Irritação nos olhos, lacrimejamento, fotofobia (intolerância a luz) e inchaço nas pálpebras. Foram esses os primeiros sinais sentidos por Carloneide Souzade 68 anos, residente de Santo Antônio de Jesus, na Bahia.

“Comecei a sentir os olhos inchados e estufados, mas como moro em uma cidade pequena, tinha acesso apenas ao clínico geral. Depois de alguns meses sentindo esses incômodos, fui encaminhado para um endócrino em Salvador para confirmar a suspeita de algum desequilíbrio na tireoide. Após dois anos, veio o diagnóstico de DOT – doença ocular da tireoide (DOT)”, conta.

É comum, como no caso de Carloneide, que muitos pacientes sejam tratados como portadores de alergia, conjuntivite e outras alterações oculares, ficando sem o diagnóstico preciso por meses e anos. Como detalha o médico endocrinologista Helton Estrela Ramos, professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e chefe do Laboratório de Estudo da Tireoide da instituição.

“Quando a tireoide está desregulada, ela pode liberar hormônios em excesso, provocando o hipertireoidismo, ou em quantidade insuficiente causando o hipotireoidismo. Já a doença ocular da tireoide (DOT), doença inflamatória nos olhos, é uma condição rara e o quadro pode ser progressivo, com riscos à visão”, explica o médico.

A causa da DOT é autoimune, estando mais comumente associada à Doença de Graves, causa mais comum do hipertireoidismo. Embora 90% dos pacientes com a DOT tenham hipertireoidismo concomitante, a doença também pode ocorrer em pacientes com a tireoide normal ou com hipotireoidismo. Segundo ele, a DOT associada a doença de Graves são doenças diferentes, mas que devem ser tratadas ao mesmo tempo

Diagnóstico precoce evita a perda da visão

Segundo Ramos, a DOT é uma patologia extremamente heterogênea, na qual os sintomas podem variar de pessoa para pessoa de maneira leve, moderada ou grave.

“A DOT pode levar a significativas complicações oculares, podendo causar alteração significativa da aparência e forte impacto na autoestima e capacidade de socialização, com queda progressiva na qualidade de vida”, adverte o especialista.

Por isso, o diagnóstico precisa ser precoce, antes que ocorra danos à córnea, perda da visão e visão dupla – sintomas muitas vezes não reversíveis.  Portanto, estar atento aos sinais é muito importante.

“Na presença de sinais de doença da tireoide (tremores, insônia, palpitações, irritabilidade e perda de peso) um médico endocrinologista deve ser procurado. Relate se há, concomitantemente, queixas oculares como sensação de ciscos nos olhos, vermelhidão e borramento visual”, ressalta o médico.

Segundo ele, reconhecer a doença precocemente pode aumentar as chances de boa resposta ao tratamento e evitar sequelas. “Um cansaço recorrente, inchaço nas pernas, trânsito intestinal lentificado são alguns dos sintomas de que a tireoide pode estar com alguma disfunção, ou funcionando em marcha lenta”, aponta.

“Na DOT, os anticorpos que reconhecem a tireoide atacam estruturas presentes na órbita (olhos), causando as manifestações clínicas de inflamação e acometimento dos músculos das pálpebras (retração das pálpebras) e glândulas lacrimais (olho seco). A projeção do globo ocular para fora do olho (exoftalmia) ocorre quando existe grande acúmulo de gordura nas porções posteriores do olho, pois, na doença, células conhecidas como fibroblastos transformam-se em células gordurosas (adipócitos)”, explica o médico.

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Atenção a sinais do corpo para possíveis disfunções

Mau funcionamento da glândula gera desequilíbrio no organismo, mas tratamento e prevenção podem auxiliar

Há mais de uma década o Dia Internacional da Tireoide (25 de maio), tem o objetivo de promover a conscientização sobre as doenças relacionadas à glândula e seus sintomas. A semana dedicada ao tema em todo o mundo chama a atenção para a prevenção e diagnóstico precoce das doenças que acometem essa glândula, especialmente o câncer, uma vez que nem sempre a doença se manifesta com sintomas.

Essa glândula endócrina, no formato de borboleta, localizada na parte anterior do pescoço, produz os hormônios T3 (triiodotironina) e T4 (tiroxina), que regulam o metabolismo, agindo em órgãos como coração, cérebro, fígado e rins. Ela tem influência no crescimento e desenvolvimento das crianças e adolescentes, na regulação dos ciclos menstruais, no controle do peso, da memória e concentração e no equilíbrio emocional, por exemplo.

A glândula pode interferir na qualidade de vida sob diversas formas. Por isso, é importante prestar muita atenção aos sinais do corpo, pois quando a tireoide não está funcionando adequadamente pode tanto liberar hormônios em excesso, provocando o hipertireoidismo, como produzir quantidade insuficiente, causando o hipotireoidismo.

“Os sintomas serão variáveis. No hipertireoidismo, por exemplo, o corpo, de modo geral, começa a funcionar mais rápido: o coração pode disparar, o intestino solta, a pessoa fica mais agitada, fala rápido, tem insônia, e há um misto de muita energia e muito cansaço”, explica a médica endocrinologista infantil do Vera Cruz Hospital, em Campinas, Adriana Mangue Esquiaveto Aun.

Ao contrário, no hipotireoidismo em que a produção hormonal é insuficiente, o organismo passa a operar mais lentamente: o coração bate mais devagar, o intestino prende e o crescimento pode ficar comprometido. Pode ocorrer também diminuição da capacidade de memória, cansaço excessivo, dores musculares e articulares, sonolência, pele seca, ganho de peso, aumento nos níveis de colesterol no sangue e, ainda, depressão”, detalha Adriana.

A mais comum é o hipotireoidismo, que segundo a especialista, pode ser congênito. “É uma dentre outras doenças detectadas no Teste do Pezinho, exame realizado nos bebês nos primeiros dias de vida. Importante ressaltar que as disfunções na tireoide podem ocorrer em todas as faixas etárias e em ambos os sexos”.

O diagnóstico é feito pela soma dos achados clínicos, do exame de palpação da tireoideda dosagem laboratorial dos hormônios tireoidianos e de exames de imagem, como o ultrassom, por exemplo. Outro ponto importante de se observar, tanto no hiper, quanto no hipotireoidismo, é a presença de bócio, que é o aumento do volume tireoidiano, notado na palpação da glândula.

Não é possível prevenir todo tipo de disfunção da tireoide, porém, aquela relacionada a uma dieta carente em iodo, pode ser evitada. “O iodo garante um bom funcionamento da glândula. Além disso, algumas substâncias conhecidas como disruptores endócrinos podem alterar o funcionamento dos hormônios tireoidianos, tais como pesticidas, ftalatos e bifenóis (usados em produtos infantis, de higiene pessoal e recipientes para alimentos), metais pesados como chumbo, mercúrio, cádmio, cobre, níquel e arsênico, dentre outros”, orienta.

“Em resumo, o bom funcionamento da tireoide garantirá um equilíbrio do organismo. Sua disfunção, portanto, gerará consequências sistêmicas ao corpo”, conclui Adriana.

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