Apenas 31% das pessoas que têm ou já enfrentaram câncer de mama continuaram trabalhando. É o que mostra um estudo feito pelo LinkedIn, maior rede social profissional do mundo, e a Fundação Laço Rosa, que atua na defesa de direitos de pacientes com câncer de mama. A pesquisa inédita sobre pacientes de câncer de mama no mercado de trabalho, feita com mais de 930 entrevistados, contou com respostas de pacientes, ex-pacientes e pessoas que têm ou tiveram um paciente em seu círculo profissional ou social.

Quando questionadas se estavam trabalhando ou se tinham trabalhado durante o tratamento, 26% das pacientes e ex-pacientes responderam que pararam de trabalhar por conta do câncer. Outros 43% ainda responderam que trabalham ou trabalharam, mas que tiraram licença médica. Das que responderam ter trabalhado ou trabalhar, 22% disse ser em tempo integral e 9%, em meio período.

De acordo ainda com a pesquisa, entre os desafios mais citados para as pessoas que não pararam de trabalhar estão: conciliar os sintomas do tratamento com a rotina profissional (28%), não poder deixar o trabalho por questões financeiras (21%), a falta de políticas de apoio ao paciente (19%),  a incompreensão por parte de colegas e (ou) superiores (13%), a empresa não ofertar plano de saúde ou o benefício oferecido não cobrir os exames necessários (também com 13%), a falta de oportunidade de fazer home office (12%), o horário de trabalho não flexível (10%) e não poder se ausentar quando necessário (8%).

Ao realizar esse estudo, percebemos que é extremamente importante que os profissionais encontrem nas empresas um ambiente acolhedor e de difusão de informações, tanto para quem convive quanto para quem sofre ou já tratou um câncer”, comenta Ana Plihal, diretora de soluções de talento do LinkedIn no Brasil.

Da parcela que respondeu ter parado de trabalhar por conta do câncer, 36% colocaram como motivo principal o afastamento pelo INSS (Instituto Nacional de Seguro Social), seguido por não se sentir bem o suficiente para trabalhar durante o tratamento (23%), motivos pessoais (20%), não conseguir conciliar trabalho com o tratamento (10%) e demissão (8%). Outros 2% ainda responderam que não se sentiam à vontade na empresa por conta das consequências do tratamento e só 1% afirmou não receber apoio suficiente da empresa em que trabalhava.

“O preconceito nas empresas é velado e desculpas como ‘a vaga foi preenchida’ e ‘estamos enxugando a equipe’ são rotina na vida de pacientes com câncer de mama que, após o diagnóstico da doença, precisam voltar ao mercado de trabalho”, destaca Marcelle Medeiros, presidente da Fundação Laço Rosa.

Dispensa do trabalho e discriminação

Em 2019, um dos assuntos que prometem chamar a atenção é a importância de mudar a legislação brasileira, que hoje não garante estabilidade de emprego para pacientes com câncer após o tratamento. O projeto de lei 8057/2017 aborda a estabilidade de no mínimo um ano nesses casos e está em uma comissão especial atualmente.

Levando em conta isso, o estudo perguntou aos entrevistados se eles sabiam o que era dispensa discriminatória. Cerca de 26% de pacientes de câncer de mama ainda desconhecem o que é e 18% delas disseram ter sofrido uma dispensa discriminatória. Entre os respondentes que tinham pessoas pacientes de câncer de mama em seu círculo profissional ou círculo social, o percentual de desconhecimento foi de 34%.

Já ao serem perguntadas se sofreram algum tipo de discriminação por parte de colegas de trabalho por ser ou ter sido paciente de câncer de mama, 39% responderam que sim. A discriminação velada por colegas ficou em primeiro lugar nas menções (11%), seguida por direta por líderes (10%), velada por líderes (9%) e direta por colegas (9%), sendo que era possível elencar mais de uma ocorrência.

No caso de entrevistados com pacientes em seu círculo profissional ou círculo social, a maioria afirmou não ter presenciado um episódio de discriminação no trabalho ou não recordar. Para respondentes com colegas com câncer, o percentual foi de 74%, enquanto para os entrevistados com familiares ou amigos com câncer, de 71%.

Direitos sociais

O levantamento mostrou ainda que 35% das pacientes ou ex-pacientes de câncer que responderam ao questionário afirmaram não ter ciência sobre seus direitos sociais específicos. Dentro da parcela das respondentes que tinham ciência, os benefícios mais citados foram a reconstrução mamária (88%), a compra de um automóvel com desconto do IPI (82,3%), o saque do FGTS (82%) e o auxílio doença (80%).

Ao serem questionadas se os benefícios e direitos sociais disponibilizados pelo governo são amplamente divulgados e de fácil acesso, 80% das pacientes e ex-pacientes discordaram. Já para os entrevistados com pacientes em seu círculo profissional, o índice de discordância foi menor, com quase 50%. Para os respondentes com pacientes no círculo social, o percentual foi de aproximadamente 52%.

Importância do apoio das empresas

Para 53% das pacientes e ex-pacientes de câncer de mama, as empresas ainda não oferecem o apoio necessário, isto é, não investem em práticas de prevenção, acompanhamento e tratamento da doença. Somente 23,5% das entrevistadas disseram trabalhar ou ter trabalhado em uma companhia com tais políticas, enquanto outras 23,5% não souberam responder.

Dentro ainda da parcela que afirmou ter apoio atualmente ou em outro momento, a prática mais citada foi a flexibilização de carga horária, com quase 45% das respostas. Em segundo lugar ficou o apoio clínico cobrindo os custos totais do tratamento (37%) e em terceiro o apoio psicológico (29%). Já o trabalho remoto — ou home office — e o apoio jurídico foram as práticas menos citadas, com quase 11% e 9%, respectivamente. Era possível selecionar mais de uma opção.

Habilidades

No caso de muitas pacientes que recebem o diagnóstico do câncer de mama, algumas habilidades comportamentais acabam sendo desenvolvidas ou aperfeiçoadas. Na pesquisa, a paciência foi a habilidade mais citada, com cerca de 55% de menções. A persistência vem em segunda posição (53%), seguida pela resiliência (quase 49%), adaptabilidade (cerca de 46%), empatia (41%) e flexibilidade (30%).

Diferentemente do que muitas companhias ou pessoas podem pensar, vimos que a paciente de câncer de mama retorna ao mercado de trabalho com mais garra do que nunca, e por muitas vezes, com competências interpessoais que possuem alta demanda em diversos segmentos. A adaptabilidade, por exemplo, foi uma das habilidades mais procuradas pelos recrutadores segundo um outro estudo que fizemos em janeiro”, defende Ana Plihal.

Oportunidades e liderança

Em relação a novas oportunidades no mercado de trabalho, 55% das mulheres do perfil de pacientes e ex-pacientes discordaram que as pacientes de câncer de mama têm as mesmas oportunidades profissionais que qualquer outra pessoa. Assim como em outras perguntas, os entrevistados do círculo profissional ou social de pacientes também ficaram com índices distantes: 32% e 33%, respectivamente.

Já quando questionadas se pacientes em tratamento de câncer de mama não deveriam assumir cargos de liderança, 80% das pacientes e ex-pacientes discordaram da afirmação. Para as pessoas com pacientes colegas ou pacientes familiares e amigas, os percentuais também foram menores, com 67% e quase 70%, nesta ordem.

Campanha

Para trazer o debate à tona, o LinkedIn se uniu à Fundação Laço Rosa e durante todo mês de outubro, além de disponibilizar esse estudo, fará uma campanha digital em seus canais sociais. Veiculada no Facebook, Twitter, Instagram e o próprio LinkedIn, a ação traz vídeos de mulheres contando suas histórias como pacientes dentro ou fora do mercado de trabalho, além de posts informativos sobre a pesquisa.

A campanha ainda contará com a hashtag #PeitoPraFalar, que convida pacientes, ex-pacientes, empresas, aliados e médicos para falar sobre o tema no viés do mercado de trabalho. A Laço Rosa também aproveita o mês para divulgar Contratada, primeira plataforma de empreendedorismo e emprego on-line para mulheres que passaram pelo câncer de mama.

Este é o primeiro negócio social da Laço Rosa, voltado a diminuir barreiras e facilitar o retorno das pacientes que já venceram a doença ao mercado de trabalho. Além disso, precisamos educar empresários e despertar o empreendedorismo nas mulheres que não conseguem recolocação profissional, mostrando exemplos reais de sucesso”, destaca Marcelle Medeiros, lamentando o preconceito velado nas empresas.

O estudo foi realizado por meio 932 entrevistas, com homens e mulheres, de 16 anos a 50 anos ou mais, em todo o Brasil, de todas as classes socioeconômicas, que têm, tiveram ou conhecem alguém que tem câncer de mama em seu convívio profissional ou social. No caso do perfil de pacientes e ex-pacientes, a pesquisa teve apenas respondentes que se identificaram como do gênero feminino. O método utilizado foi questionário on-line. As entrevistas foram conduzidas pela Opinion Box entre os dias 12 de setembro a 24 de setembro de 2019.

Fonte: Fundação Laço Rosa

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