Transmitida pela picada do mosquito Anopheles, a malária é uma infecção potencialmente grave, com maior incidência na região Norte do Brasil, que continua a desafiar as autoridades públicas de saúde. A boa notícia é que a luta contra a doença vem apresentando resultados positivos, segundo dados do Ministério da Saúde.

O Brasil registrou uma redução de 26,8% nos casos de malária entre janeiro e março de 2025 (25.473 casos), em comparação com o mesmo período de 2024 (34.807 casos). O número de óbitos também apresentou queda de 27% em 2024, com 43 mortes notificadas, frente às 63 registradas em 2023.

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, apresentou os dados durante evento na Academia Nacional de Medicina, no Rio de Janeiro, em alusão ao Dia Internacional de Luta contra a Malária (25 de abril), data instituída pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2007.

Ministro Alexandre Padilha apresenta dados de malária na Academia Nacional de Medicina
Ministro Alexandre Padilha apresenta dados de malária na Academia Nacional de Medicina (Foto: Divulgação MS)
Os dados  ainda apontam redução no número de casos de três das cinco áreas especiais de vigilância em 2024, como 27,5% em área de garimpo e 11% em área de assentamento. A separação por áreas é uma estratégia de acompanhamento dos casos, uma vez que a malária é uma doença determinada socialmente, ou seja, que afeta mais pessoas em áreas de maior vulnerabilidade social ,

A grande maioria dos casos (99%) está concentrada na Região Amazônica, abrangendo os estados do Acre, Amazonas, Amapá, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. Mas os dados chamam atenção para a malária também fora da Amazônia.

Embora o número de casos seja menor fora da região amazônica, a letalidade é mais alta. Por isso, vamos implementar um sistema de vigilância específico para os estados com registros fora da Amazônia. É preciso criar alertas e ações direcionadas para esses territórios”, disse o ministro.

No total, em 2024, foram registrados 138.493 casos locais, número menor que 2023 (140.264). Além disso, o país reduziu a quantidade de municípios com transmissão ativa da doença, passando de 321 em 2016 para 211 em 2024.

Medicamento inovador no SUS para a cura da malária

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A malária é uma doença que ameaça a saúde da população indígena (Foto: Alejandro Zambrana/Sesai)

Durante sua apresentação, o ministro destacou o compromisso do Governo Federal com a eliminação da malária e a importância das tecnologias de saúde. Segundo ele, os resultados são reflexo das ações contínuas e estratégicas do Ministério da Saúde para a eliminação da doença.

Nosso compromisso é zerar os óbitos por malária e buscar a eliminação da doença. Estamos introduzindo cada vez mais tecnologias eficazes: o melhor tratamento disponível, o uso ampliado de testes rápidos e a adoção da tafenoquina — que já é uma realidade no Brasil. Treinamos quase 3 mil profissionais, tratamos mais de 7 mil pessoas, e a meta é ampliar o acesso em todo o país até 2026.”

Disponível para adultos no Sistema Único de Saúde (SUS), a tafenoquina é um medicamento inovador de dose única para a cura da malária por Plasmodium vivax, responsável por 80,3% dos casos em 2024. O tratamento reduz os casos graves e a mortalidade da doença.

A tafenoquina já foi implementada em 49 municípios, de 6 estados – Amazonas, Roraima, Pará, Rondônia, Amapá e Acre – e 9 Distritos Sanitários Indígenas (DSEi). Em maio, ação será implantada na região extra-amazônica e, em junho, em duas áreas do Mato Grosso.

A versão pediátrica da tafenoquina está em processo de incorporação, com parecer favorável na avaliação inicial da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec). A recomendação inicial vai à consulta pública nos próximos dias e retorna para a análise final da comissão.

Entre 2024 e 2025, a pasta investiu R$ 9,9 milhões em insumos para controle vetorial, R$ 5,8 milhões em medicamentos e testes G6PD e R$ 1,7 milhão para testes de diagnóstico rápido (TDR) da malária. O uso de testes rápidos para a doença cresceu 90% em 2024, com aumento de 65% na aquisição de insumos.

Distribuição de mosquiteiro

O ministro Alexandre Padilha reforçou, ainda, o papel da Fiocruz na produção de medicamentos essenciais. “Quero agradecer à Fiocruz pela decisão de produzir, junto ao Ministério da Saúde, a combinação de artesunato com mefloquina, que é um dos tratamentos para a malária grave. Com isso, garantimos o fornecimento contínuo e seguro de medicamentos de alta qualidade para todo o país”, explicou.

A aquisição de mosquiteiro impregnado de longa duração (MILDS), que não era adquirido desde 2019, foi outra ação estratégica destacada pelo ministro. Foram distribuídas 300 mil redes e 100 mil camas, atendendo 100% dos estados da Amazônia.

Os profissionais de saúde das áreas de risco também passaram por cursos de capacitação e contam com o Projeto Apoiadores Municipais para prevenção, controle e eliminação de malária. Com 30 pessoas atuando diretamente nos municípios que concentram 80% da carga da doença, o projeto tem fortalecido a resposta local, apoiando gestões municipais em ações de vigilância, diagnóstico, tratamento e prevenção da malária.

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Pessoas das regiões Norte e Centro-Oeste do país têm maior conhecimento sobre a doença, incluindo prevenção e tratamento

Apesar da queda recente nos casos de dengue em algumas regiões após um ano de recordes, a malária segue presente em áreas específicas do país. Cerca de um em cada 10 brasileiros (10,68%) afirma já ter contraído a doença ou relata ter um familiar que passou pela mesma situação. Na região Centro-Oeste, esse número sobe para 16,76%, enquanto no Norte, chega a 29,41%.

Os dados são de yma pesquisa realizada pela SC Johnson, fabricante de repelentes pessoais, que também reforça a atualidade do tema: 22% dos brasileiros dizem conhecer a doença apenas pelo nome, sem saber como é transmitida, como prevenir, quais os sintomas ou opções de tratamento. O dado evidencia a importância de ações contínuas de sensibilização sobre a malária, que, embora menos frequente em centros urbanos, permanece endêmica na Amazônia.

O nível de conhecimento sobre a doença varia bastante entre as regiões do país. No Centro-Oeste, 30% dos entrevistados declaram ter um alto grau de informação sobre sintomas e formas de prevenção — o maior índice entre todas as regiões. Já o Sul apresenta o maior percentual de desconhecimento: 26,44% da população afirma conhecer apenas o nome “malária”.

Enquanto o Aedes aegypti — transmissor de doenças como dengue, Zika, chikungunya e febre amarela urbana — é mais conhecido da população e costuma se reproduzir em recipientes com água parada em áreas residenciais urbanas, o mosquito Anopheles, responsável pela transmissão da malária, tem hábitos noturnos e é mais comum em regiões rurais e de floresta, onde deposita seus ovos diretamente em água limpa.

Estudo vai mapear a transmissão da malária em três estados da Amazônia

Apesar de o número de casos estar diminuindo, Rondônia, assim como os demais estados da Amazônia Legal, segue como área endêmica para a malária. Em 2024, foram registrados 7.715 casos no estado, representando uma redução de 34% em relação a 2023, que teve 11.762 casos, de acordo com a Agevisa.

Só nos últimos três anos foram confirmados 1.651 diagnósticos na região rural de Porto Velho, de acordo com o Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica (Sivep/Malária) do Ministério da Saúde (MS).  A região é majoritariamente formada por propriedades rurais e vem chamando a atenção dos pesquisadores e dos órgãos de vigilância pela incidência de malária.

Pesquisadores da Fiocruz Rondônia iniciaram um estudo que busca avaliar a transmissão da malária em uma das principais áreas de circulação da doença, localizada na divisa da capital Porto Velho com o município de Candeias do Jamari.

O objetivo é identificar os vetores associados à transmissão da doença e de que forma o seu comportamento influencia na manutenção dos casos na área do estudo. Assim, visam determinar medidas de prevenção e de controle adequadas às características epidemiológicas da região e à realidade dos moradores.

Monitoramento de malária.

Primeira fase do estudo é constituída por um levantamento sociodemográfico (foto: Fiocruz Rondônia)

 

O estudo será replicado nos estados do Acre e Amazonas, também em áreas de alta incidência da malária, com a colaboração da Universidade Federal do Acre (Ufac), em Cruzeiro do Sul, e da Fiocruz Amazônia, no município de Tefé.

Toda a população de Tefé (AM) corre risco de contrair malária

A área do estudo em Porto Velho carece de uma atenção especial, pois mesmo possuindo alta densidade demográfica, enfrenta barreiras no acesso aos serviços de saúde. O controle da malária é feito principalmente por agentes de endemias por meio de busca ativa. Em casos de necessidade de atendimento, os moradores recorrem a unidades como o Centro de Pesquisa em Medicina Tropical (Cepem) e a Policlínica José Adelino em Porto Velho, ou se deslocam até o município vizinho de Candeias do Jamari.

No Amazonas, a área de abrangência do estudo será no município de Tefé, distante cerca de 633 km de Manaus, por via fluvial. Nesta área, os casos de malária ocorrem o ano todo. “É possível pensar que todos os seus 73.669 habitantes estão em risco de contrair a malária, porque é uma zona endêmica, onde há malária urbana e rural”, revela a pesquisadora da Fiocruz Amazônia, Claudia Maria Ríos-Velásquez,

Ela conduzirá o estudo Dinâmica da Transmissão da Malária na Amazônia: influência das intervenções de controle em áreas endêmicas, juntamente com uma equipe de profissionais da Fiocruz, da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS) e da Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SES-AM/Gerência de Endemias de Tefé).

No Acre, a pesquisa será realizada na zona rural de Cruzeiro do Sul, município localizado a 635 km da capital Rio Branco. A área foi estrategicamente escolhida por possuir a maior incidência parasitária anual de malária dentre as demais regiões do Estado, sendo responsável por 50% dos casos de malária e onde estão concentrados os esforços de controle e eliminação da doença na região.

Em Porto Velho, a pesquisa será executada em colaboração com o Departamento de Controle de Zoonoses (DCZ/Semusa), o Departamento de Vigilância em Saúde da capital (DVS/Semusa) e a Agência Estadual de Vigilância em Saúde (Agevisa/Sesau).

Controle vetorial em áreas endêmicas da Amazônia

Monitoramento de malária.

 

Estudo analisará horário de picada dos mosquitos

No último mês de março, teve início o levantamento sociodemográfico – a primeira fase do estudo e que é determinante para as ações futuras – em que os pesquisadores fazem todo o levantamento do quantitativo de moradores e o perfil socioeconômico dos participantes da pesquisa.

Na segunda fase, os pesquisadores realizarão o monitoramento vetorial, por meio de acompanhamentos mensais e coleta de mosquitos. Isso permitirá identificar os horários de picada dos mosquitos, quais estão infectados com o parasita da malária e se a transmissão da doença pode estar ocorrendo dentro das residências ou fora, no perímetro urbano das casas.

Nas etapas seguintes, serão realizadas ações educativas e de orientação aos moradores, enfatizando sobre os vetores relacionados à transmissão e prevenção da malária, por fim serão encaminhadas medidas de controle como a distribuição de mosquiteiros impregnados com inseticida e o diagnóstico rápido na área,

A pesquisa também irá levantar o padrão de comportamento do vetor frente a essas medidas de controle, por isso a participação da comunidade é fundamental em todas as fases do estudo”, destaca a pesquisadora Maísa Araújo, uma das coordenadoras do estudo em Porto Velho.

Segundo os pesquisadores, a malária é predominantemente rural e, na maioria das vezes, nas novas localidades que surgem em decorrência do desmatamento e abertura de novas áreas para a agricultura. O estudo vai fornecer um banco de dados robusto e atualizado dessa área endêmica e apontar para o Ministério da Saúde as estratégias mais eficazes no controle vetorial da região.

As diferentes realidades com áreas urbanas, rurais, ribeirinhas, de assentamentos, áreas indígenas e garimpeiras exigem estratégias específicas, somando-se a isso fatores como o desmatamento, a mobilidade populacional e o difícil acesso a algumas comunidades na busca de diagnóstico e tratamento da doença”, diz coordenador do Programa Estadual de Controle da Malária (PECM/Agevisa), Valdir França Soares

Conheça os sintomas da malária

Transmitida exclusivamente pela picada da fêmea do Anopheles,malária é causada por parasitas do gênero Plasmodium. Os sintomas mais comuns incluem febre alta, calafrios, suor excessivo, dor de cabeça, náusea e cansaço. Em alguns casos, também podem ocorrer dores musculares e vômitos.

Como os sinais iniciais se assemelham aos de outras infecções, o diagnóstico laboratorial é essencial. O tratamento varia conforme o tipo de parasita e a gravidade do quadro, sendo realizado com medicamentos antimaláricos disponíveis gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

As diferenças entre os vetores e as doenças que transmitem reforçam a importância de se proteger de forma adequada, considerando a região e o momento do dia. Em um país de dimensões continentais e grande diversidade ambiental, mesmo quem vive fora de áreas de risco deve estar atento. Em viagens a regiões com maior incidência, recomenda-se o uso de repelentes adequados, roupas de manga longa e, sempre que possível, mosquiteiros. Entender os hábitos dos vetores ajuda a ajustar os cuidados ao contexto e contribui para uma prevenção mais eficaz.

Os repelentes devem ser reaplicados conforme a orientação do rótulo e podem ser usados por diferentes faixas etárias, respeitando a idade mínima indicada e a concentração do princípio ativo. Apesar das diferenças entre os transmissores e as doenças envolvidas, o uso de repelentes segue sendo uma solução comum e eficaz tanto contra o Aedes aegypti quanto contra o Anopheles.

O Centro para Ciência de Insetos e Saúde da Família da SC Johnson lançou o programa ‘Adeus Mosquito’, em parceria com a Fundação Amazônia Sustentável (FAS), com o objetivo de capacitar profissionais de saúde, educadores e lideranças comunitárias sobre formas eficazes de proteção.

Também apoia a exposição “Aedes: que mosquito é esse?”, que esteve em cartaz no Castelo da Fiocruz, no Rio de Janeiro, e agora está disponível em formato virtual, ampliando o alcance das mensagens de prevenção. A mostra em versão itinerante está em Manaus, com um módulo dedicado à malária e o nome “Aedes e Anopheles: Que Mosquitos são Esses?”, fortalecendo o acesso à informação em uma das regiões mais afetadas pela doença.

Com Assessorias

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