Doença Inflamatória Intestinal é o termo usado para descrever inflamações crônicas no trato digestivo, ou seja, doenças que fazem com que o intestino esteja o tempo todo inflamado. As DIIs, como são chamadas, afetam 5 milhões de pessoas no mundo e crescem 15% ao ano no país. Sem causas exatas, o desenvolvimento das DII pode estar relacionado a fatores genéticos, ambientais e imunológicos.

Estresse, alterações na flora intestinal, aumento no consumo de alimentos processados e industrializados e maus hábitos de vida contribuem para o problema. Casos que não são tratados de maneira correta podem agravar os sintomas e acarretar no desenvolvimento de cânceres como o de intestino, que está afetando as cantoras Simony e Preta Gil e que vitimou os ex-atletas Pelé e Roberto Dinamite.

Nos últimos anos, tem-se observado um aumento significativo no consumo de alimentos ultraprocessados – que são caracterizados por passarem por diversas etapas de processamento industrial e que contém muitos aditivos, conservantes e ingredientes artificiais. No Brasil, segundo a Universidade de São Paulo, a ingestão dessa categoria aumentou 5,5% nos últimos 10 anos.

Como agem os ultraprocessados no intestino

Além do alto teor de açúcares, gorduras saturadas e sódio, que podem auxiliar no desenvolvimento de diversas enfermidades, esses alimentos estão relacionados ao aumento nos casos das doenças inflamatórias intestinais (DII).

Pobres em nutrientes como vitaminas, fibras e minerais, os alimentos ultraprocessados contêm aditivos alimentares e compostos inflamatórios, como ácidos graxos trans e ácidos graxos ômega-6 em excesso, que podem desencadear ou agravar os sintomas das DII.

“Esses alimentos desequilibram a flora intestinal e levam a uma resposta imunológica desregulada do intestino, que facilitam a inflamação crônica”, afirma Fernando Bray, cirurgião do aparelho digestivo do Hospital Santa Catarina – Paulista.

Além desses alimentos, estamos expostos a outros fatores que podem corroborar com o desenvolvimento dessas doenças como agrotóxicos, metais pesados, plástico e até talco.

“Algumas dessas substâncias, inclusive, são colocadas junto aos ultraprocessados para aumentar o tempo de armazenamento ou para dar consistência a eles. Outros fatores que também aumentam a possibilidade do desenvolvimento dessa doença são o etilismo, tabagismo, obesidade e o sedentarismo”, afirma o especialista.

Fernando Brazy ressalta que pessoas com ou sem as doenças inflamatórias intestinais precisam estar sempre atentas à alimentação balanceada e saudável. O foco deve ser em alimentos frescos, minimamente processados, ricos em nutrientes. É importante dar atenção especial para legumes, verduras, frutas, proteínas magras e grãos integrais.

A alimentação saudável pode ser responsável pela diminuição na probabilidade de desenvolvimento das DII e na melhora dos sintomas para quem já possui as enfermidades. Também é fundamental um acompanhamento com especialista para orientação individualizada e monitoramento adequado das DII.

Alimentação desbalanceada também prejudica as crianças

Estudo da Universidade Federal de São Paulo e Universidade de São Paulo, de 2022, estimou que os alimentos ultraprocessados são responsáveis pela morte prematura, dos 30 aos 69 anos, de 57 mil brasileiros. A pesquisa também observou que das 57 mil mortes, cerca de 60% eram de homens. Não só os adultos estão sofrendo com as consequências da alimentação desbalanceada e rica em alimentos ultraprocessados. Cada vez mais as crianças estão se alimentando de forma incorreta, o que pode gerar o desenvolvimento de doenças, como as DII, de forma mais precoce.

A Universidade Federal do Rio de Janeiro mostrou em estudo de 2021 que 80% das crianças brasileiras de até 5 anos consomem ultraprocessados com frequência, especialmente biscoitos, farinha e refrigerantes. Ademais, segundo o Sistema Nacional de Vigilância Alimentar e Nutricional, em 2022, mais de 340 mil crianças de 5 a 10 anos de idade foram diagnosticadas com obesidade, fator de risco para as DII e outras inúmeras doenças como diabetes e problemas cardiovasculares.

“As doenças inflamatórias intestinais podem acometer crianças, mas na grande maioria dos casos são por fatores genéticos, pois a criança ainda não teve tempo de se expor a um agente ambiental para desenvolver a doença. No entanto, é óbvio que o consumo desses alimentos desde cedo é um fator de risco enorme para elas no futuro. Mas, na infância, o principal responsável pelo desenvolvimento das DII é a genética”, diz o Dr. Fernando Bray.

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Alimentação para ajudar na saúde intestinal

A nutricionista Marilia Zaparolli, que atua no Eco Medical Center, reforça a importância de uma alimentação rica em vegetais, hortaliças, frutas, oleaginosas como castanhas, nozes e pobre em açúcar, farinha branca, adoçantes e produtos industrializados, contribui para a saúde intestinal e prevenção das Doenças Inflamatórias Intestinais (DIIs).

“Durante o tratamento das doenças intestinais, dependendo da fase e sintomatologia do paciente, há necessidade de reduzir ou até mesmo excluir a ingestão de álcool, cafeína, produtos com sorbitol (como balas sem açúcar e chicletes) e alimentos que aumentam a produção de gases (como feijão, repolho e batata doce), leite e derivados”, menciona.

A médica coloproctologista Luciana Clivatti, que também integra o corpo clínico do Eco Medical Center, em Curitiba, destaca a importância da alimentação saudável para o tratamento de pessoas que sofrem com essas condições.

“Sabemos que a alimentação sempre desempenha um papel importante na saúde de todos os indivíduos. E no caso da Doença Inflamatória Intestinal, esse papel ganha ainda mais destaque, já que estamos falando de uma doença que não tem cura, e que afeta diretamente a absorção de nutrientes. Por isso, o tratamento e o acompanhamento junto a uma equipe médica é essencial”, informa.

Sintomas e diagnóstico das doenças inflamatórias intestinais

Entre as doenças inflamatórias intestinais destacam-se a doença de Crohn e a retocolite ulcerativa. Condições crônicas, ambas são caracterizadas por uma inflamação contínua no intestino.

“Entre os sintomas mais comuns estão a dor abdominal, perda de peso, sangramento retal e diarreia. A principal diferença dessas enfermidades é que a doença de Crohn pode comprometer qualquer parte do tubo digestivo e a retocolite está restrita ao reto e ao intestino grosso”, explica Fernando Bray.

O tratamento visa a melhorar os sintomas como, dor, prisão de ventre e diarreia. Normalmente, os pacientes precisam fazer mudanças na alimentação e no estilo de vida, além de fazer uso de medicamentos em fases mais intensas da doença que provocam muito desconforto.

O paciente pode passar longos períodos sem manifestações clínicas, mas o problema sempre pode retornar, tanto por distúrbios intestinais quanto por fatores emocionais.

“Os sintomas variam de acordo com a gravidade e o local onde a inflamação acontece, mas alguns dos sintomas mais comuns são diarreia, fadiga e cólicas muito fortes, sobretudo após as refeições”, informa Luciana Clivatti.

Exames de rotina – como endoscopia e colonoscopia – são fundamentais para um diagnóstico precoce de doenças intestinais, especialmente para pacientes que possuem histórico familiar de câncer. Apesar de ser mais comum em idades avançadas, casos de câncer de intestino em pacientes jovens, a partir dos 20 anos de idade, também podem ocorrer.

Número de pessoas com DIIs no Paraná aumenta 550%

O número de pessoas com doenças inflamatórias intestinais no Paraná aumentou em 550% entre os anos de 2011 e 2019. De acordo com o primeiro e mais recente estudo publicado sobre o tema, a incidência de doenças inflamatórias intestinais (DII) passou de 2 em cada 100 mil habitantes em 2010, para 13,77 pessoas a cada 100 mil habitantes em 2019.

O estudo analisou 4.931 pacientes (73,1%) portadores de retocolite ulcerativa e outros 1.817 (26,9%) com doença de Chron. Nos pacientes entre 11 a 30 anos a doença de Crohn foi mais comum, enquanto naqueles com idade entre 40 e 80 anos a retocolite ulcerativa predominou, especialmente no sexo feminino.

A macrorregião leste do Paraná – que abrange os municípios de Curitiba, Adrianópolis, Agudos do Sul, Almirante Tamandaré, Araucária, Balsa Nova, Bocaiúva do Sul, Campina Grande do Sul e Campo do Tenente – é a que concentra os maiores números de diagnóstico da doença segundo o levantamento.

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