O Brasil adere a uma corrente mundial, respondendo ao chamado da Organização Mundial da Saúde (OMS) pela eliminação, até o ano de 2030, do câncer do colo do útero, doença que acomete 17 mil brasileiras a cada ano, registrando mais de 6,5 mil mortes anuais. Também conhecido como câncer cervical, este é o terceiro tumor mais incidente entre a população feminina, atrás apenas do câncer colorretal e de mama.

Neste domingo (17/11), acontece o Illumination Day, uma ação global na qual monumentos símbolos de diversos países do são iluminados a fim de chamar a atenção para essa causa tão importante. No Brasil, o escolhido para receber a iluminação especial é o monumento ao Cristo RedentorO monumento foi iluminado com as cores da campanha “Cervical Cancer Elimination Day Action“, que visa aumentar a conscientização sobre a prevenção e o diagnóstico precoce da doença.

A ação reforça a necessidade de políticas públicas eficazes para ampliar o acesso a exames e tratamentos, além de promover a educação sobre prevenção. Neste dia especial, foi lançado o Radar pela Eliminação do Câncer do Colo do Útero, reforçando o compromisso de um futuro livre dessa doença. A iniciativa também é uma oportunidade para celebrar avanços importantes na saúde pública brasileira, como a retomada da vacinação gratuita contra o HPV nas escolas públicas e a incorporação do exame HPV-DNA no Sistema Único de Saúde (SUS).

Além de destacar os progressos o evento tem como foco a luta contra a desinformação que ainda prevalece sobre o câncer do colo do útero, buscando sensibilizar a população e impulsionar mudanças necessárias nas políticas públicas de saúde. Ao unir esforços locais e internacionais, o evento reforça a importância de garantir mais acesso a exames de rastreamento e tratamento, proporcionando às mulheres brasileiras mais chances de prevenção e cura.

Ampliação da vacinação contra HPV e oferta de testes moleculares

A ministra da Saúde, Nísia Trindade, e o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, participam do evento aos pés do Cristo Redentor (Fotos: Walterson Rosa/MS

No dia de ação global para a eliminação do câncer do colo do útero, a ministra da Saúde Nísia Trindade reforçou a estratégia adotada nesta gestão de dose única contra o HPV para pessoas de 9 a 14 anos, com vacinação nas escolas.

A retomada de políticas importantes, como a vacinação nas escolas, comprova a determinação do Governo Federal em fazer essa mudança. Como resultado, em 2023, aumentamos a cobertura vacinal em 42% quando comparado com 2022”, detalhou a ministra, que foi homenageada pelo Movimento Brasil sem Câncer do Colo do Útero.

Em consonância com a estratégia global da OMS, a ministra também falou sobre a incorporação da tecnologia de testagem molecular no Sistema Único de Saúde (SUS), que irá substituir o antigo Papanicolau, para detecção do câncer de colo do útero.

Ela antecipou que, com apoio do Instituto Nacional de Câncer (Inca), o Ministério da Saúde está elaborando novas diretrizes, que serão submetidas à consulta pública dos cidadãos. O objetivo é orientar a implantação dos testes moleculares nos estados e municípios para que, em breve, todos os usuários do SUS tenham acesso ao exame.

Nós estamos transformando o campus do Inca, referência em oncologia no Brasil, em um moderno complexo de assistência, juntamente com o BNDES. Avanços importantes já foram conquistados e outros ainda estão por vir”, acrescentou.

Nísia ainda explicou que também houve inclusão novos públicos em situação de vulnerabilidade para a imunização, como pessoas vítimas de violência sexual e usuários da PrEP. “Essa estratégia é prioritária para nós. Prova disso é que em 2023 o Brasil avançou no enfrentamento a muitas outras doenças e reverteu a curva de retrocesso que vinha registrando desde 2016″.

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Diretor da OMS parabeniza o Brasil

Tedros Adhanom, diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS, presente na solenidade realizada aos pés do Cristo Redentor, declarou que esse é o único câncer com todas as ferramentas para eliminação.

Fazemos um chamado aos líderes do G20 para apoiar o acesso às vacinas contra o HPV para todas as meninas em todos os países, bem como o acesso ao rastreamento e tratamento para todas as mulheres que precisam. Vamos tornar realidade a eliminação do câncer do colo do útero”, defendeu. “Obrigado, minha irmã Nísia, por se juntar à ação global da OMS para proteger mulheres e meninas e eliminar para sempre o câncer de colo do útero”, disse, reiterando que monumentos de todo o mundo estão brilhando de azul para um futuro livre de câncer cervical.

Ele também parabenizou o Brasil por conseguir recuperar o certificado de país livre do sarampo, graças a investimentos na vacinação. “Parabenizo o Brasil por ser reverificado como livre de sarampo, rubéola e síndrome da rubéola congênita. Com essa conquista, as Américas recuperam seu status de região livre de sarampo endêmico. Agradeço ao presidente Lula e à ministra Nísia Trindade, por sua liderança e comprometimento com a Saúde para Todos”, complementou Tedros.

Segundo Nísia, a recertificados pela eliminação do sarampo é mais um resultado da força do sistema de vacinação brasileiro. “A vacinação depende do Ministério da Saúde, depende dos movimentos científicos e depende da mobilização da sociedade civil”, acrescentou a ministra.

Além da ministra da Saúde e do diretor-geral da OMS, participou do evento a médica costarriquenha Socorro Gross Galiano, representante da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS).

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Movimento Brasil Sem Câncer do Colo do Útero

O evento visa gerar visibilidade para o movimento “Brasil sem Câncer do Colo do Útero”, uma aliança formada por mais de 20 sociedades médicas e organizações de apoio ao paciente com câncer, dentre elas o Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA), que busca a eliminação desse tipo de câncer no país. 

Idealizado em 2018 pela oncologista clínica Angélica Nogueira, diretora de Planejamento do Grupo EVA, o movimento visa aumentar a conscientização sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce, além de impulsionar ações públicas de saúde que possam levar à eliminação dessa doença no país. Para isso, trabalha para reverter a desinformação que ainda prevalece sobre o câncer de colo do útero e promover mudanças fundamentais nas políticas públicas de saúde;

Uma das grandes conquistas do Brasil, destacada pelo movimento, é a criação do radar de monitoramento, com os dois grandes feitos de 2024: a volta, anunciada pelo Ministério da Saúde, da vacinação contra o HPV nas escolas, nas esferas federal, estadual e municipal, assim como a incorporação no SUS do teste de DNA para detecção do HPV.

A vacinação nas escolas uma estratégia fundamental para garantir que a vacinação contra o HPV chegue a todos os jovens, independentemente de sua condição socioeconômica. As escolas devem receber as vacinas e se adaptar aos moldes de vacinação, igual existia em 2014. Ao aplicar a vacina nas escolas, conseguimos atingir uma grande parte da população de forma eficiente e inclusiva. Nosso objetivo é criar uma geração de jovens protegidos contra o câncer do colo do útero, uma doença que pode ser evitada com a vacinação”, comentou Angélica.

Teste HPV-DNA

O Ilumination Day celebra outra importante conquista de 2024, que foi a decisão de incorporar o teste de DNA do HPV como estratégia, para uso em todo o território nacional, para as mulheres. Além de ser uma tecnologia eficaz para detecção e diagnóstico precoce, traz a vantagem do aumento do intervalo de realização do exame.

Enquanto o rastreio por meio do exame Papanicolau deve ser realizado a cada três anos e, em caso de detecção de alguma lesão, de forma anual, a nova testagem é recomendada a cada cinco anos. O Ministério da Saúde acredita que, com essa mudança, haverá melhor adesão e facilitará o acesso ao exame.

A testagem molecular para detecção do vírus HPV é uma estratégia de rastreio mais sensível. Ela identifica mais pacientes em risco, detectando não a lesão pré-maligna, mas sim ela age antes disto, identificando se a pessoa apresenta infecção por algum HPV de alto risco. Portanto, o exame permite a descoberta antes que se tenha alguma lesão pré maligna”, destaca Angélica Nogueira.

Além disso, complementa a especialista, “a coleta do HPV-DNA é mais fácil, permitindo à mulher a autocoleta. Com explicações simples, a mulher consegue realizar o exame em casa e deixar o material no laboratório, evitando que ela deixe de fazer o exame por constrangimento ou barreiras culturais, por exemplo”, afirma Nogueira.

Câncer do colo do útero, uma doença imunoprevenível

O câncer do colo do útero, também chamado de câncer cervical, é causado pela infecção genital persistente por alguns tipos do Papilomavírus Humano – HPV. É um vírus sexualmente transmissível, frequente na população e o contágio pode ser evitado com o uso de preservativos. Além disso, imunização é a forma mais eficaz de se proteger do HPV e prevenir o desenvolvimento deste câncer.

A presença do vírus e de lesões pré-cancerosas podem ser identificadas com exame preventivo, conhecido como Papanicolau, e são curáveis na quase totalidade dos casos. Por isso, é importante manter os exames preventivos em dia. Outros fatores de risco para o desenvolvimento deste câncer são o tabagismo e a baixa imunidade.

Quem pode se vacinar no Sistema Único de Saúde?

  • adolescentes de 9 a 14 anos;
  • vítimas de abuso sexual;
  • pessoas que vivem com HIV, transplantados de órgãos sólidos, de medula óssea ou pacientes oncológicos com idade entre 9 e 45 anos.

Metas de vacinação da OMS para 2030

A OMS estabeleceu três metas principais para a eliminação global do câncer do colo do útero até 2030, no qual o Brasil está incluso:

– Vacinação: ter 90% das meninas de 9 a 14 anos vacinadas contra o HPV.

– Rastreamento: ter 70% das mulheres de 35 e 45 anos com teste de HPV-DNA.

– Tratamento: ter 90% das mulheres com lesões iniciais devidamente tratadas.

Estas metas representam um caminho para eliminar o câncer do colo do útero como um problema de saúde pública. Com a continuidade das ações de conscientização, a ampliação da cobertura vacinal e o fortalecimento do rastreamento, o Brasil tem a oportunidade de ser um exemplo mundial na erradicação dessa doença”, afirma Angélica.

Com Ministério da Saúde e Assessorias (atualizado em 18/11/24)
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