Pesquisa da International Stress Management Association no Brasil (ISMA-BR) apontou que a síndrome de Burnout já atinge quase um terço da população brasileira, e afeta tanto a vida profissional quanto pessoal. Os dados divulgados no fim de 2023 destacam que 72% dos brasileiros se sentem estressados no trabalho e 32% enfrentam o burnout.
Mas o que a saúde mental tem a ver com o trabalho com propósito, a crise climática, a espiritualidade e culturas ancestrais? Com o desafio de responder a algumas dessas questões, Karina Miotto lança seu primeiro livro “Changemakers, a coragem de transformar o mundo – é lindo e tem perrengue, mas pode ser sem burnout!” (Bambual Editora) – onde reúne todas essas temáticas, aparentemente diversas, que na sua visão se interconectam.
Ao longo da obra, a jornalista ambiental, mentora de agentes da mudança e especialista em Ecologia Profunda, mostra como tal conexão é intensa. O objetivo é levar o leitor a refletir sobre seu papel no mundo e a possibilidade de se tornar um agente de transformação.
Com mais de 18 anos de experiência como jornalista ambiental, Karina Miotto saiu de São Paulo para viver por cinco anos na Amazônia, onde teve a oportunidade de conviver com o povo local, denunciar e produzir conteúdos sobre as agressões diárias cometidas contra as vidas da floresta.
Ao longo dessa vivência, sentiu que não conseguia proteger a Amazônia efetivamente. A impotência sentida diante do desmatamento e das injustiças sociais, combinada com a paixão pela causa, dedicação excessiva e os constantes abusos que denunciava a levaram a um burnout severo, que a impediu de continuar trabalhando pela Amazônia naquele momento.
Percebi que todas as reportagens que eu fazia, e todo aquele ativismo que promovia informação não eram suficientes para gerar o resultado que eu queria, de proteger a Amazônia. Como jornalista, foi revelador descobrir que apenas informar não era suficiente para mudar a realidade. A sensação de fracasso e o desgaste foram tamanhos que travei e não conseguia mais trabalhar e nem produzir”, conta Karina.
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A barragem de Belo Monte barrou a trajetória da ativista
A ativista enfrentou o Burnout em 2013, quando participava das atividades do movimento contra a barragem da hidrelétrica Belo Monte, para conter as águas coloridas dos rios da Amazônia, onde ela viveu por cinco anos, dedicada exclusivamente ao ativismo ambiental.
A gente sentia, a gente sabia que não ia dar. E doeu. Doeu tanto que meu sistema nervoso não me deu opção e me obrigou a parar. Fui barrada pela vida por causa de uma barragem, e todo o acúmulo de decepções que nasceram antes dela, quando minha profissão e paixão por justiça me colocaram diante das maiores injustiças que meu coração e minha mente de 30 e poucos anos conseguiria aguentar”, conta ela ao blog Lu Lacerda.
“Changemakers” nasce de um relato pessoal a partir de um convite inusitado recebido por Karina para trabalhar na Floresta Amazônica, passa por um tortuoso caminho de esgotamento e deságua num mar de possibilidades que o autocuidado físico, mental e emocional podem proporcionar.
Karina diz que precisou fazer um mergulho dentro de si para “sanar a exaustão de uma dedicação excessiva diante do desespero que sentia ao ver, sentir, respirar e tocar a morte gradual da floresta, atacada 24 horas por dia, 365 dias por ano pela insanidade humana”.
“Não há causa que tenha vida longa se não nos priorizarmos”
Dez anos depois, refeita do colapso, ela conta que sobreviveu para poder contar aos agentes de mudança – ou “changemakers”, como gosta de chamar – que “não há causa que tenha vida longa se não nos priorizarmos neste caminho belo e árduo que é fazer a nossa parte para melhorar o mundo”.
Para a jornalista, o livro pretende chamar a atenção para o fato de que todas as pessoas podem contribuir para soluções das crises socioambientais, cada um à sua maneira. “Traz sentido à vida saber que podemos fazer a diferença, mas sem ilusões: perrengue é inevitável, burnout é opcional”, diz Karina.
Cuidando de si para cuidar do planeta
O livro traz de forma detalhada como Karina superou o Burnout e conseguiu dar continuidade à sua causa de vida e missão de alma. ”Entendi que precisava, antes de qualquer coisa, cuidar de mim, reconhecer minhas dores e buscar novas formas de atuação baseadas na empatia, o oposto do embate, formato que tinha iniciado minha jornada”.
Como parte de seus aprendizados para formas mais amorosas e inspiradoras de ação, Karina investigou diversos temas, do chamado Ativismo Delicado à Comunicação Não Violenta e, principalmente, Ecologia Profunda, uma filosofia ambiental que traz questionamentos e formas éticas de estar no mundo.
“Ao adotar a Ecologia Profunda como visão de mundo, mergulhamos em uma compreensão mais sistêmica, complexa e ampliada de nossa relação com nós mesmos, com os outros e com o planeta. Essa abordagem não se limita a questões ambientais – ela nos desafia a reconhecer a interconexão de todas as formas de vida e a repensar nosso papel no grande esquema da existência”, explica.
Em “Changemakers”, Karina apresenta seus aprendizados e histórias pessoais, mas sobretudo nos convida a mergulhar num universo de subjetividades, sincronicidades, experiências com culturas ancestrais de vários lugares do planeta, intuições e conexões múltiplas.
“Graças aos absurdos que presenciei no solo sagrado da Amazônia, hoje conto minha história como agente de mudança em muitos detalhes; inclusive abro fatos pessoais e sincronicidades que me apoiaram e direcionaram nesta minha vontade irremediável de tornar o mundo melhor no meu livro”, conta ela.
“Não abrace mais responsabilidades do que o limite saudável para você”
Para Karina, é fundamental não se descuidar da própria saúde enquanto se luta por causas em que se acredita. Por isso, é importante ficar atento às emoções e necessidades enquanto “trabalha pela causa que desperta nossa alma do anestesiamento e traz sentido maior à nossa vida”. E faz uma revelação:
Eu gostaria de ter recebido esse conselho lá atrás, antes de me jogar na Amazônia: “lembre-se de se cuidar sempre, pause quando precisar, não abrace mais responsabilidades do que o limite saudável para você”. Se alguém tivesse me falado isso, talvez a minha história tivesse sido diferente. Talvez eu tivesse permanecido na Amazônia que amo com toda minha alma e não tivesse me afastado temporariamente dela para salvar a minha própria vida”, conta ela.
Ela diz que precisou “confiar no fluxo e na intuição” que a levou à Amazônia, a fez sair de lá e a guiou por novos caminhos de evolução e aprendizado, entendendo que nada acontece por acaso. “Espero, a partir do relato de minha experiência pessoal e profissional, poder inspirar as pessoas a cuidarem de si tanto quanto querem cuidar do mundo”, conta ela, que passou a mentorar líderes de iniciativas que geram impacto positivo.
Karina passa uma temporada no Brasil, onde lança seu livro antes de seguir rumo a novos projetos, que agora apontam para a Europa. “Changemakers” foi oficialmente lançado em eventos nas cidades de São Paulo, Florianópolis e Rio de Janeiro. “Hoje, feliz e renovada, sorrio ao te escrever: siga em frente, transforme o mundo! E lembre-se de se cuidar: primeiro você, depois sua causa”.
Sobre a autora
Karina Miotto é jornalista ambiental e ativista. Nascida em São Paulo, foi repórter de várias revistas da Editora Abril e decidiu viver na Amazônia após ter visões sobre a destruição da floresta ao participar de rituais xamânicos.
Trabalhou para grandes ONGs internacionais como Greenpeace e Amazon Watch, foi editora do site ((o)) eco e levou a plataforma de eventos TEDx pela primeira vez ao Pará.
Além disso, criou o projeto “Reconexão Amazônia”, aonde leva artistas para viverem uma experiência na floresta. Depois de cinco anos morando na Austrália, retorna ao Brasil para lançar esse livro e, em seguida, começa um novo ciclo em Lisboa.
Serviço:
Livro: “Changemakers, a coragem de transformar o mundo – é lindo e tem perrengue, mas pode ser sem burnout!”
Autora: Karina Miotto
Editora: Bambual
Páginas: 223
Preço médio: R$ 42,40
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