Não é somente a preocupação com a saúde humana, como vimos aqui. A Semana Mundial de Conscientização sobre o Uso de Antimicrobianos (18 a 24 de novembro) também destaca a importância da saúde animal. O uso excessivo e inadequado de medicamentos em animais de criação pode levar ao crescimento da resistência a antibióticos, uma séria ameaça à saúde pública global, como aponta a organização não-governamental Proteção Animal Mundial.

Um estudo realizado em parceria com a Universidade de Bolonha, aponta que três quartos dos antibióticos produzidos no mundo são usados ​​em animais tratados como commodities no sistema de pecuária industrial. Desse total, 80% da utilização têm como objetivo evitar que os animais, a exemplo de frangos e porcos, adoeçam por conta da baixa imunidade decorrente das condições de estresse às quais são submetidos, o que inclui, em muitos casos, até a mutilação durante o manejo. Ou ainda, para promover o crescimento e, consequentemente, o abate em tempo menor. Muitas aves sequer conseguem sustentar o peso do próprio corpo por conta desse processo de engorda.

“Essa prática impulsionou o surgimento de bactérias multirresistentes e nos deixa menos capazes de combater infecções. Se não mudarmos a forma como os animais são tratados, para que eles não precisem de doses preventivas de antibióticos, cirurgias comuns em humanos como cesarianas ou o tratamento de câncer podem se tornar perigosos, talvez impossíveis, porque os antibióticos não serão eficientes contra infecções”, alerta Karina Ishida, coordenadora de campanhas de sistemas alimentares da Proteção Animal Mundial.

O estudo conclui ainda que é possível reduzir significativamente o uso excessivo de antibióticos em fazendas industriais nas próximas décadas, mesmo com a expectativa de crescimento populacional e o aumento do comércio internacional de produtos de origem animal.

“Para isso, é importante estabelecer regulamentações e métricas harmonizadas para monitorar e rastrear o uso de antibióticos nas fazendas, garantindo a transparência da cadeia de abastecimento de alimentos em relação a essa questão. Isso permitirá também que os consumidores façam escolhas conscientes ao adquirir produtos de origem animal”, acrescenta a especialista.

Durante a Semana Mundial de conscientização sobre o uso de antimicrobianos, a Proteção Animal Mundial convida todos a considerar a conexão entre nossas escolhas alimentares e a resistência antimicrobiana. Ao optar por alimentos produzidos de maneira responsável e apoiar práticas de criação de animais que reduzam a dependência de antibióticos, podemos contribuir para um futuro mais saudável e sustentável para todos.

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Como a resistência antimicrobiana cresce no campo

O crescimento da resistência antimicrobiana em todo o mundo está relacionado aos sistemas de pecuária industrial e intensiva vigentes, como o das granjas de aves e suínos. Este modelo de produção de animais para consumo humano em larga escala confina os indivíduos em galpões ou gaiolas com alta densidade populacional, aumentando o risco de transmissão de doenças.

O uso indiscriminado de medicamentos e desinfetantes contamina os solos e afeta o bem-estar dos animais e, consequentemente, a saúde dos consumidores. Além dos riscos sanitários, os animais deste sistema são submetidos a procedimentos dolorosos, separados precocemente de suas mães e criados em ambientes sem estímulos, onde são privados de expressar seu comportamento natural.

Diante dessa realidade, os antibióticos são utilizados não só para tratamento de infecções reais e presentes (uso terapêutico), mas também para prevenir doenças de forma massiva (uso preventivo). Essa administração exagerada e irresponsável contribui para aumentar o processo natural de seleção dos microrganismos e causa o aparecimento de gerações de bactérias multirresistentes, a chamada Resistência Antimicrobiana (RAM).

A RAM ocorre quando microrganismos (bactérias, fungos, vírus e parasitas) sofrem alterações e adquirem resistência quando expostos a antimicrobianos — classe de medicamentos que, além dos antibióticos, inclui também antifúngicos, antivirais, anti maláricos e anti-helmínticos, por exemplo.

Consequentemente, torna-se mais difícil o tratamento de infecções , ampliando o risco de propagação de doenças graves e aumentando o número de mortes em humanos e animais. Portanto, sa questão requer macro ações preventivas que perpassam desde regulação relacionada ao bem-estar animal, protocolos sanitários mais exigentes e a responsabilização dos atores envolvidos na cadeia do produto.

Avanços da Petnologia: pets saudáveis, pessoas saudáveis

Não é só no campo que a Saúde Única está presente. Não podemos esquecer dos pets, que quando bem cuidados e saudáveis também protegem as pessoas que convivem com ele. Nossos cães e gatos também contribuem para manter as pessoas saudáveis, seja em saúde física ou mental.

Muitas doenças podem ser transmitidas entre animais de companhia e seres humanos. Por isso, a saúde dos animais de estimação é fundamental para evitar a disseminação de zoonoses, que são doenças infecciosas que podem passar de animais para humanos, como a leishmaniose, raiva e a febre maculosa.

A chegada da tecnologia também tem contribuído com a Saúde Única, isso porque a “petnologia” tem trazido produtos inovadores que auxiliam os tutores a cuidarem dos seus pets, fornecendo dados e informações de forma fácil, simples e intuitiva, além de compartilhar informações com o médico-veterinário para que ele tenha mais dados sobre o diagnóstico e o comportamento do pet. Com isso, a tecnologia, além de facilitar o cuidado com o nosso pet, permite o fornecimento de cuidados individualizados.

“Cada animal é único, com personalidade, estilo de vida e necessidades específicas de saúde. Ao adotar uma abordagem individualizada, os veterinários podem recomendar aos tutores tratamentos e produtos que levam em consideração essas particularidades, oferecendo resultados mais eficazes e duradouros, e a petnologia chega para contribuir com tudo isso”, explica Delair Bolis, presidente da MSD Saúde Animal. 

Na saúde animal, a promoção de práticas personalizadas e individualizadas, de acordo com a necessidade de cada animal são cruciais para mitigar esse problema. Atualmente, o mercado conta com soluções tecnológicas como monitoramento, identificação e rastreamento que ajudam o produtor a entender e melhor sobre o animal, além de ajudar na prevenção de possíveis doenças.

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Saúde Única: criação de animais impacta segurança dos alimentos

A Semana Mundial de Conscientização sobre o Uso de Antimicrobianos também reforça a importância do conceito de “Saúde Única”, que representa a interconexão fundamental entre a saúde dos animais, a humana e o meio ambiente, ou seja, como o cuidado com um setor reflete nos outros.

De acordo com especialistas, a saúde única começa no campo, na produção de animais, devido às diversas maneiras pelas quais a saúde dos bois, vacas, peixes, suínos e porcos afeta a saúde humana e ambiental. A falta de cuidado com a saúde desses animais pode ocasionar doenças que podem ser transmitidas aos seres humanos, as famosas zoonoses.

A produção de animais em fazendas é um ambiente propício para a disseminação de enfermidades que podem se espalhar para as pessoas. Portanto, a saúde animal adequada é fundamental para prevenir surtos de zoonoses.

A saúde dos animais de produção está diretamente relacionada à segurança dos alimentos que chegam à mesa das pessoas. Animais doentes podem ser portadores de patógenos que podem contaminar a carne, leite e outros produtos de origem animal. Garantir a saúde animal é essencial para a segurança dos alimentos.

Por isso, o bem-estar animal não poderia ficar de fora. A criação de animais sob condições insalubres e antiéticas pode resultar em sofrimento animal e, potencialmente, em problemas de saúde pública. A Saúde Única também aborda o bem-estar dos animais e sua relação com a saúde humana, por isso, é importante dar a atenção e se aprimorar neste assunto.

Como enfrentar esse grave problema

A Semana também  é uma oportunidade para reconhecer a importância da colaboração e conscientizar sobre como as ações em todos os setores estão interconectadas. Empresas do mercado de saúde animal também possuem uma grande responsabilidade para que esses três segmentos caminhem juntos. Produtores, empresas ou tutores de pets, a se unirem a essa causa e a compreenderem o papel fundamental que a Saúde Única desempenha em nossa sociedade.

Investir na prevenção da resistência antimicrobiana (RAM) exige o envolvimento de governos, prestadores de serviços de saúde, universidades, sociedade civil e empresas, que devem colaborar juntos em nível local, nacional e global para melhorar o tratamento de infecções, oferecer soluções que reduzam o uso de antibióticos para a prevenção das infecções e estabelecer medidas que, apoiadas por educação e treinamento, enfatizem a relação custo-benefício como foco principal.

A cooperação entre o governo, a indústria farmacêutica e os pesquisadores é fundamental para reforçar a resistência antimicrobiana e proteger a saúde humana, animal e ambiental a longo prazo.  As empresas têm que estar comprometidas em oferecer soluções e produtos inovadores,  pensando em toda a cadeia, desde a criação dos animais até o produto que chega na mesa do consumidor.

A MSD Saúde Animal, por exemplo, tem procurado atuar na promoção da saúde única e na integração desses elementos essenciais para uma sociedade saudável e sustentável por meio de iniciativas, produtos e soluções tecnológicas. Iniciativas como o programa Criando Conexões ajudam a democratizar os conhecimentos sobre bem-estar animal para produtores de forma simples, mostrando como as técnicas utilizadas promovem a criação de conexões entre homem e animal por meio de interações positivas durante todo o processo de manejo.

“Esses são alguns pontos importantes do agronegócio que influenciam na Saúde Única. E, claro, não podemos esquecer do impacto ambiental, tendo consciência do uso responsável de recursos naturais, redução de emissões de carbono, gestão eficaz de resíduos e conservação da biodiversidade”, completa o presidente da MSD Saúde Animal.

Com Assessorias

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