A tuberculose é a segunda principal causa de morte por doença infecciosa em todo o mundo, superando HIV/Aids, segundo relatório divulgado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). De acordo com a OMS, cerca de 105 mil casos foram detectados em 2022 no Brasil.

Foram 87.344 casos diagnosticados e tratados, representando 83% de detecções – percentual 9,5% maior do que no ano de 2021, quando o país alcançou o índice de 75,8%. Com isso, o Brasil está entre os 13 países que conseguiram recuperar a detecção de pessoas com tuberculose após a pandemia de Covid-19, o que é fundamental para agilizar o tratamento dos pacientes.

A doença afeta principalmente os pulmões, mas também outros órgãos, como ossos, rins, cérebro, meninges, estômago e intestino. Caso seja pulmonar, é altamente transmissível. 

Muitos dos novos casos de tuberculose são atribuídos a cinco fatores de risco: desnutrição, infecção pelo HIV, transtornos por uso de álcool, tabagismo e diabetes. Por isso, a vacina BCG, ministrada na infância, é indicada para prevenir as formas graves da doença.

Doença prevenível, com altas taxas de cura

A tuberculose é causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis (também conhecida como bacilo de Koch).  Em casos mais raros, a doença também pode ser transmitida por outras micobactérias, como a Mycobacterium bovisM. africanum e M. microti.

A pesquisadora Érica Chimara, diretora técnica do Núcleo de Tuberculose e Micobacterioses do Instituto Adolfo Lutz, de São Paulo, destaca que a tuberculose é uma doença contagiosa, mas prevenível e com altas taxas de cura. Contudo, a médica ressalta que é necessário diagnóstico e conclusão do tratamento.

Cerca de 85% das pessoas que desenvolvem a doença são tratadas com sucesso em até seis meses. “É importante salientar a necessidade de seguir as orientações médicas e não abandonar os medicamentos, pois a interrupção destes traz complicações que podem levar o paciente a óbito”, destaca a médica.

Psicóloga buscou diagnóstico e tratamento no SUS

Entre os principais sintomas estão tosse – que pode ser seca ou com secreção e durar mais de três semanas -, produção de catarro, febre, sudorese noturna, cansaço, dor no peito e falta de apetite. Perdas de peso, falta de apetite, fraqueza também podem acompanhar. Ao identificar algum destes sinais, é essencial buscar atendimento médico para diagnóstico e tratamento.

Foram esses sintomas levaram a psicóloga Dâmaris Cristo a buscar ajuda há 24 anos. Após seis meses, Dâmaris conseguiu se consultar com um especialista, quando foi diagnosticada com tuberculose e encaminhada para o Sistema Único de Saúde (SUS), iniciando o tratamento com medicações, que durou um ano.

Começou com febre, suor à noite, muito cansaço e perda de apetite. Quando procurei a unidade de saúde, fui diagnosticada com pneumonia e medicada, mas logo percebi que os sintomas estavam piorando e eu comecei a emagrecer, além do cansaço ter aumentado bastante, assim como a febre e a sudorese. Logo quando eu tive o diagnóstico, o médico falou que tinha uma calcificação no meu pulmão esquerdo, que segundo ele não era reversível”, lembra.

Leia mais

‘O desafio era eu ou a doença’, diz paciente com tuberculose
Conheça as doenças que se confundem com tuberculose
Novo teste para tuberculose assintomática no SUS

Tuberculose é confundida com outros sintomas

Por ter sintomas parecidos com os de outros microorganismos, o diagnóstico da tuberculose torna-se mais difícil. De acordo com Stella Bozza Kapp, pneumologista dos hospitais Universitário Cajuru e São Marcelino Champagnat,  a doença pode ser confundida com outras, como foi o caso de Dâmaris.

silicose (doença causada pela inalação de pó de sílica),

infecções fúngicas,

neoplasias (principalmente câncer de pulmão),

infecções bacterianas,

outras micobacterioses,

doenças autoimunes,

embolia pulmonar

A doença não é transmissível por objetos compartilhados. Os bacilos que ficam depositados em roupas, lençóis, copos e talheres dificilmente se dispersam em aerossóis e, por isso, não têm papel importante na transmissão da doença.

A transmissão da tuberculose acontece por via respiratória e pelo contato com secreções eliminadas por tosse, fala ou espirro de uma pessoa com a doença ativa. Com o início do tratamento, o contágio tende a diminuir gradativamente, e em geral, após 15 dias, o risco é bastante reduzido”, afirma.

Doença pulmonar pós-tuberculose

A pneumologista Stella Bozza Kapp explica que os sintomas crônicos podem se manter mesmo após a cura da doença. “Os pacientes podem desenvolver sintomas respiratórios crônicos, como tosse e falta de ar persistente, além de redução da capacidade de exercício e da qualidade de vida”, esclarece.

Há pessoas que possuem a tuberculose latente, onde não há sintomas ou transmissão, e a bactéria fica inativa durante anos. Também há casos de pacientes que tiveram tuberculose podem desenvolver a doença pulmonar pós-tuberculose.

Essa enfermidade é caracterizada por vários graus de sequelas pulmonares funcionais e estruturais, como bronquiectasias (distorção dos brônquios), fibrose, espessamento pleural e diminuição da função pulmonar. Essas alterações aumentam o risco de contrair outras doenças infecciosas pulmonares, incluindo as causadas por bactérias, vírus e fungos”, explica a médica.

Leia ainda

Tuberculose: só 40% dos casos em penitenciárias são diagnosticados
16 cidades concentram 83% dos casos de tuberculose no RJ
Tuberculose resistente: esperança com sequenciamento genético
Tuberculose: queda na cobertura da vacina BCG aumenta riscos

Tratamento dura de seis meses a um ano

O tratamento para a tuberculose, que é gratuito e oferecido pelo SUS, pode durar de seis meses a um ano. Segundo a Dra. Stella, o esquema recomendado pelo Ministério da Saúde é composto por quatro medicamentos (comprimidos), sendo a rifampicina, isoniazida, pirazinamida e etambutol.

Além do tratamento para pacientes que estejam com a bactéria ativada, a principal forma de prevenção é a vacina BCG, oferecida gratuitamente pelo SUS e que deve ser aplicada logo ao nascer ou até os cinco anos de idade. Ela previne contra formas mais graves da doença.

A médica ainda faz um alerta: é importante avaliar os familiares e outras pessoas que o paciente teve contato e também tratar a infecção latente, quando diagnosticada, para que não desenvolva a forma ativa da tuberculose.

SUS tem exame que agiliza o diagnóstico da doença em até 10 dias

Exames moleculares identificam a bactéria e resistências com precisão e agilidade, facilitando o tratamento e diminuindo custos hospitalares e farmacêuticos

Uma das principais formas de diagnosticar a tuberculose é por meio do exame de escarro, que identifica o bacilo da doença. Outros métodos disponíveis para análise do escarro são a baciloscopia direta, a cultura para micobactérias e o teste rápido molecular, no qual o resultado pode ser liberado em poucas horas.

Esses exames são solicitados no paciente sintomático respiratório (paciente com tosse por mais de três semanas) e em caso de suspeita clínica e/ou radiológica de tuberculose pulmonar, independentemente do tempo de tosse”, destaca a médica.

Desde 2022, está disponível no SUS o teste em cultura líquida automatizada para detecção de micobactérias e o teste de sensibilidade aos antimicrobianos utilizados no tratamento da tuberculose, adotados pelos Laboratórios Centrais (Lacens) do país, que possibilita o diagnóstico em até 10 dias. Anteriormente, os resultados de exames saiam em até 40 dias.

O sistema automatizado de cultura líquida reduz o tempo de detecção das micobactérias com boa taxa de recuperação em relação ao meio de cultura sólido, além de permitir a realização do teste de sensibilidade a antibióticos para Mycobacterium tuberculosis”, destaca Érica Chimara.

Entre os testes para diagnóstico da tuberculose, a cultura em meio sólido ou cultura em meio líquido é o padrão-ouro. Segundo a médica, essa metodologia de exame pode “contribuir para o aumento da cobertura da realização dos testes em todo o país, de forma padronizada, constituindo uma estratégia importante para o diagnóstico oportuno e controle da tuberculose em âmbito nacional”.

Com Assessorias

Gostou desse conteúdo? Compartilhe em suas redes!
Shares:

Related Posts

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *