Coletivo de 50 poetas neurodivergentes lança antologia

‘Sempre estivemos aqui. Só não estamos mais em silêncio’, diz autora autista. Obra lança luz sobre a neurodiversidade na literatura

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Poeta, editora e tradutora carioca, Milena Martins Moura se identifica como uma mulher adulta autista leve, “tardiamente diagnosticada e ainda em processo para ser laudada”, nas palavras dela. Sua luta é mostrar que o autor neurodivergente não tem obrigação de escrever apenas sobre seu transtorno ou condição.

“O neurodivergente é sujeito complexo que pode abordar todos os aspectos de sua vivência como ser humano. Cobrar esse posicionamento o tempo inteiro é limitar o sujeito a apenas uma parcela de sua identidade”, afirma.

Por outro lado, ela afirma que autores neurodivergentes estão cada vez mais abordando essas temáticas, posicionando-se como sujeitos sociais e cobrando ser ouvidos.

“O livro de um escritor neurodivergente não tem a obrigação de falar sobre neurodiversidade. Mas esse autor, quando se pronuncia, merece ser ouvido, dentro ou fora de sua obra”, sublinha. “Sempre estivemos aqui. Só não estamos mais em silêncio.”

Milena Martins Moura é uma das poetas convidadas para o novo volume da coletânea de poemas, organizada e lançada pelo coletivo Toma Aí Um Poema. O volume, voltado para escritores e escritoras neurodivergentes, conta com a participação de outra convidada, Carla Diacov, escritora e poeta paulista, e reúne ao todo 50 poetas neurodivergentes.

“Escrever é um ato solitário, muitas vezes contemplativo, suave, quando suave, melancólico quando melancólico, catártico quando catártico, mas sobretudo solitário. Então a escrita é um caminho amigo da neurodivergência, até como ferramenta terapêutica, em alguns casos, como um cuidado de autoconhecimento também. Na literatura, especialmente na poesia, a diversidade (de todo e qualquer fundo) é mais que bem-vinda, é essencial”, diz Carla.

Conceito desconstroi a ideia de ‘pessoas com transtorno ou doentes’

A obra traz a neurodiversidade como um conceito que desconstrói a ideia de que indivíduos com funcionamento neurocognitivo diverso sejam caracterizados como portadores de transtornos ou pessoas doentes. 

“A abordagem sobre a neurodiversidade argumenta que as diversas condições neurológicas são resultado de variações normais no genoma humano e que, ao invés de serem ‘curadas’, devem ser compreendidas em suas diferenças, já que representam formas de diversidade humana”, frisa Jéssica Iancoski, editora do ‘Toma Aí Um Poema. “Portanto, neurodivergentes são os indivíduos que possuem uma configuração neurológica diferente daquilo que a sociedade considera o padrão.”

Para a editora editora, o tema é relevante porque fala da pluralidade humana. “Precisamos compreender que exigir que todas as pessoas sejam iguais, tenham as mesmas características e se comportem de forma parecida é um meio de negar a biodiversidade humana e causar sofrimento para a nossa espécie.

“Precisamos, urgentemente, compreender que somos múltiplos de corpo, de mente e de alma. Com essa antologia, desejamos que as diferenças possam ser aceitas sem estigmatização”, aponta Jéssica.

Leandro Emanuel Pereira, poeta, psicólogo e membro do coletivo Toma Aí Um Poema, concorda. Na sua opinião, todos deveríamos compreender que a neurodiversidade é algo tácito no ser humano.

“Cada um de nós, apresenta as suas idiossincrasias, do ponto de vista neuropsicológico. Existindo empatia, conhecimento e noção de bem comum, o que importa é que a sociedade se mobilize, no intuito da promoção da harmonia, onde a diferença seja vista como uma oportunidade para a cimentação de um ambiente inclusivo”, acrescenta

Mundo tem 1 bilhão de pessoas neurodivergentes

Segundo dados recentes da Organização Mundial da Saúde, cerca de um bilhão de pessoas sofrem de psicopatologia. Mas apesar disso, a neurodivergência é pouco pautada e não só no meio literário.

“A neurodivergência é uma pauta muito nova, inclusive para os neurodivergentes. Afora os incômodos sociais que, por exemplo, uma agorafóbica como eu deverá vivenciar (e sofrer com isso), não vejo muito impedimento para a pessoa neurodivergente se dedicar à escrita”, ressalta Carla.

Ela não possui um diagnóstico fechado, mas suspeita fortemente de grau de autismo e acha que sua resposta aos acontecimentos comuns da vida são dolorosamente atípicos.

“Sou agorafóbica e tenho ataques de ansiedade desde a infância e, sem saber o que acontecia, meus pais nunca procuraram tratamento. Hoje trato, entre possibilidades e confirmações, uma profunda depressão, TOC, um provável TDAH, episódios de ansiedade severa (alterando inclusive os níveis de cortisol e adrenalina no meu corpo), mudanças bruscas de humor e a agorafobia”, expõe.

Para a autora, individualmente, o neurodivergente terá obstáculos no meio literário como já tem dificuldades em outros meios. Multidão, excesso de barulho ou de informações, dislexia quando das leituras e escrita, crises de medo, de euforia, ansiedade e outros sintomas.

“Passamos por uma pandemia que foi minimizada pelo presidente da nação. Ninguém está totalmente bem e mesmo antes de toda essa tragédia, a neurodivergência não é exatamente uma condição aparente. Enfrentaremos os obstáculos que permeiam nossas diferenças”, aponta Carla.

Literatura livre, inclusiva e gratuita para todos

O Toma Aí Um Poema é um coletivo preocupado com a inserção de autores e autoras independentes em novos espaços de divulgação e promoção de literatura. É um projeto social de acolhimento, de incentivo e de desenvolvimento da escrita e da leitura. É uma potente publicadora de material literário em múltiplas mídias: podcast (o maior de literatura falada no Brasil, com mais de 70 mil ouvintes somente no Spotify), revista, livros físicos e digitais e redes sociais.

O objetivo é publicar o máximo possível de poesia, incluindo minorias, e fazer circular novos pontos de vista dentro da literatura brasileira, também auxiliando e fornecendo informações para autores independentes sobre o mercado editorial brasileiro. “Queremos contribuir e estimular a literatura gratuita e livre para todos”, frisa a editora Jéssica Iancoski. “Neste ano estamos incentivando a emancipação dos autores, em relação às editoras prestadoras de serviço. Acreditamos em um mercado editorial mais justo e sem exploração.”

O lançamento da obra fez parte da “CEMana de 22”, projeto que tem como objetivo, 100 anos depois da Semana de Arte Moderna, organizar, mapear e registrar a produção contemporânea de poesia. O material completo pode ser acessado e lido no site oficial do CEMana de 22.

 ‘Autismo ao longo da vida’: Autores com TEA participam de livro

Quando o assunto é o Transtorno do Espectro Autista (TEA), as discussões ficam, na maioria das vezes, focadas na infância. Sabe-se, porém, que essas crianças irão crescer, tornar-se adolescentes, jovens e, por fim, adultos com TEA. Além disso, é sabido também que, com o passar dos anos, conforme aumentam-se as demandas sociais, surgem novos e maiores desafios, atrelados à maior consciência que cada autista tem sobre sua trajetória.

Nesse sentido, a obra “Autismo ao longo da vida”, com coordenação editorial da renomada neuropediatra especialista em TEA Deborah Kerches e publicada pela Literare Books International, apresenta os principais desafios enfrentados por pessoas que estão no espectro em diferentes etapas de suas vidas, ressaltando o que nem sempre está claro: que o autismo não fica restrito à infância.

O livro reúne relevantes dados da literatura científica, assim como a visão de profissionais atuantes na causa autista e o olhar de pessoas dentro do espectro sobre questões que impactam o desenvolvimento de um indivíduo com TEA ao longo de toda a sua vida, desde o nascimento, passando por educação, relações sociais, gerenciamento de crises, expressão da sexualidade, mercado de trabalho, família, entre outras.

Com uma linguagem acessível e envolvente, sem a pretensão de trazer respostas definitivas, a obra tem o propósito de contribuir para que os indivíduos dentro do espectro possam buscar os melhores recursos para lidarem com seus próprios desafios e com aqueles que ainda são reflexo de uma sociedade não inclusiva, bem como a construírem suas histórias com maior autonomia e qualidade de vida.

Uma ferramenta de conscientização para toda a sociedade, para que cada pessoa ajude a promover, aqueles que estão no espectro, uma vida baseada no respeito, acolhimento e felicidade genuína. O livro pode ser acessado no formato virtual, por meio do canal da Literare Books no YouTube: https://bit.ly/aovivo-autismo-longo-vida

São coautores desta obra: Aída Teresa dos Santos Brito, Alessandra Peres, Aline Rodrigues Sorcinelli , Carla Bertin, Carlos Gadia, Carolina Lourenço Reis Quedas, Carolina Yoshida Scotini, Celeste Barra, Cibele Kátia Faria Calza, Daniela D. P. Landim, Deborah Kerches, Elaine Miranda, Ellen Balielo Manfrim, Fabiele Russo, Fatima de Kwant, Fernanda Carneiro, Graciela Pignatari, Helenise H. Vieira, Indihara Horta, Izaniele Marquetti, Jéssica Coelho, Kaká do Autistólogos (Karine Koerich), Karla Andrea Corrente de França, Keli Costa dos Santos, Kenya Diehl, Letícia da Silva Sena, Lidiane Ferreira, Lucelmo Lacerda, Mariana Fenta, Mariane Richetto da S. Antoniaci, Milena Silva, Mirella Senise, Natalia Silva, Nataly Oliveira S. Correia, Paloma Urcia Prat Sacolito, Reinaldo de Souza Araújo, Ruth Rocha Franco, Samanta Tiele, Sinara Paniagua Pinto, Thiago Castro, Thiago Gusmão, Ulisses Lopes e Valéria Gonzaga Santos.

SOBRE A COORDENADORA EDITORIAL

Deborah Kerches – Neuropediatra especialista em Transtorno do Espectro Autista (TEA). Autora do best-seller “Compreender e acolher Transtorno do Espectro Autista na infância e adolescência”. Conselheira profissional da Rede Unificada Nacional e Internacional pelos Direitos dos Autistas (Reunida). Mestranda em Análise do Comportamento pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Coordenadora e professora de pós-graduações do CBI of Miami. Madrinha do projeto social Capacitar para Cuidar em Angola. Membro da Sociedade Brasileira de Neuropediatria, da Associação Brasileira de Neurologia e Psiquiatria Infantil e Profissões Afins (Abenepi), da Academia Brasileira de Neurologia, da associação francesa La Cause des Bébés e da Sociedade Brasileira de Cefaleia.

Ficha técnica

Autismo ao longo da vida

Coordenação editorial: Deborah Kerches

Editora: Literare Books International

Páginas: 344

Preço de capa sugerido: R$ 68,90

Loja Literare Books: https://bit.ly/loja-autismo-longo-vida

Amazon (físico): https://amzn.to/3syr4dT

À venda nas principais livrarias físicas e plataformas digitais

Com Assessorias

 

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