Nesta sexta-feira (20), é comemorado o Dia Nacional da Filantropia, uma prática que transcende a mera doação de recursos e ajuda a transformar realidades e criar impacto na sociedade. É praticamente unânime a resposta de um voluntário sobre por que manter a atividade: “quem recebe a maior recompensa sou eu”. E a ciência demonstra que isso é verídico.
Uma pesquisa recente divulgada durante a Conferência Internacional da Associação de Alzheimer, em Amsterdã, na Holanda, em julho deste ano, indica que o voluntariado protege o cérebro de idosos contra demência e perdas cognitivas. O estudo foi realizado pela Universidade da Califórnia em Davis, nos Estados Unidos.
O estudante de doutorado Yi Lor, em colaboração com a professora da instituição Rachel Whitmer, epidemiologista e PhD, analisou os hábitos de 2.476 idosos. Dentre eles, 43% realizavam trabalho voluntário. A pesquisa evidenciou que o voluntariado estava relacionado a melhores pontuações em ações executivas (como planejamento, organização, interação humana) e em avaliações de memória.
O estudo também apontou que pessoas que se envolviam em trabalho voluntário várias vezes na semana apresentavam níveis mais elevados de função executiva. Além desta pesquisa mais recente, outros estudos já evidenciaram a importância de os idosos permanecerem ativos visando à preservação da saúde.
Para a médica neurologista Maria Martins Favero, que atua nos Hospitais São Marcelino Champagnat e Universitário Cajuru Gabriella, em Curitiba (PR), há muitos benefícios na interação social.
“Atualmente consideramos as habilidades sociais um dos pilares da cognição e o isolamento social em idosos é um dos principais fatores de risco modificáveis para o desenvolvimento de demência. O estímulo a atividades comunitárias, como o voluntariado, é essencial para reduzirmos a incidência de declínio cognitivo com o passar dos anos”, pontua.
Ex-pacientes se tornam voluntários em hospitais de Curitiba
Um dos grandes focos do Dia Nacional da Filantropia neste ano é o voluntariado. Nos hospitais, a presença de voluntários modifica o ambiente nos corredores. No Cajuru e no Champagnat, 362 pessoas colaboram para realizar ações positivas para aqueles que estão enfrentando problemas de saúde. O projeto completa 17 anos em 2023 e teve início no Cajuru, que é referência em atendimentos a traumas e opera exclusivamente pelo SUS. Muitos voluntários estão desde o princípio prestando serviços nos hospitais.
Esse é o caso da Dayzi Senk, que tem 58 anos de idade. Ela começou a contribuir com o projeto aos 41. Ao longo do tempo, desempenhou diversas funções: condução de pacientes, participação no grupo de palhaços, atendimento telefônico, entre outras.
Atualmente, ela segue atendendo telefonemas de solicitações para os voluntários e também se envolve no projeto “Mãos que transformam”, que produz itens para doação a pacientes e profissionais dos hospitais – como celebração em datas especiais, por exemplo.
O ambiente hospitalar não era estranho para Dayzi. Ela enfrenta insuficiência renal e, por essa razão, passa por sessões de hemodiálise três vezes por semana, sempre pela manhã. No período da tarde, de terça a quinta-feira, ela dedica o seu tempo ao trabalho voluntário.
“Tenho gratidão a Deus por conseguir realizar essa atividade. Abraço essa causa e vou até o fim da vida. É muito gratificante pra mim, me faz bem. Além disso, eu tenho um grupo ‘das antigas’, a gente tem amizade fora do hospital. Nos encontramos para jantar, sempre na casa de uma de nós. Hoje, vivo somente com meu marido. Portanto, eu procuro ter esse vínculo também com amigos, pois esses momentos são muito importantes para a saúde”, compartilha a voluntária.
Assim como o voluntariado, a superação faz parte da história de Daysi. Em 2010, ela ficou internada na UTI de um hospital de Curitiba devido a um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e, de acordo com a equipe de saúde, dizia com frequência: “Preciso ir ao hospital, preciso ir ao hospital”.
Os profissionais que a acompanhavam tentavam acalmá-la, respondendo: “A senhora já está no hospital, pode ficar tranquila”. Entretanto, Dayzi rebatia: “Não, preciso ir para o Hospital Cajuru, tenho que trabalhar”, recorda a voluntária, reforçando o que o voluntariado representa na vida dela.
‘Fazemos isso de forma gratuita, mas quem recebe o pagamento somos nós’
Luciano José Simioni, de 44 anos, também trabalha nos hospitais que fazem parte da frente de saúde do Grupo Marista. Ele se dedica há 15 anos ao trabalho voluntário.
Assim como Daysi, Luciano teve seu primeiro contato com o Hospital Universitário Cajuru em 2002, quando era paciente. Ele sofreu um grave acidente de trabalho enquanto atuava como maquinista. A locomotiva em que estava capotou, resultou em fraturas na 6.ª e na 7.ª vértebras, além de uma secção parcial de medula.
Naquela época, o diagnóstico indicava paralisia do tronco e dos membros inferiores. Após sessões de fisioterapia e terapias complementares, recuperou os movimentos e agora caminha com tranquilidade.
Enquanto ainda estava em processo de recuperação, Luciano frequentava consultas habituais no Hospital Universitário Cajuru. Durante uma das visitas, deparou-se com um cartaz que convidava para o trabalho voluntário. A partir desse momento, Luciano deu início a um novo projeto de vida.
“Comentei com a minha esposa e, alguns dias depois, estava no hospital me inscrevendo. É um trabalho que não tem preço. Ouvir as pessoas agradecendo é algo especial. Talvez elas nem se lembrem do meu nome, mas naquele instante, fiz a diferença, pude inspirar algo. Fico muito feliz, pois Deus me deu a oportunidade, concedeu-me tempo pra que eu possa impactar positivamente a vida de algum irmão meu. Fazemos isso de forma gratuita, mas quem recebe o pagamento somos nós”, reflete Luciano.
A coordenadora do voluntariado dos hospitais, Nilza Brenny, fala com orgulho sobre sua equipe de voluntários. Ela lidera o projeto desde o início e contempla com gratidão tudo que foi possível vivenciar. “Comecei com um ou dois voluntários. Hoje somos quase 400. Atuamos com um olhar mais humanizado, procurando compreender a perspectiva do outro. Sinto como se fôssemos parte integrante do coração dos hospitais”, conclui Nilza.
Filantropia permite apoio a 160 mil crianças cardiopatas no Rio
O Pro Criança Cardíaca é um exemplo bem sucedido de filantropia no Rio de Janeiro e seus números revelam o verdadeiro propósito por trás da ajuda financeira realizada por muitas empresas e pessoas físicas. Há 27 anos o projeto tem impactado a vida de inúmeras famílias e de mais de 155 mil pessoas que tiveram suas vidas transformadas por meio dos programas e serviços oferecidos. Além de cuidados médicos especializados para quase 16 mil pacientes com cardiopatias, o projeto oferece apoio emocional e educacional, garantindo que eles tenham a chance de uma vida mais saudável.
Fundada em 1996 com a missão de promover a saúde cardíaca infantil, a instituição representa esperança para inúmeras crianças e suas famílias ao longo dos anos. Até agosto de 2023, foram realizados 300 atendimentos a mais que o mesmo período em 2022, com média mensal de 161 para 192 neste ano. Cirurgia e procedimentos realizados foram três a mais do que o ano passado. Foram mais de 100 mil atendimentos médicos e 1.750 procedimentos invasivos, salvando vidas e proporcionando esperança às famílias que enfrentavam a incerteza de um diagnóstico.
“Meu filho estava crescendo cheio de energia, mas exames sugeriram uma rejeição humoral, sendo necessário estudos específicos e cateterismo cardíaco para melhor análise do caso. O Pro Criança Cardíaca abraçou a minha causa em todos os momentos que precisamos. Foram mais duas internações por conta de infecção respiratória, ambas com boa resposta. O caminho de um paciente transplantado não é simples, e por isso é importante uma equipe multidisciplinar envolvida”, contou Ana Rogeira, mãe do paciente Arlindo Arthur Oliveira Matias, de 6 anos.
O trabalho envolve equipe médica, serviços de Nutrição, Odontologia e Psicologia, em instalações adequadas, e conta com o apoio de voluntários, tanto pessoas quanto empresas. Apenas nos últimos dez anos, o Pro Criança contabiliza mais de 200 voluntários: atualmente, são cerca de 30 ativos, em diferentes habilidades, como Direito e Contação de Histórias.
Além disso, o Pro Criança Cardíaca investe na formação de profissionais de saúde, capacitando-os a lidar com casos de cardiopatias pediátricas. Isso não só cria um legado de conhecimento, mas também garante que o apoio à saúde cardíaca infantil seja uma missão sustentável em longo prazo.
Segundo Rosa Celia, fundadora do Pro Criança Cardíaca, a essência da filosofia está no desejo genuíno de ajudar, de estender a mão para aqueles que mais precisam. E o que diferencia a organização é o compromisso inabalável com a filantropia como ferramenta de mudança
“A filantropia é a expressão de nossa humanidade compartilhada. É a capacidade de se conectar com o sofrimento dos outros e responder com compaixão. O Pro Criança Cardíaca exemplifica essa filantropia em ação, demonstrando que a verdadeira riqueza está na capacidade de ajudar os mais vulneráveis”, declarou a médica.
Com Assessorias