Os casos de câncer de cólon ou no intestino voltaram ao debate principalmente após Preta Gil, de 48 anos, divulgar que está em tratamento da doença. Em entrevista neste domingo (12/3) ao Fantástico, da TV Globo, a cantora contou como enfrentou o diagnóstico, em 10 de janeiro, quando estava celebrando os 80 anos do pai, Gilberto Gil, em uma turnê internacional.

“Passei mal em dois shows. Não consegui fazer um show em Berlim e um show na Inglaterra. Eu voltei para o Brasil e a primeira coisa que eu tinha que ter feito era ter ido fazer os exames que os meus médicos me pediram. E aí adiava, adiei duas vezes o exame. Essa vida da gente, né? Que a gente prioriza o trabalho, que a gente prioriza a produtividade…”, disse Preta.

A cantora ainda descreveu os primeiros sintomas da doença, que também se manifestou em outras personalidades, como a cantora Simony e a apresentadora Ana Maria Braga. Agora, Preta está na metade do tratamento – Veja a entrevista na íntegra.

“Eu estava tendo crises de enxaqueca, que a gente achou que era cefaleia, uma enxaqueca. Cheguei a ir para o hospital com umas crises de pressão alta, coisa que eu nunca tive. Voltei pra casa, cheguei em casa, dormi e acordei. No dia seguinte fui ao banheiro, senti escorrer alguma coisa na minha perna. Quando eu olhei, era sangue. Eu sou uma mulher de muita fé e eu acredito muito que esse episódio foi um presente divino de verdade pra eu parar. Porque eu não paro. Eu não parava”, diz Preta.

Segundo câncer que mais mata em todo o mundo

O câncer de intestino é o segundo que mais causa mortes no mundo, atrás apenas do câncer de pulmão. Entre os casos mais recentes de artistas acometidos pela doença, estão os ex-jogadores de futebol, Roberto Dinamite, que faleceu no dia 8 de janeiro, e do Rei Pelé, que morreu no dia 29 de dezembro de 2022.

Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), mais de 860 mil pessoas perderam a vida pela doença em 2018. No mundo, o câncer de cólon representa 10% dos tipos da anomalia, sendo quase 2 milhões de casos anuais. Já no Brasil, a estimativa é de 45.630 novos casos anuais até 2025, sendo esta a segunda maior causa de morte por câncer entre as mulheres e a terceira entre os homens no Brasil.

Segundo estimativas do Instituto Nacional do Câncer (Inca), são diagnosticados cerca de 20,8 casos de câncer a cada 100 mil habitantes. Em 2023, estima-se 704 mil novos casos de câncer no Brasil, segundo o Inca. A neoplasia que atinge o cólon e o reto é um dos tipos mais frequentes no Brasil. Devem ser registrados 45 mil casos de câncer de intestino (cólon e reto), em 2023, em todo o país. O câncer colorretal é o terceiro tipo mais comum, atrás apenas do câncer de pele, de mama (nas mulheres) e de próstata (nos homens).

Os dados apontam ainda que as regiões Sul e Sudeste concentram cerca de 70% da incidência geral. Para o câncer de intestino, a taxa estimada nessas regiões é de 125,41 para cada 100 mil habitantes. A  taxa de incidência de câncer de intestino no Paraná é uma das maiores do país. Apenas no Paraná são esperados 2.560 casos, ou seja, sete diagnósticos ao dia, segundo a estimativa do Inca. A incidência só é menor que Rio de Janeiro (25,35), Santa Catarina (32,4) e São Paulo (33,1). Só no Paraná, são registrados anualmente mais de 2,5 mil casos, sendo cerca de 400 apenas em Curitiba.

Representação espacial das taxas ajustadas de incidência de câncer de intestino por 100 mil habitantes (homens à esquerda, mulheres à direita) estimadas para o ano de 2020, segundo Unidade da Federação │ Fonte: INCA

 

Especialistas alertam para prevenção e mudança de hábitos

As estatísticas sobre o aumento de casos de câncer preocupam especialistas, principalmente após a divulgação do levantamento de tendência da evolução dos tipos da doença no país. Para Luciana Buttros, oncologista do Instituto de Oncologia de Sorocaba (IOS), que integra a Hospital Care, o aumento da incidência de casos de câncer de intestino está relacionado aos hábitos de vida da população, que está cada vez mais exposta a fatores de riscos da doença.

“O câncer colorretal, como outros tipos, está diretamente associado a dietas não saudáveis e hábitos como o tabagismo e o alcoolismo que afetam células do nosso organismo. Outro fator que também privilegia o aparecimento da doença é o sedentarismo”, explica a oncologista.

Ela ressalta ainda que a prevenção com hábitos de vida mais saudáveis e a realização de exames é fundamental para evitar o aumento de casos. “Uma dieta rica em fibras, frutas e vegetais frescos parece proteger contra doenças, enquanto o consumo de gorduras animais e álcool, obesidade, sedentarismo e tabagismo são fatores de risco para câncer de intestino”, reitera Mariane.

Atenção aos sintomas: maiores chances de cura se detectado de forma precoce

Tumores que atingem o cólon e o reto estão entre os mais comuns na população brasileira. Manter os exames de rotina e observar indícios no corpo auxiliam no diagnóstico antecipado

câncer é tratável e as chances de cura são altas quando a doença é identificada em estágio inicial. É o que explica  Juliana Ominelli, médica oncologista da Dasa Oncologia. A médica explica que, apesar de ser um dos principais sintomas, a presença de sangue nas fezes não é uma regra. Por isso, ressalta que é preciso ter atenção às alterações do corpo para que a detecção da doença seja feita em fase inicial.

“Sintomas que muitos ignoram são a mudança na aparência das fezes e a regularidade do intestino. Por outro lado, alguns pacientes não terão sangramento, constipação nem diarreia, mas podem apresentar dores fortes na barriga”, explica.

O sintoma é parecido com o da cantora Preta Gil, que procurou ajuda médica após sentir forte desconforto abdominal. A especialista aponta que um dos principais exames para a investigação é a colonoscopia. “O câncer de intestino é diagnosticado após a biópsia por colonoscopia. Ela confirma que se trata de câncer de células malignas”, orienta. 

Segundo o cirurgião do aparelho digestivo e membro do Instituto de Cirurgia Robótica do Paraná, Christiano Claus, o diagnóstico precoce aumenta as chances de cura.

“Apesar de ser mais comum em idades avançadas, o câncer também pode ocorrer em pacientes jovens. Os principais sintomas dos tumores do intestino grosso são: alteração do ritmo intestinal, cólica, emagrecimento e sangramento junto às evacuações. Porém, nas fases iniciais, a doença não provoca nenhum tipo de sinal o que torna a realização do exame de colonoscopia fundamental para o diagnóstico de lesões precursoras ou tumores em fases iniciais” reforça o cirurgião.

Como prevenir?

Para se prevenir da doença, especialistas reforçam que é importante estar de olho nos hábitos do dia a dia e no excesso de alimentos não saudáveis. A dieta é considerada um dos principais fatores de risco para a doença.

“A presença de muita carne vermelha e o uso de bebida alcoólica são prejudiciais. Já a alimentação rica em frutas e verduras é considerada protetora”, recomenda a especialista da Dasa Oncologia.

  • Reduzir alimentos processados e ultraprocessados, como linguiça, calabresa, bacon, salame, entre outros. Outro fator que se deve levar em conta é a ingestão excessiva de carne vermelha. Ingerir mais de 500 gramas de carne cozida por semana aumenta o risco para este tipo de câncer. Uma dieta rica em frutas, vegetais e legumes também ajuda a evitar a doença.
  • A atividade física auxilia a reduzir fatores inflamatórios e promove equilíbrio nos níveis hormonais no organismo. Segundo a Organização Mundial de Saúde, o recomendado é realizar 150 minutos de atividade física moderada por semana.
  • Manter o peso corporal saudável e praticar exercícios também são aliados tanto na prevenção, quanto durante o tratamento, além de cessar com o tabagismo e o consumo de álcool.
  • “Com todas essas práticas é possível reduzir em até 30% os casos da doença”, diz Luciana Buttros. Além disso, é preciso observar o histórico familiar com o intuito de identificar o câncer hereditário por meio de testes genéticos e avaliar uma conduta preventiva com o paciente.

Entenda o câncer colorretal ou câncer de intestino

câncer colorretal atinge o intestino grosso e/ou sua porção final, o reto. Também pode ser chamado de câncer de intestino ou tumor de cólon e reto. A doença é caracterizada por alterações desordenadas na divisão e reprodução das células.

Os tumores intestinais geralmente crescem silenciosamente. Os sintomas que aparecem apenas quando o câncer progride são sangue nas fezes, mudança nos hábitos intestinais (diarreia e constipação alternadas), necessidade frequente de ir ao banheiro, sensação de esvaziamento incompleto, dor ou desconforto no abdômen ou ânus, fraqueza, anemia , gases ou inchaço e perda de peso sem motivo aparente.

A boa notícia é que a doença é tratável e, na maioria dos casos, curável ao ser detectada de forma precoce. Estima-se que as chances de cura passam de 90% se o câncer for descoberto rapidamente.

“O câncer colorretal pode ser silencioso, sem apresentar sintomas por um bom tempo e o diagnóstico da doença pode surgir em um estágio mais avançado. Por isso, é importante fazer exames de rotina. Em pessoas a partir de 45 anos, mesmo sem sintomas, é indicado realizar a colonoscopia mesmo sem histórico oncológico na família para detectar alguma anormalidade no intestino”, comenta Luciana Buttros, oncologista do Instituto de Oncologia de Sorocaba (IOS).

A oncologista diz que apesar de ser uma doença silenciosa, é preciso estar atento a alguns sintomas caso ocorram: presença de sangue nas fezes, dor e cólica na barriga com mais de 30 dias de duração, alteração no ritmo intestinal (quando o intestino apresentava um ritmo normal e passa a apresentar diarreia ou constipação); perda de peso rápida e não intencional; anemia, cansaço e fraqueza.

Colonoscopia remove pólipos que podem se transformar em tumores

O câncer colorretal é um dos únicos que podem ser prevenidos em exames de rotina com a identificação e remoção de pólipos que futuramente poderiam se transformar em tumores. Os pólipos são caracterizados pelo crescimento celular anormal na parede interna do intestino. São pequenas lesões e inchaços, parecidos com verrugas, que podem surgir na parede interna do órgão e podem evoluir para tumores malignos.

“Os pólipos são o crescimento anormal de células. Em geral, eles são assintomáticos, os mais comuns são benignos, e são detectados e removidos durante o exame. Isso previne o desenvolvimento de câncer colorretal”, afirma a a médica coloproctologista Mariane Savio (foto), do Centro de Cirurgia, Gastroenterologia e Hepatologia (CIGHEP) do Hospital Nossa Senhora das Graças (HNSG).

Como não causam sintomas, a colonoscopia é o único exame que identifica e remove as lesões para evitar o câncer de intestino. Os pólipos são retirados e encaminhados para um exame de biópsia, que aponta se a lesão era benigna, pré-cancerígena ou cancerígena.

“É um exame indolor, realizado sob sedação, recomendado para todos os pacientes a partir dos 45 anos ou antes se houver algum histórico familiar de câncer de intestino. Ao identificar pólipos, os mesmos são removidos imediatamente na maioria dos casos”, explica a médica.

Paula Bruna Araújo, diretora médica de Sérgio Franco, também pertencente à Dasa, acrescenta que é necessário o acompanhamento médico periódico e ressalta que um hemograma simples pode indicar uma anemia, outro sintoma que pode ser indicativo da doença. “Além disso, quando há a suspeita do câncer, também é possível fazer a pesquisa de sangue oculto, exame capaz de avaliar a presença de pequenas quantidades de sangue nas fezes, que podem não ser visíveis a olho nu”, diz.

Tratamento pode incluir cirurgia

O tratamento a ser indicado depende sempre do momento do diagnóstico e também das características individuais de cada paciente. Quando a doença existe de forma localizada, o tratamento é feito por meio da cirurgia.

“Quando encontramos apenas o pólipo durante uma realização de colonoscopia, a retirada desta lesão durante o próprio exame é a única medida necessária. Em situações de diagnóstico precoce de um câncer, a cirurgia para remoção do tumor é suficiente para a cura do paciente em 95% a 98% dos casos. Já com o diagnóstico tardio, além da cirurgia, podem ser indicados tratamentos complementares, como a radioterapia e a quimioterapia”, esclarece Christiano Claus.

O objetivo do procedimento é remover o segmento do intestino acometido pelo tumor e os “caminhos” pelos quais ele possa ter começado a se disseminar. As técnicas de laparoscopia e cirurgia robótica podem ser indicadas e oferecem ao paciente uma recuperação mais rápida, com menos dor e retorno precoce às atividades cotidianas.

Claus explica que a plataforma robótica é ideal para os casos mais complexos pois aumenta a segurança e a precisão da cirurgia. “Vantagens desta tecnologia permitem que o cirurgião tenha uma visão ampliada e extrema precisão dos movimentos feitos através do robô, com pequenas incisões. Além disso, é possível avaliar a vascularização do intestino durante a cirurgia”.

A Dra. Juliana diz que a cirurgia é opção na maioria dos casos, podendo ser realizada também em pacientes com câncer avançado com o intuito de se obter a cura ou de prolongar o tempo livre de tratamento. Após essa etapa, alguns pacientes ainda precisam da quimioterapia para diminuir o risco de o câncer voltar.

“Quando o quadro está em estágio avançado (metástase), de modo geral, inicia-se o tratamento com quimioterapia, terapia-alvo ou associado, ou, ainda, a imunoterapia, em casos específicos de instabilidade de microssatélite”.

Com Assessorias

 

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