No Brasil existem quase 34 mil crianças e adolescentes – grande parte delas acima de 15 anos – abrigados em casas de acolhimento e instituições públicas semelhantes, informações do Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Destas, cerca de 4 mil estão prontas para a adoção, à espera de pessoas que as amem e cuidem delas, oportunizando crescerem de forma saudável, em um ambiente que as ampare plenamente.

Noutra perspectiva, muitos casais que têm dificuldades para obter a gestação, ou recebem um diagnóstico de infertilidade, encontram na adoção uma maneira de finalmente concretizar o sonho de constituir uma família. A fila passa dos 45 mil casais inscritos interessados em adotar uma criança, segundo dados da CNJ. Portanto, há mais pretendentes à adoção, do que crianças a serem adotadas. E não para por aí.

O último estudo realizado pela Famivita revelou que 61% dos brasileiros e brasileiras cogitam a adoção, sendo ela vista como uma alternativa. Nesse sentido, quem tem dificuldades para engravidar liderou as respostas positivas, com 67% afirmando que a adoção é uma ideia a ser pensada.

Por estado, os dados coletados mostraram que Tocantins foi a localidade em que mais pessoas revelaram ver a adoção como possibilidade, com 79% das  pessoas respondendo positivamente. Santa Catarina aparece com 70%, enquanto no Distrito Federal e em São Paulo, esse número foi de 64% e 61%, respectivamente. Já o Rio de Janeiro aparece no ranking com 56%.

Crianças HIV positivas e com problemas de saúde são rejeitadas

Nesta quinta-feira (25), é celebrado o Dia Nacional da Adoção, data que vem conscientizar sobre a importância de oferecer um lar para crianças e adolescentes que não tiveram a chance de crescer junto a uma família. Mas por que a fila ainda existe se há mais interessados do que crianças disponíveis?

Essa é mais uma romantização do tema. O Serviço de Acolhimento – estabelecimento que recebe crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade – oferece moradia provisória, com foco no retorno destas crianças às famílias ou encaminhamento para famílias substitutas, ou seja, nem todas as crianças acolhidas estão disponíveis para adoção.

Outro fator que contribui para tornar o processo mais lento são as “exigências” quanto à idade, raça, saúde etc. Na fila, por exemplo, há crianças acima de 15 anos (as mais rejeitadas), grupos de irmãos, HIV positivas, com problemas de saúde diversos. Quanto mais as crianças crescem, mais difícil de serem adotadas.

Segundo profissionais da área, é que a maioria dos candidatos a adotantes faz exigências e demonstra preferências, que por sua vez são parecidas. Por isso, existem muitos candidatos a adotantes concorrendo pela adoção das mesmas crianças.  Crianças brancas, sem irmãos, sem deficiência física ou cognitiva e com baixa idade costumam ser o perfil mais escolhido.

Grande parte dos adotantes prefere adotar crianças com até 2 anos de idade de modo que quanto mais velhas elas forem, menor a chance de adoção. E o que acontece é que, na prática, os infantes com mais de 10 anos têm chances mínimas de serem adotados.

Busca por ‘laços de sangue’ dificulta processo de adoção

Especialistas apontam que há uma forte questão cultural envolvida, referente aos chamados “laços de sangue”, ou seja, a consanguinidade. Assim, ocorre com certa frequência de os adotantes terem em vista semelhanças físicas, buscando uma espécie de comprovação dessa vinculação biológica, preferindo uma criança ainda bebê e que apresente traços físicos semelhantes aos da família pela qual será adotada.

O estudo feito pela Famivita revelou que para 28% dos participantes, a idade e/ou a aparência da criança seria levada em consideração. Nesse caso, 16% se importariam com a idade, 5% com a aparência, e 7% com ambos os fatores. Ainda de acordo com a pesquisa, entre as mulheres, 74% disseram não se importar com a idade e aparência, contra 57% dos homens.

Pais de Francisco estimulam mais processos legais

Alan e Patrick são pais há mais de um ano do Francisco, uma criança de 2 anos que foi adotada pelo casal em um processo de adoção legal. Eles utilizam as redes sociais para abordar com leveza e humor, o dia a dia da paternidade e desmistificar o processo de adoção, especialmente encorajando casais homossexuais.

Para estimular a adoção legal e desromantizar o tema, que é cercado de mitos que atrapalham o processo, o casal – que ficou conhecido nas redes sociais como ‘2 pais de Francisco’ – participa nesta quinta, 25/05, às 19h30, de uma live no Instagram sobre o tema adoção. A conversa será conduzida por Helga Martins, psicóloga e terapeuta, gerente de uma das três unidades do Serviço de Acolhimento da ONG PAC. 

“Debatermos sobre a adoção é cada vez mais urgente na nossa sociedade. Infelizmente, o tema ainda é cercado de mitos que colaboram com o desserviço e desencorajam pessoas a realizarem a adoção legal. Aliarmos a expertise do PAC a comunicadores tão potentes como o Alan e Patrick contribuem na disseminação da informação positiva sobre o tema”, comenta Fernanda Araújo, gestora de desenvolvimento institucional e responsável pela implementação das três casas de proteção especial de alta complexidade SAICA na ONG PAC.

PAC - Projeto Amigos da Comunidade 

Por isso, a ONG PAC (Projeto Amigos da Comunidade) – que há 20 anos, atende a população em situação de vulnerabilidade e/ou risco social no interior de São Paulo – acolhe cerca de 45 crianças, de 0 a 18 anos, oferecendo além de moradia provisória, cuidados com a saúde física e emocional, suporte escolar e os prepara para a possibilidade de retorno ao convívio familiar ou seguirem autônomos em suas próprias vidas.

A Organização Social sem fins lucrativos certificada pelo CEBAS – Certificação de Entidades Beneficentes de Assistência Social – atende a população nos distritos de Pirituba, São Domingos e Jaraguá (SP). Atualmente, conta com mais de 92 funcionários, cerca de 5.000 voluntários, 139 mantenedores via doação e sete empresas parceiras que subsidiam as oficinas promovidas pela organização: Zendesk, TOTVS, Serra do Mar, Co.Aktion, Elo, Sow e Netas.

Para mais informações sobre o PAC, (clique aqui).

No site do CNJ é possível encontrar o passo a passo da adoção (clique aqui)

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