A ligação entre suicídio e ambiente corporativo é complexa. Entre 2003 e 2010, nos Estados Unidos, de acordo com o American Journal of Preventive Medicine, um total de 1.719 pessoas tiraram a própria vida no trabalho. Fatores como lesões por esforço repetitivo (LER), dores crônicas, depressão, assédio, síndrome de burnout e até medo do desemprego podem levar o indivíduo a um ato extremo, se não diagnosticadas e tratadas adequadamente.

Para o psiquiatra Claudio Cohen, professor Associado da Faculdade de Medicina da USP,  é preciso alertar as empresas sobre a importância do atendimento primário aos funcionários e, também, sobre a importância da promoção de um ambiente de trabalho saudável, seja ele presencial ou remoto.

“Depressão é tratável e o suicídio pode ser prevenido. É urgente a criação de programas privados e políticas públicas robustas que fortaleçam a pauta”, afirma Claudio Cohen, psiquiatra credenciado Omint e coautor dos livros “Bioética” e “Bioética direito e Medicina”.

Como identificar e lidar com gatilhos no ambiente de trabalho?

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o contato inicial com o suicida ocorre em clínicas, em casa ou no ambiente de trabalho. Ainda segundo o órgão, os sinais que merecem atenção são: comportamentos que denotam sofrimento emocional intenso, como quadros de depressão; comportamentos afastados e instáveis; mudanças drásticas de humor sem motivos aparentes; desesperança; avisos verbais que impliquem uma busca inconsciente de ajuda; entre outros.

Para prevenir o suicídio, a OMS explica que o primeiro passo é achar um lugar adequado onde uma conversa tranquila possa ser mantida com privacidade razoável e tempo necessário. “Conseguir estabelecer o primeiro contato e ouvir é, por si só, o maior passo para reduzir o nível de desespero suicida. O objetivo é preencher uma lacuna criada pela desconfiança, desespero e dar à pessoa a esperança de que as coisas podem mudar para melhor”.

Outra dica, se possível, é encaminhar a pessoa para um profissional de saúde mental ou a um médico para o atendimento primário, dentro ou fora da empresa, é fundamental”,  explica Dr. Claudio Cohen.

Mais diálogo sobre suicídio

O mês de setembro é marcado pela conscientização e prevenção do suicídio. De acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), a cada ano, cerca de 800 mil pessoas tiram a própria vida e um número ainda maior de indivíduos tenta suicídio. No Brasil, de acordo como Boletim Epidemiológico de Tentativas e Óbitos por Suicídio, cerca de 11 mil pessoas tiram a vida por ano, a maioria homens.

A pesquisa detectou também o aumento na taxa entre 2011 e 2015, bem como um crescimento nas lesões autoprovocadas — 69% das tentativas ocorrem entre mulheres ante 31% em homens, e os meios mais utilizados são envenenamento e intoxicação. Apesar dos homens serem minoria nas tentativas, são mais amplos entre as vítimas fatais por empregarem métodos mais letais, como armas de fogo e enforcamento.

“Hoje em dia, percebemos um movimento maior nas redes sociais, plataformas digitais e imprensa, mas ainda é pouco. Precisamos abrir as portas e estabelecer um diálogo mais aberto sobre este tema. É urgente quebrar este tabu e falar sobre suicídio”, comenta Claudio Cohen.

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