vulneráveis à contaminação, mulheres em idade fértil estariam ingerindo até oito vezes mais mercúrio do que a dose indicada e crianças de 2 a 4 anos, até 27 vezes mais do que o recomendado”, diz a nota do órgão vinculado ao Ministério da Saúde. Foram avaliados mais de mil exemplares de peixes, de 80 espécies diferentes, que foram comprados em mercados, feiras e diretamente de pescadores, simulando o dia a dia dos consumidores locais.

De acordo com a Sea Shepherd Brasil, uma série de metais pesados são encontrados em peixes, tubarões e raias, os principais sendo o Arsênico, Mercúrio, Cádmio e Chumbo, que se acumulam nos tecidos dos peixes e são transferidos diretamente para o corpo humano, causando efeitos tóxicos que podem acelerar várias doenças. O garimpo ilegal tem sido a principal causa para a contaminação dos peixes amazônicos, e como se sabe, não é uma atividade fácil de controlar, de modo que esse tipo de contaminação provavelmente persiste por anos a fio.

A Veganuary, ONG internacional que promove o veganismo no mundo, celebra uma nova versão da sua semana #ComerSemPeixe, uma campanha que torna visíveis os malefícios da indústria pesqueira, que, por meio do uso excessivo de antibióticos e pesticidas, entre outros, acarreta riscos tanto para a saúde humana como para os diferentes ecossistemas que compartilhamos.

“Na nova versão da campanha global ´Comer Sem Peixe´, queremos conscientizar milhares de pessoas de que sempre é tempo de ajudar esses animais, os oceanos e nossa própria saúde, dado que tomando a decisão de retirar peixe e frutos do mar da mesa, deixarão de apoiar uma indústria que está destruindo os nossos mares e os seus habitantes, além de prejudicar nosso bem-estar”, diz Mauricio Serrano, diretor de Veganuary na América Latina.

Considerando que cada país tem seus próprios desafios para conter os riscos iminentes para a fauna marinha e os oceanos, há quase dois anos, a Argentina, por exemplo, se tornou o primeiro país a proibir a exploração da indústria do salmão na província da Terra do Fogo. Este marco estabeleceu um precedente para a proteção dos ecossistemas na América Latina e no mundo.  Outros países da região, como o Brasil, podem também tomar protagonismo através de ações concretas a exemplo da Argentina.

Por que eliminar o peixe da sua dieta?

Para além de todos os efeitos negativos para os oceanos e para os animais que os habitam, a produção de salmão e de diferentes espécies marinhas esconde uma série de fatos que muitos desconhecem e que podem ajudar a conscientizar a população a respeito de seu consumo. Em primeiro lugar, o impacto ambiental. A sobrepesca e a pesca ilegal estão esgotando os estoques de peixes em todo o mundo. Além disso, práticas como a pesca de arrasto causam danos significativos aos habitats marinhos, causando a destruição de recifes de coral e a morte de outras espécies.

Segundo, poluição e toxinas. Os oceanos estão cada vez mais poluídos e acumulam uma série de contaminantes químicos. “Comer peixe não é saudável e pode ser considerado perigoso para a saúde humana”, diz Alessandra Luglio, nutricionista especializada em alimentação vegana, que tem uma comunidade de quase 200 mil pessoas em seu perfil no Instagram. “Os peixes filtram as águas onde estão acumulados os metais pesados e todos esses poluentes e isso vai se impregnar nos seus tecidos e esse é o grande problema.”

A indústria pesqueira também gera capturas desnecessárias e danos à vida marinha. A pesca comercial geralmente resulta na captura acidental de espécies não-alvo, como tartarugas marinhas, golfinhos, aves marinhas e tubarões. Essas capturas acidentais, conhecidas como “bycatch”, representam uma séria ameaça à biodiversidade marinha.

Campanha #ComerSemPeixe repensa consumo de peixes e frutos do mar

Levando em consideração esses fatores, a campanha #ComerSemPeixe, de Veganuary, convida as pessoas a repensarem o consumo de peixes e frutos do mar. O nutricionista explica que o consumo de alimentos de origem vegetal continua sendo o mais sustentável e seguro em comparação com os produtos de origem animal -marinho ou terrestre-, considerando também que podemos encontrar todos os nutrientes de que nosso corpo precisa no reino vegetal.

“Os estudos mostram que o maior contato humano com microplásticos e metais pesados é através do consumo de peixe, frutos do mar e água contaminada. Nós podemos e devemos deixar os animais e os oceanos em paz, para que todos vivamos em harmonia e todos sejamos saudáveis ”, acrescenta Fuentes.

Dieta baseada em vegetais pode substituir nutrientes presentes em peixes

Do ponto de vista nutricional, o consumo de peixe fornece ômega-3 e vitaminas D e A (lipossolúveis) ao organismo. O ômega-3, especialmente sua forma ativa EPA e DHA, participa do desenvolvimento do sistema nervoso central e da retina, especialmente durante a gravidez e a primeira infância, por isso é importante garantir seu consumo nessas fases.

Ao comer uma dieta baseada em vegetais, é totalmente possível obter esses nutrientes de fontes vegetais. O especialista em alimentação vegetariana/vegana e nutrição esportiva comenta: “Podemos incluir fontes vegetais de ômega-3 em nossa alimentação, como linhaça e sementes de chia, junto com seus óleos, além de nozes e óleo de canola”.

O especialista destaca que essas fontes vegetais fornecem ácido alfa linolênico (ALA), que será transformado em nosso corpo como EPA-DHA (as moléculas ativas de ômega-3). “Podemos cobrir nossos requisitos de EPA e DHA consumindo 1-2 colheres de sopa de sementes de linhaça ou chia, 1-2 colheres de sopa de óleo de linhaça ou chia ou 4 unidades de nozes”, detalha.

Por outro lado, a principal fonte de vitamina D é a síntese do próprio corpo após a exposição aos raios ultravioleta, portanto, expor-se ao sol por 10 a 20 minutos por dia nos ajudará a atender às nossas necessidades. Em relação à vitamina A, o especialista destaca que podemos encontrá-la na forma de betacaroteno em frutas e vegetais de cor alaranjada, como cenoura, batata-doce, manga, abóbora, entre outros.

Receitas e alternativas vegetais para substituir o peixe

Nesta primeira semana de junho, Veganuary destaca receitas e alternativas vegetais que substituam o peixe, com o objetivo de conscientizar a população, convidando a eliminar esses produtos de origem animal de sua alimentação.

Veganas ilustres fazem parte do time de apoiadores da campanha. A embaixadora Hana Khalil preparou um vídeo com a receita mais do que especial e secreta de Sanduíche de falso atum, a super chef Drica Avelar que vive em uma kombi viajando com a sua cachorrinha, compartilha com a audiência uma receita de dar água na boca: o sushi vegano.

A nutricionista vegana Alessandra Luglio criou um vídeo especialmente para a ocasião, onde explica por que deveríamos eliminar o peixe da nossa dieta, a ativista vegana mirim Brunna Sachs  ensina um delicioso ceviche vegano, e a chef da Cozinha Afetiva, Luisa Mafei, ensina um filé de peixe empanado feito sem peixe, mas com couve-flor!

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