Que os pacientes oncológicos necessitam de cuidados específicos não é novidade para quem passa pelo tratamento, seus familiares e cuidadores. No entanto, nem todos sabem que o tratamento oncológico gera uma baixa na imunidade do paciente que pode desencadear alterações na cavidade bucal, causando problemas como xerostomia (boca seca) e feridas na boca. A publicação Ciência e Saúde indica que 70% dos pacientes oncológicos são submetidos a sessões de quimioterapia e/ou radioterapia e que 40% sofrem manifestações orais.

Segundo dados de uma pesquisa realizada recentemente com 100 pacientes oncológicos da região do Vale do Paraíba, publicada no portal Archives of Health Investigation, sobre o tema “Conhecimento de Paciente em Tratamento Oncológico sobre Saúde Bucal”, menos da metade, ou seja, 45% dos pacientes foram ao dentista nos últimos 12 meses. A pesquisa indica que 42% usavam como artifícios para a higienização somente escova e pasta; e 51% acreditavam que a quimioterapia não teria efeito algum na cavidade bucal.

Um desses problemas é a mucosite, doença causada por ulcerações fortes advindas de quimioterápicos que atacam não só as células cancerígenas mas também as da mucosa gastrointestinal, e de radioterapia. Por isso, o cuidado odontológico antes, durante e após o tratamento é primordial para prevenir alterações e efeitos colaterais na região oral em decorrência da terapia adotada.

Preta Gil revelou recentemente que está fazendo tratamento de mucosite e enfatizou a importância da avaliação odontológica em tratamentos contra o câncer: “Procure um odonto/dentista que faça esse procedimento e melhora muito”, disse a cantora em seus stories no Instagram.

Além da mucosite, pessoas em tratamento de câncer podem sofrer lesões fúngicas, como a candidíase oral, lesões herpéticas, alteração do paladar, dificuldade de deglutição, integridade dos dentes e mucosa oral, entre outras.

Mas afinal, o que é a mucosite?

A dentista Karina Moreno, formada em odontologia pela USP, explica que a mucosite se desenvolve como uma inflamação na mucosa oral, podendo surgir grandes úlceras e aftas na região, que podem estar ou não cobertas de muco, causando dores muito grandes para o paciente e impossibilitando a ingestão de determinadas comidas e líquidos.

“O tratamento é realizado por dentistas e não pode ser ignorado. A ausência do acompanhamento odontológico em casos de mucosite pode resultar na paralisação do processo de combate ao câncer, comprometendo ainda mais a saúde do paciente. A indicação é que o processo seja feito três a cinco vezes por semana visando que o paciente volte a se alimentar, normalizando a rotina nesse sentido”, ressalta.

Bruna Sabino, médica estomatologista e bucomaxilo do Vera Cruz Hospital, diz que para evitar esses problemas, é necessário que todos os pacientes oncológicos façam acompanhamento com um cirurgião-dentista. A indicação pode partir, inclusive, do oncologista.

“Em casos de pacientes com câncer de boca, o cuidado deve ser ainda maior. Como envolve cirurgia na região oral e os tratamentos de quimioterapia e radioterapia são bem agressivos para a boca, há a necessidade de uma avaliação antes do início do tratamento e de acompanhamento devido ao risco de osteonecrose dos maxilares pela radiação”, explica.

Laserterapia de baixa potência pode ajudar no tratamento

Outro fator importante é que a área de odontologia focada na oncologia tem um olhar diferenciado para a tecnologia e a busca de alternativas que atuam sobre um problema, desde que não impliquem em maiores consequências para o paciente, que já está debilitado. E, neste quesito, a médica aborda um dos mais recentes avanços.

Segundo Katia Moreno, o procedimento com laser, aplicado diretamente na mucosa oral, é o mais indicado nesses casos. “A aplicação acontece em toda a cavidade oral utilizando lasers de baixa potência, vermelho e infravermelho, capazes de modular o processo inflamatório e amenizar os efeitos de dor, trazendo uma cicatrização mais rápida e eficaz”.

“A laserterapia de baixa potência, por promover efeitos biológicos benéficos por meio do fenômeno de bioestimulação, de caráter analgésico, anti-inflamatório, cicatrizante e para reparo de tecidos lesionados, é muito bem aceita pelos pacientes, uma vez que tem alta efetividade. É uma técnica não invasiva e atraumática”, destaca Bruna Sabino.

Embora haja muitas evoluções na oncologia, em termos de tratamento oncológico, a médica explica que o cuidado bucal em casa também precisa ser intensificado. Algumas avaliações, tais como um raio-X panorâmico, permitirão um plano adequado para a higiene bucal, uma vez que nem todos os casos oncológicos incluem, por exemplo, o uso de fio dental durante o tratamento.

“Também há uma avaliação no caso de uso de próteses orais. Por via de regra, devem ser mantidos o uso de escova macia e enxaguante bucal apropriado e indicado pelo dentista, bem como o uso de pasta dental específica, capazes de garantir uma boa higiene oral”, finaliza.

Medicações para câncer e osteoporose podem causar problemas bucais

Algumas medicações usadas no plano terapêutico, como antiangiogênicos e antirreabsortivos, também podem desencadear tais problemas. E a médica alerta que essas medicações também são usadas por pessoas com osteoporose, sendo necessário acompanhamento odontológico.

Bruna Sabino lembra ainda a importância da inclusão do dentista em uma equipe multidisciplinar que acompanha o paciente oncológico. No caso da oncologia, é preciso desenvolver uma relação multidisciplinar, enxergar o paciente como um todo. O profissional de odontologia deve atuar na equipe oncológica com o objetivo de prevenir complicações bucais e controlar os efeitos colaterais da radioterapia e quimioterapia.

Para cuidar da boca dos pacientes diagnosticados com câncer, o especialista mais indicado é o cirurgião-dentista oncológico. E a médica explica a razão de ter esse profissional por perto. “O cirurgião-dentista oncológico não avalia apenas a boca do paciente, mas também a medicação que ele usa, os exames que realiza e os tratamentos que faz”, ressalta.

O cirurgião-dentista atua antes, durante e após o tratamento do câncer, atua também no diagnóstico de lesões cancerígenas na boca, atua em conjunto com os médicos em geral e atua em centro cirúrgico junto com o médico de cabeça e pescoço e toda a equipe de bucomaxilo”, fala ela sobre a complexidade do acompanhamento.

Com Assessorias

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