Muito já se falou – e também falamos por aqui – sobre o Alzheimer, uma das doenças que mais crescem no mundo. Com o envelhecimento da população, estima-se que mais de 50 milhões de pessoas no planeta sejam acometidas pela patologia. E a projeção é de que esse número triplique até 2050. Entretanto, pouco – ou quase nunca – se fala da doença sob a perspectiva de quem convive com ela.

É com base nesta percepção que o paulista William Seven, um dos mágicos mais prestigiados do mundo, criou  “A Maçã”, a princípio um ato de mágica com recursos do teatro. Inspirado pelos estudos de sua companheira, doutora em ciência do movimento humano, sobre pacientes com Alzheimer, a ideia era representar as angústias de um indivíduo com demência ao ver as coisas em sua volta sumirem e reaparecerem, como num passe de mágica.

 

“A Maçã” – espetáculo de 60 minutos, que estreia dia 7 de março, no Teatro Sesc Copacabana, no Rio de Janeiro – é uma experiência dramatúrgica inusitada, com efeitos de ilusionismo, que traz as vivências de um velho artista que sofre de Alzheimer. Loucura e genialidade encontram-se na persona de Nicolau Souberdes, outrora um grande artista, hoje fora de cena, desprezado por seu público e frequentemente confuso e desorientado.

De forma lúdica e com incríveis efeitos de mágica, William Seven vive as mazelas da vida de um homem com Alzheimer, acometido por perdas repentinas de memória, desorientação e dificuldade de desempenhar tarefas habituais. Além de encantar, o espetáculo aborda a demência sob um ponto de vista original, o do paciente.

“Juntar mágica e teatro é um desafio. O teatro é a representação de uma realidade. A mágica é a representação do impossível na nossa realidade. No teatro, o público aceita o faz de conta, a ilusão, o truque. Já na mágica ele quer justamente revelar, descobrir o truque. Esse conflito é o que me instigou a criar o espetáculo”, diz William Seven.

Sobre o autor

William Seven veio de uma família de mágicos profissionais e passou a infância em tournées do Circo Orlando Orfei. Fez teatro, atuou em companhias experimentais, estudou com alguns dos maiores mestres de mágica do planeta e se tornou um profissional mundialmente respeitado, tanto pelo rigor de sua técnica quanto pela originalidade de suas criações.

Com o ato, William Seven ganhou alguns dos mais importantes prêmios de mágica do mundo, como o Flasoma e o Fism (Fédération Internationale des Sociétés Magiques), na Coreia do Sul, Argentina e Canadá. O trabalho recebeu também o Grand Prix no Congresso Latino-Americano de Mágica, em 2017, na Argentina, premiação máxima do evento.

“Quero que as pessoas saiam sem saber se viram uma peça de teatro com mágica ou um show de mágica com teatro”, complementa o mágico, ator e diretor. Mais do que prêmios, Seven quer tocar as pessoas com sua obra e trazer luz a uma importante questão de saúde pública, que afeta milhões de famílias ao redor do mundo:  “Gostaria que meu espetáculo pudesse ajudar as pessoas a se prepararem para essa realidade”, conclui William Seven.

Sobre a peça

Inédito no Rio, o espetáculo ‘A Maçã’ estreia no dia 7 e fica em cartaz até 31 de março, de quinta a domingo (exceto dia 17), às 20h30, no Mezanino do Sesc Copacabana (Rua Domingos Ferreira,160). O projeto foi selecionado pelo Edital de Cultura Sesc RJ Pulsar. Ingressos: R$ 30 (inteira), R$ 15 (meia-entrada) R$ 7,50 (credencial plena Sesc), gratuito (público cadastrado no PCG).

Peça ‘Aos Sábados’ que estreia em abril também aborda Alzheimer

Peça ‘Aos sábados’, com as atrizes em cena (Foto; Giovanna Almeida)

Também sobre a mesma temática, a peça ‘Aos sábados’, de Adyr de Paula, volta aos palcos a partir do dia 5 de abril no Teatro Fashion Mall, em São Conrado, zona sul do Rio. O autor se inspirou na história de sua mãe, uma mulher batalhadora que criou quatro filhos com seu trabalho de costureira e aos 60 anos foi diagnosticada com Alzheimer.

Segundo ele, “a criação da peça, uma obra de ficção baseada em alguns fatos reais, foi um processo terapêutico, uma forma de celebrar o amor e fazer uma justa homenagem”.

O Alzheimer e sua marca na história familiar são tratados com leveza e sensibilidade, mostrando que com amor e coragem, as adversidades podem ser enfrentadas e que acolher é a melhor forma de suportar a ausência de consciência do parente que está doente.

Um dos textos vencedores do I Concurso de Dramaturgia Flávio Migliaccio em 2020, ‘Aos sábados’ conta a história de Jandira e suas duas filhas, Regina e Malu, ao longo de três décadas. A peça é dividida em três atos e mostra o amor entre as personagens que vivem alegrias e dores, e os altos e baixos da relação familiar.

Os encontros divertidos que elas têm todos os sábados passam a ter novos tons quando o Alzheimer acomete Jandira. Mas com ternura, esperança e improvável otimismo, essas mulheres juntas enfrentam a doença de maneira surpreendente.

“Essa é uma peça para fazer pensar e trazer reflexões sobre a nossa pequeneza diante do tempo que passa tão rápido e leva embora os nossos entes queridos. Uma história sobre a saudade que fica mesmo em vida, quando vemos a memória se esvaindo. Não é uma história só sobre a doença, é sobre as riquezas de nosso cotidiano familiar que às vezes não damos valor e não prestamos atenção. Escolhi o nome ‘Aos sábados’ porque era o dia da semana que ia visitar minha mãe e essas visitas hoje são lindas lembranças”, explica o autor Adyr de Paula.

Sobre o autor

Atualmente como diretor de uma escola de educação infantil, Adyr de Paula conta que desde jovem sempre pensou em escrever um espetáculo teatral. Amante do teatro, local que considera um espaço democrático, mágico, onde tudo, absolutamente tudo pode acontecer,  acredita que expressa a arte da generosidade e do olhar crítico e amoroso sobre nós mesmos e sobre o próximo, seja no drama ou na comédia. Ele acredita que o teatro tem o incrível poder de transformar as pessoas.

Sobre a peça

‘Aos sábados’ é a primeira  obra de Adyr de Paula como autor e foi escrita aos 54 anos. Essa oportunidade veio através do Concurso de Dramaturgia Flávio Migliaccio. Com direção de Danilo Salomão, a peça tem no elenco as atrizes Nedira Campos, Luiza Lewicki e Nina da Costa Reis e participação de Sophia Fried e Pedro Baião.

O espetáculo fez grande sucesso em apresentações na cidade ano passado e tem estreia no dia 5 de abril, às 20h, na sala 1 do Teatro Fashion Mall. A nova temporada ficará em cartaz do dia 6 ao dia 28 de abril, sempre aos sábados e domingos, às 19h, através da Lei Federal de Incentivo à Cultura/Lei Rouanet – n° 8.313. C

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Alzheimer impacta vida de pacientes, familiares e cuidadores

Alzheimer é uma doença neurodegenerativa que afeta, de acordo com o Ministério da Saúde, cerca de 1,2 milhão de pessoas no Brasil. A cada ano, 100 mil novos casos são diagnosticados, sendo considerada uma das principais causas de demência. É objeto de intensa pesquisa e atenção de especialistas, tendo em vista sua prevalência e impacto na qualidade de vida dos pacientes e de seus familiares.

De acordo com Mirella Fazzito, médica neurologista da Clínica Araújo & Fazzito, a doença costuma se manifestar em idosos, mas, de maneira mais rara, pode também acometer jovens.

“Os sintomas são conhecidos, e incluem dificuldade em lembrar eventos recentes, nomes, informações, além de desorientação de tempo e espaço”, explica a especialista. “Como estamos falando de uma doença degenerativa, ela é uma condição progressiva e irreversível. Os sintomas se agravam à medida em que progride”, complementa.

Com essa piora, o desafio vai se tornando maior, podendo o paciente ter problemas na comunicação, julgamento, tomada de decisões e até mesmo na realização de atividades básicas do cotidiano, como ir ao banheiro ou alimentar-se. “Neste momento, não só o paciente tem sua qualidade de vida impactada, mas também seus familiares e amigos”, esclarece a Dra. Mirella.

“O paciente com Alzheimer tem um acúmulo anormal de proteínas (beta-amiloide e tau) no cérebro, formando placas neurofibrilares que interferem no funcionamento das células cerebrais, e consequentemente levam à sua morte neuronal”, comenta a neurologista. Como resultado, as áreas do cérebro responsáveis pela memória, raciocínio, organização, pensamento e comportamento são afetadas.

Causas

Sabe-se que a causa exata da doença é desconhecida e, segundo a especialista, existem vários fatores envolvidos. “Com o envelhecimento da população e aumento na expectativa de vida, vem se observando um aumento no número de casos. Consequentemente tem se buscado estudar cada vez mais a doença, sua fisiopatogenia, e assim buscar tratamentos mais eficazes e que garantam mais qualidade de vida aos pacientes”, comenta.

Além disso, fatores genéticos, ambientais e até mesmo estilo de vida podem desempenhar um papel na predisposição à doença. “A idade avançada, falta de estímulo cerebral e de qualidade de vida são importantes fatores de risco”, completa.

Tratamento

O Alzheimer ainda não tem cura, o que aumenta ainda mais as intensas pesquisas de profissionais. No entanto, existem tratamentos disponíveis que ajudam a retardar o progresso da doença e aliviar sintomas, tentando manter qualidade de vida e independência dos pacientes.

Essas medicações agem aumentando a circulação de um neurotransmissor que ajuda no aprendizado e na memória, melhorando a comunicação entre as células nervosas. Elas, em conjunto com terapias, melhoram temporariamente a função cognitiva e conseguem retardar a evolução da doença. As terapias incluem estimulação mental e reabilitação cognitiva.

Além disso, é muito importante a socialização, prática de atividade física e um sono regular. “Tudo isso visa melhorar a qualidade de vida desses pacientes e assim dar apoio aos seus cuidadores”, pontua a neurologista.

“Estamos diante de um grande desafio para a sociedade, já que o Alzheimer afeta milhões de pessoas e, assim como  toda doença, é importante o diagnóstico precoce para que o tratamento seja eficaz”, finaliza.

Com Assessorias

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