Os rins desempenham papel vital no organismo, atuando na filtragem de toxinas, no equilíbrio de líquidos e na produção de hormônios que regulam a pressão arterial, a saúde óssea e o transporte de oxigênio no sangue. Apesar de sua importância, muitas pessoas não dão a devida atenção à função renal, colocando em risco a própria saúde.

Estima-se que uma em cada três pessoas corre o risco de desenvolver Doença Renal Crônica. A DRC ocorre quando os rins perdem a capacidade de filtrar toxinas e excesso de fluidos do sangue, o que pode levar a complicações graves. A condição é conhecida como uma “doença silenciosa”, pois pode progredir lentamente, sem apresentar sintomas óbvios, permitindo que a função renal se deteriore sem que o paciente perceba.

Quando os sinais aparecem – como inchaço, cansaço, alteração na urina e pressão alta –, a doença pode estar em estágios avançados e o comprometimento dos rins já pode estar grave, tornando o tratamento mais difícil. Muitas vezes é preciso fazer um transplante ou realizar a diálise ao menos três vezes por semana. 

Diagnóstico precoce faz uma grande diferença

O diagnóstico precoce pode fazer uma grande diferença em sua qualidade de vida. Exames simples de sangue e urina podem ajudar a detectar precocemente a doença renal crônica. A maioria dos casos poderia ter sido prevenida ou diagnosticada precocemente com exames simples, como a dosagem de creatinina no sangue e a análise de urina.

No Dia Mundial do Rim (13 de março) há um apelo urgente para a importância da detecção precoce da DRC, que progride sem apresentar sintomas óbvios, o que dificulta o diagnóstico em seus estágios iniciais. Por isso, especialistas apontam que, com exames regulares e mudanças no estilo de vida, como hidratação adequada e dieta balanceada, é possível prevenir ou retardar sua progressão, melhorando significativamente a qualidade de vida dos pacientes.

O diagnóstico precoce da doença renal crônica pode fazer uma grande diferença na vida das pessoas. Nosso objetivo é que mais pessoas tenham acesso a testes simples e precisos, permitindo que cuidem melhor de sua saúde renal e tomem decisões informadas junto com seu médico”, disse Hélida Silva, diretora de Assuntos Médicos para a América Latina da Siemens Healthineers.

É possível prevenir?

A prevenção e o diagnóstico precoce da doença são as melhores ferramentas para garantir a saúde renal e evitar complicações graves. Por isso, o Dia Mundial do Rim (que este ano é celebrado em 13 de março) destaca a necessidade global de conscientização sobre a saúde renal.

Além dos exames laboratoriais, a prevenção desempenha um papel fundamental na saúde dos rins.  Manter uma dieta balanceada, reduzir a ingestão de sal, evitar o uso excessivo de medicamentos sem prescrição médica e praticar atividade física regularmente são medidas fundamentais para manter a função renal em condições ideais.

Os especialistas também recomendam evitar o consumo excessivo de bebidas açucaradas e priorizar a hidratação com água, pois esses hábitos ajudam a reduzir o risco de diabetes e hipertensão, duas das principais causas da doença renal crônica.

É igualmente importante manter um peso adequado e evitar o fumo, pois tanto a obesidade quanto o fumo são fatores de risco significativos para o desenvolvimento de doenças renais. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a American Kidney Foundation, essas medidas preventivas, juntamente com as mencionadas acima, são fundamentais para reduzir o risco de doença renal crônica e melhorar a saúde geral.

A combinação de educação em saúde, tecnologia avançada de diagnóstico e acompanhamento médico pode ajudar no combate a essa doença silenciosa, proporcionando melhores oportunidades de tratamento e uma vida mais plena para milhões de pessoas.

A dosagem de creatinina no sangue é um exame acessível, disponível na rede pública e privada, mas ainda pouco solicitado em consultas de rotina. Precisamos que se torne rotina. Os rins merecem a mesma atenção que o coração. A avaliação periódica da creatinina e exames simples de urina podem salvar vidas, identificando precocemente alterações na função renal”, afirma a nefrologista Ana Beatriz Barra, diretora médica da Fresenius Medical Care.

Estilo de vida saudável é prevenção

A adoção de hábitos saudáveis desempenha papel fundamental na proteção da saúde renal. Alimentação equilibrada, hidratação adequada, prática regular de exercícios físicos e o controle de doenças crônicas, como diabetes e hipertensão, ajudam a preservar a função renal. Por outro lado, o uso indiscriminado de medicamentos – especialmente anti-inflamatórios e suplementos – sem acompanhamento médico pode causar sérios danos aos rins.

É fundamental que os médicos avaliem a função renal antes de prescrever certos medicamentos e orientem os pacientes sobre os riscos da automedicação. Até mesmo fitoterápicos podem causar lesões nos rins se utilizados sem critério”, alerta Ana Beatriz.

Os fatores de risco comuns incluem diabetes, pressão alta, obesidade e histórico familiar. Para essas pessoas, exames regulares são essenciais para detectar a doença precocemente. “Pessoas doenças crônicas como diabetes e hipertensão são os principais afetados pela doença renal e precisam ser acompanhados com rigor para evitar o agravamento de uma possível disfunção dos rins”, avalia a médica.

Taxa de filtração glomerular estimada

As principais ferramentas de diagnóstico incluem exames de sangue para medir a taxa de filtração glomerular (eGFR) e exames de urina para avaliar a relação albumina-creatinina (ACR). Esses exames podem identificar sinais precoces de lesão renal e oferecer uma oportunidade de retardar ou atrasar a progressão da doença.

A taxa de filtração glomerular estimada (TFGe) mede a capacidade dos rins de filtrar os resíduos do sangue, enquanto a relação albumina/creatinina (RCA) detecta a presença de proteína na urina, um sinal precoce de lesão renal. Ambos os exames são essenciais para avaliar a saúde dos rins e podem ser realizados durante um check-up médico de rotina;

O uso de analisadores automatizados de amostras de urina e a tecnologia de microscopia digital melhoram a precisão do diagnóstico e facilitam a identificação de anormalidades na função renal. Esses avanços permitem que os laboratórios clínicos forneçam resultados rápidos e confiáveis, o que se traduz em um melhor acompanhamento dos pacientes.

Nova medição não utiliza mais o critério de etnia

A Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML) se uniu à Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) na campanha do Dia Mundial do Rim, estimulando que os laboratórios clínicos incluam nos laudos de exames de creatinina uma informação importante aos médicos: a estimativa da Taxa de Filtração glomerular (TFG), no modelo CKD-EPI 2021, calculada apenas com base na creatinina, a idade, peso e o gênero. Essa fórmula exclui raça ou etnia, como em outras fórmulas anteriores.

Segundo Adagmar Andriolo, médico patologista clínico e membro da SBPC/ML, atualmente, a taxa de filtração glomerular (TFG) é um dos principais parâmetros para a avaliação da função renal. “Com esse dado no laudo, os médicos calculam inclusive a prescrição de medicamentos e ter esse cálculo nos laudos de laboratórios é uma facilidade a mais”, diz.

Em 2021, a National Kidney Foundation (NKF) e a American Society of Nephrology (ASN) revisaram as fórmulas para estimar a TFG e recomendaram a equação CKD-EPI 2021, que não utiliza mais o critério de etnia. No Brasil, a SBPC/ML e a SBN também adotaram essa recomendação.

As fórmulas anteriores, que incluíam fatores específicos para indivíduos afrodescendentes, retardaram o diagnóstico de doença renal. Então, hoje, a mesma fórmula é aplicada para todos os pacientes”, explica.

Recomendações para a realização do exame

Para realizar o exame de creatinina sérica, não há necessidade de preparo prévio específico, como jejum. Recomenda-se, no entanto, evitar esforços físicos intensos no dia anterior, bem como o consumo excessivo de carne vermelha ou suplementos com creatina. De acordo com Adagmar Andriolo, alguns medicamentos, como cimetidina, fenofibrato, ritonavir e trimetoprima, podem elevar os níveis de creatinina e subestimar a avaliação da função renal. “Não há indicação de suspender, mas é preciso dizer ao médico que está usando esses medicamentos”, salienta o especialista da SBPC/ML.

Por outro lado, fatores como dieta vegetariana, baixa massa muscular e doenças musculares podem reduzir os níveis de creatinina, resultando em uma superestimação da TFG. “A recomendação é referir ao médico essas questões para que ele considere o efeito dessas condições na interpretação do resultado”, ressalta Andriolo.

A estimativa da taxa de filtração glomerular não deve ser utilizada em casos de gravidez, em pacientes com funções renais instáveis ou doença hepática grave. “Nessas situações, a recomendação é realizar o cálculo da depuração de creatinina com base em amostras de sangue e urina coletadas por períodos cronometrados”, explica Andriolo, complementando que essas equações ajudam a avaliar a função renal e identificar precocemente possíveis doenças.

Novas tecnologias

Para pacientes que necessitam de diálise, a tecnologia de hemodiafiltração pode proporcionar melhorias substanciais no bem estar diário, na disposição física e na expectativa de vida dos pacientes. Estudos internacionais, como o Convince, comprovaram uma aumento de 23% da taxa de sobrevida entre usuários desta modalidade quando comparados aos usuários da diálise convencional.

Essa modalidade de diálise é feita em uma máquina específica, que remove toxinas maiores do sangue dos pacientes, promovendo uma purificação mais eficiente. Pelos seus evidentes benefícios, é considerada por muitos especialistas a melhor escolha dialítica para a maioria dos pacientes com falência dos rins, pelo menos até que seja possível um transplante renal.

Mesmo diante das novas tecnologias e do aumento da expectativa de vida de pacientes com falência renal, o nosso alerta é que as pessoas se previnam para que jamais tenham seus rins danificados permanentemente. Se adaptar a essa nova vida não é fácil. A diálise, por exemplo, em geral precisa ser realizada por pelo menos quatro horas, ao menos três vezes por semana”, afirma a nefrologista.

DRC em números

A Organização Internacional World Kidney Day estima que cerca de 10% da população mundial apresenta algum grau de comprometimento renal. São aproximadamente 837 milhões de pessoas em todo o mundo que vivem com doença renal crônica (DRC), sendo 70,7 milhões na América Latina.

No Brasil, esse índice pode atingir 22 milhões de indivíduos e dados da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) apontam que cerca de 155 mil brasileiros já dependem de diálise para sobreviver. O número pode ser ainda maior. De acordo com o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, a prevalência estimada de DRC em adultos brasileiros é de 6,7%, aumentando para 27,5% entre indivíduos com 65 anos ou mais.

Além de salvar vidas, a detecção precoce da DRC tem um impacto positivo na sustentabilidade dos sistemas de saúde. Estima-se que o custo global da doença renal crônica tenha chegado a US$ 1,2 trilhão em 2017, com projeções de que esse valor suba para US$ 2,5 trilhões até 2030.

Com Assessorias

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