O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de 79 anos, segue internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, após passar por uma cirurgia de emergência na madrugada desta terça-feira (10), por conta de um hematoma subdural crônico. O quadro é decorrente do traumatismo craniano seguido de hemorragia cerebral que ele sofreu em outubro, quando ele levou um tombo no banheiro da residência oficial, no Palácio Alvorada.
Embora esse tipo de trauma seja mais frequentemente associado a acidentes de carro, agressões físicas e prática de esportes de contato, as quedas domésticas também podem causar lesões graves, especialmente em crianças e idosos. Esse tipo de queda em casa é um risco real, especialmente para pessoas idosas, e reforça a importância da prevenção de acidentes domésticos.
A questão de quedas é algo realmente sério. Tanto que em junho, no dia 24, celebra-se o Dia Mundial de Prevenção de Quedas, data que tem o objetivo de conscientizar a população sobre a importância de medidas preventivas para evitar quedas, que podem ter consequências graves, especialmente para pessoas idosas.
40% dos idosos com 80 anos ou mais sofrem quedas
De acordo com o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into), a estimativa entre os idosos com 80 anos ou mais, é que 40% sofram quedas todos os anos. Além disso, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), anualmente, cerca de um milhão de idosos no mundo fraturam o fêmur, sendo 600 mil somente no Brasil. E 90% destes casos são causados por quedas.
O banheiro é o local onde mais ocorre este tipo de acidente. Segundo a fisioterapeuta Caroline Saladini, especialista em gerontologia e membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), pessoas idosas, no geral, são mais suscetíveis ao risco de queda, sendo a mais comum no banheiro. Além disso, ela comenta os principais motivos, pelo qual as quedas ocorrem.
Alterações próprias do indivíduo – como condições de saúde não controladas, fraqueza muscular, alterações de equilíbrio, diminuição da acuidade visual ou auditivo, queixa de dor; alterações ambientais, como superfície escorregadia ou irregular, pouca luminosidade, objetos soltos pela casa, móveis baixos e alterações comportamentais – quando a pessoa se coloca em risco ao andar de meias, usar escadas sem apoio no corrimão ou subir em bancos”.
Segundo a especialista, melhorar a iluminação e deixar o ambiente livre são boas medidas para auxiliar as pessoas idosas, assim como evitar deixar objetos, fios e tapetes soltos pela casa. Também é válido fazer ajustes para facilitar a mobilidade, tal como elevar a altura do vaso sanitário e do sofá, e colocar uma barra de apoio no banheiro.
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Os traumas cranianos podem ser causados por impactos diretos no crânio ou por movimentos bruscos e intensos de aceleração e desaceleração. Eles podem ser classificados em diferentes tipos com base na gravidade, intensidade, extensão da lesão e impacto, que pode ser de leve a moderado ou grave”, afirma Roger Gomes Reis, neurologista do Cejam – Centro de Estudos e Pesquisas Dr. João Amorim.
O especialista detalha que traumas cranianos leves, como concussões, causam sintomas temporários como confusão, dor de cabeça, tontura e perda de memória, geralmente sem deixar sequelas permanentes. Em traumas cranianos moderados, pode haver perda de consciência por minutos a horas, além de alterações físicas, cognitivas e emocionais, exigindo um acompanhamento médico mais prolongado.
Já o trauma craniano grave, que pode causar danos permanentes ao cérebro, envolve lesões como fraturas, hemorragias e contusões mais sérias, podendo causar o coma ou até mesmo deixar sequelas irreversíveis. De modo geral, o tratamento depende da gravidade da lesão de cada indivíduo.
Para traumas leves, é importante o monitoramento nos primeiros dias, observando sintomas como confusão e perda de memória. Em traumas moderados, a internação é fundamental, juntamente com o monitoramento, enquanto em casos graves, como fraturas e hemorragias intracranianas, a intervenção cirúrgica na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) se faz necessária”, ressalta o neurologista.
Como diagnosticar o risco e tratar
Dr. Roger explica que a avaliação e o diagnóstico do paciente são responsabilidades exclusivas do profissional médico, especialmente dos neurologistas e neurocirurgiões. O exame neurológico e a aplicação da escala de coma de Glasgow devem ser realizados em todos os casos, assim como uma tomografia computadorizada de crânio, que é recomendada para todos os pacientes com suspeita de trauma craniano.
Por recomendações médicas, o presidente passou a fazer apenas viagens curtas. Mas a dúvida que fica é: Quem tem traumatismo craniano realmente pode andar de avião? É seguro? “Essa é uma medida de precaução, já que variações na pressão atmosférica durante o voo podem impactar a pressão intracraniana”, pondera o Dr. Roger.
Para traumas leves ou moderados, em que o paciente já recebeu alta, o neurologista destaca que é indicado repouso, mas sem necessidade de permanência no leito. Atividades leves da rotina doméstica, como tomar banho, vestir-se e caminhar dentro de casa, são permitidas. Em casos de concussão leve e com tomografia de crânio normal, o paciente pode retornar às atividades cotidianas, incluindo o trabalho.
Como evitar futuros traumas no cérebro
O especialista aponta a importância de se trabalhar a prevenção na rotina diária, enfatizando o popular ditado de que é sempre mais adequado prevenir do que remediar. “Evitar traumas cranianos envolvem medidas de segurança que minimizem o risco de quedas, colisões e outros acidentes”, salienta. Confira algumas das dicas do médico para pôr em prática:
- Uso de capacetes adequados para motociclistas, práticas esportivas de impacto, como ciclismo e skate, e no trabalho, em atividades de construção civil ou indústrias.
- Cinto de segurança e cadeira infantil obrigatórios em todos os veículos, inclusive para passageiros nos bancos traseiros.
- Atenção especial aos idosos no ambiente doméstico, já que, devido à fragilidade óssea e à perda de equilíbrio, eles são mais suscetíveis a fraturas e lesões graves.
Principalmente na terceira idade, o neurologista reforça que a prevenção de quedas precisa de muita atenção. “Algumas estratégias incluem adaptar o ambiente doméstico, usando tapetes reforçados, boa iluminação e barras de apoio em locais como banheiro e escadas.
Além disso, atividades de fortalecimento físico, como Pilates, fisioterapia e Yoga, ajudam no equilíbrio e na coordenação. Avaliações médicas regulares também são recomendadas, pois problemas de visão, de audição e o uso de certos medicamentos aumentam o risco de quedas.”
O acidente doméstico de Lula
No dia 19 de outubro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sofreu um acidente no Palácio da Alvorada, em Brasília, gerando grande preocupação. Durante uma queda no banheiro, ele bateu a cabeça, na região da nuca, resultando em um traumatismo craniano.
O incidente doméstico resultou em cinco pontos e levou o presidente a realizar exames de imagem, que foram posteriormente repetidos. Na ocasião, ele permaneceu na unidade hospitalar por cerca de uma hora antes de ser liberado para retornar para casa. Após exames, ele recebeu pontos na região afetada e foi orientado a ficar em repouso.
Por recomendação médica, Lula precisou cancelar viagens longas nas semanas seguintes, incluindo sua participação na reunião de cúpula do Brics, na Rússia. Na ocasião, o presidente classificou o acidente como “grave, mas sem afetar nenhuma parte mais delicada”.
Com Assessorias