O Rio de Janeiro ostenta hoje um título nada agradável quando o assunto é saúde pública: o estado é o segundo pior de todo o país em cobertura vacinal. A meta do Ministério da Saúde é vacinar 90% dos bebês com menos de um ano, e o percentual fluminense só foi maior que o do Espírito Santo, onde somente 63% dos bebês foram vacinados.

O estado também tem a segunda menor cobertura vacinal contra a poliomielite e ocupa essa mesma posição em relação à cobertura da vacina pentavalente, que previne contra difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e contra a bactéria haemophilus influenza tipo b.

Os casos graves de tuberculose podem ser prevenidos com a vacina BCG, uma das mais conhecidas e antigas no Sistema Único de Saúde (SUS), mas a cobertura atingida pelo estado no ano passado ficou em apenas 76%, segundo o Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI), quando o ideal é no mínimo 90%.

“Os nossos índices de vacinação são muito duros, por isso, precisamos fazer um esforço muito grande para superar essa dificuldade”, reconheceu o secretário de Saúde do Rio de Janeiro, Dr. Luizinho.

Reforçar o apoio às prefeituras para acelerar a informatização das salas de vacinas e estimular a população com campanhas de mobilização para o cumprimento integral do calendário de vacinação de rotina e da tuberculose foram as principais ações anunciadas aos representantes de 92 municípios fluminenses em reunião nesta sexta-feira (14/7), na sede da Secretaria de Estado de Saúde (SES-RJ).

Ameaça de corte de recursos do SUS

Preocupado com as coberturas vacinais no estado, Dr Luizinho anunciou um conjunto de propostas como abertura dos postos de saúde sete dias por semana, com horário ampliado, de segunda a domingo, das 8h às 20h; informatização das salas de vacina e estímulo a campanhas de mobilização para o cumprimento integral do calendário de vacinação de rotina.

Ele também prometeu cobrar resultados dos municípios, inclusive ameaçando corte de recursos aos que não atingirem as metas.

“Vou levar à Comissão Intergestores Bipartite do Estado do Rio de Janeiro (CIB) uma proposta pela qual, a partir de 2024, os municípios que não atingirem os índices de vacinação não terão repasse de recursos do estado”, comentou, em reunião nesta sexta-feira (14) com representantes da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), após a inauguração do Centro de Inteligência em Saúde (CIS).

Fazem parte do Calendário Nacional de Vacinação do Ministério da Saúde (MS) os imunizantes BCG, Hepatite A e B, Poliomielite (VOP), Tetraviral, Tríplice Viral, HPV, Influenza, Febre Amarela, Covid-19, Meningocócica ACWY, Pneumocócica, dentre outras.

O período para aplicação de cada vacina varia de acordo com a idade: a criança deve tomar 18 vacinas; o adolescente, sete; na fase adulta e idosa são seis; e, para as gestantes, cinco imunizantes estão disponíveis. Todas as vacinas estão disponíveis na rede pública de saúde brasileira.

Mais um pacto contra a tuberculose é anunciado

O secretário também anunciou um novo pacto para reduzir o número de casos de tuberculose – no ano passado, pacto semelhante já havia sido anunciado. Dr Luizinho disse que o estado adquiriu testes rápidos e pretende montar uma rede para ajudar os municípios a trazer os exames colhidos para detecção da doença. Ele também prometeu levar tomógrafos móveis a presídios, onde condições precárias de ventilação e higiene favorecem a disseminação da doença.

“Fizemos aquisição de testes rápidos, que são úteis nos casos negativos, e vamos montar uma rede para ajudar os municípios a trazer os exames colhidos para detecção da doença. Com a contratação de um tomógrafo móvel, vamos entrar nos presídios e ficar lá por 30 dias para diagnosticar e tratar a tuberculose”, destacou o secretário de Estado de Saúde, Dr. Luizinho.

Ex-secretário estadual de Saúde até o ano passado, Alexandre Chieppe, que hoje é presidente do Instituto Vital Brazil (IVB), disse que o estado dois grandes desafios: o enfrentamento à tuberculose, principalmente entre a população carcerária, e a elevação da taxa de vacinação da população em geral.

“Não dá pra gente esperar que o paciente com tuberculose procure uma unidade de saúde, que nossas emergências tenham pacientes com suspeita da doença sem que haja um grande movimento de retirá-los de lá. Temos também que ter um olhar especial para a população carcerária se quisermos reduzir os casos da doença”, disse Chieppe.

Segundo ele,  é preciso implantar estratégias inovadoras porque os indicadores não melhoraram nos últimos anos. “Apoio uma frente estadual de aumento à cobertura vacinal, como mobilização do parlamento, poder público e sociedade organizada”, defendeu.

Cláudia Mello, subsecretária de Vigilância e Atenção Primária à Saúde, disse que a secretaria tem profissionais da ponta na área de vigilância sanitária, epidemiológica e ambiental. E que a pasta tem feito uma força-tarefa para melhorar os índices vacinas e atuar contra a tuberculose. E colocou as equipes à disposição dos municípios para colaborar com ações de enfrentamento à tuberculose e de ampliação da cobertura vacinal.

Números de tuberculose no RJ preocupam a Opas/OMS

Presente ao evento, o diretor da Organização Pan-Americana da Saúde/OMS, Jarbas Barbosa da Silva,  destacou a importância dos municípios no processo de recuperação das coberturas vacinais, já que as soluções devem ser elaboradas a partir da visita às salas de vacina. Barbosa também destacou que é preciso aprimorar a qualificação do profissional de saúde que aplica o imunizante, além de investir em estratégias de comunicação.

“Desde 2015, o Brasil apresenta queda na cobertura por diversos motivos. A percepção das pessoas em campanhas exitosas é um dos fatores. Temos que ter informação de qualidade, visitar as salas de vacinação e trabalhar com estratégia. A descentralização da imunização é importante porque ninguém tem mais conhecimento que os municípios”, comentou.

Segundo ele, a estratégia de comunicação também é fundamental para evitar rumores de dados incorretos e contra-atacar de forma imediata. “A OPAS está mobilizada junto ao Ministério da Saúde para desenvolver novas estratégias de comunicação com lideranças políticas, religiosas, comunitárias, ou seja, fazer um pacto social em defesa do direito das crianças de terem acesso à vacinação”.

Causas da baixa cobertura vacinal

A Subsecretaria de Vigilância e Atenção Primária à Saúde da Secretaria de Estado de Saúde apresentou um estudo sobre as causas da baixa cobertura vacinal no estado.

Entre os principais problemas identificados que interferem no registro das vacinas estão as constantes atualizações do sistema de informatização do governo federal, a lentidão da internet das prefeituras, a ausência ou alta rotatividade de funcionários, a inexistência ou defasagem de softwares, o desconhecimento do sistema de informação e a centralização dos registros.

O relatório também identifica o que pode estar interferindo nas baixas coberturas vacinais, sendo o descaso dos responsáveis pelas crianças em idade de serem vacinadas com relação à importância das vacinas o problema mais citado pelas prefeituras. Estão ainda na lista dos problemas o desconhecimento do sistema de informação, a centralização dos registros, a falta de investimentos pela gestão municipal e os lotes de vacinas não cadastrados.

Soluções para melhorar a cobertura vacinal

– Além do apoio às prefeituras para acelerar a informatização das salas de vacinas e campanhas de mobilização para a população a cumprir integralmente o calendário de vacinação de rotina e da tuberculose, as ações desenvolvidas pela SES-RJ para superar o panorama atual da baixa cobertura vacinal envolvem ainda:
– Discussão junto ao MS para promover melhorias nos sistemas de informações oficiais e terceirizados;
– Avaliação de estratégias para contratação de funcionários para a Atenção Primária em Saúde; Promoção de articulação com as escolas;
– Realizar ações de vacinação extramuros;
– Realizar busca ativa de faltosos e de não vacinados com os ACS (agentes comunitários de saúde);
– Promover oficinas para esclarecimento de dúvidas da população sobre a importância da vacinação;
– Estimular os municípios a ampliar o horário de funcionamento nas unidades de Atenção Primária à Saúde (APS);
– Promover ampla divulgação das ações de vacinação na mídia;
– Realizar capacitação contínua das equipes de vacinação;
– Realizar aquisição de equipamentos de informática;
– Realizar qualificação do registro de vacinados;
– Realizar parceria com os demais dispositivos públicos (intersetorialidade) – Universidades, Sociedade, Conselhos, Fiocruz;
– Realizar campanhas de vacinação conforme cenário epidemiológico vigente

Fim de semana com vacinação em áreas de lazer

O fim de semana traz boas opções para o carioca se proteger contra a covid-19, a gripe e a hepatite B sem abrir mão do lazer. A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) montará pontos de vacinação na Quinta da Boa Vista e no Parque do Flamengo. A iniciativa faz parte dos esforços da SMS para ampliar a cobertura vacinal e proteger a saúde da população.

Na Quinta da Boa Vista, a imunização ocorrerá no sábado e no domingo, dias 15 e 16, durante o evento “Domingo com Ciência na Quinta” realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O ponto de vacinação estará montado na Alameda das Sapucaias, das 9h às 16h.

Já no Aterro do Flamengo a vacinação acontecerá no domingo, durante o  Circuito Carioca de Artes e Cultura. O PV estará localizado próximo ao Teatro Carlos Werneck (Posto 3) e funcionará das 9h às 14h.

Para se vacinar, os interessados devem apresentar um documento de identificação e, se possível, a caderneta de vacinação. Podem receber a dose de reforço bivalente contra covid-19 todas as pessoas com 18 anos ou mais. Nos PVs, a vacina da gripe estará disponível para adolescentes a partir dos 12 anos. Para as crianças, a indicação é de que sejam levadas a uma unidade de saúde.

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