Géis e pomadas modeladoras facilitam muito para domar os cabelos na hora do penteado e fixar os cabelos no lugar ao longo de todo o dia. Mas também podem representar um risco à saúde, especialmente dos olhos e da pele do rosto. Nas últimas semanas, tem crescido o número de casos que associam graves prejuízos oculares ao uso de pomadas capilares utilizadas para modelar e fixar penteados.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tem investigado marcas e fabricantes relacionados às reações adversas, que já levaram centenas de pessoas às unidades de pronto atendimento em diversos estados do país. Os relatos apontam que algumas marcas têm provocado dor e irritação nos olhos, pálpebras inchadas e dificuldade para enxergar, sintomas observados após a lavagem dos cabelos onde foi utilizado o produto, ou depois do contato com a água de piscina ou do mar.

Fiscais da Vigilância Sanitária apreendem pomadas modeladoras vendidas em estabelecimentos do Rio (Fotos: Divulgação)

Alerta sobre cuidados no manuseio desses produtos

Diante da repercussão desses casos, o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) alerta sobre os cuidados com o manuseio desses produtos e as providências perante complicações envolvendo os olhos.

Sérgio Kwitko, membro do CBO e presidente da Sociedade Brasileira de Córnea, contribuiu na elaboração dos pontos a seguir:

1) Os relatos que circulam em redes sociais e em ambientes hospitalares associam reações, como cegueira temporária, irritação e sensação de queimadura nos olhos, ao uso de pomadas modeladoras de diferentes marcas e fabricantes, o que indica a necessidade de atenção por parte dos consumidores à composição química desses produtos.

2) A metilcloroisotiazolinona (MCI) e a metilsotiazolinona (MI) – ambos compostos químicos comumente utilizados na formulação de cosméticos dessa natureza são uma ameaça à visão dos consumidores. Esses conservantes contêm elementos tóxicos à pele e mucosas, podendo causar alergias e queimaduras nos olhos e na pele, além de toxicidade pulmonar e neurotoxicidade.

3) Nos olhos, estes compostos químicos podem provocar blefarites (inflamações das pálpebras), conjuntivites (inflamação da conjuntiva) e ceratites (úlceras de córnea), bem como o grave comprometimento da visão.

4) O CBO orienta os consumidores a consultarem o rótulo dos produtos cosméticos, sendo que, em caso de compra, observar que o seu uso não seja feito nas proximidades dos olhos. Também se deve ficar atento à possibilidade de o produto escorrer para os olhos quando em contato com a água ou suor.

5) Em casos de reações oculares adversas, as pessoas afetadas devem lavar imediatamente os olhos com soro fisiológico e procurar atendimento médico com urgência, de preferência com oftalmologista.

O Conselho Brasileiro de Oftalmologia ressalta que se mantém atento aos problemas para a visão relacionados ao uso dessas e outras substâncias e solicita aos órgãos responsáveis que obriguem as empresas fabricantes a inserirem nas embalagens alertas claros e didáticos sobre os riscos à saúde que o contato com esses produtos pode gerar.

Estado do Rio fecha o cerco a venda de pomadas modeladoras

Fiscais da Vigilância Sanitária apreendem pomadas modeladoras vendidas em estabelecimentos do Rio (Fotos: Divulgação)

No dia 6 de janeiro, a Secretaria de Estado de Saúde (SES) determinou a apreensão de todos os produtos da empresa Microfarma Indústria e Comércio LTDA, fabricante da pomada usada para trançar cabelos Cassu Braids Cassulinha, responsável por provocar reações adversas em mais de 150 pessoas, como queimaduras e cegueira temporária. A portaria 143 da Subsecretaria de Vigilância e Atenção Primária da SES (SUBVAPS) também proibiu a comercialização da Cassu Braids Cassulinha em todo o Estado do Rio de Janeiro.

“Atuamos de forma ágil na comunicação com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Vigilância Sanitária do município do Rio de Janeiro para proibir a comercialização do produto que estava provocando problemas à saúde da população. Outro agravante é que a empresa estava com a licença de funcionamento cancelada desde 2016 e possuía um CNPJ com situação cadastral irregular”, destacou o secretário de Estado de Saúde, Dr. Luizinho.

A pomada provoca intoxicação exógena (causada pelo contato com substâncias químicas que prejudicam o organismo) devido à exposição ocular. Até o dia 4 de janeiro, foram registrados 153 casos de contaminação em hospitais da rede municipal de saúde da capital. Por conta dessa situação, a SES pediu à ANVISA o cancelamento do registro da Microfarma Indústria e Comércio, assim como todos os registros de seus produtos, uma vez que a mesma se encontra sem a licença estadual de funcionamento.

A medida tem interesse sanitário relevante visando preservar a saúde das pessoas que frequentam salões de beleza. O não cumprimento da portaria configura infração, com sanções previstas na Lei Federal nº634, de 20/08/1977.
A Superintendência de Vigilância Sanitária, da Subsecretaria de Vigilância e Atenção Primária à Saúde do estado, é responsável pela fiscalização e licenciamento de  empresas fabricantes de produtos sujeitos a controle sanitário.

Fiscalizações em vários estabelecimentos

Vigilância estadual esteve em endereço onde seriam fabricadas pomadas modeladoras no Rio (Foto: Divulgação)

Uma equipe da Vigilância Sanitária da SES-RJ realizou, na última quarta-feira (11), uma ação no endereço informado como sendo a fábrica da Microfarma Indústria e Comércio LTDA, produtora da pomada usada para trançar cabelos que vem sendo investigada por causar queimaduras e cegueira temporária em mais de 150 pessoas. Os fiscais constataram que não havia indício de nenhuma atividade no local e que o prédio estava abandonado.

O objetivo da ação era apreender todos os produtos fabricados pela Microfarma, que teve sua licença estadual de funcionamento cancelada em 2016. Os técnicos da SES-RJ vão enviar um ofício para a Anvisa, apresentando os dados da ação.

Já o Instituto Municipal de Vigilância Sanitária (Ivisa-Rio) realizou, na última quinta-feira, 12 de janeiro, duas ações para fiscalizar a venda de pomadas modeladoras e outros produtos para penteados e tranças nos calçadões de Bangu e de Campo Grande, na Zona Oeste. O objetivo é impedir a comercialização de produtos irregulares, após uma série de denúncias de consumidoras relatando lesões nos olhos em decorrência do uso desse tipo de cosmético.

Ao todo, 101 potes com produtos irregulares foram recolhidos pelos agentes. Foram fiscalizados 16 estabelecimentos, seis deles autuados pela venda de produtos sem registro. No calçadão de Bangu, os agentes identificaram cinco marcas irregulares comercializadas em quatro das oito lojas visitadas.

Fiscais da Vigilância Sanitária apreendem pomadas modeladoras vendidas em estabelecimentos do Rio (Fotos: Divulgação)

No local, 31 potes das pomadas EWA, Twister, Master Hair e King Braids e do shampoo Trança Amiga foram retirados das prateleiras. Já no calçadão de Campo Grande, foram apreendidos 70 produtos irregulares da marcas EWA, Master Hair, Barba Negra e KG Cosméticos (pomada e gel capilar) em dois estabelecimentos dos oito fiscalizados.

Os lojistas têm prazo de 10 dias, que pode ser prorrogado mediante solicitação, para apresentar comprovante de descarte adequado ou documento que ateste a regularidade do produto. Caso os estabelecimentos descumpram a intimação, serão devidamente monitorados e estão sujeitos a novas sanções.

Se a venda irregular persistir, são previstas aplicações de multas com o dobro do valor e até cassação da licença de funcionamento. Os comerciantes autuados também devem apresentar em até sete dias a nota fiscal dos produtos apreendidos, para a devida identificação dos distribuidores.

Durante as ações, não foram encontrados frascos de outras três pomadas já identificadas como irregulares: a Ômega Fix, a Max Braids e a Cassu Braids Cassulinha Cabelos — da Microfarma Indústria e Comércio Ltda –, que tiveram a comercialização suspensa pelo IVISA ou pela Anvisa.

“O Ivisa-Rio orienta que os consumidores sempre adquiram produtos regularizados. Caso o consumidor tenha alguma dúvida para saber se um produto está regularizado, ele pode entrar no site da Anvisa e buscar por produtos regularizados ou regulares. A consulta é fácil e autoexplicativa”, orienta a farmacêutica Rebecca Gabriel, subgerente do Núcleo de Fármaco e Tecnovigilância do IVISA.

A Vigilância Sanitária municipal orienta ainda que, diante da suspeita de qualquer irregularidade em qualquer produto adquirido, seja feita uma denúncia na Central 1746, canal da Prefeitura do Rio para atendimento ao cidadão com funcionamento por meio de site, telefone ou aplicativo. Já em casos de efeitos adversos em decorrência do uso desses produtos, a recomendação é procurar uma unidade de saúde, levando o frasco, para que sejam feitas as devidas notificações aos órgãos responsáveis para investigação.

Cuidados importantes sobre cosméticos

Os cosméticos fazem parte do cotidiano da população e são utilizados diariamente seja na higiene pessoal, cuidados com a saúde do corpo ou beleza. Por isso, antes de comprar e usar qualquer produto, é importante ficar atento às informações sobre a composição e se ele tem aprovação pelos órgãos de controle. Por isso, é bom saber:

– Todo produto precisa passar pelo controle da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) antes de chegar às prateleiras;

– Produtos importados só podem ser comercializados em território nacional depois de serem autorizadas pela ANVISA e Ministério da Saúde (MS);

– Os rótulos dos produtos devem conter informações claras e explicativas, como marca, tipo de produto, país de origem, composição, advertências e restrições de uso, modo de usar, validade, lote e quantidade;

–  O nome do fabricante, CNPJ da empresa e número de Autorização de Funcionamento de Empresa (AFE) precisam estar impressos no produto, assim como o contato com os canais de atendimento ao consumidor;

– Armazenar o produto em local protegido de luz, umidade e calor, longe de alimentos, produtos de limpeza e do alcance de crianças;

– Nenhum produto deve ser utilizado após o prazo de validade;

– As instruções sobre a forma de usar devem ser rigorosamente seguidas;

– Em caso de irritações ou alergias, o produto deve ser imediatamente suspenso, e o consumidor deve procurar orientação médica;

– Crianças só devem fazer uso de produtos infantis que possuam fórmulas elaboradas respeitando especificidades dessa faixa etária.

Com CBO, SES-RJ e Ivisa-Rio

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