Muitas crianças e adolescentes comemoram a volta às aulas, um motivo para reencontrar os amigos, brincar e aprender coisas novas – ou fazer novos amigos se o aluno está mudando de escola. Já para crianças com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), a volta às aulas pode não ser tão divertida assim, já que o transtorno afeta de forma significativa o processo de aprendizagem e os relacionamentos com colegas e professores.
Diversos estudos já mostraram que o déficit de atenção, associado ou não à hiperatividade e à impulsividade, frequentemente compromete o rendimento escolar. Um estudo realizado no Brasil mostrou que a área mais prejudicada é a escrita, seguida da matemática e da leitura. O mesmo estudo evidenciou que 53% das crianças apresentam dano em um dos três domínios (escrita, matemática e leitura); 42,86% em dois e 3,97% em três. Se combinarmos escrita e matemática, o prejuízo atinge 35% dos estudantes.
Diante de dados tão preocupantes, será que é possível mudar esse cenário e oferecer a essas crianças a chance de serem bem-sucedidas no desempenho escolar e nas relações pessoais? Para a neuropediatra Karina Weinmann, sim e para isso é preciso acesso à informação sobre o TDAH e suas implicações no processo de aprendizagem. “A confirmação do diagnóstico do TDAH é apenas o primeiro passo para oferecer a essa criança novas oportunidades de explorar seu potencial, de acordo com o seu funcionamento. É preciso unir esforços e entender que cada criança e cada tipo de TDAH requer estratégias diferentes no ambiente escolar”, explica;
Segundo a médica, a imagem que as pessoas têm de uma criança com TDAH é daquela que não fica quieta em sala de aula, que incomoda os colegas, que desrespeita a professora, que não tem controle de certos comportamentos e que vive no mundo da lua. “Porém, precisamos parar de usar esses rótulos, porque o TDAH se apresenta em três tipos e cada um deles tem sintomas diferentes”, afirma Karina.
Segundo a médica, o tipo hiperativo/impulsivo é o que mais causa preocupação, porque realmente ele tem mais dificuldade em se comportar na sala de aula. Entretanto, o desatento tem muito mais dificuldade para aprender, por exemplo.
“É preciso considerar as necessidades de cada estudante com TDAH porque eles não formam um grupo único. Na verdade são muito diferentes dependendo do tipo de sintoma predominante. Os professores precisam conhecer e entender o TDAH para ajudar os alunos. Além disso, uma avaliação psicopedagógica pode ajudar a identificar as dificuldades, assim como é preciso ter mais comunicação entre pais, professores e equipe médica. Só assim poderemos permitir que os alunos com TDAH desenvolvam todo seu potencial e tenham sucesso na vida escolar e em seus relacionamentos pessoais”, conclui Karina.
Um artigo da Cardiff University, no País de Gales, na Grã-Bretanha, publicado pela revista científica The Lancet aponta evidências da existência de uma raiz genética para o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). De acordo com cientistas, a condição não resulta da inabilidade dos pais em educar seus filhos, mas sim de uma condição que afeta o cérebro da criança, assim como o autismo. Foram analisadas partes de DNA de 366 crianças diagnosticadas com TDAH. O estudo, no entanto, é questionado por outros especialistas, que apontam que o TDAH é resultante de uma combinação de fatores genéticos e externos.
A Neurokinder elaborou algumas dicas que os professores podem aplicar em sala de aula:
1. Conte com uma rede apoio: um professor sabe o quanto pode ser desafiador lidar com alunos com TDAH. Procure construir uma rede de apoio para consultar, como psicólogos, pedagogos, médicos e os próprios pais.
2. Pergunte: Aproxime-se da criança e pergunte como ela gostaria de aprender, como seria mais fácil ela realizar determinada tarefa.
3. Respeite: Algumas crianças com TDAH apresentam momentos de inquietude, em que podem se balançar na cadeira, bater a caneta na mesa, etc. Se ela está realizando a tarefa e não está incomodando os colegas, procure respeitar esses movimentos.
4. Dê instruções curtas e claras: Alunos com TDAH precisam de uma comunicação muito objetiva e transparente, inclusive em enunciados de tarefas, como problemas de matemática. Procure fazer essa diferenciação, principalmente em provas.
5. Faça listas: O TDAH impacta diretamente na capacidade de organização. A dica é fazer listas com as tarefas do dia. Use outras estratégias, como amarrar uma fita no dedo, por exemplo, para lembrá-la de beber água ou de usar o banheiro. Tudo que ajudar na organização do dia a dia é válido.
6. Elogie sempre: O reforço positivo para quem tem TDAH é fundamental. Eles precisam ser reconhecidos quando fazem algo de forma adequada. O contrário também é verdadeiro, excesso de críticas e punições são desmotivadores. Lembre-se da parte emocional do aprendizado.
7. Estabeleça regras: Coloque em um lugar bem visível uma lista de regras, curtas e objetivas. Saber o que é esperado oferece segurança e aumenta a autoconfiança.
Fonte: Neurokinder