Nos primeiros 30 dias do programa Vacina na Escola, lançado em 15 de agosto, 28.489 doses de imunizantes diversos foram aplicadas em crianças e adolescentes que estudam em escolas públicas e privadas na cidade do Rio de Janeiro. Do total de doses aplicadas em um mês, 11,5 mil ( 6.610 meninos e em 4.951 meninas) foram da vacina HPV quadrivalente, que previne contra, entre outros tipos de câncer, o de colo de útero.

A ação é fundamental considerando que o Estado do Rio de Janeiro lidera as estimativas de câncer de colo do útero na Região Sudeste do país, com prevalência de 11,76 casos para cada 100 mil mulheres. Porém, o número é três vezes menor comparado com Estado do Amazonas, que lidera as estimativas de câncer de colo do útero no país, com prevalência de 31,71 casos para cada 100 mil mulheres. São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo registram, respectivamente, 7,58, 7,73 e 9,40, casos para cada 100 mil mulheres.

O secretário municipal de saúde, Daniel Soranz, destacou que a imunização contra o HPV entre as que precisam chegar aos adolescentes. Ele explica que a vacina garante maior proteção se for aplicada antes do início da vida sexual e o vírus contra o qual ela protege é o maior causador de câncer de colo de útero, além de estar associado a tumores malignos no pênis, ânus e garganta.

“A vacina prioritária é a vacina do HPV, porque é uma vacina que salva vidas no longo prazo, prevenindo o câncer de colo de útero e outros cânceres”, explicou o secretário à Agência Brasil. Até 15 de setembro, 1.220 instituições de ensino receberam as equipes de vacinação e cerca de outras 500 serão contempladas nas próximas semanas. “A gente pretende aplicar todas as vacinas do calendário. A expectativa é que a gente vacine ou pelo menos confira a caderneta de 600 mil crianças nesse processo”, disse o secretário.

Vacina do HPV previne contra vírus transmitido na relação sexual

Desde 2014, a vacina HPV quadrivalente é oferecida gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos. O Programa Nacional de Imunização (PNI) também oferece a vacina a homens e mulheres até os 45 anos que vivem com HIV/AIDS, transplantados de órgãos sólidos ou medula óssea e vítimas de violência sexual.

O imunizante age na prevenção de lesões genitais pré-cancerosas de colo de útero e contra as verrugas genitais em mulheres e homens, estimulando o organismo a produzir anticorpos que vão agir contra o vírus, transmitido durante a relação sexual.  A indicação, portanto, é que a aplicação da vacina seja anterior ao início da vida sexual, antes do possível contato com o vírus, por isso a faixa etária adotada pelo PNI.

Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o câncer de cólo do útero atinge 17 mil brasileiras a cada ano e, em 2021, causou 6.606 óbitos no país, o que representa uma taxa de 6,06 mortes a cada 100 mil mulheres. A neoplasia de colo de útero é o quarto tipo de câncer que mais atinge mulheres no mundo. O HPV também pode causar câncer de pênis, ânus, vulva, vagina e orofaringe.

Para cada ano do próximo triênio (2023-2025) as estimativas do Inca apontam para 32 mil novos casos de câncer ginecológico, um dos mais incidentes nas mulheres, sendo que os três órgãos do sistema reprodutor feminino mais acometidos por tumores malignos são os de colo do útero, ovário e corpo do útero (endométrio), que somam 32,1 mil novos casos anuais, o que representa 13,2% de todos os casos de câncer diagnosticados nas brasileiras.

Vacinação nas escolas só com autorização dos pais

O Programa Vacina na Escola, da Prefeitura do Rio, faz parte da campanha Vacina, Rio, uma grande mobilização intersetorial que engloba um conjunto de iniciativas para estimular a imunização dos cariocas de todas as idades e em todas as regiões do município.

A iniciativa é voltada para as escolas das redes municipal e estadual localizadas na cidade e aberto também para as unidades privadas que queiram participar. Todos os imunizantes dos calendários da criança e do adolescente são disponibilizados no programa, conforme a faixa etária dos alunos de cada unidade.

A vacinação nas escolas é voluntária e precisa ser autorizada pelos pais dos alunos, por escrito ou presencialmente. O aluno deve levar sua caderneta de vacinação para avaliação pelos profissionais de saúde, que aplicarão as doses necessárias para atualização dos esquema vacinal.

Especialistas recomendam vacinação em escolas para aumentar adesão

A dificuldade de aumentar a cobertura vacinal de adolescentes tem levado especialistas a sugerir a vacinação em escolas como uma solução eficaz para aumentar a imunização desse público, levando a vacina até eles, no espaço em que estão presentes com mais frequência. A proposta ganha força no momento em que imunizantes com histórico de atingirem metas do Programa Nacional de Imunizações (PNI) estão com baixas coberturas. 

A chefe de saúde do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) no Brasil, Luciana Phebo, defende a vacinação nas escolas como uma forma de acelerar a retomada das coberturas vacinais, que precisam ser recuperadas antes que doenças controladas por elas voltem a incidir no país, como a paralisia infantil.

“Outros setores como a educação devem trabalhar junto com o SUS e o Programa Nacional de Imunizações. Se as escolas não atuarem junto, nós não vamos conseguir dar essa aceleração”, afirma Luciana Phebo. Para a especialista, atuação vai além de vacinar nas unidades de ensino.

“Vacinação nas escolas, campanhas de vacinação, educação em saúde, trazendo para a escola essa temática da saúde como importante para se cuidar, do autocuidado dos pais e mães, o cuidado com as crianças pequenas. A vacinação é uma questão legal. A criança tem o direito a ser protegida”.

Estratégia também disponível no Acre e Amazonas

Vacinar nas escolas já faz parte dos planos do Ministério da Saúde para enfrentar as baixas coberturas vacinais. A estratégia de multivacinação adotada no Amazonas e no Acre desde junho, por exemplo, prevê essa ação entre as possibilidades de vacinação fora dos postos de saúde.

A vacinação de crianças e adolescentes nas escolas deve incluir o apoio de profissionais de saúde da atenção primária, para leitura de caderneta de vacinação, a vacinação propriamente dita, e o  registro de doses aplicadas no Sistema de Informação Oficial do Ministério da Saúde. O público prioritário para essa ação são as crianças e os adolescentes de 9 a 15 anos de idade, e as vacinas oferecidas são dT, Febre Amarela, HPV, Tríplice Viral, Hepatite B, Meningite ACWY e Covid-19.

O Ministério da Saúde orienta ainda que a vacinação escolar deve ser precedida de ação pedagógica e de divulgação voltada aos estudantes sobre a importância da vacinação. Caso o responsável não queira autorizar a vacinação da criança ou adolescente, ele deverá ser orientado a assinar e encaminhar à escola o “Termo de Recusa de Vacinação”.

‘Se não levar, eles não vão ao posto’, diz pediatra

A diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações, Isabela Ballalai, conta que trabalhou em vacinação nas escolas ao longo de sua carreira e afirma que as experiências e estudos sobre o tema mostram que essa é uma estratégia necessária.

“Em 1993, fiz minha primeira campanha vacinal em escolas, e, sem dúvida nenhuma, a literatura, a minha prática, a prática do Ministério da Saúde, mostram o quanto isso é importante. Essa estratégia ainda é usada no Brasil como uma forma de acesso, principalmente para adolescentes. Se não levar, eles não vão ao posto, então, é muito importante”, disse a médica pediatra à Agência Brasil.

Além de abrir as portas para a vacinação, ela defende que as escolas podem contribuir como promotora da saúde, com a educação em saúde. “A escola pode contribuir muito com a confiança na vacinação, com a lembrança das próximas doses, colocando esse tema, que é considerado transversal pelo Ministério da Educação, no seu planejamento pedagógico. Saúde e educação precisam andar juntas”.

A importância e as facilidades trazidas pela vacinação nas escolas também são reconhecidas por parte das mães brasileiras. Uma pesquisa realizada com duas mil mães no ano passado chegou a um percentual de 76% que consideram a escola como o lugar ideal para a vacinação infantil. O estudo foi realizado pela farmacêutica Pfizer e pelo Instituto Locomotiva e divulgado em abril deste ano. As respostas indicam que as mães gostariam de ser ajudadas pela escola a manter o calendário vacinal em dia.

Oito em cada dez mães concordaram com a frase “seria muito prático se a vacinação do/da meu/minha filho/filha pudesse ocorrer dentro da escola”, e, para 85%, “se houvesse a possibilidade de a vacinação ocorrer na escola a cobertura vacinal infantil poderia ser maior”.

O questionário aplicado nas cinco regiões do país também mostrou que 81% das entrevistadas ficariam seguras com a vacinação dentro da escola se soubessem que ela seria realizada por profissionais de saúde qualificados. Segundo a pesquisa 91% das mães afirmam que provavelmente autorizariam os filhos a receber as doses na escola.

Saiba mais sobre o HPV

O papilomavírus humano (HPV) é um vírus que pode causar câncer do colo de útero e verrugas genitais. Geram lesões benignas, pré-invasivas ou invasivas, como o câncer de colo do útero (responsável por 99,7% dos casos) e outros tipos de câncer de órgãos genitais. Outro dado aponta que 80% da população sexualmente ativa contrai a infecção pelo HPV pelo menos uma vez na vida.

A vacinação contra o HPV é um dos grandes aliados para o controle dessa doença. A Sociedade Brasileira de Pediatria, a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) também recomendam a vacinação de mulheres de 9 a 45 anos e homens de 9 a 26 anos, o mais precoce possível.

A doença também pode ser prevenida com acesso ao exame de Papanicolau, também disponível no SUS, alerta o Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológico (EVA), criadora da campanha Setembro em Flor, de conscientização sobre cânceres do aparelho reprodutor feminino.

Campanha Setembro em Flor

A campanha que marca o mês de conscientização do câncer ginecológico foi criada em 2021 pela oncologista clínica Andréa Paiva Gadêlha Guimarães, diretora do EVA e coordenadora de Advocacy.

A ação surgiu de uma carência de conhecimento da população brasileira sobre os tipos de cânceres que acometem o aparelho reprodutor feminino: câncer de colo de útero, ovário, endométrio, vagina e vulva.

Durante as atividades, que ocorrem anualmente em setembro, o foco é conscientizar a população feminina sobre os sintomas e formas de prevenção.

Sintomas de tumores ginecológicos

Embora muitos tumores se apresentem de forma assintomática, principalmente nos estágios iniciais, a maioria se desenvolve com os seguintes sintomas:

Sangramento vaginal fora do ciclo menstrual;
Sangramento vaginal na menopausa;
Sangramento vaginal após a relação sexual;
Corrimento vaginal incomum;
Dor pélvica;
Dor abdominal;
Dor nas costas;
Dor durante a relação sexual;
Abdômen inchado;
Necessidade frequente de urinar.

Diagnóstico de câncer ginecológico

Em caso de suspeita de câncer ginecológico, é necessário realizar uma série de exames minuciosos para definir o histórico correto da paciente e chegar ao diagnóstico preciso, tais como:

Ultrassom;
Radiografia;
Tomografia computadorizada;
Ressonância magnética;
Tomografia por emissão de pósitrons;
Após esses exames é fundamental que seja feita uma biópsia para confirmar o diagnóstico.

Além disso, é essencial avaliar a natureza do tumor. O sistema de estadiamento varia, mas geralmente essas neoplasias são classificadas em quatro níveis diferentesdesde o inicial (Estágio I) até o mais avançado (Estágio IV).

Fonte: SMS-Rio, EVA e Agência Brasil (atualizada em 27/9/23)
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