A cada 650 nascimentos, uma criança nasce com fissura labiopalatina no Brasil. É considerada a deformidade congênita facial mais comum e a segunda que mais acomete o ser humano no mundo, sendo considerada um problema de saúde pública pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A condição pode comprometer funções básicas como alimentação, fala, audição e respiração, além de causar impactos socio-emocionais.

De acordo com o Ministério da Saúde, somente no Brasil, em torno de cinco mil crianças nascem com ela por ano. Essa estatística do Ministério da Saúde (2010) coloca o país acima das médias globais, que estimam que um em cada 1,7 mil recém-nascidos no mundo tenham essa má-formação, segundo estudo realizado no Reino Unido.

Essa má formação congênita, também conhecida como fenda no lábio ou no céu da boca, está relacionada a fatores genéticos e ambientais e exige um tratamento multidisciplinar para pacientes e suas famílias. No Brasil, são milhares de famílias que lutam por acolhimento, mas que veem, ao longo dos anos, avanços nos tratamentos que trazem novas esperanças.

Nesta terça-feira (24), o Palácio do Congresso Nacional recebe das 19 às 21 horas, a projeção de frases e imagem em celebração ao Dia Nacional de Conscientização sobre a Fissura Labiopalatina. A data foi criada pela Lei 14.404/22 para estimular a divulgação de informações sobre a malformação congênita, de forma a contribuir para a redução do preconceito e alertar para a importância de tratar a malformação com um especialista, de forma multidisciplinar.

SUS passou a oferecer cirurgia de reconstrução para corrigir fissura

Atualmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) enfrenta longas filas para diversos tipos de atendimento, incluindo o tratamento de fissuras, que exige o acompanhamento de diferentes especialistas. A descentralização dos profissionais, muitas vezes espalhados por diferentes locais, dificulta o acesso, aumenta o tempo de espera e pode levar ao abandono do tratamento.

No mês de maio, o país deu um passo importante para mudar essa realidade. O SUS passou a oferecer, de forma obrigatória, cirurgias reconstrutivas para correção da fissura — condição em que o lábio superior e/ou o céu da boca não se formam corretamente durante a gestação.  A nova lei também garante o tratamento completo e multidisciplinar no pós-operatório. A medida está prevista na Lei nº 15.133, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e publicada no Diário Oficial da União. 

De acordo com o texto, o SUS deverá disponibilizar, por meio de unidades públicas ou conveniadas, serviços complementares ao tratamento cirúrgico, como fonoaudiologia, ortodontia e acompanhamento psicológico. Em caso de diagnóstico no pré-natal ou logo após o nascimento, o recém-nascido deverá ser encaminhado com prioridade a um centro especializado para dar início ao atendimento.

Acesso a atendimento é limitado em regiões mais distantes

A aprovação da Lei representa um avanço importante na garantia do cuidado integral para crianças com fissura labiopalatina e no tempo adequado, fator essencial para uma reabilitação completa, mas ainda há desafios a superar, avalia a Smile Train, única organização dedicada exclusivamente a oferecer tratamento multidisciplinar gratuito e contínuo para essa condição no Brasil.

Segundo Camila Beni Ferreira, gerente sênior de programas da Smile Train, o acesso ao atendimento ainda é limitado, especialmente em comunidades distantes. Embora a medida seja uma conquista, o cenário exige esforços contínuos para assegurar que todas as crianças tenham acesso ao tratamento completo e no tempo adequado.

 Essa é uma conquista importante, mas ainda temos um longo caminho a percorrer para garantir que esse acesso chegue também às pessoas que vivem em comunidades mais distantes. As fissuras afetam profundamente a qualidade de vida e, quando não tratadas, perpetuam ciclos de exclusão e vulnerabilidade. O atendimento integral garante que essas crianças possam se desenvolver plenamente”, afirma.

Smile Train destaca impacto positivo da nova lei 

Para a Smile Train, a obrigatoriedade do serviço no SUS é um grande passo para ofertar ainda mais tratamentos no país. Atuando há mais de 20 anos no Brasil, a entidade já apoiou mais de 66 mil cirurgias no país entre 2001 e maio de 2025 — sendo cerca de 40 mil delas cirurgias primárias (primeiros procedimentos cirúrgicos realizados para corrigir a fissura labiopalatina, ainda na infância).

Além disso, tratar as fissuras dá à pessoa a oportunidade de ter outros direitos garantidos, como o acesso à educação. Com isso, ela pode se desenvolver plenamente e, na vida adulta, tornar-se um membro ativo da sociedade, com autonomia e dignidade”, complementa Camila.

A Smile Train é a maior organização do mundo especializada no tratamento de fissuras labiopalatina e que capacita profissionais de saúde locais com treinamento, financia e disponibiliza recursos para fornecer cirurgia gratuita de fissura labiopalatina e atendimento multidisciplinar,

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Fissura labiopalatina: características e tratamento

A fissura acontece quando o lábio e o céu da boca não se fecham completamente durante a gravidez, enquanto o bebê está se formando. A abertura pode atingir o lábio ou o palato (céu da boca), o nariz, a  musculatura, a mucosa e, muitas vezes, o osso. As principais complicações são dificuldade na alimentação e na respiração, alterações na arcada dentária, comprometimento do crescimento facial e prejuízo no desenvolvimento da fala e da audição.

“A fissura ocorre ainda no ventre da mãe, no primeiro trimestre da gestação, entre a 4ª e a 12ª semana, devido a uma falha na fusão de algumas estruturas que posteriormente vão dar origem à face, ao lábio e ao palato do bebê”, explica a ortodontista especializada no atendimento a pacientes fissurados, Talita Miksza.

Na maioria dos casos, essa má-formação acontece de forma isolada, mas pode estar associada a alguma síndrome. Estudos indicam que a condição é multifatorial, ou seja, não possui uma causa específica e vários fatores podem contribuir para essa predisposição, como fatores genéticos ou ambientais, incluindo o consumo de álcool, tabagismo e o uso de certos medicamentos durante a gestação.

As fissuras labiopalatinas não apenas afetam a estética, mas também causam problemas maiores, como má nutrição, distúrbios respiratórios, dificuldades na fala e audição, infecções crônicas e alterações na dentição. Esses impactos também podem ocasionar problemas emocionais, sociais e de autoestima para os pacientes.

O ideal é que o tratamento comece o mais cedo possível, podendo envolver profissionais de várias áreas da saúde. Geralmente, o bebê já começa a ser avaliado e preparado para a cirurgia no primeiro mês de vida, e a primeira cirurgia costuma ser feita quando ele completa seis meses. Os pacientes adultos também passam pelo mesmo processo clínico, porém, há uma preocupação maior com a readaptação do indivíduo à sociedade.;

O tratamento após a cirurgia é tão importante quanto o procedimento cirúrgico, que requer uma abordagem multidisciplinar envolvendo especialistas em cirurgia plástica, otorrinolaringologia, odontologia, fonoaudiologia, psicologia, pediatra, cirurgia craniofacial, entre outras especializadas”, explica Talita.

Pesquisa no SUS do Paraná sobre tratamento com alinhadores transparentes

Ortodontia é crucial para trazer estética e conforto mastigatório aos pacientes;

Tendo a odontologia como uma etapa crucial do tratamento, o Centro de Atendimento Integral ao Fissurado Labiopalatal (CAIF), em Curitiba-PR, atualmente administrado pelo Complexo Hospitalar do Trabalhador da Secretaria de Estado da Saúde do Paraná (Sesa), está conduzindo uma pesquisa com o apoio da ClearCorrect, fabricante de alinhadores ortodônticos transparentes. Neste levantamento, os alinhadores serão usados juntamente com o scanner intraoral Virtuo Vivo, que auxilia na captação de imagens em 3D dos pacientes.

“Estamos apoiando esse projeto de pesquisa, oferecendo tratamento ortodôntico a um grupo de 24 jovens com idades entre 13 a 24 anos. Esses pacientes passam por múltiplas cirurgias ao longo do crescimento, e a fase de tratamento ortodôntico corretivo, na adolescência, é essencial para trazer estética e conforto mastigatório. Todas as condições ortodônticas apresentadas por eles podem ser tratadas eficientemente com alinhadores transparentes, tornando o tratamento mais confortável, prático e facilitando a higienização e alimentação desses pacientes”, avalia a diretora de Pesquisa Clínica da ClearCorrect e especialista, mestre e doutora em Ortodontia, Waleska Furquim.

O trabalho iniciou em junho de 2024 e a expectativa é que dure 18 meses, podendo se estender até 2026, visto que os casos são geralmente complexos.  “Temos o prazer de apoiar essa pesquisa inovadora, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida desses jovens. Nosso compromisso vai além de fornecer produtos de alta tecnologia. Buscamos colaborar com iniciativas que promovam avanços significativos na saúde e bem-estar da comunidade”, complementa o vice-presidente da ClearCorrect, Pablo Prado.

Com Assessorias

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