Embora cerca de 64 milhões de pessoas em todo o mundo sofram de transtornos associados ao uso de drogas, apenas uma em cada 11 pessoas recebeu tratamento. As mulheres têm menos acesso ao tratamento do que os homens, apenas uma em cada 18 mulheres com transtornos associados ao uso de drogas recebeu tratamento, em comparação com um em cada sete homens.
Os dados são do Relatório Mundial sobre Drogas 2024, lançado nesta quarta-feira (26), Dia Internacional de Conscientização e Combate às Drogas, pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC).
O surgimento de novos opioides sintéticos e oferta e demanda sem precedentes por outras drogas agravaram o impacto do problema mundial das drogas, levando a um aumento nos transtornos associados ao uso de drogas e danos ambientais. Segundo o Relatório, globalmente, mais de 292 milhões de pessoas usaram drogas em 2022, um aumento de 20% em relação à década anterior.
A cannabis (maconha) continua a ser a droga mais consumida em todo o mundo (228 milhões de usuários), seguida dos opioides (60 milhões), anfetaminas (30 milhões), cocaína (23 milhões) e ecstasy (20 milhões de usuários). Os nitazenos – um grupo de opioides sintéticos que pode ser ainda mais potente do que o fentanil – surgiu recentemente em vários países de renda alta, resultando em um aumento do número de mortes por overdose.
Ao comentar os dados do relatório, a diretora-executiva do UNODC, Ghada Wally, disse que “a produção, o tráfico e o uso de drogas continuam a agravar a instabilidade e a desigualdade, ao mesmo tempo que causam danos incalculáveis à saúde, à segurança e ao bem-estar das pessoas.
Precisamos fornecer tratamento baseado em evidências e apoio a todas as pessoas afetadas pelo uso de drogas, além de intensificar as repostas às redes do tráfico de drogas ilícitas e investir muito mais em prevenção”, afirmou.
A entidade destaca que o direito à saúde é um direito humano reconhecido internacionalmente que pertence a todos os seres humanos, independentemente do status de uso de drogas de uma pessoa ou de ela estar privada de liberdade, detida ou condenada à prisão. Isso se aplica igualmente a pessoas que usam drogas, seus filhos, suas famílias e outras pessoas em suas comunidades.
‘Renascimento’ psicodélico incentiva o acesso generalizado a substâncias
Embora o interesse pela utilização terapêutica de substâncias psicoativas tenha continuado a expandir no tratamento de alguns transtornos de saúde mental, a pesquisa clínica ainda não resultou em quaisquer diretrizes científicas para seu uso médico.
No entanto, no contexto mais amplo do “renascimento psicodélico”, os movimentos populares têm contribuído para o crescente interesse comercial e criação de um ambiente propício que incentiva o acesso generalizado ao uso não supervisionado, “quase médico” e não médico de substâncias psicodélicas.
Esses movimentos têm o potencial de superar as evidências terapêuticas e o desenvolvimento de diretrizes para o uso médico de substâncias psicodélicas, o que poderia comprometer as metas de saúde pública e aumentar os riscos à saúde associados ao risco uso não supervisionado dessas substâncias.
O impacto da legalização da canábis
As hospitalizações relacionadas a transtornos associados ao uso de canábis e a proporção de pessoas com distúrbios psiquiátricos e tentativas de suicídio associadas ao uso regular de canábis aumentaram no Canadá e nos Estados Unidos, sobretudo entre jovens adultos.
Em janeiro de 2024, Canadá, Uruguai e 27 jurisdições nos Estados Unidos haviam legalizado a produção e a comercialização de canábis para uso não medicinal, enquanto em outras partes do mundo surgiram diversas abordagens legislativas.
Nessas jurisdições das Américas, o processo parece ter acelerado o consumo nocivo da droga e levado a uma diversificação dos produtos de canábis, muitos deles com alto teor de THC.
Impactos sociais e emocionais do uso de drogas
Para a psicóloga Keliane Cardoso, Hospital Regional do Sudeste do Pará – Dr. Geraldo Veloso (HRSP), em Marabá, os efeitos das drogas no corpo humano são devastadores, afetando não apenas a saúde física, mas também a saúde mental.
Elas podem causar danos irreversíveis ao cérebro, comprometendo a capacidade de raciocínio e tomada de decisões, além de desencadear doenças cardiovasculares, respiratórias e hepáticas. A dependência química deteriora os laços familiares e sociais, impactando profundamente o bem-estar emocional dos indivíduos e de suas comunidades“, detalhou a psicóloga.
Na quarta-feira (26), Dia Mundial de Combate às Drogas, o hospital ofereceu palestras educativas sobre prevenção e os efeitos negativos do uso de entorpecentes. Durante a ação do projeto “Saúde em Foco”, que visa disseminar informações de saúde e bem-estar à sociedade, a psicóloga Keliane Cardoso percorreu áreas de recepção do hospital para conscientizar os pacientes que aguardavam atendimento
Mais dados sobre o relatório da ONU
O Relatório Mundial sobre Drogas 2024 apresenta também capítulos especiais sobre o impacto da proibição do cultivo ilícito do ópio no Afeganistão; drogas sintéticas e gênero; impactos da legalização da canábis e como o tráfico de drogas no Triângulo Dourado, localizado na região fronteiriça entre Tailândia, Laos e Mianmar, está ligado a outras atividades ilícitas.
Em 2022, estima-se que 7 milhões de pessoas tiveram algum contato formal com a polícia (prisões, advertências, notificações) por delitos relacionados a drogas, das quais quase dois terços foram por uso ou posse de drogas para consumo.
Além disso, 2,7 milhões de pessoas foram processadas por delitos relacionados a drogas e mais de 1,6 milhão foi condenada globalmente em 2022, embora existam diferenças significativas entre os países em termos de uso ou posse de drogas e diferenças significativas ente os países na resposta da justiça criminal às infracções relacionadas a drogas.
Com Assessorias
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