A morte de Jarmo Celestino, de 55 anos, após ser torturado e espancado dentro de uma clínica de reabilitação de dependentes químicos em Cotia, na Grande São Paulo (SP), revoltou muitas pessoas no Brasil inteiro e despertou a atenção para a falta de fiscalização das comunidades terapêuticas, que abordamos recentemente aqui

O caso também traz ao debate a importância de se refletir sobre as formas de lidar com a pessoa que tem dependência química, uma doença que atinge milhares de pessoas em todo o mundo, mas apenas um entre 11 pacientes recebem tratamento, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).

A escolha da clínica de reabilitação mais adequada para o tratamento de um adicto é uma medida que requer atenção e cuidado. Nessa investida, o apoio e a participação da família também são parte importante do tratamento. Para amigos e familiares, é fundamental saber como funciona a internação para dependentes químicos.

Quando a clínica de reabilitação é indicada?

Optar pela clínica de reabilitação já não é uma decisão fácil de ser tomada, mas o tratamento multidisciplinar costuma ser eficaz, de acordo com especialistas. Além disso, é preciso afastar a pessoa de sua rotina, de maneira a evitar as influências que a levam a consumir drogas com frequência.

Lançar mão dessa alternativa é uma saída para ajudar quem se encontra em um estágio mais avançado da dependência de substâncias químicas. No entanto, para que esse processo tenha resultados satisfatórios, é necessário que o próprio paciente tenha consciência de sua situação”, diz o psicólogo do Hospital Santa Mônica, Antonio Chaves Filho.

Segundo ele, não é rara a constatação de que somente afastar um dependente químico de seu círculo social habitual não será eficaz para combater a adição Por conta disso, o apoio de amigos e familiares também é crucial nesses casos, por evitar que ele abandone o tratamento ou tenha uma recaída.

Aliás, são muitos os casos de pessoas que deixam de se tratar ainda no início da reabilitação. A privação do consumo da droga e dos hábitos de rotina, se não for bem trabalhada, pode agravar a situação de uma pessoa que abusa desses compostos”, ressalta o especialista.

Portanto, é necessário prestar atenção a alguns detalhes essenciais para eleger um estabelecimento que realmente atenda às expectativas do paciente e de sua família. O ideal é que ofereça um tratamento de qualidade e confortável para o paciente, possibilitando, assim, uma recuperação definitiva.

De modo geral, por medo de ser reprimida ou julgada, uma pessoa que abusa das drogas busca esconder a dependência dessas substâncias. Diante disso, é importante que o paciente se sinta seguro e à vontade para pedir ajuda, pois criar esse ambiente depende muito da compreensão e do diálogo aberto.

Se você precisa lidar com essa situação ou conhece alguém com esse tipo de problema, ofereça-se para acolher o dependente químico e ajudar em seu tratamento. O apoio psicológico durante a reabilitação é fundamental, pois a superação desse problema inclui várias etapas”, diz o psicólogo.

 

 

Como escolher a clínica de reabilitação ideal?

Antes de tomar uma decisão sobre essa forma de lidar com a dependência da pessoa, conheça as 12 dicas que o psicólogo Antonio Chaves Filho preparou, listando questões que devem ser consideradas na escolha da instituição para internar o seu familiar com problemas de adicção em drogas. Confira!

1. Analise a infraestrutura

Sempre que possível, a pessoa que responde por um dependente químico precisa avaliar as condições do local em que a internação será realizada. Assim, o ideal é fazer uma visita antes de tomar qualquer decisão.

Via de regra, esses locais precisam ter a infraestrutura adequada para garantir a realização de todos os cuidados médicos de rotina necessários. Tais aspectos não podem ser desconsiderados, visto que influenciam diretamente os resultados das terapias.

Logo, a clínica escolhida para o tratamento do seu ente querido também precisa estar preparada para intervenções de emergência. Se for o caso, serviços como médico, carrinho de parada e farmácia para dispensação de medicação devem estar disponíveis nas 24 horas.

2. Saiba qual é a especialidade do estabelecimento

Procure checar o histórico do local escolhido para o tratamento de reabilitação do dependente. Verifique quais são os casos mais frequentemente atendidos e, se possível, busque informações sobre o estado atual de pacientes que já se trataram na instituição.

Escolha, portanto, um estabelecimento com boas referências e que tenha sido recomendado por pessoas com autoridade no assunto. A atenção a esses detalhes faz muita diferença na qualidade do atendimento e do tratamento.

3. Pesquise a duração do tratamento e rotina do paciente

Outro ponto de atenção é a duração. Por isso, preste atenção ao plano estabelecido para o tratamento do dependente químico. Busque informações sobre a rotina durante o período de reabilitação e a previsão para o fim de cada etapa do processo.

Além do mais, o sucesso depende também da reação do paciente. Procure acompanhá-lo de perto e faça a sua própria avaliação sobre os seus progressos. Analise, também, a satisfação com o andamento do tratamento e os serviços oferecidos pelo local.

Finalmente, considere que a recuperação eficaz do paciente pode exigir muito tempo. Porém, é necessário que ele esteja confortável desde o primeiro momento. Só assim, ele terá condições de evoluir em seu tratamento.

4. Veja quem fará o acompanhamento do paciente

Hospitais e clínicas especializadas em reabilitação têm equipes multidisciplinares para cuidar de dependentes químicos que promovem por meio de grades terapêuticas dinâmicas com os pacientes com o intuito de tratar a dependência. Em geral, essas equipes são formadas por médicos, enfermeiros, psicólogos e outros profissionais de saúde.

Por essa razão, procure informações sobre quantos e quais profissionais compõem essa equipe. Pesquise sobre o tipo de assistência prestada ao paciente e em quais momentos eles estarão presentes.

5. Pergunte sobre os tipos de medicamentos e técnicas que serão utilizados

Como parte do tratamento, a reabilitação de um dependente químico exige um processo de desintoxicação. Nesses casos, não é recomendada a interrupção brusca do consumo de drogas, devido a possíveis efeitos colaterais ou crises de abstinência.

Por isso, o ideal é que o paciente consuma essas substâncias em doses cada vez menores, até a total desintoxicação do organismo. Nisso consiste a diferença de escolher uma clínica com expertise no assunto.

Afinal, somente profissionais experientes podem administrar esse processo e, se necessário, ministrar outros medicamentos, caso o paciente tenha desenvolvido outros males em função do abuso das drogas.

6. Verifique como será o tratamento pós-internação

Busque saber se o local oferece apoio para o dependente químico após a reabilitação. Geralmente, pessoas que passam por processos de desintoxicação apresentam sintomas de doenças ou distúrbios psicológicos que, antes, estavam mascarados pelo consumo das drogas.

Por isso, dê preferência a estabelecimentos que tenham planos para depois do processo de reabilitação, como consultas periódicas com especialistas e acompanhamento psicológico.

Promover a participação em grupos de autoajuda também pode ser relevante para a recuperação de uma pessoa após a reabilitação. Isso, porque a chance de dividir a experiência com outros pacientes é uma forma de fortalecer os objetivos em comum.

7. Considere a localização da clínica de recuperação

Em linhas gerais, é necessário atentar às questões de localização da clínica, pois a facilidade de acesso é um importante diferencial. Afinal, quanto mais estruturado for o local, maior será o nível de segurança tanto para o paciente quanto para os seus familiares.

Além do mais, a família deve levar em conta as características da região. Nesse sentido, o ideal é que ela seja afastada de locais que ofereçam acesso a entorpecentes.

8. Pesquise sobre a clínica com quem conhece o estabelecimento

Atualmente, há várias formas de saber a opinião dos usuários de certos serviços, principalmente das instituições de saúde. Ademais, a ampliação do acesso à internet revolucionou as formas de interação e de relacionamento entre clientes e empresas.

Você pode aproveitar essas facilidades para colher informações e dados sobre a instituição. Uma opção interessante é conferir cases de sucesso de outros pacientes que já se internaram na clínica de seu interesse.

Outra dica, seria perguntar sobre os estabelecimentos em grupos de autoajuda para familiares como: Amor Exigente, Al-Anom e Nar-Anon, saber se conhecem e o que acham é importante, pois já tiveram a experiência.

Ouvir a opinião de outras pessoas e acessar as avaliações disponíveis na internet possibilita avaliar a credibilidade das instituições, por gerar dados para a análise do nível geral de satisfação com a qualidade dos serviços.

9. Converse e interaja com a equipe

A reabilitação contra a adicção em drogas depende de um trabalho multidisciplinar. Ou seja, o paciente precisa de uma série de intervenções que envolve a atenção especializada de vários profissionais da medicina e áreas correlatas.

Por isso, o responsável familiar deve buscar um meio de visitar a instituição e conversar com os profissionais da equipe. Desse modo, é possível conhecer as particularidades do tratamento e obter as informações necessárias para a tomada de decisão. Também é importante ouvir deles o relato de casos e experiências de quem já superou a dependência química.

Inegavelmente, valorizar essa interação com a equipe multidisciplinar favorece de forma positiva o sucesso do tratamento. Assim como para os familiares, esse contato ajuda a perceber o nível de atenção e de acolhimento que a equipe oferece.

10. Visite o estabelecimento

Uma visita ao estabelecimento de interesse é essencial para não errar na escolha do local em que seu familiar será atendido. Independentemente da modalidade de tratamento — ambulatorial ou internação—, conhecer o ambiente pode ser esclarecedor em diversos sentidos.

Em primeiro lugar, você vai conferir, de perto, a infraestrutura, o atendimento, as propostas de intervenção e os modelos de assistência utilizados. Dessa forma, será muito mais fácil decidir-se pela adesão ao contrato ou por continuar a busca.

Se possível, leve o familiar que sofre de dependência química para acompanhar essa visitação, de modo que ele também conheça as características e o funcionamento de uma clínica de reabilitação.

Isso ajuda bastante na avaliação da instituição e, inclusive, no sucesso do tratamento, já que quem vai receber a atenção participará da decisão, o que amplia seu senso de responsabilidade e pertencimento ao processo.

11. Busque mais informações sobre os profissionais relacionados ao tratamento

Um dos aspectos cruciais ao sucesso das terapias contra a dependência química é conhecer o perfil dos profissionais responsáveis ou envolvidos diretamente nesse processo. Por conta disso, obtenha o máximo de informações sobre a equipe que atua na instituição.

Confira, se possível, o currículo, o nível de conhecimento e se esses profissionais realmente têm experiência no ramo. Considere que, como cliente, você tem o direito de conferir esses detalhes. Obviamente, é preciso ter tato e sutileza na abordagem para captar essas informações.

12. Quais são os cuidados que a família de um dependente químico deve tomar?

Primeiramente, é necessário promover a desintoxicação do organismo; depois, o retorno ao convívio social de maneira que não haja recaídas. Para tanto, o ideal é escolher uma clínica de reabilitação que ofereça um tratamento multidisciplinar e eficiente.

Além do mais, o apoio da família ajuda o paciente a se sentir mais confortável para dividir suas angústias e seguir em frente na luta por sua recuperação definitiva. “Vale lembrar que esse processo pode levar anos, mas o importante é motivar a adesão ao tratamento“, ressalta o psicólogo.

Entenda o caso do paciente que morreu em comunidade terapêutica

A prefeitura de Cotia, cidade da grande São Paulo, interditou o espaço onde funcionava a comunidade terapêutica Efata. Foi lá que o paciente Jarmo Celestino morreu após uma série de agressões físicas cometidas por um funcionário.

De acordo com a prefeitura, o local não tinha autorização para funcionar como clínica de recuperação. Além disso, as equipes constataram sinais de maus tratos em outros internos. Com o fechamento, as famílias foram chamadas para retirarem os pacientes.

Sobre o crime, o funcionário da clínica, de 24 anos, foi preso em flagrante e permanece detido, após a polícia ter tido acesso a áudios em que ele admite ter agredido o paciente Jarmo Celestino. Matheus de Camargo Pinto afirmou que, além dele, outras pessoas participaram das agressões.

Pelo menos um funcionário também é investigado por participação no crime. Os proprietários da comunidade terapêutica prestaram depoimento na Polícia Civil.

O Conselho Regional de Enfermagem (Coren) também apura, em sigilo, a eventual participação de um profissional de enfermagem na morte. Em nota, a entidade informou que o profissional poderá, em última instância, ter o registro cassado.

Com Assessoria e Agência Brasil

 

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