Entretanto, elas predominam em apenas 20 das 55 especialidades médicas – a Dermatologia lidera o ranking, com 80,6% das mulheres, seguida da Pediatria (76,8%). O levantamento mostra ainda que os homens são maioria em 35 das 55 especialidades médicas, sobretudo em urologia (96,5%) e ortopedia e traumatologia (92%).
No ensino de Medicina, a presença feminina também tem crescido. Em 2010, as mulheres representavam 53,7% dos matriculados nos cursos de graduação, número que subiu para 61,8% em 2023.
Desigualdades regionais
De acordo com o estudo, as desigualdades na distribuição de médicos pelo país persistem. O levantamento mostra que 48 cidades com mais de 500 mil habitantes concentram 31% da população brasileira e 58% dos médicos em atividade em todo o território nacional.
Ao mesmo tempo, 4.895 cidades com menos de 50 mil habitantes e que também concentram 31% da população brasileira contam com apenas 8% destes profissionais. Além disso, 19 macrorregiões em saúde distribuídas pelo território nacional contam com menos de um médicos por mil habitantes, enquanto outras 15 macrorregiões registram uma média de mais de 4 médicos por mil habitantes.
Em 2035, a projeção é que o Distrito Federal, por exemplo, contabilize 11,83 médicos por mil habitantes, seguido pelo Rio de Janeiro, com 8,11 médicos por mil habitantes, e por São Paulo, com 7,17 médicos por mil habitantes.
No mesmo prazo de dez anos, o Maranhão deve registrar uma média de apenas 2,43 médicos por mil habitantes, seguido pelo Pará, com 2,56 médicos por mil habitantes, e pelo Amapá, com 2,76 médicos por mil habitantes.
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Médicos generalistas x especialistas
O estudo inédito também evidencia a maior concentração de médicos especialistas na rede privada e na região Sudeste. No Brasil, a parcela de especialistas (59,1%) está abaixo da média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que é de 62,9%.
Em dezembro de 2024, do total de 597 mil médicos em atividade no Brasil em 2024, 59,1% ou 353.287 eram especialistas, enquanto 40,9% ou 244.142 eram generalistas, graduados em medicina, mas sem título de especialista.
Entre as 55 especialidades regulamentadas no Brasil, sete delas concentram 50,6% do total de especialistas: Clínica Médica, Pediatria, Cirurgia Geral, Ginecologia e Obstetrícia, Anestesiologia, Cardiologia e Ortopedia e Traumatologia.
Apesar do crescimento, a distribuição dos especialistas no território nacional é desigual. A região Sudeste concentra 55,4% de todos os médicos especialistas, seguida pelas regiões Sul (16,7%), Nordeste (14,5%), Centro-Oeste (7,5%) e Norte (5,9%). O percentual de especialistas em relação ao total de médicos varia de 72,2% no Distrito Federal e 67,9% no Rio Grande do Sul a 46,5% em Rondônia e 45,1% no Piauí.
Distrito Federal e São Paulo respondem pelas maiores razões de especialistas por 100 mil habitantes (453 e 244, especificamente), enquanto Maranhão e Pará respondem pelas menores taxas no país (68 e 70, respectivamente).
Expansão da graduação e residência médica
O estudo revela que 63,7% dos títulos em especialidades foram obtidos por meio da Residência Médica, enquanto 36,3% foram concedidos por exames de titulação pelas sociedades médicas vinculadas à Associação Médica Brasileira (AMB). Entre os médicos especialistas, a maioria (79,1%) possui um título, enquanto 20,9% acumulam dois ou mais títulos em diferentes especialidades.
Os dados mostram que, entre 2004 e 2013, 92 novos cursos de medicina foram registrados no país, com 7.692 novas vagas. Já o período de 2014 a 2024 contabilizou 225 novos cursos de medicina em todo o Brasil, com 27.921 novas vagas. Também foram registradas novas vagas em cursos de medicina já existentes – 697 no período de 2004 a 2013 e 11.110 entre 2014 e 2024.
A pesquisa indica que as vagas de residência médica não acompanham a graduação – em 2024, cerca de 8% dos médicos do país cursavam algum programa de residência médica em 2024.
Os dados mostram que 51,5% dos médicos aguardam até um ano após a graduação para ingressar na residência médica; 22,1% até dois anos; 12,5% até três anos; 9,2% até cinco anos; e 4,7% mais de cinco anos.
Mais cirurgias nos planos de saúde
Pacientes com plano de saúde são submetidos, proporcionalmente, a mais cirurgias que os atendidos exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O levantamento analisou os três procedimentos mais realizados no Brasil: remoção do apêndice, retirada da vesícula biliar e correções de hérnias da parede abdominal.
Na apendicectomia, cirurgia de urgência mais comum no país, a taxa entre beneficiários de planos de saúde foi de 100 por 100 mil habitantes – 34,4% superior à verificada no SUS (74,45 por 100 mil). Considerando o volume, o sistema público respondeu por 70% do total de procedimentos em 2023.
Para a colecistectomia, o setor privado apresentou uma taxa 58,7% maior que a do SUS: 312,38 contra 196,81 cirurgias por 100 mil habitantes. Ainda assim, o SUS foi responsável por 66% das intervenções.
A maior disparidade foi registrada nas cirurgias de hérnias da parede abdominal: 401,41 procedimentos por 100 mil habitantes na rede privada – número 86,6% superior ao do SUS (215,07 por 100 mil).
O estudo também mostra que 70% dos cirurgiões atuam nos dois setores — público e privado. Outros 20% trabalham exclusivamente no setor privado, e 10% atuam apenas no SUS. Enquanto isso, 8% das cirurgias são canceladas por falta de equipe, principalmente de anestesistas.
De acordo com o Ministério da Saúde, “os dados reforçam a necessidade de ampliar o acesso às cirurgias pelo SUS e apontam uma forte concentração de especialistas na rede privada de saúde, muitas vezes em instituições que não prestam atendimento ao SUS”.
Pressão no sistema público após a pandemia
Os resultados da demografia médica são fundamentais para orientar estratégias de avanço na área da saúde e a ideia da pasta é aproveitar a capacidade instalada — muitas vezes ociosa — dos hospitais e ambulatórios privados.
O principal desafio dado pelo presidente Lula, que é a nossa maior obsessão hoje é o esforço de garantir assistência em tempo adequado para quem busca o atendimento médico especializado no nosso país”, destacou o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, reiterando que este é um grande desafio, sobretudo por conta do período da pandemia.
“Tivemos, durante um período longo, serviços de saúde – de ambulatórios a hospitais – todos eles absolutamente ocupados por casos relacionados à covid-19. Isso significou atraso em cirurgias e exames, não realização de exames de acompanhamento de pacientes com doenças crônicas”, relembrou. Segundo o ministro, este represamento gerou uma pressão no sistema público e deixou claro o quanto a rede privada tem uma capacidade maior hoje de dar conta desse desafio.
Para garantir o tempo adequado para o atendimento médico especializado, resolver problemas de diagnóstico e realizar cirurgias, nós precisamos dar um passo além na parceria com as estruturas privadas onde se concentram os médicos especialistas hoje”, defendeu Padilha.
Mais sobre a Demografia Médica 2025
“O objetivo da Demografia Médica é fornecer uma base empírica compartilhada para o debate sobre os diversos desafios enfrentados pela medicina e pelo sistema de saúde. Queremos produzir e divulgar evidências que possam apoiar a formulação e execução de políticas públicas voltadas ao fortalecimento do SUS”, explica o coordenador do estudo, docente do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), Mário Scheffer.
Entre os destaques, está o Atlas da Demografia Médica, que compila dados atualizados sobre médicos nas 27 unidades da Federação e nas 55 especialidades reconhecidas. “Avaliamos a demografia como um estudo abrangente e de inestimável importância para a compreensão do complexo cenário da medicina nacional. Torna-se premente a análise criteriosa da distribuição e formação dos médicos, sejam eles especialistas ou generalistas, para a preservação da qualidade da assistência à saúde prestada à população e para o embasamento de políticas públicas eficazes no setor”, afirma o presidente da AMB, César Eduardo Fernandes.
A DMB 2025 reúne 10 estudos desenvolvidos por um grupo de 22 pesquisadores e colaboradores da FMUSP. O trabalho é fruto de uma colaboração técnica e científica entre a Universidade de São Paulo, o Ministério da Saúde, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), a Associação Médica Brasileira (AMB), o Ministério da Educação (MEC) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
CURIOSIDADE
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Com informações da Agência Brasil, Ministério da Saúde e Calendarr