Aline Deda Machado Santana, 45 anos, advogada e sócia de um escritório de advocacia. Nascida e residente de Salvador, Bahia. Sua trajetória de vida sempre foi marcada por dedicação e um estilo de vida ativo, tanto pessoal quanto profissionalmente. Durante a pandemia, o aumento de responsabilidades no escritório exigiu maior esforço e adaptação. Em meio a este ritmo intenso, Aline recebeu um diagnóstico que transformaria sua realidade: câncer de ovário.
Aos 41 anos, no final de 2021, Aline começou a notar um inchaço na barriga, desconforto pélvico e a sensação de que havia algo solto no seu abdômen. O que inicialmente parecia algo simples, se intensificou com dores na região do umbigo e um inesperado ganho de peso. A situação se agravou com o surgimento de dores mais fortes e um desconforto crescente. Em uma consulta com um clínico geral, Aline teve uma forte reação ao toque na barriga, o que levou à realização de exames mais detalhados.
O diagnóstico oficial de câncer de ovário veio em janeiro de 2022, aos 42 anos, após exames que revelaram um nível alarmante do marcador tumoral CA-125. Neste momento, Aline já começara a se preparar emocionalmente para a notícia que mudaria sua vida. O apoio da família, especialmente do marido, foi fundamental durante este período desafiador.
A jornada do tratamento
Após o diagnóstico, Aline enfrentou uma série de desafios médicos. Inicialmente, foi submetida a uma cirurgia laparoscópica para drenar a grande quantidade de líquido acumulado em seu abdômen.
Em seguida, passou por várias sessões de quimioterapia, que a debilitaram física e emocionalmente, trazendo efeitos colaterais como anemia severa e dores intensas, quando precisou fazer algumas transfusões de sangue e controlar com alimentação e suplementação. Uma cirurgia maior foi realizada para remover seu útero, ovários e trompas, seguida de mais sessões de quimioterapia.
A partir daí, ela começou um tratamento de manutenção com o medicamento niraparibe, que ajuda a controlar a progressão da doença. Esse medicamento – que não está disponível pelo Sistema Único de Saúde (SUS) – demonstrou eficácia na manutenção do efeito da quimioterapia e no maior intervalo de tempo sem a recorrência do câncer. Ele tem sido, até hoje, uma parte crucial do plano de tratamento de Aline, ajudando a impedir que as células cancerosas se recuperem e se multipliquem.
Desafios e superação
Com o apoio de sua família e amigos, Aline está focada em sua recuperação, participando de grupos de apoio e buscando informações sobre seu estado de saúde para se sentir mais empoderada. A sua luta não foi apenas contra o câncer, mas também para recuperar sua qualidade de vida. O tratamento permitiu que ela voltasse a ser ativa em sua vida pessoal e profissional. Aline tem mantido uma rotina ativa e saudável, com treino de musculação e pilates.
Aline compartilha que a falta de informação sobre o câncer de ovário e a importância da detecção precoce são alarmantes. Em suas palavras, “o câncer de ovário é pouco divulgado e precisamos de mais campanhas para que outras mulheres não passem pelo que eu passei.”
Ela enfatiza que campanhas de conscientização são cruciais para que outras mulheres reconheçam os sintomas e busquem diagnóstico e tratamento. Aline acredita que o câncer de ovário, por ser menos falado, muitas vezes é negligenciado.
Vida após o diagnóstico
Hoje, Aline se sente bem e afirma que sua vida voltou ao normal, embora com cuidados de saúde e acompanhamento médico rigorosos. Ela enfatiza a importância de ter fé e esperança, e compartilha sua história para encorajar outras mulheres que podem estar enfrentando situações semelhantes.
“Nunca desista, acredite na possibilidade de cura e no poder do milagre”, diz Aline, lembrando que, apesar de tudo, a resiliência e a fé são essenciais na jornada contra o câncer. Ela também aconselha que mulheres peçam exames específicos, como o CA-125, mesmo na ausência de sintomas, e destaca a importância do acompanhamento médico contínuo.
A história de Aline Deda é um testemunho inspirador de força e determinação. Sua experiência ressalta a necessidade de maior conscientização sobre o câncer de ovário e a importância de um diagnóstico precoce para aumentar as chances de tratamento e cura. Sua resiliência e fé, aliados ao apoio de seus entes, fazem dela um exemplo de superação que pode inspirar outras mulheres em jornadas semelhantes.
Os desafios do câncer de ovário no Brasil
Oitavo tipo de tumor mais comum entre as mulheres brasileiras está entre as principais causas de mortalidade relacionadas ao câncer
O câncer de ovário é uma doença complexa que afeta cerca de 7.310 mulheres no Brasil anualmente, sendo esse o oitavo câncer mais incidente nas mulheres e o segundo no ranking dos cânceres ginecológicos. Apesar de existirem diversas opções de tratamento disponíveis, muitas pacientes ainda enfrentam dificuldades no acesso a essas terapias, especialmente as mais modernas.
Segundo o médico oncologista Fernando Maluf, cofundador do Instituto Vencer o Câncer e professor livre-docente da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo, estudos mostram que até 85% das pacientes com câncer avançado apresentam recorrência mesmo após obter resposta completa ou parcial com quimioterapia associada à cirurgia, o que justifica a necessidade de ampliar o acesso a novos tratamentos.
O número de óbitos causados pela doença chega a 4 mil por ano no Brasil. Isso evidencia a necessidade de abordagens terapêuticas inovadoras e seguras que não apenas prolonguem o tempo livre de progressão, mas também reduzam a chance de recorrência, minimizando complicações mais graves e a necessidade de tratamentos adicionais, como cirurgias, quimioterapia e internações”, enfatiza.
Ainda de acordo com o oncologista, a ampliação do acesso às novas terapias é vital para assegurar que todas as pacientes, independentemente de sua condição socioeconômica, possam ter acesso aos melhores tratamentos. “A participação e engajamento da sociedade na consulta pública é um passo essencial para fazer com que essas novas opções de tratamento sejam incluídas no sistema público de saúde e garantam mais qualidade de vida a pacientes com câncer de ovário”, complementa.
Introdução do tratamento de manutenção no câncer de ovário
Terapia inovadora incorporada no SUS permitiria acesso igualitário ao tratamento e melhoria na qualidade de vida
Nos últimos anos, a abordagem terapêutica para o câncer de ovário avançado passou por uma revolução com a introdução dos tratamentos de manutenção. “Diferentemente das terapias convencionais, que visam atacar as células tumorais diretamente, o tratamento de manutenção é uma estratégia de longa duração prescrita após a quimioterapia, com o objetivo de manter a eficácia do tratamento inicial e aumentar o tempo livre de recorrência do câncer”, diz o médico oncologista Fernando Maluf.
Esse recurso tem se mostrado essencial para evitar a recidiva precoce da doença, especialmente em pacientes com mutações genéticas específicas, como as ocorridas no gene BRCA, presente nos casos de câncer de ovário. Neste contexto, o niraparibe, um inibidor de PARP (poli ADP-ribose polimerase), atua impedindo que o DNA das células tumorais seja reparado e, assim, auxilia na morte dessas células. Sendo esse um processo importante principalmente para as pacientes que apresentam mutação no gene BRCA.
A incorporação do niraparibe no SUS poderia garantir que as pacientes com câncer de ovário avançado, independentemente de sua condição socioeconômica, tenham acesso a esse tratamento inovador. Estudos clínicos indicam que o niraparibe pode aumentar a sobrevida das pacientes e manter a qualidade de vida. Isso é crucial para pacientes e suas famílias, que enfrentam desafios físicos e emocionais”, defende a GSK Brasil, em nota.
A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) realizou em outubro de 2024 a Consulta Pública nº68 para discutir a incorporação de niraparibe como tratamento de manutenção para as pacientes com o câncer de ovário avançado com mutação BRCA. Mas a inclusão do tratamento no SUS não foi aprovada. A GSK, fabricante do medicamento, não informou se continuará buscando essa aprovação.
Com informações da GSK Brasil