Em abril deste ano, Moreno Moreira Nascimento, de apenas 2 anos, morreu em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, pela falta do atendimento feito por especialistas. A família afirmou que a unidade não tinha equipamento de raio-X, com isso, após cinco visitas ao posto, médicos concluíram que a pneumonia bacteriana, apontada no laudo médico, era apenas uma virose ou um resfriado.

O desfecho trágico do caso de Moreno, infelizmente, não é isolado. Hospitais infantis se encontram cada vez mais lotados, o crescimento de pacientes é um efeito do aumento do vírus respiratório chamado sincicial, também conhecido como VSR, responsável por desenvolver a bronquiolite em crianças de até 2 anos. De acordo com o último boletim divulgado pela Fiocruz, o VSR é responsável por 58% dos casos de síndrome respiratória aguda grave, provocando a elevação do número de internações em unidades de saúde de todo o país.

Além disso, os leitos do setor de pediatria para atendimentos de urgência e emergência são cada vez menores. A redução do setor de pediatria não é uma crise recente. De acordo com os dados divulgados pelo Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), sistema do Ministério da Saúde, o Brasil perdeu mais de 18 mil leitos pediátricos nos últimos 17 anos, refletindo na redução de 25,6% nas vagas hospitalares para crianças entre 2005 e 2022. O levantamento também concluiu que a maioria dos leitos fechados estava no sistema público de saúde, resultando na falta de atendimento às crianças e em diagnósticos incorretos

Para Marcelle Bonomo, médica pediatra e coordenadora do curso Pediatria na Prática do Grupo Conaes Brasil, a ausência de departamentos especializados em pediatria nos hospitais não é uma simples questão de espaço ou recursos, é uma questão de especialização e infraestrutura. “A falta de especialistas pediátricos é um problema grave, principalmente porque a pediatria requer equipamentos e espaços que atendam às necessidades específicas das crianças, algo que nem todos os hospitais conseguem fornecer”, explica.
A pediatra explica que a falta desses setores especializados não apenas diminui a qualidade do atendimento infantil, mas também leva à superlotação dos poucos serviços de emergência pediátrica disponíveis. Isso resulta em menor acessibilidade aos cuidados de saúde infantil e na contratação de médicos que não são especializados em pediatria, aumentando o risco de falhas no tratamento e falta de continuidade nos cuidados de puericultura e subespecialidades.
Dra. Marcelle destaca que o tratamento realizado em crianças é intrinsecamente diferente do que tratar adultos. Isso porque o processo começa com uma percepção aguçada e uma análise cuidadosa da história clínica e do exame físico.
A chave para o cuidado infantil é a observação e a abordagem individualizada, o que demanda um conjunto de habilidades e conhecimentos específicos. Sem esse cuidado, há grandes chances de haver diagnósticos incorretos”, diz a coordenadora do curso Pediatra na Prática, do grupo Conaes Brasil.

Ampliação do número de leitos pediátricos como medida preventiva

No Estado do Rio de Janeiro, como medida preventiva diante do aumento de casos de bronquiolite detectado ainda no começo do outono, a Secretaria de Estado de Saúde (SES-RJ) ampliou a capacidade do Hospital Regional do Médio Paraíba Dra. Zilda Arns Neumann, em Volta Redonda, passando de 20 para 30 leitos de UTI pediátrica, podendo chegar a 40 conforme aumento dos casos.

A SES-RJ alerta para que haja o cuidado com a hidratação e que os responsáveis procurem um médico para avaliar a administração de medicamentos.

Esse monitoramento é uma das medidas mais eficientes do CIS-RJ, capaz de nos evidenciar piora e melhora dos cenários rapidamente. Desta forma, ampliamos imediatamente a capacidade do Hospital Zilda Arns e, caso haja necessidade, vamos abrir leitos em outras unidades”, afirma a secretária de Estado de Saúde do Rio, Claudia Mello.

Diagnóstico de VSR cresce 700% em hospital de SP

Principal causador de bronquialite aguda, vírus costuma atingir prematuros, recém-nascidos e crianças pequenas de forma grave

O problema não ocorre apenas no Rio de Janeiro. Os diagnósticos de vírus sincicial respiratório (VSR), principal causador de bronquiolite aguda, cresceram 700% de janeiro a março no Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE), principal unidade do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual (Iamspe), em São Paulo. Em janeiro deste ano foram seis os pacientes diagnosticados e, em março, esse número chegou a 48. Mais de 80% dos casos diagnosticados estão na faixa etária de zero a dois anos.

A curva de crescimento dos casos do hospital acompanha a tendência de crescimento da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) no país, especialmente devido ao VSR, como revelam os dados do último Boletim InfoGripe, divulgado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Altamente contagioso, o vírus sincicial respiratório pode evoluir de forma rápida e levar a quadros clínicos graves de bronquiolite, que é uma infeccção nos bronquíolos, que podem ser fatais e que costuma atingir bebês prematuros, recém-nascidos e crianças pequenas. Nos idosos, a falta de ar também pode levar a quedas.

A infectologista Andrea Almeida, do HSPE, explica que a doença possui sintomas parecidos com os de outras doenças respiratórias, como febre, fadiga, coriza, tosse, chiado no peito e mal-estar. Entre os diferentes e que merecem atenção estão sonolência, falta de ar, recusa alimentar e irritabilidade.

Se houver piora na febre, fadiga, tosse e a secreção mudar para amarela ou verde, é importante procurar um serviço de saúde para atendimento, pois são sinais de complicações e até de baixa concentração de oxigênio no sangue”, complementa a médica, que reforça que o uso de medicamentos não deve ser feito sem orientação médica.

Tratamento e prevenção

O tratamento indicado costuma ser direcionado para atenuar os sintomas e é feito em casa. Nos casos mais graves, pode ser necessária a internação do paciente com uso de oxigênio, intubação e até mesmo ventilação mecânica. A melhor forma de prevenir a doença é evitar locais com aglomerações, uso de máscara, manter as mãos higienizadas e brinquedos e objetos de uso compartilhado higienizados.

A primeira vacina contra o vírus sincicial respiratório foi aprovada em 2023 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), para uso em adultos com 60 anos de idade ou mais e está disponível pela rede particular. Uma segunda vacina, indicada tanto para gestantes quanto para idosos, teve o registro aprovado pela Anvisa no início deste mês.

Vacina contra a gripe pode minimizar impactos da doença

bronquiolite é uma condição clínica causada pela inflamação dos bronquíolos, vias aéreas inferiores de calibre muito pequeno que levam oxigênio para os pulmões. Trata-se de uma infecção que não pode ser confundida com bronquite (que é a inflamação das vias aéreas). É mais comum em crianças menores, de até os dois anos de vida, e pode se tornar grave em pouco tempo se não tratada corretamente. Os sintomas mais comuns são:
  • Coriza;
  • Tosse leve;
  • Febre persistente (mais de 3 dias);
  • Respiração acelerada e com dificuldade;
  • Fadiga.
A virose pode ser causada por diversos agentes infecciosos, como o vírus sincicial respiratório (VSR), influenza, parainfluenza e adenovírus. O VSR é o principal agente infeccioso da bronquiolite mas ainda não há vacina disponível para crianças.
Entretanto, a imunização contra a Influenza está disponível e impacta positivamente na contenção desses casos, que seguem aumentando nas unidades de saúde. Cerca de 2,5 milhões de doses da vacina contra a gripe foram disponibilizadas aos 92 municípios fluminenses para serem aplicadas nas unidades de saúde.
Com Assessorias
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