O mieloma múltiplo é um tipo de câncer no sangue ainda incurável e que afeta alguns glóbulos brancos, os plasmócitos, células encontradas na medula óssea. Quando danificadas, essas células plasmáticas se espalham rapidamente e substituem as células normais da medula óssea por células tumorais. Considerada uma doença do idoso, uma vez que mais de 90% dos casos ocorrem após os 50 anos, a idade média do diagnóstico no Brasil é de 63 anos.

Embora alguns pacientes com mieloma múltiplo não apresentem sintomas iniciais, mesmo após o diagnóstico, a maioria das pessoas acometidas detecta a doença devido a manifestações como fratura nos ossos, baixa contagem de glóbulos vermelhos, cansaço, altos níveis de cálcio, problemas renais ou infecções.

O médico hematologista Angelo Maiolino, professor de Hematologia do Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), explica que o mieloma múltiplo é uma doença que atinge predominantemente pacientes com idade mais avançadas. A partir dos 50 anos, já é necessário ficar atento às manifestações clínicas.

“Estar atento a qualquer sintoma que apareça é um fator crucial para a descoberta da doença. Muitas vezes, os sintomas do mieloma múltiplo são confundidos com outras doenças, ou até desprezados. Dores ósseas, fraqueza, infecções por repetição podem indicar o início da doença no paciente. Nestes casos, é importante fazer os exames adequados para rastrear a doença”, afirma o hematologista.

Mas, além dos sintomas, existem outras informações importantes a respeito do mieloma múltiplo que devem ser do conhecimento de todos, de profissionais de saúde a público leigo. Na semana dedicada ao Dia Mundial do Mieloma Múltiplo, confira os cinco principais fatos sobre a doença que você deve saber:

  1. 1. Sintomas semelhantes aos de outras doenças atrasam o diagnóstico

Uma das principais características do mieloma múltiplo é que as células cancerosas vão se se fixando nos ossos, o que causa dores e fraturas ósseas espontâneas, ou seja, sem um trauma físico que as justifique, o que leva muitos pacientes a se consultarem com outros especialistas, que tratam o sintoma isoladamente, retardando a detecção da doença.

“Existem várias histórias de pessoas que são diagnosticadas com osteoporose, por exemplo, e ficam meses e meses fazendo um tratamento inadequado ou insuficiente, que não atua na causa do problema”, explica Angelo Maiolino.

Por isso é muito importante que o médico de outra especialidade investigue mais profundamente o que pode ter levado esse paciente a apresentar tal quadro e, a partir dos resultados de exames mais específicos, encaminhe-o ao hematologista (que é o especialista para doenças do sangue) o mais breve possível. Além das dores ósseas, os pacientes podem apresentar cansaço extremo, fraqueza, palidez, perda de peso, mau funcionamento dos rins, inchaço nas pernas, sede exagerada, perda de apetite e infecções constantes.

  1. 2. Exames de sangue simples podem ajudar no diagnóstico

Segundo pesquisadores, o Brasil pode registrar aproximadamente 7.600 novos casos de mieloma múltiplo por ano. No entanto, a doença é desconhecida mesmo entre os profissionais de saúde. Mas há exames simples, de rotina, minimamente invasivos que podem revelar os indícios da doença.

“Baixa contagem de glóbulos vermelhos (anemia), ou ainda o nível elevado de creatinina no sangue, por exemplo, são sinais de algumas doenças, entre elas o mieloma múltiplo, que são facilmente identificados por meio de um exame de sangue”, ressalta o médico.

A eletroforese de proteínas séricas, por exemplo, é um exame de baixo custo que mede a quantidade total de imunoglobulinas no sangue e consegue diagnosticar qualquer imunoglobulina anormal, podendo ser o primeiro passo para identificar a doença.

 “Por isso é importante que o paciente mantenha uma rotina de exames e o médico esteja atento às alterações, para agilizar o encaminhamento ao médico especializado, facilitando o diagnóstico”, completa Maiolino.

  1. 3. Acesso ao tratamento apresenta diferenças importantes entre os pacientes do SUS e do mercado privado

Um estudo recente apontou que os pacientes brasileiros com câncer atendidos pelo SUS apresentaram, em alguns casos, duas vezes mais propensão de morrer em decorrência da doença do que os pacientes atendidos no sistema privado. Entre os tipos de câncer avaliados, a maior discrepância de expectativa de vida foi observada justamente entre os pacientes de mieloma múltiplo.

“Em 2022 a DDT (Diretriz Diagnóstica de Tratamento) da doença foi atualizada após sete anos. Apesar de significar um passo importante no protocolo que direciona o cuidado com o mieloma múltiplo no Brasil, ainda há uma diferença gritante entre as terapias disponíveis nos mercados público e particular”, afirma Christel Arce, diretora de acesso da Janssen Brasil.

Atualmente o país conta com 14 medicamentos aprovados pela Anvisa para tratar os diferentes perfis de pacientes e fases do mieloma múltiplo. Na rede de saúde pública, apenas cinco opções estão disponíveis, sendo três delas regimes amplos de quimioterapia. Já os usuários de planos de saúde têm acesso a outras cinco opções de tratamentos, incluindo as tecnologias mais modernas aprovadas nos últimos cinco anos, como anticorpos monoclonais, inibidores de proteassoma e agentes imunomoduladores de última geração, que comprovadamente proporcionam avanços significativos em tempo e qualidade de vida

  1. 4. Medicina de precisão e novas tecnologias

  2. A cada ano, crescem as perspectivas e opções de tratamentos aos pacientes, inclusive para os pacientes recidivados – quando a doença retorna a aparecer nos exames – ou refratários – quando o paciente não consegue responder aos tratamentos disponíveis

“Embora ainda não exista cura para o mieloma múltiplo, nos últimos anos muitos estudos resultaram em tecnologias avançadas, cujas terapias apresentam alto potencial de controlar a doença e aumentar a sobrevida dos pacientes, mesmo aqueles em linhas tardias de tratamento, com qualidade”, explica o Dr. Angelo Maiolino.

Nesse sentido, a medicina de precisão desponta como uma visão de vanguarda para tratar esses pacientes, a medida em que, por meio de uma investigação genética profunda das malignidades, consegue proporcionar o direcionamento terapêutico mais assertivo para as características específicas da doença em cada perfil de paciente.

Um avanço importante nesse campo são os anticorpos biespecíficos, que, como o próprio nome sugere, são capazes de se conectar simultaneamente a dois alvos celulares diferentes. Dessa forma, reconhecem as células tumorais e exercem o papel de uma ponte entre elas e as células de defesa do organismo, fazendo com que essas últimas atuem para atacar as que estão acometidas por malignidade. Além disso, eles podem agir bloqueando a ligação com receptores, evitando o crescimento e a progressão tumoral.

“Por terem a capacidade de se ligar a dois alvos diferentes em células distintas, os anticorpos biespecíficos abrem uma nova gama de possibilidades nos tratamentos oncológicos, inclusive no caso dos cânceres hematológicos, como o mieloma múltiplo”, afirma o especialista.

  1. 5. Combinação de drogas com mecanismos de ação distintos aumenta as chances de sucesso do tratamento

Segundo ele, atualmente, no Brasil, o tratamento do mieloma múltiplo pode ser feito através de quimioterapia, inibidores do proteassoma, imunoterapia, bisfosfonatos, transplantes de células-tronco hematopoiéticas e imunomoduladores, que regulam o funcionamento do sistema imunológico.

Como é comum em outros tipos de câncer, a combinação de terapias diversas é essencial no tratamento da doença. Atualmente, a terapia tripla com junção dos Imunomodulares (IMIDs), Inibidores de Proteassoma (IPs) e Anticorpos Monoconais Anti-CD38 (MoAbs) — –representa o esquema mais moderno e eficaz para tratar o mieloma.

“Estudos demonstram que a terapia tripla favorece fortemente melhores taxas de resposta e sobrevida versus os regimes duplos nos pacientes recidivados/refratários. Por isso, essas três classes são fundamentais para o tratamento da doença recém diagnosticada e/ou para pacientes recidivados/refratários”, esclarece Maiolino, ressaltando que os principais protocolos internacionais recomendam como regimes preferenciais essas combinações baseadas em três classes terapêuticas distintas.

Para o médico, estudos e pesquisas estão em constante evolução na busca pelas melhores soluções para tratar todas as doenças, sobretudo as mais graves, como o mieloma múltiplo, mas é importante que o paciente seja diagnosticado cedo, para receber os tratamentos adequados desde o início, o que aumenta as chances de sucesso.

“Vale a pena se informar e entender sobre a doença, para detectá-la logo, pois, como vimos, atualmente há um leque de opções terapêuticas avançadas que podem controlar o mieloma múltiplo, mantendo ou até devolvendo a qualidade de vida do paciente”, conclui.

 

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