Números da Organização Mundial da Saúde (OMS) revelam que três em cada 10 tumores malignos estão ligados a hábitos evitáveis como tabagismo, consumo de álcool, sedentarismo, obesidade e exposição excessiva ao sol. O consumo de cigarros encabeça essa triste realidade, sendo apontado como a principal causa de morte evitável em todo o mundo, sendo responsável por acarretar a morte de mais de 5 milhões de fatalidades. No Brasil, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima em 200 mil por ano o número de mortes anuais pelo tabagismo. É como se o dobro de toda a população de Itaperuna, no interior do Estado do Rio de Janeiro, onde eu nasci, por exemplo, fosse dizimada todo ano em decorrência do câncer.
Além de ser o responsável por 90% das mortes por câncer de pulmão, o mau hábito de fumar acarreta ainda 30% das mortes por outros 11 tipos de câncer: das vias aéreas superiores (cavidade oral, língua, laringe, faringe), esôfago, estômago, pâncreas, fígado, intestino, rim, bexiga. Também está ligado ao desenvolvimento de câncer do colo de útero, ovário, mama e alguns tipos de leucemia. Uma pesquisa encabeçada pelo Instituto do Câncer do Estado de São Paulo mostrou que 65% dos casos de neoplasias de bexiga estão relacionados ao tabagismo.
As evidências estão aí para comprovar o que muitas pessoas ainda insistem em defender – de que é possível ter vida longa convivendo com o cigarro. Mas não é apenas um elevado número de casos de neoplasias malignas que o tabagismo provoca. Mais de 50 doenças têm relação com o uso do fumo, especialmente problemas ligados ao coração e à circulação, entre os quais estão os temidos infarto, e derrame cerebral (AVC).
Em entrevista exclusiva ao Canal do ViDA & Ação no Youtube, na segunda matéria da série Vida sem Fumo, o cardio-oncologista Élcio Novaes, do Inca, explica como o cigarro age no organismo, provocando reações que levam a diversos tipos de câncer e a doenças cardiovasculares.
O cigarro é o chamado fator de risco para aumentar a incidência de doenças. Produz uma doença cardiovascular sistêmica, com os vasos se deteriorando de dentro para fora, que provoca um processo obstrutivo crônico das artérios, culminando em complicações graves. Em primeiro lugar, está o infarto, a complicação mais temida, mais frequente e de maior risco cardiovascular”, destaca Dr Élcio Novaes.
Ele fala sobre o efeito devastador do cigarro, informando que apenas 20% dos doentes de câncer de pulmão sobrevivem, e confirma que o hábito é responsável por muitos outros tipos de casos, a maioria de péssimo prognóstico. “A cada dois pacientes de três fumantes vão morrer pelo uso do cigarro. Todo fumante vai morrer pelo cigarro, independentente do tempo que fume. Não dá pra brigar com as evidências em nenhum aspecto. Se não parar de fumar, vai morrer dele. Se parar de fumar, tem alguma chance”, destaca. Dr Élcio também fala sobre o papel dos médicos de convencer o cidadão a parar de fumar e obter mais saúde, qualidade de vida e bem-estar social.
Risco de câncer e doenças cardiovasculares
Com objetivo de chamar a atenção para a epidemia do tabaco e para as mortes que o hábito de fumar causa, a OMS criou o Dia Mundial Sem Tabaco, que acontece em 31 de maio e tem o simples objetivo de alertar a população sobre os perigos causados pelo hábito de fumar. A entidade afirma que as doenças relacionadas ao tabaco matam mais que tuberculose, Aids e malária juntas. Este ano, o tema é voltado a discutir os impactos do hábito de fumar no desenvolvimento de doenças cardiovasculares.
Um dos aspectos mais importantes para a prevenção do câncer diz respeito ao nível de evidências científicas que atribuem hábitos de vida ou exposição a substâncias ao desenvolvimento da doença. A Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC), órgão da OMS, estabelece uma série de critérios antes de classificar uma substância como carcinogênica, ou seja, capaz de provocar ou estimular o aparecimento do câncer em um organismo.
Segundo o médico oncologista Rafael Luis, do Grupo SOnHe – Sasse Oncologia e Hematologia, de Campinas, interior de São Paulo, a ciência mostra que as alterações genéticas provocadas pelo tabagismo são as causadoras das neoplasias malignas e os agentes carcinógenos presentes no cigarro entram nos tratos digestivos e respiratórios e no sangue, de onde chegam às diversas células do organismo. “Ao atingi-las, causam lesões ao DNA e podem levar a mutações nos genes, o que tem como consequência o aumento da chance desta célula se tornar maligna”, explica o especialista.
Primeiras pesquisas comprovam danos há mais de 100 anos
De acordo com o médico, cada tragada é responsável pela inalação de aproximadamente 4,7 mil substâncias tóxicas. As principais são a nicotina, associada aos problemas cardíacos e vasculares (de circulação sanguínea); o monóxido de carbono (CO), que reduz a oxigenação sanguínea no corpo; e o alcatrão, que reúne vários produtos cancerígenos, como polônio, chumbo e arsênio.
As primeiras evidências de que o tabaco mata são do final do século XIX, ou seja, há mais de 100 anos. Desde então, inúmeros estudos já confirmaram esses indícios. Estima-se que no Brasil, a cada ano, mais de 200 mil pessoas morram de forma precoce devido ao tabagismo. Isso sem levar em conta os danos ao meio ambiente e as doenças relacionadas ao tabaco, que podem afetar de forma significativa a qualidade de vida e gerar um custo enorme ao sistema de saúde.
São exemplos dessas doenças: enfisema pulmonar, bronquite crônica, asma, infecções respiratórias, angina, infarto agudo do miocárdio, hipertensão arterial, aneurismas, acidente vascular cerebral, tromboses, úlcera do aparelho digestivo; osteoporose; catarata; impotência sexual no homem; infertilidade na mulher; menopausa precoce e complicações na gravidez, entre outros”, alerta o oncologista Cristiano Guedes, do Grupo Oncoclínicas.
Alguns números
- O tabagismo mata quase 6 milhões de pessoas anualmente, sendo 600 mil vítimas do fumo passivo
- Até 2030, este número deve aumentar para 8 milhões
- Estimativas do Inca revelam que a incidência de câncer no Brasil em 2018 deve ficar em torno de 600 mil novos casos
- Em 2017, foram 156.216 mortes anuais em função do tabagismo, o que corresponde a 12,6% das mortes ocorridas no país
- O cigarro é responsável por 63% dos óbitos relacionados às doenças crônicas não transmissíveis
- Dessas, o tabagismo é a causa de 85% das mortes por doença pulmonar crônica (bronquite e enfisema)
- 30% por diversos tipos de câncer (pulmão, boca, laringe, faringe, esôfago, pâncreas, rim, bexiga, colo de útero, estômago e fígado)
- 25% por doença coronariana (angina e infarto)
- 25% por doenças cerebrovasculares (acidente vascular cerebral)
ESPECIAL VIDA SEM FUMO
Adolescentes que fumam correm mais risco de doenças crônicas
Com informações de Assessorias