A cada ano, milhares de pessoas são acometidas pela trombose, ou seja, coágulos sanguíneos no sistema venoso que causam infarto, AVC (acidente vascular cerebral) e tromboembolismo venoso (TVE), as três complicações cardiovasculares que mais matam no mundo.
Embora os números sejam alarmantes (a trombose mata uma pessoa a cada 37 segundos no mundo¹,²), pouco se fala sobre as causas, os sintomas e o que se pode fazer para evitar a enfermidade.
A hematologista Suely Meireles Rezende, professora do departamento de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e membro do conselho diretor da International Society on Thrombosis and Haemostasis (ISTH), elenca 10 coisas que as pessoas precisam saber sobre a doença que tem, inclusive, um dia mundial de combate, celebrado em 13 de outubro.
1 – Os tipos mais frequentes
Existem dois tipos de trombose, cada uma com suas particularidades e consequências: a venosa, que surge a partir de uma veia, e a arterial, caso o coágulo inicial aconteça em uma artéria. No caso da trombose venosa profunda (TVP), os locais mais propícios para a formação de coágulos profundos são as pernas e os braços.
Quando esses trombos se desprendem das veias, podem ser levados pela corrente sanguínea até o pulmão ou cérebro, causando embolia pulmonar ou acidente vascular cerebral. No Brasil, a estimativa do Ministério da Saúde é que um ou dois habitantes a cada mil sofram de trombose venosa profunda e embolia pulmonar.
2 – Fatores de risco
Entre os fatores de risco da trombose estão idade, obesidade, uso de anticoncepcionais combinados, gravidez e pós-parto, câncer, fatores genéticos e a imobilização prolongada, seja devido a internações, traumas, cirurgias, fraturas ou viagens de duração acima de oito horas. Na verdade, a imobilização prolongada é um dos fatores de risco mais comuns de trombose no mundo.
3 – Sintomas
Quando ocorre nas pernas, os sintomas mais comuns são dor no local onde a trombose está acontecendo, além de inchaço acompanhado ou não por vermelhidão e aumento da temperatura no local. Os sintomas são progressivos, assim, a medida em que o tempo vai passando, a pessoa fica com a “batata da perna” ou coxa endurecida, dolorida e inchada. Mas é importante ficar alerta porque a doença pode acontecer em qualquer lugar do corpo e, algumas vezes, ser assintomática. Em casos mais graves, a trombose pode se estender para a coxa, virilha e pulmões, levando à embolia pulmonar.
4 – Trombose x Gestação
A doença é líder entre as causas de morte ligadas à maternidade em países desenvolvidos, por exemplo, já que a gestação em si é um fator de risco. Estudos mostram que durante a gravidez, o risco de desenvolvimento de um trombo chega a ser 10 vezes maior do que entre as mulheres não gestantes. No período de pós-parto, esse risco chega a ser 20 vezes maior do que uma mulher que não passou pelo processo de gestação.
5 – Trombose X Pílula anticoncepcional
Alguns estudos revelam que a pílula anticoncepcional oferece risco relativo quatro vezes maior para o desenvolvimento de trombose em mulheres que fazem uso contínuo e este risco varia de acordo com a idade.
Enquanto de 4 a 10 mil mulheres por ano com idade até 34 anos têm a doença, quando a idade é de 35 a 39 anos, passa para de 9 a 10 mil. O risco é ainda maior em casos de mulheres que fumam.
6 – Trombose x Viagens
As viagens longas aumentam em até três vezes o risco de tromboembolismo venoso, condição que pode envolver trombose venosa profunda e embolia pulmonar. Isto ocorre pois, durante esse tipo de viagem, o passageiro permanece muito tempo na mesma posição, levando então à alteração no fluxo sanguíneo.
A trombose venosa relacionada à viagem também é conhecida como “síndrome da classe econômica”. O risco de embolia pulmonar grave imediatamente após um voo aumenta de acordo com a duração da viagem, variando de zero, em voos com duração inferior a 3 horas, a 4.8 eventos por milhão em voos com duração acima de 12 horas.
7 – Trombose x Obesidade
Segundo Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel)3, de 2017, do Ministério da Saúde, após anos de crescimento, a prevalência de obesidade e excesso de peso estagnou nas capitais do país e os brasileiros já demonstram hábitos mais saudáveis. Hoje, 1 em cada 5 (18,9%) brasileiros é obeso. Porém, mais da metade da população das capitais brasileiras (54,0%) está com excesso de peso.
É essa parcela de pessoas que precisa ficar de olho na trombose, já que quem está acima do peso tem tendência a reter sódio, levando ao acúmulo de líquidos, acarretando em uma má circulação. A gordura acumulada dentro dos vasos sanguíneos também contribui para isso. O mau bombeamento do sangue para o corpo, associado ao sobrepeso, pode causar uma série de complicações e a trombose é uma delas.
8 – Trombose x Idade
Ao contrário do que se pensa, a trombose não é uma doença que atinge apenas idosos. O risco de ser acometido pela enfermidade aumenta a partir dos 20 anos de idade. A trombose venosa profunda, por exemplo, costuma aparecer muito mais em pessoas entre 20 e 40 anos, já ficam muito tempo sentadas ou em pé. Mas existem outros fatores como histórico familiar e distúrbios sanguíneos que também devem ser levados em consideração.
9 – Prevenção
O investimento em prevenção deve ser estimulado. Aos pacientes internados, é importante avaliar o risco de cada um em desenvolver trombose e, mediante um risco alto, deve-se receitar medicamentos anticoagulantes até que o paciente receba alta ou comece a andar. Para todas as pessoas recomenda-se andar e mexer as pernas frequentemente no seu dia-a-dia, mantendo-se ativo. Essa é a melhor forma de prevenir a doença.
10 – Tratamentos
A trombose tem, sim, tratamento. Porém, tudo depende da veia afetada, do tempo que está obstruída e da extensão do trombo. Assim como em todas as doenças, quanto mais cedo for diagnosticada, maiores são as chances de cura. No caso da trombose, se descoberta logo, o tratamento com medicações anticoagulantes já dá resultado.
Algumas pessoas não podem realizar tratamentos medicamentosos. Então, nestes casos, a solução é esperar que o próprio organismo reaja desobstruindo a veia entupida. Já em situações mais graves, a recomendação é de cirurgia.
Referências
1 Journal of Thrombosis and Haemostasis, “Thrombosis: A Major Contributor to the Global Disease Burden.”
www.worldthrombosisday.org/
2 World Health Organization (WHO), “65th World Health Assembly Closes with New Global Health Measures,” (2012). www.who.int/mediacentre/news/
3 Ministério da Saúde – Obesidade – http://portalms.saude.gov.br/