Na noite do último sábado (11), a modelo e apresentadora Ana Hickmann registrou um boletim de ocorrência contra seu marido, Alexandre Correa, por violência doméstica. No relato aos policiais, a modelo afirmou que foi pressionada contra a parede pelo esposo, além de ter sido ameaçada de ser agredida com uma cabeçada e ter o braço pressionado por uma porta. O acontecimento já é um dos mais comentados da semana e traz à tona o problema dos relacionamentos abusivos, que podem se instalar nas relações amorosas, familiares e até mesmo de amizade.

“Este é um assunto delicado e, em geral, quem está sofrendo a agressão, seja física ou verbal, não se dá conta de que está em uma situação problemática e demora a aceitar e buscar ajuda para sair da relação, muitas vezes por medo ou até mesmo pela dependência emocional e/ou financeira da outra pessoa”, diz Filipe Colombini, psicólogo e CEO da Equipe AT.

Com relação ao caso Ana Hickmann, vale destacar que não necessariamente ocorrem agressões físicas para o relacionamento abusivo ser caracterizado. “O abuso costuma vir acompanhado de atitudes manipuladoras e de controle sobre a outra pessoa, com relação ao uso de roupas, círculo social, uso de celular, por exemplo”, diz Colombini.

De acordo com especialista em Relacionamentos e Comportamento, Maicon Paiva, fundador da Casa de Apoio Espaço Recomeçar, um relacionamento abusivo é caracterizado por um desequilíbrio de poder, controle excessivo e comportamentos prejudiciais por parte de um dos parceiros. “Muitas mulheres que sofrem violência doméstica demoram para denunciar, seja por temor de retaliação física ou emocional por parte do agressor, ou por se sentirem envergonhadas e culpadas”, destaca.

Leia mais

Como reconhecer as 6 fases de um relacionamento abusivo?
Conheça os 12 indícios de um relacionamento abusivo
Como saber se você está vivendo um relacionamento abusivo? 
Como identificar um relacionamento abusivo e buscar ajuda enquanto é tempo

9 dicas para identificar um relacionamento abusivo

Ainda segundo o especialista, para sair de um relacionamento abusivo, o primeiro passo é conseguir perceber que a relação não é saudável. “Quando a pessoa se dá conta do problema, deve procurar ajuda com pessoas de sua confiança, que formam sua rede de apoio e proteção e é interessante que recorra a ajuda psicológica, já que a terapia ajuda a gerenciar a situação e entender os padrões e gatilhos, mas também, contribui para que a pessoa lide da melhor forma com as consequências deixadas pela relação tóxica”, conclui.

O psicólogo Filipe Colombini e o especialista em Relacionamentos e Comportamento Maicon Paivaapontam algumas maneiras de identificar se você está em um relacionamento abusivo.

1. Possessividade e controle. A pessoa deseja ter controle sobre a outra e começa a decidir o que o parceiro pode e não pode fazer. Este é, sem dúvidas, um dos sinais mais claros de um relacionamento abusivo. “Não permitir que a outra pessoa saia sozinha, tenha amizades e o controle por meio de mentiras e chantagem emocional são alguns acontecimentos comuns em relações conjugais abusivas”, afirma Colombini. “Além disso, a invalidação dos sentimentos do outro e até o poder sobre seu dinheiro também podem ocorrer”, conclui o especialista.

2. Instabilidade na relação. Relações conturbadas, que vão e voltam, onde a pessoa duvida constantemente sobre as intenções do parceiro e que têm brigas frequentes e instabilidades também apontam para padrões tóxicos. “Muitas vezes, uma das partes do casal se sente constantemente desconfortável e ansiosa e um dos motivos para isso é o constante receio de invalidação e punição que pessoas que vivem em um relacionamento tóxico sentem”, afirma Filipe.

3. Diminui o parceiro. O foco do abusador é diminuir a autoestima para que a outra pessoa não seja capaz de tomar suas próprias decisões, bem como para manter sua superioridade na relação. “Um constante processo de julgamento, que invalida e diminui a outra parte do casal, com o objetivo de afetar a autoestima, costuma ser uma estratégia para fazer a pessoa acreditar que não tem mais opções além de viver em uma relação abusiva”, explica o psicólogo.

4. Superproteção. Costuma surgir disfarçada de um comportamento positivo, com boas intenções. “Dessa forma o abusador consegue fazer com que a pessoa esteja sempre ao seu lado e se afaste cada vez mais de seu círculo de amizades e familiares”, alerta Filipe. “Com o passar do tempo, essa superproteção pode até mesmo virar um comportamento chantageador, ou seja, a pessoa se faz de tão boa que passa a fazer chantagem para conseguir suas vontades e assim, pode anular as vontades e desejos do outro”, conclui Colombini.

5. Proibições. Segundo Maicon, muitas vezes, as proibições começam de forma sutil e em tom de brincadeiras, como, por exemplo: não gosto dessa roupa, marca seu corpo, troca vai? Ou então: não gosto que você fale com determinada pessoa, não gosto dela, acho que pode te influenciar a fazer coisas ruinsse afaste dela. E muitos outros casos de proibições, tendem a se tornar mais brutas e até violentas.

  1. 6.  Ciúmes. O abusador usará o seu sentimento para te convencer que é apenas por ciúmes tudo que ele diz ou faz. É uma manipulação que eles costumam fazer para conseguir mudar suas atitudes, seu modo de ser, de falar, de se vestir e tudo mais. “É fundamental você identificar esses comportamentos e tentar mudar isso da melhor forma. Se não for possível mudar, se afaste dessa relação tóxica”, diz o especialista em relacionamentos;
  2. 7. Brigas e ofensas. Quando se está em um relacionamento tóxico, não tem como não perceber as brigas constantes, muitas vezes por motivos bobos, mas que geram ofensas enormes e mágoas. “É tudo muito exagerado e também as palavras que o abusador usa são para ferir seu coração e causar dor e insegurança ao mesmo tempo. Entenda que você não pode precisar de alguém na sua vida desesperadamente e sim querer ter alguém ao seu lado por amor”, comenta Maicon.
  3. 8. Desconfianças excessivas. Sempre está desconfiado das suas atitudes, achando que está mentindo, traindo, escondendo algo, gosta de ver suas redes sociais, celular, mensagens, fotos e diz que são apenas cuidados. “Essa maneira de “cuidar” e desconfiar o tempo todo torna o relacionamento tóxico e invasivo demais. Entre um casal não devem existir segredos, porém deve haver limites, respeito e confiança mútua”, alerta o especialista.
  4. 9. Mudança de humor. Brigas, discussões e palavras duras e, em menos de dois minutos, lágrimas, pedidos de desculpas e manipulações. Normalmente é esse o ciclo de uma briga tóxica. “Primeiro, ele te ofende, e em alguns casos até agride o parceiro para logo em seguida se mostrar arrependido e pedindo perdão. Essas mudanças de humor mostram um total descontrole emocional que precisa de tratamento”, finaliza Maicon.
  5. Leia também

  6. Psicóloga desvenda mitos e verdades do relacionamento abusivo
    Amor ou ódio: como se livrar de relacionamentos abusivos
    O que leva uma mulher a viver um relacionamento abusivo e como se livrar dele
  7. Entenda o caso ANA HICKMANN

  8. A apresentadora e empresária Ana Hickmann, que acusou o marido, Alexandre Corrêa, de a ter agredido na tarde do último sábado (11) na casa da família em Itu, interior de São Paulo. À polícia, ela relatou que estava conversando com o filho de 10 anos na cozinha da casa, quando Alexandre ouviu, não gostou do conteúdo da conversa e começou uma discussão com a apresentadora. A criança, assustada, teria saído correndo do ambiente.
  9. Segundo o boletim de ocorrência, Alexandre teria empurrado Ana contra a parede e ameaçado dar cabeçadas nela, acusação que ele negou nas redes sociais. Ao tentar pegar seu celular, que estava em uma mesa, Alexandre teria fechado a porta da cozinha, atingindo Ana Hickmann no braço. Nesse momento, segundo o boletim, a apresentadora trancou o marido para fora do cômodo. Foi quando conseguiu chamar a polícia. Quando a Polícia Militar chegou, Alexandre não estava mais no local.

Palavra de Especialista

As faces da violência contra mulher

Por Tatiana Trommer*

A lei 11.340, de 7 de agosto de 2006, é uma lei de natureza processual penal, os tipos penais que tutelam a mulher vítima de violência disciplinados no Código Penal. Assim, na hipótese de uma mulher ser agredida pelo companheiro, a tipificação desse crime está prevista no diploma penal. A Lei Maria da Penha disciplina as medidas protetivas que auxiliam na segurança da mulher que foi vítima de violência.

Entre eles podemos mencionar o distanciamento físico que o agressor é obrigado a cumprir da companheira e/ou dos familiares, fixando um limite mínimo, além de impedir que ele frequente determinados lugares, como o emprego da vítima, a academia que ela frequenta, o clube, entre outros lugares que possam ser utilizados pelo agressor para realizar violência em face da vítima.

Infelizmente, a existência das leis de proteção da mulher e que coíbem a violência em face desta não são suficientes para impedir que a violência ocorra devido ao machismo estrutural entranhado em nossa sociedade. Para a mudança de tal comportamento é necessário que a mulher se conscientize do processo de violência por ela sofrido.

Além disso, necessitamos de uma mudança cultural. E, tal modificação será alcançada com a educação. É importante entender que a violência doméstica e familiar em face da mulher não é feita apenas por homens, pois há situações em que outras mulheres desempenham o ato. Em alguns casos, pode ocorrer uma agressão verbal ou psicológica no ambiente familiar, que deixam a mulher vulnerável, e, muitas vezes, sem condições de enfrentar o agressor

Ao analisar as denúncias de violência doméstica, o homem é colocado como o grande algoz. Mas há denúncias que revelam outras faces da violência, em que a mulher pode ser vítima de uma situação ocasionada por outra mulher

Podemos mencionar como exemplos de agressões verbais os relatos de xingamentos, desvalorização, manipulação, humilhação da vítima em público ou em âmbito privado. Tais agressões verbais buscam diminuir e menosprezar a mulher, prejudicando a sua autoestima pela humilhação sofrida de forma reiterada. As narrativas envolvendo o menosprezo emocional também são frequentes, como a chantagem, proibição do direito de sair, estudar, trabalhar e desempenhar outras ações que impulsionam a independência pessoal

Infelizmente, encontramos ainda hoje em nossa sociedade pessoas que acreditam que as mulheres devem exercer apenas o papel que lhe foi determinado pelo núcleo familiar, pelo marido, o que ocasiona muitas vezes a violência em face da mulher que não aceita exercer unicamente o papel que lhe foi determinado.

Sabemos que muitos são os relatos em que a mulher permanece com o companheiro abusivo porque têm filhos e deseja manter o relacionamento pelas crianças, ou pelo fato de não possuir uma independência financeira, ou ainda por não ter uma família que a apoie, o que inviabiliza a saída de casa para iniciar uma nova vida longe da violência sofrida.

*Tatiana Trommer é professora de Direito Penal da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio

Leia ainda

  1. Relacionamento abusivo: quando homens e também mulheres passam dos limites
  2. 10 dicas para superar relacionamentos abusivos
    Relacionamento abusivo não ocorre somente entre casais: saiba como se livrar

Gostou desse conteúdo? Compartilhe em suas redes!
Shares:

Related Posts

3 Comments

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *