Sob o tema “ Parceria com pacientes como a pedra fundamental para o cuidado e a pesquisa do câncer, o maior congresso de Oncologia do mundo, promovido pela Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO, em inglês), trouxe boas novidades para pessoas com câncer em vários tipos de tumor, que podem aumentar a sobrevida dos pacientes. O encontro anual, que terminou dia 6, em Chicago, nos Estados Unidos, reuniu mais de 40 mil inscritos, sendo 70% de forma presencial.

Participaram do evento profissionais de todas as partes do mundo, debatendo uma melhor forma de cuidar dos pacientes oncológicos de uma forma ampla, desde preocupações com a efetividade dos seus tratamentos, mas também questões relativas aos impactos psicológicos da doença nos pacientes e seus familiares, risco nutricional, prevenção e ciência básica para poder melhor entender como a doença se desenvolve e buscar alternativas eficientes para erradica-la de forma eficiente.

As discussões sobre as mais recentes pesquisas clínicas e novos tratamentos de câncer tiveram entre os presentes, centenas de especialistas brasileiros. O Oncologia DOr – um dos maiores grupos do país -, por exemplo, levou 52 profissionais. O médico professor-doutor Paulo Hoff, presidente da Oncologia DOr e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (Sboc), que liderou a comitiva, aponta alguns dos tratamentos promissores apresentados no congresso, especialmente para o câncer de pulmão, ovários, mama, cérebro e reto.

Bruno Santucci, diretor médico da Hemomed – Instituto de Oncologia e Hematologia, participou pela 12ª vez do encontro, e estacou alguns pontos científicos, como evoluções interessantes no tratamento adjuvante em câncer de mama. “Nosso objetivo é levar aos pacientes o que há de mais moderno no tratamento dessa doença que assola e assusta a sociedade como um todo, e que em breve deve se tornar a principal causa de mortes nos seres humanos em todo o mundo”, pontuou.

Novidades no tratamento do câncer de mama

Um desafio para a Medicina, o câncer de mama ocupou boa parte da programação com apresentação de novos estudos para o tratamento da doença. Uma novidade é a administração do medicamento ribociclibe associado à terapia endócrina habitual, que pode reduzir em 25% a taxa de recaída dos casos de câncer de mama inicial.

“O estudo foi feito em mulheres com receptores hormonais positivos e Her2 negativo com alto risco de recidiva e tumores com mais de dois centímetros – sem o comprometimento de gânglios – e pacientes com pelo menos uma metástase ganglionar. O grupo representa cerca de 70% dos casos iniciais da doença. São pacientes que têm risco de recorrência mesmo após cinco anos do diagnóstico”, disse Paulo Hoff.

Já o oncologista clínico Bruno Santucci – especialista em Oncogeriatria pela Moffitt Cancer Center (Flórida-USA) e frequentou o programa de residência do conceituado Indian Academy of Venture Capital (IAVC) – esperava mais dos estudos apresentados sobre a utilização de inibidores de ciclina no tratamento do câncer de mama.

“Os resultados do estudo Natalee eram aguardados com bastante esperança por todos, e apesar de serem dados positivos, eu esperava resultados mais robustos, ou seja, imaginei que o benefício da adição de ribociclibe ao tratamento pudesse trazer uma chance maior de evitar a recorrência do que os 3,3% que o estudo mostrou”, comentou o médico, que é graduado pelo PUC-SP e especialista pela Sboc. 

Ele também falou em relação à atualização do estudo monarchE, que utiliza a mesma estratégia a de intensificar o tratamento para menos mulheres desenvolvam doença metastática, porém, em pacientes com risco de recorrência maior e usando abemaciclibe. “A estratégia com dados mais maduros mostra um benefício maior que o citado anteriormente, mostrando que a seleção de pacientes de maior risco podem mostrar ganhos substancialmente maiores”.

Outro dado apresentado que chama bastante atenção é a validação de um estudo que mostra que é possível detectar DNA do tumor na corrente sanguínea, e pacientes que apresentam essa detecção positiva apresentam recorrência mais precoce em relação ao grupo de detecção negativa.

“Na minha opinião esse é um primeiro grande passo no entendimento das características da doença, porém, ainda não sabemos como tratar essa questão, provavelmente nos próximos anos devemos ter pesquisas em intensificação ou desintensificação de tratamento baseado na presença, ou ausência da detecção de DNA circulante”, avaliou.

Câncer de próstata: testes genéticos e radioterapia

Em relação aos tumores de próstata, dados bastantes relevantes em relação à modernização diagnóstica da doença. Cada vez mais é utilizado o PET-CT especializado para câncer de próstata, oferecendo maior sensibilidade em comparação aos exames de tomografia e cintilografia, classicamente usados. O PET-CT é um exame de diagnóstico por imagem capaz de detectar tumores em todos os lugares do corpo.

“A principal sessão de câncer de próstata também mostrou o benefício de testes genéticos para melhor conduzir nossos pacientes, e para melhorar os desfechos do tratamento desta doença, é mandatório que façamos testes genéticos para melhor compreender os mecanismos de desenvolvimento da doença, e, portanto, tratar nossas pacientes de forma personalizada”, comentou.

O estudo mais aguardado na área, foi o que estudo a utilização de radioterapia da próstata na presença de doença metastática. “O estudo foi positivo para benefício em sobrevida livre de progressão radiológica para a adição de radioterapia e abiraterona em pacientes com câncer de próstata metastático em relação a apenas hormonioterapia”, declarou o especialista.

Novidade para pacientes de câncer de pulmão avançado

O estudo Adaura, divulgados no último dia 4 de junho durante a plenária do Congresso da Asco, também trouxe avanços significativos para o tratamento do Câncer de Pulmão de Não Pequenas Células (CPNPC), com mutação do fator de crescimento epidérmico (EGFRm), após resseção completa do tumor – Clique aqui para saber mais.

Segundo o presidente do Oncologia D´Or, o estudo mostrou que aplicação quimioterapia seguida do medicamento osimertinibe reduz em 51% o risco de morte pela doença para o paciente em estágio mais avançado da doença.

A notícia é considerada um marco no tratamento da doença e já vem sendo recebida de maneira otimista entre a classe médica, uma vez que o tripé diagnóstico precoce, testagem molecular e tratamento direcionado ao alvo pode ser determinante no sucesso do tratamento da doença

Aproximadamente 25% a 30% de todos os pacientes com CPNPC são diagnosticados de maneira precoce, e a cirurgia com intenção curativa é o tratamento padrão. A maior parte dos pacientes submetidos à cirurgia, seguida da quimioterapia, sobrevive por cinco anos. A atualização do estudo Adaura mostra que 88% dos pacientes tratados com osimertinibe estão vivos em 5 anos.

“Pacientes com Câncer de Pulmão de Não Pequenas Células com mutação EGFR em estágio inicial enfrentavam altas taxas de recorrência e não contavam com opções específicas de tratamento após a cirurgia. Os dados recém-divulgados confirmam o potencial de osimertinibe no tratamento neste cenário, prolongando a vida desses pacientes, e pela primeira vez, mostrando um tratamento adjuvante oral capaz de reduzir o risco de morte destes pacientes”, ressalta Anouchka Chelles, diretora médica da área de oncologia da AstraZeneca, que produz o medicamento.

Câncer de Pulmão no Brasil e no mundo

Estima-se que, a cada ano, 2,2 milhões de pessoas sejam diagnosticadas com câncer de pulmão no mundo, sendo de 80% a 85% dos pacientes diagnosticados com CPNPC, a forma mais comum da doença.

Na América Latina, o câncer de pulmão é o mais letal e tira mais vidas do que qualquer outro tipo da doença. São mais de 65,5 mil vidas perdidas todos os anos, sendo descoberto tardiamente em mais de 80% dos casos.

Já no Brasil, o câncer de pulmão, segundo estimativas de 2023 realizadas pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca), é o terceiro mais comum em homens (18.020 casos novos) e o quarto em mulheres (14.540 casos novos), totalizando 32.560 novos casos – sem contar o câncer de pele não melanoma.

Outras novidades destacadas no evento

Câncer de reto – A equipe do Oncologia D´Or destacou entre as novidades da Asco 2023 o estudo Prospect, que mostrou que alguns pacientes com câncer de reto localmente avançado podem ser tratados sem radioterapia, desde que a quimioterapia seja intensificada, o que reduz os efeitos colaterais da radiação como retite, cistite, problemas sexuais principalmente na mulher, infertilidade.

Câncer de cérebro e medula – Gliomas de baixo grau são um tipo específico de câncer que afeta o cérebro e a medula. A maior parte desses tumores tem uma alteração molecular do gene IDH1 ou IDH 2. Um estudo mostrou que, com o uso da droga vorasidenibe, o paciente possa viver 28 meses sem precisar da radioterapia. “Isso é importante porque o radioterapia pode causar efeitos colaterais a longo prazo”, avaliou o presidente do Oncologia D´Or.

Com Assessorias

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