O Dia da Mentira, celebrado no Brasil em clima de brincadeira neste 1º de abril, não é nada engraçado para quem trabalha na saúde. Em 2023, o Samu – Serviço de Atendimento Móvel de Urgência recebeu quase 40 mil trotes só na cidade do Rio de Janeiro, em meio à luta contra o tempo para prestar socorro a vítimas que correm risco de vida em toda a capital.

De acordo com informações da Secretaria de Estado de Saúde (SES-RJ), a Central 192 recebeu 673 mil ligações e quase 40 mil deste total foram identificadas como trotes, prática que causa prejuízos incalculáveis às ocorrências reais, atrasando ou impossibilitando o atendimento de quem está em situação de emergência.

Somente de janeiro a março deste ano, foram registradas 10.693 ligações falsas, número que representa mais de 5% do total de chamadas e a prática pode impactar no atendimento à população, O perfil dos “trotes” passa por palavras obscenas, ocorrências com crianças, além de falsos pedidos de socorro.

Os treinamentos ajudam na identificação da falsa ligação, evitando o acionamento das equipes nas ruas. Além disso, as equipes trabalham na conscientização da população. O Samu da capital vem realizando treinamentos nas escolas públicas para educar as crianças e adolescentes e conscientizá-las da importância do atendimento e o quanto o trote pode prejudicar a rotina do serviço.

O coordenador geral do Samu-RJ, Luciano Sarmento, fala dos desafios da equipe em lidar com a falsa comunicação de demandas.

“Quando empenhamos recursos em um evento que não existe, ou seja, é um trote, o cidadão que realmente necessita pode ficar sem atendimento ou ter o seu socorro em um tempo maior do que deveria ser.  Em casos graves pode levar à morte, pois o menor tempo de resposta no atendimento é fundamental”, disse.

No ano passado, o Samu-RJ registrou mais de 194 mil atendimentos em todo o estado. Todos os eventos são regulados por 11 médicos que ficam 24 horas disponíveis na central de regulação. Atualmente, o Samu-RJ tem uma frota de 70 ambulâncias e 30 motolâncias. Somente nos três primeiros meses deste ano foram registrados mais de 50 mil atendimentos.

Desinformação: pesquisadores lançam guia para profissionais de saúde

Elaborado por um consórcio de pesquisadores do Rio de Janeiro, acaba de ser lançado o guia Desinformação sobre saúde: vamos enfrentar esse problema?, voltado para profissionais de saúde. A publicação tem como objetivo preparar os trabalhadores do Sistema Único de Saúde (SUS) para o diálogo com os usuários sobre temas controversos e com potencial de impactar o bem-estar da sociedade.

A publicação chama a atenção para conteúdos nocivos à saúde da população que circulam em grupos de WhatsApp e nas redes sociais, como InstagramFacebookTik Tok YouTube. Por exemplo: falsos medicamentos, campanhas contra as vacinas, tratamentos milagrosos sem comprovação científica e receitas mágicas para emagrecer. O

O guia traz uma curadoria de cursos de educação midiática, indica espaços para checagem de informação de notícias sobre saúde e sugere uma lista de fontes confiáveis acerca da temática. O material está disponível no Repositório Institucional Arca – a principal iniciativa da Política de Acesso Aberto, da Fiocruz, que completa 10 anos em 2024 – e pode ser baixado gratuitamente.

O conteúdo foi elaborado por pesquisadores e professores da Universidade Federal Fluminense (UFF), do Programa de Pós-Graduação em Informação e Comunicação em Saúde (PPGICS), do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz) e de três Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia – Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia (INCT-CPCT), Estudos Comparados em Administração de Conflitos (INCT-InEAC) e Disputas e Soberanias Informacionais (INCT-DSI).

‘Saúde com Ciência’ combate fake news contra vacinas

A propagação de fake news é um dos fatores que impacta na adesão da população às campanhas de imunização. Por isso, em outubro de 2023, o Governo Federal lançou o programa Saúde com Ciência, uma iniciativa inédita em defesa da vacinação e voltada ao enfrentamento da desinformação em saúde.

A proposta faz parte da estratégia para recuperar as altas coberturas vacinais do Brasil diante de um cenário de retrocesso, principalmente nos últimos dois anos, quando foram registrados os piores índices, e foca na valorização da ciência e na disseminação de informações confiáveis, além de ações educativas e voltadas a responsabilização.

 

Com o objetivo de fortalecer as políticas de saúde e a valorização do conhecimento científico, o Saúde com Ciência é composto por cinco pilares, que envolvem cooperação, comunicação estratégica, capacitação, análises e responsabilização. A iniciativa tem forte atuação no ambiente digital. Alertas e análises sobre desinformações identificadas em diferentes mídias são publicadas nas redes sociais do Governo Federal e em plataformas de mensagens, como WhatsApp.

Além disso, o portal do Saúde com Ciência concentra informações confiáveis sobre vacinação e as notícias falsas que circulam na internet sobre o tema. No portal também é possível enviar, por meio de um formulário, informações duvidosas para que a equipe do Ministério da Saúde responda em seus canais. O site ainda traz um passo a passo sobre como denunciar os conteúdos enganosos, contribuindo para reduzir a sua disseminação na internet.

Um novo canal de comunicação passou a ajudar a esclarecer dúvidas de brasileiros e brasileiras sobre vacinação. O chatbot, que é um assistente virtual no WhatsApp, foi lançado em dezembro pelo Ministério da Saúde e vai disponibilizar conteúdos diversos sobre imunização, alertas das fake news mais frequentes e informações complementares na área da saúde.
A plataforma também oferece conteúdos como o horário de funcionamento de uma Unidade Básica de Saúde (UBS), como marcar consultas por meio do aplicativo ConecteSUS e de que forma esses serviços facilitam o acesso à vacina. As interações com o chatbot são gratuitas e estão disponíveis a qualquer hora. Para acessar o novo canal, basta adicionar o número (61) 99381- 8399 à lista de contatos do telefone.

O Saúde com Ciência é uma estratégia interministerial coordenada pelo Ministério da Saúde e pela Secretária de Comunicação Social da Presidência da República, com a parceria dos ministérios da Justiça e Segurança Pública, da Ciência e Tecnologia e Inovação, e com a Controladoria-Geral da União (CGU) e Advocacia-Geral da União (AGU).

Quais são as fake news mais populares? 

Entre os meses de julho e setembro deste ano, o Ministério da Saúde realizou um mapeamento diário nas mídias sociais e plataformas digitais das narrativas relacionadas à vacinação. Foram identificados mais de 6,8 mil conteúdos com desinformação sobre vacinas, impactando mais de 23,3 milhões de pessoas. As fake news mais recorrentes e de maior alcance são:

❎ Vacinas contra Covid-19 são experimentos e não têm comprovação científica: utilizam supostos estudos estrangeiros para reforçar o falso discurso de que as vacinas de Covid-19 são ineficazes e não foram testadas de forma suficiente, alegando que não têm comprovação científica. Existe uma forte narrativa de que a população foi manipulada com dados e informações falsos sobre a pandemia e a Covid-19 em si, como o rápido contágio e forte disseminação, por exemplo, apenas para servir de cobaia para vacina experimental;

❎ Vacinas causam doenças, como câncer, aids ou diabetes: afirmam que algumas vacinas, principalmente as contra Covid-19, podem desencadear diversos tipos de doenças nos pacientes após a dose. Algumas das mais citadas são câncer, aids, diabetes e pneumonia. Dizem também que é comum gerar sequelas gravíssimas e permanentes no corpo;

❎ Vacinas de Covid-19 causam modificações na corrente sanguínea ou no DNA: alegam que a vacina poderia causar danos ao paciente após ter contato com a corrente sanguínea. Mais especificamente, o imunizante seria capaz de fazer alterações no sangue, como contaminá-lo (e depois os órgãos) e até mudar o DNA da pessoa. Ainda, alguns defendem que a vacina depositaria fortes toxinas na corrente sanguínea;

❎ Após aplicação das vacinas, a população passa a ter um chip no corpo: teorias falsas de que governos de alguns países estavam utilizando vacinas como desculpa para implantar algum tipo de chip no corpo humano foram umas das primeiras a surgir e seguem em alta até hoje. Este seria um meio, segundo os publicadores, de controlar a mente dos cidadãos e localizar a pessoa em qualquer lugar. Alguns chamam de “chip do diabo”;

❎ Número de mortes por Covid-19 foi falsificado para assustar a população e aplicar vacina experimental: afirmam que algumas informações sobre a pandemia de Covid-19 foram alteradas/falsificadas, sobretudo o número de mortes teria sido aumentado, para causar medo na população e levá-los a se vacinar. Os publicadores falam que médicos foram alguns dos principais responsáveis por divulgar número falso de mortos e chegaram até a dizer que os mortos por outras doenças morreram de Covid-19 apenas para aumentar o número de óbitos. Alguns chamam de “fraudemia”;

❎ Teorias da conspiração sobre Bill Gates e uma suposta dominação mundial por meio do uso de vacinas: publicadores afirmam que foi o bilionário americano Bill Gates, um dos fundadores da Microsoft, o responsável pela pandemia de Covid-19. Eles dizem ter recuperado supostas postagens de Gates afirmando que ele estava por trás da criação da doença para beneficiar uma futura vacina e até despovoar o mundo. Regiões mais pobres da África e Filipinas são os supostos alvos mais citados pelo público. A notícia falsa mais recente ligada a ele é de que, junto à Organização Mundial da Saúde (OMS), Gates estaria pressionando o envio de adesivos de vacina mRNA diretamente para a casa de pessoas pobres, visando maior adesão.

Com informações da SES-RJ e Fiocruz

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