Enquanto equipes de TI tentam encontrar as causas para reestabelecimento das operações, estão paralisadas a produção e o fornecimento dos seguintes radiofarmacos previstos para esta semana tiveram que ser suspensos: Iodo-131; Lutécio-177; Tálio-201; Guan-IPEN-131 (MIBG); Gerador de tecnécio-99m e Citrato de gálio-67.
A Comissão informou que a “em função da necessidade de preservar a integridade do ambiente de TI foi necessário desconectar a rede do Instituto do ambiente externo, incluindo os acessos via Internet, até que todas as ações preventivas necessários sejam implementadas”. Ainda segundo a CNEN, “a segurança física, a radiológica e a nuclear não foram afetadas”.
Sem reator, Ipen é obrigado a importar insumos
O IPEN é um dos mais importantes institutos de pesquisa da América do Sul, prestes a completar 70 anos. No governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, esteve no “olho do furacão”, diante do lobby no Congresso Nacional tentando passar a produção de radiofarmacos para a iniciativa privada.
O instituto produz uma parte dos radioisótopos, mas gastava cerca de R$ 60 milhões (de acordo com a alta do dólar) importando o produto da África do Sul, Rússia, Holanda e Argentina. O Brasil importava 4% da produção mundial do radioisótopo molibdênio-99
O decaimento radioativo do molibdênio-99 produz o radioisótopo tecnécio-99m utilizado nos radiofármacos mais empregado na medicina nuclear. Até 2021, o IPEN gastava US$ 15 milhões por ano com essa importação, que gerava um faturamento de R$ 120 milhões, ano, recursos que seguiram direto para o caixa do governo.
O que dará soberania ao país na produção é a entrada em operação do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), idealizado em 2009, que somente agora está saindo do papel. O RMB vai abastecer o IPEN e poderá exportar a sua produção.
Por não ter o RMB, o Brasil precisa importar os insumos fabricados no IPEN. Enquanto isso, no ano de 2021, crescia o lobby para a privatização da produção, que cairia nas mãos da iniciativa privada nacional e internacional, elevando os preços do tratamento.
Crise em 2022: tratamento de milhares de pacientes foi interrompido
Em dezembro de 2021, avançou a discussão sobre a Proposta de Emenda Constitucional (PEC- 517), na Câmara dos Deputados, propondo a flexibilização do monopólio da União na fabricação de radiofármacos. A PEC do senador Álvaro Dias (Podemos-PR) deu muita dor de cabeça, foi adiante, mas parece que caiu no esquecimento. Segundo fontes do setor, o setor privado não conseguiu se preparar para acabar com a iniciativa pública.
Em agosto de 2022, por falta de verbas para a importação dos radioisótopos, o tratamento de milhares de pacientes foi interrompido gerando uma crise sem precedentes. Com a liberação dos recursos, o abastecimento se normalizou. Mas veio à tona com força o lobby para a quebra do monopólio da produção dos medicamentos.
Foram relevantes as críticas à privatização da produção dos radioisótopos. Em artigo para o blog, publicado em 16/12/21, o deputado Alexandre Padilha (PT/SP), atual ministro da Saúde. escreveu: “Além da área da saúde, a proposta dá uma facada no projeto do reator multipropósito, que garante soberania de produção do insumo para que o Brasil não precise mais importar”.