No começo da pandemia do novo coronavírus, muito se falou sobre os pacientes que se encaixavam no grupo de risco: idosos, obesos, hipertensos e diabéticos. Logo depois, o Ministério da Saúde adicionou as gestantes a nessa lista, recomendando mais atenção a essas mulheres. Ainda assim, um estudo brasileiro publicado no dia 9 de julho no International Journal of Gynecology and Obstetrics apresentou um dado alarmante: oito em cada 10 gestantes e puérperas (mulheres que acabaram de dar à luz) mortas por Covid-19 no mundo são brasileiras.
Mas o que justifica esse número alarmante? Um estudo feito no final de junho pelo CDC (Centers for Disease Control and Prevention), órgão dos Estados Unidos, mostrou que as grávidas com coronavírus lá apresentam risco maior de internação, com necessidade de UTI e ventilação mecânica. Mas isso não significou um número maior de mortes: 16 mortes entre cerca de 8 mil gestantes que contraíram a doença.
É possível que essas gestantes e puérperas no Brasil não estejam recebendo a assistência adequada”, afirma a ginecologista Ana Carolina Lúcio Pereira, da Clínica Fada (https://www.clinicafadasaude.com.br/) e membro da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia).
A pesquisa utilizou dados públicos. Das 160 mortes por Covid-19 notificadas até 18 de junho, 124 eram no Brasil, sendo que 188 nações foram afetadas pela doença. O número é 3,4 vezes superior ao número total de mortes maternas relacionadas ao Covid-19 relatadas em todo o mundo. A maioria dos óbitos aconteceu no puerpério, ou seja, em até 42 dias após o nascimento do bebê. Pelos dados públicos, não foi possível saber se os bebês também morreram.
Segundo o estudo Neonatal Early-Onset Infection With SARS-CoV-2 in 33 Neonates Born to Mothers With COVID-19 in Wuhan, China publicado no Journal of The American Medical Association, há possibilidade de contágio vertical da gestante para o bebê durante a gravidez.
O aparecimento de crianças com o vírus logo após o nascimento de mães contaminadas pode significar uma possibilidade que deve ser considerada. E com as mães tendo complicações, é necessário fornecer a assistência adequada a elas e aos bebês”, afirma a médica Ana Carolina Lúcio Pereira.
Atendimento pré-natal não pode ser abandonado
A pandemia pelo coronavírus impõe desafios com o manejo de pacientes em todas as áreas da Medicina. Pelo fato de ser uma nova virose, muito pouco se sabe com relação aos grupos de risco e quais fatores determinam a evolução grave da doença, avaliam os especialistas. Mas os cuidados devem ser intensificados no caso das gestantes.
No caso de a gestante ser positiva para a virose e não apresentar a forma que necessite de internação, a paciente deve manter quarentena domiciliar de 14 dias, afastar-se de grupos de risco e manter contato constante com e pré-natalista caso haja piora dos sintomas. As consultas de pré-natal podem ser mantidas, desde que a clínica também esteja preparada com protocolos de recepção dessas pacientes”, explica Para o obstetra Kleber Cassius, especialista em pré-natal de risco, a.
No caso do atendimento de gestante classificada como “caso suspeito”, essa paciente deverá utilizar máscara de proteção e o profissional deverá utilizar equipamentos de proteção individual (EPI) que inclui máscara, luvas, óculos e avental. “Dentro das orientações dos planos de contenção da infecção nos hospitais, estes casos deverão ser hospitalizados até a definição diagnóstica”, explica Ana Carolina.
Gestantes com suspeita ou confirmação de infecção pelo Covid-19 devem ser tratadas com terapias de suporte, de acordo com o grau de comprometimento sistêmico. “No caso da amamentação, consulte sempre um médico. Pacientes na fase aguda da doença podem ser orientados a não amamentar, fazendo com que o leite seja ordenhado e ofertado ao bebê”, finaliza a médica.
Como reduzir os riscos de infecção nos hospitais
Há protocolos definidos nos hospitais para atendimentos das gestantes que objetivam diminuir os riscos de infecção com fluxos que visam afastar as gestantes das áreas onde estejam os pacientes acometidos ou áreas risco de atendimento. “Quando a paciente doente necessitar ser submetida ao parto, todo um protocolo de segurança é realizado na paramentação da equipe e preparação da sala cirúrgica”, ressalta.
A OMS orienta que as gestantes sejam prioridades na testagem contra a Corona vírus, pois podem necessitar de atendimento especializado e de alta complexidade. Sabe-se que a grande maioria das gestantes apresentam a forma leve ou até mesmo assintomática da doença, mas todo cuidado preventivo é necessário, visto a pouca literatura da qual dispomos e as alterações imunológicas conhecidas no período gravídico-puerperal.
Quanto ao período do pós-parto os cuidados de isolamento se igualam ao da população geral e a amamentação não está contraindicada. Deve-se evitar visitas sociais e as saídas devem se restringir basicamente ao que for estritamente necessário”, acrescenta o médico.
Medidas de prevenção
Segundo os especialistas, as gestantes e os familiares devem tomar as mesmas medidas de precaução amplamente divulgadas na mídia para redução do contágio da doença. Confira:
- evitar contato próximo com pessoas apresentando infecções respiratórias agudas;
- manter o isolamento social;
- lavar frequentemente as mãos (pelo menos 20 segundos) com água e sabão, especialmente após contato direto com pessoas, superfícies e antes de se alimentar;
- se não tiver água e sabão, usar álcool em gel 70%, caso as mãos não tenham sujeira visível;
- evitar colocar a mão no rosto e tocar olhos, nariz e boca.;
- higienizar as mãos após tossir ou espirrar;
- não compartilhar objetos de uso pessoal, como talheres, pratos, copos ou garrafas;
- manter os ambientes limpos (com detergente, água sanitária e álcool de limpeza) e bem ventilados;
- é muito importante que o companheiro dessa gestante adote também todas as medidas de prevenção;
- Manter um espaço seguro com as outras pessoas;
- Praticar a etiqueta respiratória: usar lenço descartável para higiene nasal; cobrir nariz e boca ao espirrar ou tossir, usando o cotovelo dobrado ou lenço e descartando-o imediatamente.
Se tiver febre, tosse ou dificuldade para respirar, procure logo assistência médica. Telefone antes de ir para a unidade e siga as instruções da autoridade sanitária local. As gestantes e as puérperas — Incluindo aquelas afetadas pela Covid-19 devem seguir com suas rotinas de acompanhamento médico”, afirma Dr Kleber.
Com Assessorias