Pergunte ao Doutor: tudo sobre a Síndrome do Pânico

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Na matéria de Saúde deste domingo, mostramos no Jornal O DIA o drama vivido pela atriz Giovanna Antonelli quando era criança (veja aqui). Ela conta que experimentou sintomas típicos da sindrome do pânico após passar por situações traumáticas.

Segundo a psicóloga Miriam Farias, especialista em Hipnose Clínica, na crise a pessoa tem sensações corporais como taquicardia, boca seca, sudorese, tremor, falta de ar, tensão muscular, sensação de frio ou calor pelo corpo. Pode sentir também tonteira, sensação de desmaio, uma apreensão e pensamentos catastróficos, como medo de passar mal, que alguma coisa muito ruim pode acontecer com ele e até mesmo que possa morrer.

O psicanalista Nicolau Maluf explica que o transtorno do pânico apresenta um conjunto de fenômenos fisiológicos e mentais. Reconhecida como uma doença que tem afetado uma parcela significativa da população, foi  identificada em 1980.  “A severidade dos sintomas frequentemente traz consequências graves à vida das pessoas sofrendo dessa condição. Fobias podem se desenvolver, com o intuito de se evitar circunstâncias semelhantes a onde se deu o primeiro ataque. Estas fobias não são referentes a objetos e situações, mas sim tem sua razão de ser na necessidade de evitar outros episódios de ataque”, afirma.

Confira aqui a entrevista completa dos especialistas ouvidos na reportagem:

1 – Quais sintomas devem estar presentes para fechar um diagnóstico de síndrome do pânico?

Nicolau – Pelo menos quatro ou mais dos sintomas devem estar presentes para se definir um diagnóstico de pânico, e a crise deve ser súbita ou desenvolver-se e finalizar em menos de dez minutos.  Os sintomas são palpitações ou batimentos cardíacos acelerados; suor, tremores, sensação de “falta de fôlego” ou “insuficiência” de ar; sensação de sufocamento; dor ou desconforto no peito; náusea ou desconforto abdominal; tontura, desequilíbrio, vertigem, sensação de instabilidade; sensação de irrealidade ou despersonalização (sentir-se “fora” de si mesmo); medo de perder o controle ou enlouquecer; medo de morrer, parestesias (formigamento e sensações de corrente) e alternância de sensações de frio ou calor. Adicionalmente, como critério diagnóstico, é necessário a existência de um episódio de pânico, seguido por pelo menos um mês de preocupações a respeito das consequências do ataque, tais como  ataque do coração, ficar louco, “perder o controle” e também uma significativa mudança de comportamento em função dos ataques.

2 – Como ocorre o ciclo do transtorno do pânico?

Miriam –  Tudo começa por uma ansiedade, há uma preocupação com o futuro, a pessoa não desliga, fica pensando no que vai acontecer, como vai acontecer e estes pensamentos em relação ao futuro vão aumentando cada vez mais o nível de ansiedade. Estes pensamentos são sempre com consequências negativas e derrotistas. Somos um sistema, corpo, mente e emoções. O que no início eram apenas pensamentos, começa a alterar e modificar o ritmo natural da pessoa e com a ansiedade cada vez mais intensa, surgem as sensações corporais.

3 – Como identificar se é só um medo natural ou pânico?

Miriam – O medo natural tem relação com a preservação da espécie, você sente no momento em que está passando por alguma situação de risco ou perigo, mas em seguida a emoção de medo passa. Já na síndrome do pânico não tem nenhuma situação aparente que possa desencadear emoções e sensações de medo, ele surge do nada, é um medo tão intenso, capaz de limitar a vida a pessoa.

4 – Quais são as causas da doença?

Nicolau –  Não há consenso sobre as causas e razões dessa síndrome, não havendo, portanto, uma explicação suficiente sobre esta. O alívio dos sintomas alcançado com o uso dos medicamentos ansiolíticos e anti-depressivos, leva, no modelo médico, a se pensar em alterações na bioquímica do cérebro; ou a causas hereditárias fundamentais, enquanto que, do ponto de vista da Psicologia Psicanalítica, a observação da concomitância entre o surgimento da crise e eventos simbolicamente significativos da ordem da “perda” e “separação“, é vista como evidência da importância dos fatores emocionais e da dinâmica do inconsciente na determinação da condição. Ou seja, nessa segunda perspectiva, os fatores psicológicos e emocionais é que estariam no lugar central da razão da desordem manifestar-se, as alterações neuroquímicas seriam efeitos, não causas.

5 – O que pode desencadear uma crise? Que tipo de situações?

Miriam – São várias situações que podem desencadear crises de ansiedade, a violência urbana, o estresse da vida moderna, pressões, cobranças exageradas, perdas, dificuldades ou crise financeira, doença grave, engarrafamento e outras.

6 – Vítimas de violência têm mais chances de desenvolver essa condição? Por que?

Miriam – Porque elas passam por uma situação atípica, situação de muito estresse e muitas vezes podem desenvolver um transtorno, chamado transtorno de estresse pós-traumático, neste caso, somente em lembrar do fato ocorrido a pessoa sente  como se vivenciasse tudo novamente, sente o pavor, medo e as sensações corporais ruins.

7 –  O crescimento do desemprego, em decorrência da crise econômica, pode contribuir?

Nicolau –  Sim,  mas a explicação não é simples, e corremos o risco de descrever de forma insuficiente: Como há fatores psicológicos e fisiológicos envolvidos – uma leitura da listagem acima deixa claro os sinais fisiológicos referentes à estimulação do ramo  simpático do sistema nervoso  autônomo (sinais de tensão ou estresse), podemos dizer que o individuo, já portador dos elementos da desordem, ao ser submetido a situações de  estresse aumentado irá desenvolver mais rapidamente a condição.

8 – Então há influência de fatores ambientais para o desenvolvimento da doença?

Nicolau – Na visão da psicologia psicanalítica, os fatores ambientais estariam agindo sobre os elementos mentais realmente responsáveis pela síndrome. Um exemplo disso pode ser encontrado nos estudos sobre neurose de guerra, feitos no século passado. Essa era uma condição que acometia soldados submetidos, por exemplo,  uma explosão que matava vários mas deixava sobreviventes. Alguns, mas não todos destes sobreviventes tornavam-se incapacitados para continuar lutando, desenvolvendo sintomas físicos como paralisia de membros em posição de “susto”  com o surgimento de movimentos involuntários intensos caso alguém tentasse mover os membros. Como dito antes, nem todos os soldados do grupo atingido manifestavam os sintomas, e alguns estudos psicanalíticos, feitos por médicos do exército apontavam que não era exatamente a violência da  explosão, mas como esta tinha sido vivenciada psicologicamente pelo indivíduo, o fator central. Mas não é por acaso que uso como exemplo uma condição que também tem componentes fisiológicos, somáticos, na composição dos sintomas.

9 – Como ela se manifesta no dia a dia?

Nicolau –  As manifestações da ansiedade  têm gradações e incluem, além da desordem do pânico, o quadro da ansiedade generalizada e a condição do estresse pós-traumático. A síndrome do pânico pode manifestar-se tanto como um crescimento da ansiedade generalizada, pensada como sendo causada por excesso de preocupações e tensão,  desembocando na crise com as características já descritas acima, como surgir de forma absolutamente inesperada.

10 – Poderia dar um exemplo de uma crise?

Nicolau – Um determinado cliente, ao cumprir a rotina semanal de levar de carro a esposa ao aeroporto, pois esta viajava frequentemente a trabalho, numa ocasião, no momento mesmo em que esta passava pela porta de entrada do aeroporto, teve a sensação de que estava tendo um ataque cardíaco e foi levado às pressas  ao hospital, onde constatou-se que sua saúde física estava perfeita. Na crise de Pânico, os elementos – chave  sempre são o medo de ficar louco ( perder o controle) ou morrer.

11 – Que tipo de comportamento pode ser associado à síndrome do pânico?

Nicolau –  Na vigência da crise, o que mais se destaca são as evitações fóbicas: o individuo tende a isolar-se para evitar contato com qualquer elemento associado ao surgimento dos sintomas e da crise. Quem está vivendo uma crise de pânico pode não saber “pânico do que”, mas tem ideia do que pode eliciar a resposta de pânico nele, e tenta evitar. Isolamento, portanto, é parte da condição no auge da crise. Vigiar as próprias reações corporais está presente, a pessoa fica à espreita dela mesma, temendo que esta ou aquela sensação seja um sinal precursor de uma crise com maiores proporções. “Medo se sentir medo”.

Outra característica é o temor de ficar sozinho, racionalizada como medo de que algo lhe aconteça e que não possa contar com socorro se não estiver acompanhado, temor este que também, no viés psicanalítico, é entendido como sendo na verdade expressão de regressão ( psicológica) a um estado mais primitivo, infantil, enquanto ao mesmo tempo quem acompanha recebe, por parte de quem sofre a crise, o valor (inconscientemente) de “ego substituto”, ou “controle  secundário” . Isso será melhor explicado ao final deste texto.

12 – É possível evitar uma crise? Como? E se entrar em crise, o que a pessoa deve fazer?

Miriam – Sim, é possível. Podemos aprender a administrar um momento de ansiedade. O mais importante na hora da crise é parar de observar o corpo, porque quanto mais focar no corpo e nas sensações ruins que está sentindo, mais a ansiedade aumenta, a estratégia para diminuir a crise é se distrair, é sair do corpo e voltar-se para o mundo externo. Outra dica muito eficaz é fazer a respiração abdominal, inspirar pelas narinas levar o ar até a região abdominal e soltar o ar pela boca prolongadamente.

13 – Como tratar a síndrome do pânico?  

Miriam –  A síndrome do pânico, assim como qualquer transtorno de ansiedade, pode ser tratado por um psicólogo que realize sessões de hipnose e quando as crises estão muito fortes, é necessário um tratamento coadjuvante com medicamento, que é realizada por um psiquiatra.

Nicolau – Como mencionado de início, há dois grupos principais que pretendem entendimento sobre essa condição. O modelo médico e o modelo psicanalítico. Do ponto de vista psiquiátrico,  a desordem é tratada basicamente com ansiolíticos e antidepressivos, visando reorganizar a bioquímica cerebral, vista como elemento central da desordem.

14 – Como é feito o Tratamento Psicanalítico reichiano?

Nicolau – Na desordem do pânico, o “medo de morrer” ou de “ficar louco” está ligando ao surgimento de certas atividades  “reflexas”do sistema nervoso. Atividades como aquela que surge quando se bate com um martelo de borracha ou outro objeto no joelho de alguém,  no exame médico. Essa atividade reflexa surge como uma forma de “descarregar tensão” na desordem do pânico, e essa atividade aparece como tremores musculares e movimentos involuntários, dos quais a pessoa que sofre a desordem não está consciente. Essa atividade reflexa acompanha as idias e inconscientes que fazem parte da desordem. O analista, nesta especialidade, ajuda a pessoa a perceber e vivenciar essa atividade reflexa – que está na origem do medo de enlouquecer ou morrer – além de analisar as idéias que fazem parte dos conflitos neuróticos, ao mesmo tempo.

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