A chamada medicina canabinoide está em alta no Brasil. O canabidiol tem ganhado visibilidade em um momento de crescente demanda e grandes debates em torno do uso deste composto da planta do gênero da Cannabis sativa junto à sociedade.
Para reverter isso, a indústria canabinoide tem investido pesadamente em divulgar possíveis benefícios da maconha com fins medicinais a pacientes de autismo, esclerose múltipla, epilepsia, doença de Parkinson, dor crônica, transtornos mentais e até de doenças raras, como as síndromes Dravet e Lenox-Gastaut.
Na esteira da campanha, uma pesquisa da Associação Brasileira da Indústria de Canabinoides (BRCann) aponta que a venda de medicamentos à base de cannabis medicinal em farmácias cresceu 202% no primeiro trimestre de 2024, movimentando R$ 163 milhões contra R$ 81 milhões em igual período de 2023.
O levantamento mostrou que mais de 417 mil unidades da medicação foram vendidas no período, se comparado à mesma época do ano passado, de 194 mil produtos. O crescimento pode estar ligado ao avanço do tratamento alternativo no País. Apesar de todo o avanço, ainda existem tabus associados ao estigma em torno da popularmente conhecida ‘maconha medicinal’.
Da aprovação da cannabis medicinal até a chegada ao SUS
A aprovação do uso medicinal da cannabis no Brasil só se deu em 2015 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) quando o remédio foi retirado da lista de substâncias proibidas.
Depois foi autorizado para importação, fabricação de produtos à base de cannabis e venda nas farmácias. Desde junho de 2021, o Projeto de Lei 399/15, que visa regulamentar o cultivo da cannabis para fins medicinais e industriais, está parado na Câmara dos Deputados.
Em São Paulo, uma lei do ano passado regulamentou a distribuição do medicamento à base de canabidiol no Sistema Único de Saúde (SUS) no estado, mas o remédio que estava previsto para chegar ao SUS em maio ainda não foi distribuído.
Além de São Paulo, outros 24 estados da Federação estão com leis vigentes ou em tramitação que atestam a entrega da medicação, como o Rio de Janeiro.
Menos de 2% dos médicos prescrevem cannabis medicinal
Para Vitor Brasil, médico da Anna Medicina Endocanabinoide, há inúmeros fatores que dificultam a consolidação da terapêutica canabinoide no país. O primeiro deles, sem dúvida, é a desinformação aliada aos aspectos de discriminação do uso recreativo da maconha. E isso atinge não só a população, mas também a classe médica.
Atualmente, menos de 2% dos profissionais médicos do Brasil têm alguma inserção na prescrição de cannabis medicinal. Mesmo assim, o conhecimento do sistema endocanabinoide não é ensinado durante a graduação de Medicina. Isso impacta diretamente na elaboração de políticas públicas que sejam mais assertivas”, afirma.
Na sua avaliação, é necessário investir em mais estudos, discutir o tema e divulgar os benefícios da cannabis medicinal para “superar essas barreiras que ainda freiam os benefícios gerados por essa planta que está diretamente ligada ao futuro da Medicina”.
Avanço para a saúde e economia
Para João Paulo Cristofolo Jr, sócio-fundador e coordenador geral do grupo Conaes Brasil – Educação Médica, a regularização dos medicamentos à base de cannabis mostra um avanço importante para a saúde e a economia.
Reconheço a importância desta medida, não apenas pelo seu impacto direto na acessibilidade de tratamentos inovadores, mas também pela sua capacidade de transformar a vida de muitos pacientes”, comentou.
O avanço da inserção da cannabis medicinal se estende a outros países. A Agência Nacional de Segurança de Medicamentos (ANSM) francesa divulgou que os tratamentos à base de cannabis medicinal estarão disponíveis a partir de janeiro de 2025.
Isso se deu após relatos positivos de pacientes com cefaleia, tumores e HIV, que fizeram uso da medicação. Nos EUA, a política de cannabis vai ser reformulada com a reclassificação da maconha como uma droga menos perigosa dentro dos próximos meses.
9 doenças que podem ter sintomas aliviados com cannabis
São mais de 140 tipos de canabinoides, mas os principais são o canabinol (CBD) e o delta-9-tetrahidrocanabidiol. O médico Vitor Brasil listou 9 doenças que podem ter seus sintomas aliviados com o uso de produtos desenvolvidos à base da planta.
Confira alguns possíveis benefícios encontrados nas pesquisas mais recentes:
- Autismo: Controle da ansiedade e agitação, reduzindo a hiperatividade e beneficiando o controle do sono.
- Câncer: Tratamento de náuseas e vômitos causados por quimioterapia e radioterapia.
- Demências: Redução da gliose reativa e da resposta neuro inflamatória, com indícios sobre os impactos no desenvolvimento de déficits cognitivos.
- Dor crônica: Os efeitos analgésicos auxiliam na redução de dores crônica, incluindo dor neuropática, dor devido a lesões na medula espinhal, artrite, dores musculares e até mesmo em síndromes dolorosas causadas pela endometriose.
- Esclerose múltipla: Redução da espasticidade muscular em pacientes com esclerose múltipla e lesão medular.
- Epilepsia: Melhora significativa das convulsões, sendo uma das principais indicações formais para epilepsias de difícil controle.
- Estresse pós-traumático: Redução dos sintomas de ansiedade e melhora dos parâmetros de sono.
- Fibromialgia: Os efeitos analgésicos e relaxantes ajudam a diminuir dores e inflamações.
- Transtornos de ansiedade: Redução dos sintomas de ansiedade e melhora dos parâmetros de sono.
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