As últimas semanas têm sido marcadas por fortes chuvas que atingem diversos estados do país desde novembro de 2022, combinadas com as altas temperaturas típicas do verão. E o clima deve continuar assim ao longo do primeiro mês de 2023, de acordo com as previsões do Instituto Nacional de Meteorologia. Um sinal de alerta para uma doença bem conhecida: a dengue.

Isso porque a combinação desses dois fatores – altas temperaturas e aumento no acúmulo de água da chuva – propicia um ambiente altamente favorável para a proliferação de insetos como baratas, moscas, formigas e, principalmente, do temido mosquito Aedes aegypti, principal vetor da dengue e transmissor de doenças como zika, chikungunya e febre amarela.

No último ano, o Brasil registrou um aumento dos casos de dengue, com alta de 195% entre janeiro e julho de 2022, na comparação com o mesmo intervalo do ano anterior.  Em 2022, foram confirmados 1.086 óbitos por dengue no Brasil, de acordo com dados divulgados pelo Ministério da Saúde no início deste mês. O número representa um novo recorde anual de óbitos pela doença no país, superando em 10% o maior patamar anterior, de 985 mortes, registrado em 2015.

O Boletim Epidemiológico nº 47 do Ministério da Saúde, divulgado na ultima semana de dezembro de 2022, traz o número de 1.414.797 casos prováveis de dengue registrados em 2022 no Brasil, uma taxa de incidência de 663,2 casos por 100 mil habitantes. O aumento foi de 163,8% no número de casos, quando comparado com o ano de 2021.

A região Centro-Oeste apresentou a maior taxa de incidência de dengue, com 2.028,4 casos por 100 mil habitantes, sendo Brasília a cidade com maior incidência, no entanto todas as regiões do país apresentaram aumento na incidência de dengue este ano. O maior número de óbitos está em São Paulo, dos 987 óbitos confirmados por dengue no Brasil, 278 são do estado. Goiás vem logo em seguida, com 154 óbitos.

“O mosquito se prolifera em espaços úmidos e quentes, as regiões com temperaturas mais elevadas são muito propícias para o aedes e as chuvas que temos visto nos últimos meses agravam ainda mais esse cenário. Por isso é preciso estar atento”, alerta o médico Alexandre Cunha, infectologista do Grupo Sabin e vice-presidente da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal.

De acordo com o especialista, o registro de casos de doenças transmitidas pelo mosquito aumentam consideravelmente nesta época do ano por causa das mudanças climáticas e alerta para um crescimento, com a chegada de dias mais chuvosos.

“Temos percebido um aumento no número de exames para dengue, zika e chikungunya e um aumento na positividade desses exames, o que nos faz redobrar a atenção e reforçar movimentos de orientação para conscientização individual e coletiva a fim de evitar a proliferação do mosquito”, ressalta Alexandre.

Para evitar esse cenário em 2023, as pessoas estão buscam mais proteção contra esses insetos indesejáveis e tendem a procurar por inseticidas com mais frequência, especialmente a partir do mês de dezembro. Com a chegada do verão, as vendas de inseticidas dispararam novamente. Um terço dessas vendas acontecem quando as temperaturas ficam mais quentes e os dias mais chuvosos.

Sintomas podem se confundir com a Covid-19

Os sintomas das três doenças – dengue, zika e chikungunya -, além de semelhantes, podem se assemelhar aos sintomas de Covid-19, o que pode confundir e acarretar em, tratamento errado com automedicação, demora no diagnóstico e consequentemente atraso no início do tratamento adequado.

Esses sintomas incluem febre de início abrupto acompanhada de dor de cabeça, dores no corpo e articulações, prostração, fraqueza, dor atrás dos olhos, além de náuseas, vômitos e dores abdominais.

Os sintomas da dengue geralmente se apresentam com febre alta, que começa de maneira abrupta, dores no corpo, dor de cabeça e manchas vermelhas na pele.

De acordo com o professor de epidemiologia da Universidade de Brasília (UnB), Walter Ramalho, geralmente a transmissão acontece na casa das pessoas — já que o mosquito tem uma maior atividade no começo da manhã e no final da tarde.

“São os momentos em que os membros das famílias normalmente se reúnem em suas residências, principalmente nos finais de semana”, destaca.

Segundo ele, buscar um médico o mais rápido possível sempre que se observar esses sintomas é fundamental para garantir um diagnóstico preciso e o tratamento adequado. “É possível por meio de exames laboratoriais determinar qual é a doença para assim realizar com assertividade o tratamento”, orienta o especialista.

O médico ressalta a importância de um diagnóstico correto para o sucesso do tratamento. “Um laudo preciso fornece segurança para a melhor jornada de cuidado do paciente e contribui para que o médico conduza o tratamento de forma resolutiva, com assistência e manejo clínico adequados”, conclui.

Limpeza frequente das casas é principal recomendação

Como medida preventiva, combater o mosquito é um dever de todos e começa dentro de casa, com cuidados simples na rotina, evitando criar ambientes propícios ao desenvolvimento do mosquito como água parada em telhados, calhas, garrafas e pneus. Reservatórios de água também são um ponto de atenção e devem ser tampados, para que o mosquito não coloque seus ovos ali.

Uma das principais recomendações é para que os cidadãos façam limpeza frequente em suas casas, não deixando água parada em pneus, vasos de plantas, calhas, garrafas, caixas d’água ou outros recipientes que possam permitir a reprodução do mosquito. Manter lixeiras bem tampadas, ralos limpos, e usar lonas esticadas para cobrir materiais de construção são outros cuidados para evitar o acúmulo de água.

Cuidados na organização e limpeza caseira ajudam no controle do mosquito. Algumas ações básicas podem mudar o cenário da doença para o verão de 2023, afirma o especialista Jeferson de Andrade, pesquisador de Desenvolvimento de Produto e Mercado da Basf.

“Um programa de controle do mosquito A. aegypti requer um trabalho conjunto de toda a sociedade. Não há inseticidas ou larvicidas que, por si só e de forma isolada, possibilite resolver um tema tão complexo. Todos nós fazemos parte da solução. Os inseticidas são uma das ferramentas deste trabalho”, garante.

De acordo com o pesquisador, o conhecimento é o maior aliado na prevenção das doenças e no controle do vetor.

“Para um controle eficaz do mosquito, é essencial conscientizar a população através de medidas simples, como usar telas nas portas e janelas, colocar areia nos vasos de plantas, manter sempre a residência livre de entulhos e outros possíveis locais de criadouros de larvas e colaborar com os agentes de saúde pública para proteger toda casa contra o mosquito. Além disso, empresas especializadas no controle de pragas urbanas também podem ser acionadas para aplicação de inseticidas e outras técnicas de controle em áreas com maior incidência de casos”, finaliza Jeferson.

Além disso, a vacina contra a dengue é também uma estratégia para proteção, que reduz significativamente os agravamentos da doença, que pode levar a óbito. A vacina está licenciada para crianças a partir de 9 anos de idade, adolescentes e adultos até 45 anos. É recomendada para indivíduos previamente infectados por um dos vírus da dengue (soropositivos com ou sem história da doença). São necessárias três doses, com intervalos de seis meses entre cada uma.

Como o mosquito da dengue se reproduz

Confira mais detalhes sobre a reprodução do mosquito:

Água limpa não é o único local de reprodução
A fêmea do mosquito A. aegypti põe seus ovos em água, preferencialmente limpa. No entanto, existem casos reportados, ainda que raros, de larvas em águas sujas ou poluídas. Os ovos podem ficar ativos por um período de até um ano, à espera de água para eclodir. Por esse motivo, os cuidados para evitar recipientes com água parada devem ser constantes.

Os criadouros podem ter qualquer tamanho

Nem sempre os criadouros se formam em pequenos e médios recipientes. O mosquito A. aegypti pode depositar seus ovos em qualquer concentração de água. Ou seja, qualquer tipo de recipiente pode se tornar criadouro se não houver o hábito de organização e limpeza no entorno do local. Outro fato importante é o período em que a água fica parada no recipiente: se é superior a sete dias, é importante que o ele seja eliminado.

Os criadouros nem sempre estão em locais sombreados

Mesmo que busquem preferencialmente lugares protegidos e sombreados, os insetos também são encontrados em recipientes com água parcial ou totalmente expostos ao sol. As larvas fogem do sol, mas este não é um fator que impede o seu desenvolvimento.

Uma piscina pode ser um criadouro potencial

Se a piscina não é usada, é preciso esvaziá-la. Caso acumule água depois da chuva, ela deve ser tratada com cloro, observando a dosagem correta, para eliminar as possíveis larvas geradas.

O controle do mosquito também deve continuar no inverno

É certo que as baixas temperaturas reduzem o aparecimento de mosquitos porque tornam os ciclos biológicos mais longos, ou seja, é necessário mais tempo para o mosquito atingir a fase adulta. No entanto, os ovos podem sobreviver durante o inverno e continuar seu desenvolvimento na primavera.

Com Assessorias

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