Voluntariado é empatia posta em prática e solidariedade em sua forma mais essencial. A chance de aprender com a história do outro tem motivado muitos a decidirem fazer trabalho voluntário. De acordo com o Relatório Mundial da Felicidade de 2019, pesquisas indicam haver forte conexão entre voluntariado e maior satisfação existencial, emoções positivas e redução da depressão. Mais uma prova de que o impacto da própria bondade resulta em níveis mais altos de bem-estar e felicidade.

Pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2019, mostra que 6,9 milhões – apenas 4,3% da população brasileira – praticam alguma atividade voluntária. Com a pandemia de covid-19, a solidariedade ganhou força e se reinventou. Segundo dados da empresa de serviços financeiros Nubank, em 2020 houve um aumento de 295% no número de doações. Especialistas em ação social apontam essa mobilização como um legado da pandemia que deve se expandir nos próximos anos.

A pandemia de covid-19 empurrou os profissionais da alegria que atuam nos hospitais e demais unidades de saúde para outros rumos. Muitas ações de voluntariado, principalmente no ambiente hospitalar, precisaram se reinventar para continuar levando conforto ao próximo, com segurança. E tiveram que se adaptar às visitas para que, mesmo distantes, eles continuassem o mais próximo possível de quem precisa. Para isso, alguns projetos migraram para o ambiente digital ou ações remotas e outros foram temporariamente suspensos.

Na Pró-Saúde, entidade filantrópica de gestão hospitalar que atua em 10 hospitais e creches gerenciadas em todas as regiões do país, uma pesquisa mostrou que 63% dos líderes mantiveram contato com os voluntários durante a suspensão das atividades presenciais, enquanto 50% realizaram atividades mesmo que à distância.

No Hospital Universitário Cajuru (HUC), que presta atendimento 100% pelo Sistema Único de Saúde (SUS), em Curitiba (PR), são 309 voluntários que atuam no hospital e fazem parte de grupos diversos. São palhaços, músicos e até mesmo cães. Desde o início da pandemia, alguns conseguem se manter presentes por meio da tecnologia, com o auxílio até mesmo de um robô.

A Pró-Saúde anunciou esta semana a retomada as atividades presenciais de seu Programa de Voluntariado, criado em 2016 e que conta hoje com cerca de 300 pessoas, após uma série de medidas para reforçar a segurança, especialmente em tempos de nova variante, a ômicron. Já no HUC, o retorno das atividades do voluntariado ainda não tem data marcada, mas já é muito esperado pelos profissionais, pacientes e voluntários. A previsão é que a partir de fevereiro, de acordo com a situação da pandemia, o grupo volte a fazer parte do dia a dia do hospital.

Abraço à prova de distância dos ‘anjos da guarda’

Há mais de 14 anos, o aposentado Pedro Paulo da Silva, de 65 anos, está presente nos corredores do Hospital Universitário Cajuru. Foi o voluntariado que o fez despertar para o talento de contar histórias que encantam e tocam a alma de quem escuta.

“Ser um agente de mudança na vida de alguém, com um sorriso ou um abraço, é o que me estimula a continuar essa transformação que as histórias provocam. Quando chego, encontro pacientes tristes e desanimados. Quando saio, eles estão animados e alegres, como num passe de mágica”, relata o voluntário.

A aposentada Kelly Katherine Lui Bettio, de 62 anos, que também soma 14 anos de muitas experiências no voluntariado do HUC. A vontade de ajudar nasceu quando viveu de perto a rotina de um hospital, ao cuidar do marido que enfrentou um câncer, e, foi ali, que entendeu a importância do contato humanizado com pacientes e familiares.

“Vai além de um simples ato de ajudar. É uma troca de amor, solidariedade, compaixão e carinho. Sinto um prazer inexplicável, porque fazer o bem faz bem. Nós nos tornamos voluntários quando conseguimos olhar e entender a necessidade do outro”, acredita.

Pedro e Kelly chegaram ao Cajuru por meio do mesmo pedido: “Precisamos de anjos da guarda”. O comunicado os sensibilizou para aceitarem o desafio de levar esperança para pacientes que se recuperam de um acidente ou fazem tratamentos.

“Saber que é um hospital SUS e com uma grande demanda, foi o que me motivou ainda mais a aceitar o convite”, lembra a voluntária. “Nesses anos, aprendi que somos todos anjos, mas com uma asa só. Para conseguirmos voar, precisamos estar unidos em um único abraço”, explica Pedro.

Na Pró-Saúde até apoio espiritual se reinventou

No período de isolamento, para evitar a propagação do coronavírus, a Pastoral da Saúde de unidades gerenciadas e próprias da Pró-Saúde, também se reinventou para continuar levando o apoio espiritual e mensagens de esperança aos pacientes e colaboradores. Foram realizadas missas online, entrega de mensagens aos pacientes e colaboradores, oração na parte externa dos hospitais para evitar proximidade e mensagens gravadas pelos voluntários e usuários, para não deixar ninguém sem palavras de conforto e gestos de esperança.

Ação para agradecer a participação dos voluntários no ambiente hospitalar do Hospital Regional Público da Transamazônica (Foto: Pró-Saúde)

A retomada do trabalho voluntário presencialmente nas unidades da Pró-Saúde foi discutida no 4º Encontro de Líderes de Voluntariado, realizado nesta quinta-feira (2/12), de forma 100% online. Com o tema “Compromisso e cuidado no retorno às atividades presenciais”, o evento contou com a participação de líderes de voluntários das unidades gerenciadas pela entidade,

A Superintendência de Filantropia da Pró-Saúde relembrou a linha do tempo do programa com os principais avanços. Para 2022, está prevista também a atuação de doulas voluntárias. Um dos cases de sucesso na atuação do voluntário religioso, do Hospital Regional Público da Transamazônica, em Altamira (PA).

Convidados externos também compartilharam seus projetos e experiências nesse período conturbado da pandemia. Em uma mesa redonda, os participantes puderam conhecer mais da atuação voluntária de instituições como o Centro de Convivência para Apoio ao Paciente com Câncer (Cecan), e da Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Curitiba.

Ômicron: diretrizes para segurança de voluntários

Durante o evento, a entidade apresentou as diretrizes institucionais desenvolvidas para tornar segura a atuação dos voluntários nas unidades. Entre os critérios adotados estão a exigência de esquema vacinal completo, ausência de fatores de risco para a Covid-19, participação em treinamentos de biossegurança e adesão ao termo de responsabilização em caso de contaminação.

As diretrizes estão em consonância com o atual momento da pandemia e a preocupação em relação à nova variante em circulação, denominada de ômicron. “É essencial ainda a manutenção das medidas de controle como o uso de máscara, vacinação e higiene das mãos”, destacou Fernando Paragó, diretor corporativo Médico da Pró-Saúde.

O gestor alertou ainda sobre a necessidade de seleção dos locais para desenvolvimento das atividades, com ambientes ventilados e sem aglomeração. A realização de atividades nos leitos, ou em locais onde há trabalho assistencial, segue suspensa. “Desenvolvemos essas diretrizes para garantir um retorno seguro dos voluntários, que são essenciais para o cumprimento da missão da Pró-Saúde, que é a melhoria dos serviços públicos”, acrescentou.

A Pró-Saúde lançou ainda um e-book com orientações para reduzir o risco de contaminação por Covid-19, durante a assistência espiritual realizada por religiosos, em pacientes internados nos hospitais que gerencia. O material está disponível para download gratuito no site.

Histórias que curam: 15 anos de humanização 

“Ser voluntário é doar sem olhar a quem”. A frase de Nilza Brenny revela bem o sentimento de pessoas que decidem dedicar um pouco do seu tempo para transformar a vida dos outros. E essa é a essência do trabalho voluntário que ela iniciou no Hospital Universitário Cajuru. Dar conforto aos pacientes, com carinho, atenção e palavras de apoio, é o objetivo do voluntariado, que completa 15 anos em dezembro.

Um mês mágico, em que as comemorações de Natal fazem a solidariedade tomar conta do coração das pessoas. Também, é quando se comemora o Dia Internacional do Voluntariado (5/12). “Final de ano é um período em que se intensifica o desejo de contribuir com o bem-estar do outro. A generosidade acaba sendo multiplicada”, relata a coordenadora da pastoral e do voluntariado dos hospitais Universitário Cajuru e Marcelino Champagnat.

O voluntariado só existe quando há pessoas que se doam todos os dias na realização de atos, algumas vezes simples, mas muito valiosos para pacientes. Mostram que não apenas a ciência e a medicina, mas o amor também podem salvar vidas. Para o médico e diretor-geral do Cajuru, as ações voluntárias ajudam a dar suporte emocional e, algumas vezes, até material à infraestrutura.

“As parcerias com a sociedade civil e com as ONGs que buscam o bem do paciente são sempre bem-vindas e nos ajudam de várias maneiras”, afirma Juliano Gasparetto. “O hospital é uma instituição feita por pessoas e para pessoas que amam atender ao próximo. É uma troca positiva de energia”.

Paciente realiza sonho de conhecer heliponto da PM

Lucas Camargo, de 20 anos, que se trata no Cajuru após ficar tetraplégico em acidente, realizou seu sonho (Foto: Divulgação)

Já se passaram três anos desde o primeiro internamento de Lucas Camargo, de 20 anos, no Hospital Universitário Cajuru. Foi no dia 19 de novembro de 2018 que a vida do jovem mudou completamente, após ficar tetraplégico em uma queda de cama elástica. Desde então, se tornaram recorrentes as idas ao hospital 100% SUS e referência em traumas.

Na última terça-feira (30/11), ao sair para o passeio matinal no HUC, o paciente se deparou com a realização de um sonho: conhecer o heliponto do hospital e o helicóptero do Batalhão de Polícia Militar de Operações Aéreas (BPMOA). Tudo graças a enfermeiros e representantes da pastoral do hospital. Há uma semana, uma pneumonia bacteriana grave e uma sepse fizeram Lucas retornar ao hospital para receber cuidados médicos.

“Fiquei com medo de morrer. Mas são as dificuldades que me mostram como cada momento é especial, até mesmo aqui dentro do hospital. Logo que fiquei melhor, comentei com a equipe do hospital sobre a minha vontade de ir até o heliponto, e acabei ganhando muito mais do que pedi. Foi inesquecível conhecer e até ganhar um boné do BPMOA, uma instituição da qual sonhava fazer parte”, relata o jovem.

Com tantos internamentos, o jovem passou a considerar os profissionais do hospital como parte da sua família. “Quando venho para o hospital sei que minha saúde não está bem, mas também sei que vou encontrar profissionais queridos que guardo no meu coração”, conta Lucas. “Aprendi que, enquanto há vida, há esperança. Viver com a minha deficiência é difícil, mas isso não vai me parar. Eu continuo lutando pela vida e em todo lugar que vou espero levar apenas alegria”, se emociona.

A iniciativa partiu da equipe de enfermeiros e da pastoral do hospital, que perceberam a paixão do jovem pela aeronave e se mobilizaram para tornar esse sonho uma realidade. “A gente faz de tudo para melhorar o dia dos nossos pacientes, então foi fácil saber como atender ao desejo do Lucas. A nossa vontade é fazer a diferença e realizar o sonho de pacientes internados na nossa instituição. Por isso, não medimos esforços para fazer o bem e levar alegria”, explica Nilza Brenny.

Principais inspirações para o voluntariado

Durante o 4º Encontro de Líderes de Voluntariado da Pró-Saúde, Silvia Naccache, consultora na área de voluntariado, elencou as três principais inspirações para desenvolvimento de um programa de sucesso: ter uma liderança ativa e comprometida; criar oportunidade para o trabalho voluntário; e fazer uma comunicação assertiva, afetiva e bem-humorada.

Segundo a consultora, a gestão de projetos de voluntariado implica em criar condições para a realização do trabalho, com o cuidado de envolver todos em uma rede de agentes de transformação. “É preciso lembrar sempre que o voluntário está priorizando um tempo da vida dele, que poderia ser dedicado a estudos, família ou diversão, para estar ali na atuação voluntária”, ressaltou.

Elisabete Pagliusi, que possui mais de 20 anos de experiência na área de Desenvolvimento Social, Sustentabilidade e Voluntariado Empresarial, deixou uma mensagem de reflexão: “A vida que a gente quer, depende do que a gente faz”, disse aos participantes. Ela lembra ainda que o principal ativo que as empresas possuem são as pessoas e que é preciso motivá-las a usar essa força para atitudes transformadoras.

Como se tornar um voluntário

Para quem deseja doar parte do seu tempo e se tornar um voluntário no HUC, basta agendar uma entrevista por meio do telefone (41) 3271-2990 para que a equipe possa avaliar o candidato e ver qual atividade se encaixa com o perfil e disponibilidade de horários. Os voluntários também participam do projeto “Acolha Novos Voluntários que ajuda os candidatos a conhecerem as missões e valores do hospital.

“A cada dia que passa, tenho mais certeza da importância de ter essas pessoas dentro de um hospital. Elas fazem a diferença com uma simples história, uma música ou um ombro amigo. A presença delas revigora, desperta o riso e traz esperança diante de momentos difíceis”, afirma Nilza Brenny, do HUC.

Já quem não tem disponibilidade e mesmo assim quer contribuir, existem diversas formas de colaborar com o Hospital Universitário Cajuru: boleto bancário, depósito em conta corrente ou por meio da conta de energia elétrica (Copel). Empresas também podem fazer suas doações e deduzi-las até o limite de 2% do seu Lucro Operacional Bruto. Mais informações no site ou pelo telefone (41) 4042-8374.

Quem tiver interesse em se tornar um voluntário nas unidades gerenciadas pela Pró-Saúde, basta preencher o cadastro no link. As ações de voluntários no ambiente hospitalar da Pró-Saúde seguem o Manual do Voluntariado da instituição.

Com Assessorias

 

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